tag:blogger.com,1999:blog-55441053951417984392024-03-12T22:16:06.231-03:00Professor Aluizio Moreira"Eu sou humano e nada do que é humano me é estranho" - Terêncio
Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.comBlogger651125tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-80943097072011841462021-12-07T13:31:00.001-03:002021-12-07T13:31:38.903-03:00Como desmontar a Ciência e Tecnologia brasileiras<p></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; mso-outline-level: 1; text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">CNPq, entidade essencial ao desenvolvimento
nacional, é o alvo da vez. Série de cortes brutais em Educação e Ciência
escancara um Brasil que deixou de apostar no futuro. Desesperançados, muitos
pesquisadores já abandonam o país…<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Por Roberto Amaral</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-lk-bX-Z3dns/Ya-LaoNMUnI/AAAAAAAAHxY/QfhXcEvyXoAPbFsq7coNmNQJraHjB14iACNcBGAsYHQ/s768/ciencia1-mbKselG6lyfjNzIcSRgd0A-768x511.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="511" data-original-width="768" height="357" src="https://1.bp.blogspot.com/-lk-bX-Z3dns/Ya-LaoNMUnI/AAAAAAAAHxY/QfhXcEvyXoAPbFsq7coNmNQJraHjB14iACNcBGAsYHQ/w537-h357/ciencia1-mbKselG6lyfjNzIcSRgd0A-768x511.jpeg" width="537" /></a></span></div><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Robert Oppenheimer é reconhecidamente um dos mais
renomados físicos do século passado. Prêmio Enrico Fermi de
1963, dirigiu o Projeto Manhattan para o desenvolvimento da bomba atômica
durante a Segunda Guerra Mundial, no Laboratório Nacional de Los Alamos, no
Novo México. No auge de seu prestígio internacional esteve em nosso país, e no
Rio de Janeiro, no dia 23 de julho, pronunciou uma conferência da qual Renato
Archer, futuro ministro da ciência e tecnologia (1985-1987) colheu a
seguinte afirmação: “Se eu tivesse visitado o Brasil há três anos e me
fosse dado percorrer o mesmo itinerário [<i>centros científicos do Rio, São
Paulo e Minas Gerais, em cinco semanas</i>] teria vindo aos senhores para
lhes implorar que criassem um Conselho Nacional de Pesquisas idêntico ao que
ora existe” (cf. FILHO, Alvaro Rocha. <i>Renato Archer – Depoimento</i>.
Contraponto, 2006, p. 64).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Pois destruir essa instituição, o
hoje Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq,
vinculado ao MCTI, é o projeto do governo do capitão, a que se associa a
maioria do pior Congresso que nosso país já teve em toda sua tumultuada vida
republicana! Em ofício à Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso
Nacional, o especulador Paulo Guedes decidiu, com a aquiescência de todos os
partidos (menos o PSOL, registre-se), cortar os recursos antes carreados à
ciência e tecnologia, no montante de R$ 690,00 milhões,
para meros R$ 55,2 milhões destinados a pesquisas com radiofármacos
(e insuficientes para esse fim). Trata-se de sentença de morte que pesa
sobre os destinos do país, condenando-nos a atraso irremediável.<br />
<br />
O macabro objetivo do bolsonarismo é destruir o Sistema Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação, construído numa saga que já completa 70 anos. A
razia opera mediante o garrote financeiro. Enquanto os países da OCDE investem,
em média, mais de 2% de seu orçamento em ciência e tecnologia, a Coreia do Sul
e Israel mais de 4%, o Brasil, em 2020, investiu apenas 1% e ainda reduziu
drasticamente os recursos destinados a 2021! O governo que desconstitui o
ensino superior também investe contra a base da escolaridade. Segundo a mesma
OCDE, entre 40 países avaliados, o Brasil é aquele em que o piso do professor
do ensino fundamental é o mais baixo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em 2020 o MCTI (valores corrigidos) recebeu menos
recursos do que em 2009, e o orçamento para 2021, tanto quanto o do MEC, já
eram inferiores aos dos anos anteriores.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Para onde vai a “economia”?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Os recursos desviados do CNPq serão
distribuídos pelo governo através da artimanha “emendas do relator do
orçamento”, excrescência da legislação orçamentária que permite irrigar as
bases eleitorais dos apaniguados sem obedecer ao princípio constitucional da
transparência.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Como combater as desigualdades em país que mais e
mais aprofunda a concentração de renda, se não investimos em educação? Na
CAPES-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, fundação do
Ministério da Educação responsável pela consolidação do sistema de
pós-graduação no Brasil, os recursos caíram de R$ 2,8 milhões em 2020, para
R$1,9 milhão este ano. Quando no mundo faltam semicondutores, afetando até a
produção industrial brasileira, o capitão está liquidando o Centro Nacional de
Tecnologia Eletrônica Avançada SA – CEITEC, a maior empresa produtora de
semicondutores do país, que forma mão de obra, promove pesquisa e desenvolve
produtos para o mercado nacional. Como transitar da condição de país
economicamente atrasado e politicamente dependente na periferia do capitalismo,
como superar o estágio de tradicional exportador de matérias-primas para a de
exportador de produtos com valor agregado, como industrializar-se e competir no
mercado internacional, como, enfim, desenvolver-se, quando o sistema nacional
de ciência e tecnologia é desmontado?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O governo, que já devastou nosso presente,
trata agora de nos negar a chance de futuro, uma faina à qual se dedica desde o
primeiro dia em que, com seus engalanados bem comissionados se
aboletou em Brasília, perseguindo a inteligência brasileira, cortando recursos
fundamentais para o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento científico.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O Brasil, que na colônia foi campeão nas
exportações de açúcar e café e outros produtos tropicais demandados pela
Europa, e hoje é orgulhoso exportador de grãos e minérios, no regime que nos
atanaza passa a exportar cérebros para os países ricos e
desenvolvidos. Desesperançados, jovens pós-graduados, formados em nossas
universidades, são obrigados a migrar, na busca de condições favoráveis para a
continuidade de seus estudos e o desenvolvimento de suas pesquisas. O
bolsonarismo aprofunda o atraso científico-tecnológico, e o projeta para muitas
décadas adiante.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Os gastos com cartão de crédito corporativo (pagos
pela União, isto é, com nossos impostos) já somam R$ 50 milhões na gestão
Bolsonaro. O patrimônio da <i>Dreadnoughts International Group</i>, offshore criada
em 2014 nas Ilhas Virgens Britânicas, pelo ministro Paulo
Guedes, é de R$ 52 milhões a ponta de um iceberg – que o
especulador admite ter lá depositada em seu nome. Pois R$
55,2 milhões é tudo que o CNPq receberá para pesquisa
com radiofármacos (remédios destinados ao combate ao câncer e também
usados para diagnóstico por imagem), cuja produção chegou a parar em setembro,
por falta de recursos, consequência do corte de 92% das verbas destinadas
ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-FNDCT, desviadas
do MCT com a criminosa omissão do astronauta, a quem falta a necessária
dose de amor-próprio para pedir demissão.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Mas, para pedir demissão, o ministro
precisaria, antes, ser ético. Como militar candidato a astronauta, passou
sete anos em doce e bem remunerada vilegiatura nos EUA, e, para desfrutar de
algumas horas no espaço, obra sem serventia para o país, custou ao erário a
bagatela de R$ 37 milhões, parte suprida pelo ministério que ainda
ocupa. Quando de seu regresso, logo foi mandado para a reserva bem remunerada,
montou empresa para gerenciar palestras – às quais comparecia com o
macacão da NASA, até ser repreendido pelos seus chefes na FAB. Resolveu, então,
vender colchões e travesseiros, e assim terminou a carreira de
garoto-propaganda.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O CNPq, engenho pensado pela inteligência de Álvaro
Alberto, seu primeiro presidente, vem desde
1951 fomentando a formação de pesquisadores brasileiros em
todas as áreas do conhecimento. O que hoje podemos chamar de ciência
brasileira é fruto do seu exercício na formação científica, na pesquisa básica
e na pesquisa aplicada, no desenvolvimento tanto das ciências sociais como
exatas, e no desenvolvimento da inovação tecnológica nas empresas. Por
isso foi sempre respeitado pelos sucessivos governos, da mais variada cepa,
inclusive no mandarinato militar. O primeiro a intentar esvaziá-lo é este que
nos assola presentemente.<br />
<br />
Valendo-me da experiência de ex-ministro de Ciência e Tecnologia, arrisco-me a
afirmar que não há um só pesquisador brasileiro cuja carreira em algum momento
não tenha contado com apoio da instituição. As principais conquistas da
ciência brasileira, lembra o professor Wanderley de Souza — como o
desenvolvimento do setor agropecuário, a exploração de petróleo em águas
profundas e no pré-sal, a utilização do etanol como combustível, os avanços na
área nuclear, a produção de vacinas –, tiveram a participação do CNPq a quem
ainda devemos o apoio a instituições fundamentais para o desenvolvimento
da ciência brasileira, como o Laboratório Nacional de Luz Sincrotron,
o Museu Emílio Goeldi, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e
o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, instituições cujo desempenho não
podem dizer respeito ao mundo de interesse de um reles especulador financeiro,
como é o atual ministro da economia, de um presidente de república
réprobo e de um ministro de ciência, tecnologia e inovações que desconhece
o que sejam tais coisas. Além de um Congresso Nacional hegemonizado
pelo centrão, o que há de mais espúrio na abastardada representação política
brasileira.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">É o indispensável CNPq que o bolsonarismo, com
a inefável colaboração de um congresso vexaminoso, se dedica a
destruir: em 2013 seu orçamento foi de cerca de R$ 3 bilhões. Em 2021
caiu para R$1 bilhão. Redução de recursos significa, por
óbvio, redução do apoio a projetos e menor número de bolsas de estudos –
cujos valores, por sinal, estão congelados há vários anos. No caso concreto
inviabiliza, ainda, a recuperação de parte da infraestrutura dos
laboratórios e equipamentos, caríssimos, de alta especialização, perdidos com
os cortes de verba que vêm atingindo a área desde principalmente
2015. País que não investe na formação de quadros superiores
é sociedade que renunciou ao seu desenvolvimento, abdicou das
esperanças de soberania, conformou-se com a pobreza e se alimenta de profunda
desigualdade social. Este o país, em marcha à ré, que estamos condenados a
herdar em janeiro de 2023, se antes não tivermos condições de nos livrar da
satraparia governante. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;"><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]-->FONTE: <a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank">OUTRAS PALAVRAS</a></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p><br /><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-67150432448572512602021-11-21T18:28:00.002-03:002021-11-21T18:34:34.412-03:00A Consciência Negra é nossa!<p> </p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #747474;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Se temos o Dia da
Consciência Negra, devemos agradecer a Zumbi e outros milhares que não se
curvaram aos que insistiam em enxergar um paraíso racial. Negros e negras que
fizeram de suas histórias as histórias do Brasil.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #747474;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 5.25pt;"><span style="color: black;"><a href="https://www.facebook.com/sharer.php?u=https%3A%2F%2Fwww.geledes.org.br%2Fa-consciencia-negra-e-nossa%2F" title="Facebook"><span style="color: white; text-decoration: none;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 5.25pt;"><span style="color: black;"><a href="https://twitter.com/intent/tweet?text=A+Consci%C3%AAncia+Negra+%C3%A9+nossa%21&url=https%3A%2F%2Fwww.geledes.org.br%2Fa-consciencia-negra-e-nossa%2F&via=geledes" title="Twitter"><span style="color: white; text-decoration: none;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 5.25pt;"><span style="color: black;"><a href="https://pinterest.com/pin/create/button/?url=https://www.geledes.org.br/a-consciencia-negra-e-nossa/&media=https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2021/11/56674572_1005.jpg&description=Ent%C3%A3o,%20se%20hoje%20temos%20e%20comemoramos%20o%20Dia%20da%20Consci%C3%AAncia%20Negra%20no%20Brasil,%20devemos%20agradecer%20n%C3%A3o%20s%C3%B3%20a%20Zumbi%20e%20seus%20companheiros%20palmarinos" title="Pinterest"><span style="color: white; text-decoration: none;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 5.25pt;"><span style="color: black;"><a href="https://www.linkedin.com/shareArticle?mini=true&url=https://www.geledes.org.br/a-consciencia-negra-e-nossa/&title=A+Consci%C3%AAncia+Negra+%C3%A9+nossa%21" title="Linkedin"><span style="color: white; text-decoration: none;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 5.25pt;"><span style="color: black;"><a href="https://telegram.me/share/url?url=https://www.geledes.org.br/a-consciencia-negra-e-nossa/&text=A+Consci%C3%AAncia+Negra+%C3%A9+nossa%21" title="Telegram"><span style="color: white; text-decoration: none;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="color: black;"><o:p> </o:p></span><span style="text-align: left;">Por Ynaê
Lopes dos Santos, no DW</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="text-align: left;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-u1PbYHi9hoA/YZq4EliBSTI/AAAAAAAAHwI/YR7K0sDi8R86HAA6ccedNAyTsZCKFMdXQCLcBGAsYHQ/s696/consciencianegra56674572_1005-696x305.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="305" data-original-width="696" height="252" src="https://1.bp.blogspot.com/-u1PbYHi9hoA/YZq4EliBSTI/AAAAAAAAHwI/YR7K0sDi8R86HAA6ccedNAyTsZCKFMdXQCLcBGAsYHQ/w576-h252/consciencianegra56674572_1005-696x305.jpg" width="576" /></a></span></div><span style="font-family: georgia; font-size: large;"> </span><span style="font-family: georgia;"> </span><span style="font-family: georgia; font-size: small;">Foto: Ricardo Borges/divulação</span><p></p><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Existe um ditado que circula entre
várias sociedades africanas que diz: “Até que os leões inventem as suas
histórias, os caçadores sempre serão os heróis das narrativas de caça<i>“.</i> Gosto
muito desse provérbio, pois ele conta de forma simples uma premissa que muitas
vezes pode passar despercebida: a história não é uma via de mão única, uma reta
que nos leva ao presente. A história é emaranhado, é trança, é trama e é
tessitura. E são muitas as pontas que permitem a conexão com esse tempo que já
passou.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Mas esse provérbio também fala sobre
enunciado. Sobre quem conta as histórias e o poder que isso representa não
apenas na construção do tempo presente, mas também nos projetos de futuro, nas
escolhas do que e de quem devemos lembrar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Hojé é dia 20 de novembro de 2021. Há
326 anos Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes quilombolas da história das
Américas, era assassinado. Sua morte demorou muito mais tempo do que os
senhores de engenho da capitania de Pernambuco imaginavam. Na realidade, o
Quilombo de Palmares se transformou num grande pesadelo para os homens que
viviam da exploração do trabalho de homens e mulheres escravizados, a maior
parte deles africanos. Até mesmo o rei de Portugal enviou correspondências para
Zumbi, na tentativa de dissuadi-lo de ser quem era. Zumbi não cedeu aos apelos
reais. O mundo que ele estava construindo com seus companheiros era outro. Ele
sabia muito bem disso, e pagou um preço alto por essa ousadia. Pagou com sua
própria vida.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Sua história atravessou tempo e
espaço. A tradição oral garantiu que gerações de escravizados e libertos
soubessem de seus feitos. E até mesmo a história oficial, aquela escrita por
homens que defendiam a escravidão e a escravização de homens como Zumbi, foi
obrigada a se curvar ao líder palmarino, que, mesmo de maneira rápida, foi
mencionado nos tratados e livros de história escritos no período colonial e ao
longo do século 19.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Todavia, há uma grande diferença
entre constar nos anais da história e se tornar herói nacional. Para ser herói
não basta que um leão passe a contar as histórias. É necessária uma alcateia
inteira. Sendo assim, a história por trás do 20 de Novembro não é apenas a
brava e heroica história de Zumbi dos Palmares e de seus companheiros e
companheiras de luta. O 20 de Novembro também é resultado da luta dos
movimentos negros brasileiros na disputa por uma outra narrativa da história
nacional. Uma narrativa que fez da figura de Zumbi não só um ícone, mas também
um lembrete de tantas histórias e trajetórias que compunham a consciência
negra – e que estavam submersas nesse oceano de racismo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Há 50 anos, no dia 20 de novembro
de 1971, no Rio Grande do Sul, um dos estados mais brancos do país, alguns
cidadãos negros se reuniam no Clube Náutico Marcílio Dias, uma das poucas
associações negras de Porto Alegre. O Brasil vivia os anos de chumbo, numa
ditadura militar que fez da democracia racial seu projeto de nação, ao mesmo
tempo que vigiava atentamente todas as organizações negras do país. Mesmo
assim, aqueles homens e mulheres – como outros tantos negros e negras
brasileiros da época – se reuniam para ler poemas e cantar músicas compostas
por artistas negros, para debater e combater o racismo. Brotava ali, um
importante verso dessa nova história.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A década de 1970 foi marcada pela
ampliação dos movimentos negros em todo o Brasil e teve a criação do
Movimento Negro Unificado (1978) como uma de suas grandes marcas. Essa
movimentação realizada por e para negros questionava a ordem vigente e
propunha uma outra forma de revisitar o passado brasileiro e, portanto, uma
outra forma de ser brasileiro. O 13 de Maio da Princesa Isabel não poderia ser
a marca da liberdade. Mesmo porque, outras liberdades já haviam sido lutadas.
Zumbi era um dos maiores lembretes disso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O que observamos a partir daí, foi
uma ação conjunta e coordenada, com o objetivo de, literalmente, mudar a
história do Brasil, e trazer o protagonismo negro para a centralidade da
narrativa. Um processo que foi lento, que passou por tramitações jurídicas,
que causou polêmicas e muitas críticas daqueles que insistiam em enxergar o
Brasil como uma espécie de paraíso racial.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Então, se hoje temos e comemoramos o
Dia da Consciência Negra no Brasil, devemos agradecer não só a Zumbi e seus
companheiros palmarinos, mas também aos outros milhares de homens e mulheres
negros e negras que não se curvaram aos caçadores e que fizeram de suas
histórias as histórias do Brasil.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #222222;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><i><span style="color: #222222;">*Este artigo compõe a Ocupação da
Rede de HistoriadorXs NegrXs em veículos de comunicação de todo o Brasil neste
20 de novembro de 2021.</span><span style="color: #222222;"><o:p></o:p></span></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: justify;"><i><span style="color: #222222; font-family: georgia;">Mestre e doutora em História Social
pela USP, Ynaê Lopes dos Santos é professora de História das Américas na UFF. É
autora dos livros</span><span style="color: #222222; font-family: georgia;"> Além da Senzala. Arranjos
Escravos de Moradia no Rio de Janeiro (Hucitec 2010), História
da África e do Brasil Afrodescendente (Pallas, 2017) e Juliano
Moreira: médico negro na fundação da psiquiatria do Brasil (EDUFF,
2020), e também responsável pelo perfil do Instagram</span></i><span style="background-color: transparent; font-size: 15px; text-align: left;"><span face="Verdana, BlinkMacSystemFont, -apple-system, segoe ui, Roboto, Oxygen, Ubuntu, Cantarell, open sans, helvetica neue, sans-serif" style="color: #f2c335;"><i><a href="https://www.instagram.com/nossos_passos_vem_de_longe/">https://www.instagram.com/nossos_passos_vem_de_longe/</a></i></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: left;"><span style="color: #222222; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><i><br /></i></span></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 19.5pt; text-align: left;"><span style="color: #222222; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><i> </i></span></o:p></span><span style="color: #222222; font-family: georgia; text-align: justify;">FONTE: <a href="https://www.geledes.org.br/a-consciencia-negra-e-nossa/">https://www.geledes.org.br/a-consciencia-negra-e-nossa/</a></span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-10523770875690099932021-10-29T00:50:00.003-03:002021-10-30T07:59:57.247-03:00Fiori: Dialética e liberdade em Paulo Freire<p> </p><p></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; mso-outline-level: 1; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Num artigo escrito quando Freire preparava
a Pedagogia do Oprimido, a exposição de seu método refinado.
Pensar com o povo (e não para ele). Expor as ciladas da
alienação. Acreditar na construção dialógica do sujeito e de sua consciência</span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Por José Luis Fiori *</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-qWZf1AhC8t8/YXttxIyULKI/AAAAAAAAHvM/OR8R66dlhlsELQwL0M_M_nEi9CEcKoa-ACLcBGAsYHQ/s768/PauloFreirecapa1-1-768x432.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="432" data-original-width="768" height="292" src="https://1.bp.blogspot.com/-qWZf1AhC8t8/YXttxIyULKI/AAAAAAAAHvM/OR8R66dlhlsELQwL0M_M_nEi9CEcKoa-ACLcBGAsYHQ/w519-h292/PauloFreirecapa1-1-768x432.jpg" width="519" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #585858; text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">Imagem:
Alice Vasconcellos</span></span></span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">"<i>En sociedades cuya dinâmica estructural conduce a
la dominación de las conciencias, la “pedagogia dominante es la pedagogia de
las clases dominantes”. Los métodos de opresión no pueden, contradictoriamente,
servir a la liberación del oprimido. En esas sociedades, gobernadas por
intereses de grupos, clases y nacionais dominantes, “la educación como prática de
la libertad” postula necessariamente una “pedagogia del oprimido</i>”<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b>Fiori, E. M.</b>, “Aprender a decir su palabra”<a href="https://outraspalavras.net/descolonizacoes/fiori-dialetica-eliberdade-em-paulo-freire/#sdendnote1sym"><sup><span style="color: #0066cc;">1</span></sup></a><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: medium;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><i>“Dialética y Libertad” é o título de um “documento
de trabalho” que escrevi em 1967, quando participei como “jovem aprendiz” de
uma pesquisa – ao lado de Maria Edy Chonchol e Marcela Gajardo – liderada por
Paulo Freire, sobre “o universo temático dos camponeses chilenos”, realizada no
Instituto de Investigação e Capacitação em Reforma Agrária (ICIRA/FAO), sediado
em Santiago do Chile. Essa pesquisa foi feita na mesma época em que Paulo
Freire escreveu sua obra clássica, Pedagogia do Oprimido,
(1967-1968) que ele tinha por hábito discutir – quase diariamente – com sua
equipe de pesquisa e com outros colegas do próprio ICIRA.<o:p></o:p></i></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em 1973, este pequeno texto introdutório à nossa
pesquisa, e que me foi encomendado pelo próprio Paulo Freire, foi incluído num
livro publicado em Bilbao, Espanha, ao lado de dois artigos de P. Freire e E.
M. Fiori. Meu texto foi escrito originalmente em espanhol, mas ao relê-lo
agora, depois de 54 anos, decidi traduzir apenas uma parte e republicá-la
livremente, não pelo seu valor intrínseco, mas como um documento de uma época
que pode ser útil para os estudiosos da educação e da vida de Paulo Freire, e
como uma forma de relembrar e homenagear Paulo, que foi para mim um mestre
inesquecível, um humanista, e um amigo de toda vida, apesar das distâncias
geográficas e a despeito da nossa diferença geracional. Os anos calejaram
minhas ideias e minhas esperanças, mas jamais poderei esquecer o otimismo
perene de Paulo, e uma lição que me deu logo quando nos conhecemos: “nunca
tenha medo de suas próprias ideias, mesmo quando elas mudem através do tempo”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; mso-outline-level: 3; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="color: #585858;">Dialética e Liberdade</span></b><span style="color: #585858;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“Nenhuma ação humana pode ser compreendida fora do
contexto histórico de suas relações sociais e culturais, e de suas
determinações estruturais; relações dos homens com o mundo, e dos homens com os
demais homens, através do mundo. Por isso, a ação humana é sempre interação,
comunicação e transformação. Ela não existe sem um sujeito que a intencione, e
sem um objeto que seja “intencionado”. Ela é “práxis” e, como tal, possui uma dimensão
“finalista” que é definida e orientada por valores que se interconectam
dinamicamente, e que se constituem no conteúdo essencial de toda a ação.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Apesar de sua imensa complexidade, é possível falar
e classificar as ações humanas em pelo menos dois grandes tipos, segundo a
posição hierárquica do ator: as “ações massificadoras ou dominadoras” e as
“ações conscientizadoras ou libertadoras”. Nas primeiras, o homem é objeto do
próprio homem, ocupando o lugar de “mediador instrumental” entre este e o mundo.
Nas outras, os homens se constituem e constroem dialogicamente como sujeitos de
um “mundo objeto”. Num caso, os conteúdos e finalidades são impostos por um
homem sobre outro, e por um grupo sobre o outro. Já no segundo caso, os
conteúdos e finalidades da ação são buscados e realizados de forma conjunta
pelos dois “polos” envolvidos em toda e qualquer relação ou situação concreta.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A inspiração originária desta pesquisa sobre a
“consciência camponesa”, e deste projeto mais amplo de ação pedagógica proposto
por Paulo Freire, nasce do reconhecimento dessa dicotomia fundamental, mas não
de um reconhecimento passivo – pelo contrário, de uma opção clara e definida
pelos oprimidos. Um projeto de ação pedagógica transformadora que parte da
investigação da realidade em movimento das pessoas envolvidas e que depois
volta a essas pessoas tematizando e problematizando seus problemas e desafios
mais cruciais. Por isso, nesta concepção pedagógica, </span></span><span style="font-family: georgia; font-size: large;">investigação, tematização e problematização se
sucedem e se articulam dialeticamente como momento de um mesmo processo de
análise, síntese e superação. Uma ação cultural que parte, portanto, de uma
pedagogia dialógica que começa na própria investigação do “universo temático”
do povo. Depois segue com a tematização desde universo para voltar ao povo na
forma de conteúdos problemáticos. Esse processo se reinicia e refunda
continuamente, na medida em que o povo supera suas experiências no mundo,
refletindo sobre elas e integrando-as em uma visão sempre mais compreensiva e
crítica, e numa ação transformadora cada vez mais ampla e inclusiva. Reflexão e
práxis, portanto, aparecem nesta pedagogia como polos que se envolvem e
implicam mutuamente numa superação contínua.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Deste ponto de vista, a educação não é algo que se
pensa e estrutura em um mundo vazio de meditações metafísicas. É uma ação e uma
intervenção que não podem se dar fora das relações concretas dos homens através
do seu mundo. E neste sentido, também, a ação pedagógica não pode escapar da
dicotomia proposta no início deste texto. A pedagogia se situa no mundo das
ações e relações humanas, e, nestes termos, ela ou é massificadora ou é
libertadora, não podendo ser as duas coisas ao mesmo tempo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Ao postular uma educação que nasce do povo e define
seus conteúdos e finalidades com o povo, Paulo Freire defende uma pedagogia “do
povo”, e não “para o povo”. “Uma pedagogia em que o oprimido tenha condições de
se descobrir e conquistar reflexivamente, como sujeito do seu próprio destino
histórico” <a href="https://outraspalavras.net/descolonizacoes/fiori-dialetica-eliberdade-em-paulo-freire/#sdendnote2sym"><sup><span style="color: #0066cc;">2</span></sup></a>. Uma pedagogia que,
ao investigar e tematizar o mundo junto com o povo, faz do mundo do povo um
“contínuo retomar reflexivo de seus próprios caminhos de libertação” <a href="https://outraspalavras.net/descolonizacoes/fiori-dialetica-eliberdade-em-paulo-freire/#sdendnote3sym"><sup><span style="color: #0066cc;">3</span></sup></a> . Uma pedagogia,
em última instância, que sendo conscientizadora, se assume e se define
plenamente como uma ação “desmassificante” e libertadora, e como uma pesquisa
que se propõe ser dialética e política, na medida em que coloca a libertação
como um objetivo ético e uma busca permanente.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A proposta básica da pesquisa de Paulo Freire é
realizar uma investigação que seja pedagógica, e uma pedagogia que seja ao
mesmo tempo investigativa. O processo educativo, segundo Freire, envolve a
investigação e a transcende a um só tempo, mas na medida em que a investigação
faz parte do processo educativo, ela também deve ser concebida e pensada
dialeticamente. Por isso mesmo, a investigação não tenta jamais enclausurar a
realidade em um espaço limitado do tempo; ao contrário, procura adequar seu
método e suas técnicas ao movimento dinâmico da própria realidade. Propondo
como objetivo captar historicamente uma sociedade que está em permanente
movimento, envolve-se com o próprio movimento dessa sociedade, ao contrário da
antropologia tradicional e da metodologia clássica da sociologia empírica. Sem
aceitar jamais a “coisificação” dos homens e do seu mundo, ao propor a
necessidade de fazer do próprio povo “pseudoinvestigado”, o verdadeiro sujeito
é investigador do seu mundo e da sua forma de pensar este mundo. A
investigação, ao captar e objetivar junto com a comunidade suas próprias
situações e desafios existenciais estratégicos, permite que a própria
comunidade objetive e critique sua própria situação neste mundo através do
diálogo e do exercício da reflexão crítica.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Primeiro, se codificam certas situações
existenciais que são depois projetadas e discutidas nos “círculos de
investigação”. Depois, é o próprio pensar do povo exposto através dos diálogos
que é recodificado na forma de “temas recorrentes” e cruciais que são
reapresentados e propostos à discussão do grupo em novos e sucessivos “círculos
de cultura”. E é desta forma, através de codificações existenciais e
decodificações dialógicas, que avança a investigação, procurando inserir-se
dinamicamente na realidade comunitária e histórica do grupo. Desta forma, os
“círculos de investigação” e os “círculos de cultura” se seguem de forma
contínua, constituindo-se no método pelo qual avançam em conjunto a
investigação e a atividade pedagógica, codificando, decodificando e
recodificando a vida da comunidade e do mundo “externo”, em conjunto com os
pesquisadores. Desta forma, as distinções entre os dois tipos de “círculos”,
impostas pela própria cronologia do processo investigativo e educativo, vão
desaparecendo de forma progressiva, transformando os círculos de investigação e
cultura numa só realidade, em um só “círculo”, no qual a investigação e a
educação se fazem ao mesmo tempo e no mesmo lugar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Já os participantes dos “círculos de investigação”,
ao discutirem suas situações existenciais, começam a distanciar-se e a criticar
seu próprio pensamento e sua visão do seu próprio mundo, que vai sendo
objetivado e questionado na sua forma de ser anterior ao início do processo
investigativo-educativo. Assim os participantes, em conjunto, acabam
objetivando sua própria maneira anterior de dizer o seu mundo, assumindo uma
nova consciência de si mesmos e do mundo ao redor, sem ver nem conseguir dizer
o que de fato estavam vivendo. Desta forma, a própria comunidade se assume como
investigadora de si mesma, e esta nova atitude vai-se desenvolvendo cada vez
mais nos “círculos de cultura”, onde a comunidade crítica e supera
reflexivamente suas próprias condições imediatas, capacitando-se para
transformar em conjunto o seu mundo real.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Paulo Freire diria que a comunidade emerge de sua
“consciência ingênua”, assumindo cada vez mais a postura própria de uma
“consciência crítica”. Isso seria uma reprodução, em escala menor, do próprio
processo universal de constituição dialética da consciência, como uma
consciência histórica movida pela pulsão existencial e histórica da liberdade.
Portanto, a atividade de investigação já deve ser – em si mesma – interativa e
transformadora, fazendo dos homens “investigados” sujeitos de sua própria superação
e realização. E é por isso que se pode dizer ou propor que os homens se
conscientizem e se libertem ao investigar a si mesmos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Deste ponto de vista, o papel do investigador
“profissional” termina em um determinado momento, mas a investigação continua na
direção do futuro, nas mãos da própria comunidade investigada, e dos pedagogos
que seguirão junto com a comunidade, pesquisando e se educando enquanto
transformam o mundo. E é neste sentido que se pode dizer que a “investigação
temática” se transforma numa prática permanente da liberdade. Ou seja, o
processo de investigação e de educação prepara os homens para sucessivas
tomadas de decisão. Mas existe uma decisão prévia que inspira toda a pesquisa e
que está presente em todas as etapas deste processo que procuramos descrever: a
opção e a decisão de desenvolvimento permanente da consciência crítica e de
libertação dos homens oprimidos”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">____________<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Fiori, J. L. “Dialética y Libertad. In: Freire, P.;
Fiori, E. M; Fiori, J. L. <i>Educacion Liberadora</i>. Bilbao: Editora
Zero S.A., 197319 de setembro de 2021<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">____________<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><a href="https://outraspalavras.net/descolonizacoes/fiori-dialetica-eliberdade-em-paulo-freire/#sdendnote1anc"><span style="color: #0066cc;">1</span></a>. In: Freire, P.; Fiori E. M.; e Fiori
J.L. <i>Educación Liberadora</i>. Bilbao: Zero S.A., 1973, p. 9.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><a href="https://outraspalavras.net/descolonizacoes/fiori-dialetica-eliberdade-em-paulo-freire/#sdendnote2anc"><span style="color: #0066cc;">2</span></a> Fiori, E. M. <i>Aprender a decir
su palabra </i>(FREIRE; FIORI; FIORI, 1973, p. 10).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><a href="https://outraspalavras.net/descolonizacoes/fiori-dialetica-eliberdade-em-paulo-freire/#sdendnote3anc"><span style="color: #0066cc;">3</span></a> Idem, p. 11.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><a href="https://outraspalavras.net/author/josefiori/"><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #585858; font-family: "Source Sans Pro", "serif"; font-size: medium; line-height: 107%; text-decoration-line: none;"><o:p></o:p></span></a></p><p></p><h4 style="mso-line-height-alt: 20.4pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">* <span style="font-weight: normal;"><i>Professor permanente do Progama de Pós-Graduação em Economia Politica Internacional, PEPI, Coordenadr do GP da UFRJ/CNPQ. "O poder global e a geopolitica do Capitalismo", Coordenador Adjunto do Laboratório de "Ética e Poder Global", Pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis, INEEP. Publicou "O Poder global e a nova geopolítica das nações", Editora Boitempo, 2007; "História, estratégia e desenvolvimento", Boitempo, 2011; "Sobre a Guerra", Vozes, 2018. </i></span></span></h4><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-weight: normal;"><i><br /></i></span></span></div><p>
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 20.4pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">FONTE: <a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank">Outras Palavras</a></span></p><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-39290677307426107762021-10-17T13:15:00.001-03:002021-10-17T13:15:36.522-03:00SBPC vê a ciência brasileira à beira do colapso<p><br /></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia;">Em uma canetada, Guedes reduziu os recursos
destinados ao ministério da Ciência e Tecnologia em 12,5 vezes – para míseros
R$ 55,2 milhões. Afetará principalmente pesquisas e laboratórios. Renato Janine
Ribeiro analisa o desmonte<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><i> </i></span></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><i><br /></i></span></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><br /></span></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-w1qxjtvQCRk/YWxLxnvZ15I/AAAAAAAAHuk/OjYIoS_SDbUlT3sHnOmXU69Ag9fRMBp0wCLcBGAsYHQ/s660/ciencia02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="371" data-original-width="660" height="309" src="https://1.bp.blogspot.com/-w1qxjtvQCRk/YWxLxnvZ15I/AAAAAAAAHuk/OjYIoS_SDbUlT3sHnOmXU69Ag9fRMBp0wCLcBGAsYHQ/w549-h309/ciencia02.jpg" width="549" /></a></span></div><span style="font-family: georgia;"><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">Por <b>Nádia Pontes</b>, no </span><a href="https://www.dw.com/pt-br/brasil-corre-risco-de-ter-apag%C3%A3o-cient%C3%ADfico/a-59477235?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste"><i><span style="color: #42708f;">DW</span></i></a><i><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Para Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), corte de mais de R$ 600 milhões
que iriam para a ciência é uma escolha política com consequências devastadoras.
Sem ciência, o Brasil está fadado ao atraso, diz.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Em uma manobra que pegou a comunidade científica de
surpresa, o Ministério da Economia provocou um corte drástico em recursos
aguardados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Dos R$
690 milhões previstos por meio de um projeto de lei, apenas R$ 55,2 milhões
foram direcionados para a pasta. A redução foi feita pela comissão mista de
orçamento do Congresso Nacional a pedido do ministério comandado por Paulo
Guedes.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">O montante inicial abasteceria principalmente o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que
contava com a verba para viabilizar uma nova chamada de projetos – que tinha
sido suspensa em 2018 por falta de recursos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Para Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação
e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
a decisão do governo ameaça a continuidade da pesquisa no país. “É uma situação
inacreditável”, afirma em entrevista à DW Brasil, apontando que o Brasil pode
estar diante de um “apagão científico”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Numa carta voltada aos parlamentares, a SBPC e as
demais entidades que compõem a Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no
Parlamento (ICTP.br) – Academia Brasileira de Ciências, Andifes, Confap, Conif,
Confies, Consecti e IBCHIS – classificam o corte de uma afronta e fazem um
apelo para que os políticos revertam a decisão. “Está em questão a
sobrevivência da ciência e da inovação no país”, alertam.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Sem ciência, o país está fadado ao atraso,
considera Janine Ribeiro. “O Brasil está perdendo chances gigantescas de se
projetar”, diz.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">DW Brasil: O corte nos recursos pegou a
comunidade científica de surpresa?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">Renato Janine Ribeiro:</span></b><span style="color: black;"> Foi uma surpresa total. Imagine o projeto de
lei (PLN 16/2021) estar para ser votado, na hora chega uma carta do ministro
que desautoriza tudo o que estava sendo feito, e que muda todas as coisas… Isso
não existe. É uma situação inacreditável o que aconteceu, um choque muito
grande para a comunidade científica. As pessoas ficaram sem saber o que fazer
diante disso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">É o choque e a preocupação. O ministro da Economia
nem avisou o colega da Ciência, o Marcos Pontes, do que estava acontecendo,
segundo o que sabemos. Isso também é uma atitude que não é usual, tratar um
colega do ministério dessa maneira.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">Quais são as consequências imediatas desse corte
que vocês já conseguem vislumbrar?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">São devastadoras. Ficamos praticamente sem
financiamento para fazer pesquisa. Fica muito limitado. Desse valor total (R$
690 milhões), R$ 200 milhões iriam para o chamado Edital Universal do CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Ele lança editais específicos e, de vez em quando,
um edital universal. O específico pode ser, por exemplo, para pesquisar uma
vacina, para tratar de um problema específico, para desenvolver uma área que
está precisando de aportes novos, etc. Já o edital universal está aberto para
todas as áreas do conhecimento e tem finalidade de atender todas as áreas que
se qualifiquem. Esse edital tinha R$ 250 milhões, dos quais R$ 200 milhões
viriam desse dinheiro novo. E agora não virá, foi cortado.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Foram 30 mil pedidos de investimentos que entraram
para esse edital até o dia 30 de setembro, que seriam analisados agora e que
não terão mais como seguir.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">Bolsas também serão afetadas?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Pelo o que sabemos até agora, foram afetados alguns
auxílios, como as bolsas RHAE, que são bolsas de recursos humanos para atender
empresas. Elas servem para financiar um aluno, um mestrando ou doutorando, para
melhorar o desempenho econômico de uma empresa. Essas bolsas foram cortadas
também na faixa de centenas de milhões de reais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">O que é possível fazer para minimizar esse impacto
que o senhor classifica como devastador?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Temos que fazer uma grande mobilização. Já
convocamos para o dia 15 próximo uma jornada de defesa da ciência. Nossa ideia
é mostrar para a sociedade brasileira a importância da ciência, mostrar como a
ciência se traduz numa melhor vida para as pessoas, como isso pode ser
decisivo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Tem que ficar claro que nós não estamos pedindo
coisas para nós, que somos da área da ciência. Nós estamos querendo mostrar o
papel decisivo que a ciência tem para o desenvolvimento econômico e social do
país.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">Na visão do senhor, a busca por soluções para frear
a pandemia deveria ter mostrado isso aos governantes e à sociedade?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Nós fomos capazes de muito. Nós temos Jaqueline
Goes de Jesus, a biomédica negra que fez o sequenciamento do genoma do vírus
SARS-CoV-2 em apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de covid-19
no Brasil.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Se o governo tivesse canalizado recursos para
vacina, nós já teríamos tido uma vacina brasileira. Cuba tem sua própria
vacina, e o Brasil tem mais cientistas e PIB (Produto Interno Bruto) que Cuba.
Mas, em vez disso, o governo colocou dinheiro na cloroquina. É muito complicado
isso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">O que pode acontecer com as universidades públicas,
que já vêm sofrendo com cortes e falta de verbas?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Corremos risco de ver laboratórios fechando. É como
ter uma Ferrari e deixar o motor fundir porque não se coloca óleo. Temos
laboratórios que receberam investimento, construíram muitos resultados, com
muita dedicação e, de repente, param de funcionar. Eles não se atualizam, os
equipamentos não são mais reparados, não se recebem mais pesquisadores,
estudantes não são mais enviados ao exterior para conhecer novas tecnologias e
novas descobertas científicas. É algo tenebroso. Não consigo entender a lógica
disso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">Como o senhor enxerga o futuro de um país que não
investe em ciência?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">O futuro é contrário, por exemplo, ao futuro
alemão. A Alemanha é a atual potência que é devido à ciência. O país conseguiu
chegar aonde chegou porque usou muito o resultado de pesquisas científicas.
Laboratórios como os do Instituto Max Planck são fundamentais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Se o Brasil não for capaz de fazer isso, nós vamos
ficar um país atrasado. É como exportar o pó de café para importar as cápsulas
feitas para as máquinas da bebida. É uma linha divisória que a industrialização
pretendia romper na década de 1960, mas não basta ter indústria, é preciso ter
conhecimento científico aprimorado.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">O Brasil está perdendo chances gigantescas de se
projetar. Assim como a mudança na diplomacia ambiental brasileira significou a
perda de protagonismo internacional, já que o Brasil sempre foi um país
respeitado por suas políticas de meio ambiente e serenidade na diplomacia, nós
estamos tendo agora o risco de ter um apagão científico. E um apagão desse é
algo que acontece depressa, e, depois, para reaver é muito demorado.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">É possível reverter de imediato parte desse dano?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Existe dinheiro. Tanto que estão sendo perdoadas
multas ambientais em grande valor. O governo está abrindo mão de recursos para
outras áreas. Por que ele abre mão de multas de crimes ambientais e não
canaliza esses recursos para a ciência? É uma escolha política.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: x-small;">FONTE:</span> <a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank">Outras Palavras</a></span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><br /><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-89912718149677813542021-10-16T19:36:00.001-03:002021-10-16T21:08:38.381-03:00O futuro da educação na fogueira obscurantista de Bolsonaro<p> </p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-top: 15pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Por
Rogerio Carvalho<o:p></o:p></span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-top: 15pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;"><i>"Assim como é característico de governos
autoritários e obscurantistas, para não dizer fascistas, a educação é uma das
principais vítimas do governo Bolsonaro", destaca o senador Rogério
Carvalho (PT-SE)<o:p></o:p></i></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 24.75pt; margin-right: -3.75pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 24.75pt; margin-right: -3.75pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-5FEKpjo7-XI/YWtQ-WYXWqI/AAAAAAAAHuE/UK25pf4nSZUsmYwvDatrZXl3EfG4AuRXwCLcBGAsYHQ/s1250/Protesto%2Bestudantes.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1250" height="305" src="https://1.bp.blogspot.com/-5FEKpjo7-XI/YWtQ-WYXWqI/AAAAAAAAHuE/UK25pf4nSZUsmYwvDatrZXl3EfG4AuRXwCLcBGAsYHQ/w636-h305/Protesto%2Bestudantes.webp" width="636" /></a></div><span style="font-family: georgia; font-size: small;"> </span><span style="font-size: xx-small;"><span style="font-family: georgia;"> Protesto dos estudantes na Avenida Paulista</span></span><span style="font-family: georgia; font-size: x-small; text-align: justify;"> (Foto:
Roberto Parizotti)</span><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: xx-small;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Segundo dados da OCDE, o Brasil está entre os
poucos países do mundo que não aumentaram os recursos em educação para reduzir
os prejuízos de aprendizagem durante a pandemia de Covid-19. Lamentavelmente,
enquanto entre 67% e 78% das nações elevaram o orçamento para pelo menos alguma
das etapas da educação básica, o governo Bolsonaro optou por seguir na
contramão dos países e não destinou recursos extras para nenhum nível de
ensino.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Aliás, desde o início da pandemia, não houve
nenhuma iniciativa do Ministério da Educação de Bolsonaro para dar suporte às
redes de ensino e à comunidade escolar. Os alunos foram mandados de volta para
a casa sem qualquer amparo de um plano de estudos ou de políticas de acesso ao
ensino remoto.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Para piorar, Bolsonaro vetou a ajuda financeira de
R$ 3,5 bilhões para estados, municípios, Distrito Federal e municípios
garantirem acesso à internet para alunos e professores das redes públicas. Na
prática, o governo utilizou a pandemia para realizar um ajuste fiscal na
educação, tanto que o Ministério da Educação encerrou 2020 com o menor gasto em
educação básica na década. <o:p></o:p></span></span></p>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1pt;">
<p class="MsoNormal" style="border: none; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span style="display: none; line-height: 115%;">Parte superior do
formulário<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div style="border-top: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-top-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 1pt 0cm 0cm;">
<p class="MsoNormal" style="border: none; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; mso-border-top-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 1.0pt 0cm 0cm 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;"><span style="display: none; line-height: 115%;">Parte inferior do
formulário<o:p></o:p></span></p>
</div>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span><span style="color: #333333; line-height: 115%;">Além disso, tentou
utilizar a educação como instrumento de validação da tese genocida de
imunização natural de rebanho, que estimulou o contágio e resultou na morte
evitável de milhares de brasileiros. Tanto que, o ministro da Educação chegou a
fazer um pronunciamento em rede nacional estimulando o retorno precoce às aulas
presenciais, sem qualquer análise epidemiológica, sem planejamento e sem um
processo de imunização completa dos profissionais de educação.</span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Na realidade, desde o início do governo, Bolsonaro
transformou o Ministério da Educação em um cavalo de batalha de combate ao que
ele chamou de “marxismo cultural”. Privilegiou as pautas ideológicas em
detrimento do planejamento e de políticas públicas de melhoria da qualidade e
de indução ao acesso e à permanência, especialmente dos mais vulneráveis, à
educação. Nomeou ministros negacionistas, que se ocuparam muito mais em atacar
as nossas universidades e o patrona da educação, Paulo Freire, que completaria
100 anos no próximo domingo, do que em pensar no fortalecimento da educação
pública e universal.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Mais do que isso, Bolsonaro é refém de uma visão
elitista e excludente. O próprio ministro da Educação tem declarado que a
universidade deve ser para poucos, que não quer o “inclusivismo” e que crianças
com deficiência "atrapalharem" o ensino dos demais estudantes e, em
alguns casos, ser "impossível a convivência".<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">Assim como é característico de governos
autoritários e obscurantistas, para não dizer fascistas, a educação é uma das
principais vítimas do governo Bolsonaro. Hitler promoveu o “Bücherverbrennung”,
com a queima, em praça pública, de livros que desviassem dos padrões impostos
pelo regime nazista. Bolsonaro queima o nosso passaporte para futuro com a falta
de políticas públicas para a educação, com a total inoperância do Ministério da
Educação e com o estrangulamento orçamentário da pasta, que levará à completa
paralisia e à falta de capacidade do estado de investir no amanhã dos nossos
jovens.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-small;">FONTE </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://www.brasil247.com/blog/o-futuro-da-educacao-na-fogueira-obscurantista-de-bolsonaro">https://www.brasil247.com/blog/o-futuro-da-educacao-na-fogueira-obscurantista-de-bolsonaro</a></span></span></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-2996682036588290012021-10-08T07:54:00.000-03:002021-10-08T07:54:19.493-03:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-VCd3YhaEFC8/YWAjM1OVqHI/AAAAAAAAHtk/KLEIXmSfyR8YUP3J3kTuOoi6UIVsj8WJwCLcBGAsYHQ/s789/Trabalhos%2B%2BAcademicos%2B-%2BCopia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="789" data-original-width="526" height="546" src="https://1.bp.blogspot.com/-VCd3YhaEFC8/YWAjM1OVqHI/AAAAAAAAHtk/KLEIXmSfyR8YUP3J3kTuOoi6UIVsj8WJwCLcBGAsYHQ/w364-h546/Trabalhos%2B%2BAcademicos%2B-%2BCopia.jpg" width="364" /></a></div><br /> <p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-59812863910832170612021-09-19T10:23:00.000-03:002021-09-19T10:23:38.165-03:00 Paulo Freire, 100: Em busca de outra autoridade pedagógica<p><br /></p><p>
</p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: medium;">No centenário do educador brasileiro, um convite
para repensar o papel do mestre. Em vez de lógicas disciplinantes, uma educação
libertadora requer também outra gramática de poder, que promova o diálogo e a
construção coletiva</span><o:p></o:p></span></span></i></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: georgia;">Por <a href="https://outraspalavras.net/author/robertosilva/" title="Posts de Roberto Rafael Dias da Silva"><span style="color: windowtext; text-decoration: none;">Roberto Rafael Dias da Silva</span></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-RfWHVUvvBYc/YUc4h3GeBeI/AAAAAAAAHsY/sRGMvsnAd20_ZppQmYXVOdfxIrpiH7VZQCLcBGAsYHQ/s1024/Paulo_Freire_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="641" data-original-width="1024" height="342" src="https://1.bp.blogspot.com/-RfWHVUvvBYc/YUc4h3GeBeI/AAAAAAAAHsY/sRGMvsnAd20_ZppQmYXVOdfxIrpiH7VZQCLcBGAsYHQ/w547-h342/Paulo_Freire_.jpg" width="547" /></a></span></div><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Escrever sobre o centenário de Paulo Freire,
considerando minha formação em Pedagogia e meu envolvimento com as questões
educacionais, apresentou-se para mim nas últimas semanas como uma tarefa
inadiável. Freire ocupa um espaço fundamental em nossas prateleiras; não
somente pela difusão internacional de seu pensamento, mas também pela
necessidade de produzir conhecimento em Educação colocando-o em nosso horizonte
de reflexões. Justapondo-se ao seu pensamento, refutando suas hipóteses ou
reelaborando seu repertório de indagações, as últimas gerações de educadores
precisaram colocar o pensamento freiriano em permanente reflexão. Há que se
reconhecer também – e isto ainda é um aspecto bem significativo – o quanto suas
obras são recorrentemente mencionadas e cada vez menos estudadas. Ou ainda,
como destacou o professor Flávio Brayner, no campo educacional construímos
certo culto à personalidade do mestre, acompanhado de uma gradativa
institucionalização de sua obra.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Reconheço a crítica realizada pelo professor
Brayner e tais argumentos servirão de balizas intelectuais para a reflexão que
farei neste texto. Isto é, sob o <i>ethos</i> do pensamento
freiriano, evitarei uma posição de fidelidade para colocar em debate um aspecto
que considero central nas obras do pedagogo brasileiro, qual seja: <i>o
redimensionamento da autoridade educativa.</i> Certamente podemos
ingressar no grande conjunto de suas obras por caminhos variados, considerando
o alargado percurso de estudos elaborado por Freire e seus comentadores.
Escolho examinar – e defender – uma concepção de autoridade que se deriva do
repertório de estudos freirianos e que, contemporaneamente, ainda nos permite
caracterizar um modo de relação pedagógica em nosso país.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A publicação da <i>Pedagogia do Oprimido</i>,
no contexto das tensões políticas experienciadas na América Latina na década de
1960, atribuiu visibilidade para questões que respondiam aos desafios
educativos de nosso continente. A crítica da educação bancária – centrada no
professor e em sua necessidade de transmitir conteúdos – bem como o advento de
uma educação problematizadora – baseada no diálogo, na inconclusão dos seres
humanos e nos temas geradores derivados de sua condição existencial – renovaram
a pedagogia latino-americana. O contexto das lutas democráticas, as demandas
pelo enfrentamento das desigualdades e a difusão da teologia da libertação
serviam de contexto para a emergência de um novo léxico para delinear a
formação humana.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Alvo de inúmeras controvérsias, a relação
educando-educador proposta na obra de Freire ainda é o tema que mais me instiga
a considerar em minhas elaborações educativas. “Ninguém educa ninguém”, “o
diálogo começa na busca do conteúdo programático” ou “os homens se libertam em
comunhão” são expressões que – ainda que muito repetidas (a ponto de quase se
tornarem clichês, como lembra Brayner) – recolocam em debate a temática da
autoridade daquele que educa. Teria Freire abdicado da defesa do ensino e do
lugar do mestre? Teria Freire fabricado um educador com vocação política e
pouco compromisso com a qualidade do ensino? Sua pedagogia foi incapaz de
tornar-se efetiva, ficando circunscrita a modelos alternativos e pedagogias
populares? Irei responder de forma negativa a todas essas indagações, uma vez
que Freire – com uma perspectiva humanista – permite-nos recolocar em debate a
controversa questão da autoridade.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Richard Sennett na obra <i>Autoridade</i>,
publicada originalmente no ano de 1980, auxilia-nos a pensar sobre os laços
afetivos das sociedades modernas. Tais laços afetivos têm consequências
políticas e a autoridade é uma dessas expressões emocionais do poder.
Considerando a ambiguidade destes laços, bem como a dimensão contextual
referente aos modos pelos quais cada sociedade constrói seus vínculos, vamos
reconhecendo que a partir das mutações culturais da década de 1960 somos
desafiados a pensar sobre a autoridade. No contexto pós-guerra e das variadas
ditaduras que ocorreram no século XX, importante destacar que se consolidou uma
espécie de medo ou negação da autoridade.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">As imagens modernas acerca do exercício da
autoridade supõem o uso da força, a capacidade de guiar os outros, os modos de
disciplinar ou a capacidade superior de julgamento, como bem descreveu Richard
Sennett. A autoridade, enfim, remete-se a uma força sólida, um refúgio para
nossa proteção ou um guia que nos coloque no melhor caminho. Mais que um mero
exercício de poder, a autoridade é um processo de tradução social (e subjetiva)
das práticas de governo. Podemos aderir ou rejeitar, obedecer ou transgredir,
defender ou substituir tais práticas, como é de nosso conhecimento. Importante
destacar que todas essas características ou dimensões poderiam ser atribuídas
ao professor, pelo menos em sua forma engendrada na Modernidade.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Com a consolidação dos regimes democráticos, no
final do século XX, a questão da autoridade é retomada; desta vez buscando
sinalizar para o seu reconhecimento na vida pública. Relendo alguns clássicos
do pensamento social, Sennett defenderá na obra mencionada que as figuras
públicas da autoridade precisam ser legíveis e visíveis. Isto é, “os cidadãos
devem ler juntos, devem observar a situação da sociedade e discuti-la entre
si”. Neste momento, julgo oportuno voltar a Freire e reconhecer a
potencialidade política de sua definição da autoridade pedagógica, uma
definição enraizada nas lutas educativas de nosso continente.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: medium;">“Ninguém educa ninguém” pode ser interpretada como
um ideal democrático da escola brasileira, na medida em que nossos modos de
autoridade sejam legíveis e visíveis. Com Freire encontramos uma redefinição do
papel do mestre e não o seu esmaecimento como sinalizam alguns filósofos
contemporâneos. Nas palavras do pedagogo, “educador e educando (liderança e
massas), co-intencionados à realidade, se encontram numa tarefa em que ambos
são sujeitos no ato, não só de desvelá-la e, assim, criticamente conhecê-la,
mas também no de recriar este conhecimento”. Sem vincular-me ao culto à
personalidade – aspecto destacado por Brayner que procurei evitar – reconheço
que os escritos freirianos trouxeram importantes contribuições para um
redimensionamento da autoridade pedagógica. A busca por construir uma escola democrática,
capaz de enfrentar as condições desiguais da América Latina, continua sendo
nosso desafio e para isso Freire seguirá sendo um interlocutor fundamental.
Acompanhados da potencialidade de seu pensamento, ainda precisamos reinscrever
a aprendizagem para nossas crianças e jovens em uma gramática mais aberta e
plural.</span><o:p></o:p></span></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">_____________<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: black;">Referências:</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">BRAYNER,
Flávio. <i>Para além da educação popular</i>. Campinas: Mercado de Letras,
2018.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">SENNETT,
Richard. <i>Autoridade</i>. 2<sup>a</sup> ed. Rio de Janeiro: Record,
2012.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">SILVA,
Roberto Rafael Dias da. <i>Sennett & a Educação</i>. Belo Horizonte:
Autêntica, 2015.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: georgia;">FONTE: <a href="https://outraspalavras.net/descolonizacoes/paulo-freire-100-em-busca-de-outra-autoridade-pedagogica/ " target="_blank">Outras Palavras</a><br /></span></p><br /><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-5871223711985983882021-09-11T22:33:00.002-03:002021-09-11T22:33:52.431-03:00E o 11 de setembro chileno?<p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">
Por Aluizio Moreira<br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Data
fatídica essa do 11 de setembro! O Chile tambem teve o seu 11 de setembro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-3cu9-mKRhZo/YT1YLMnnQEI/AAAAAAAAHr0/PVBEzWO837ECiPOmfAnnhyMlYMyBdG4WgCLcBGAsYHQ/s275/chile.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" height="247" src="https://1.bp.blogspot.com/-3cu9-mKRhZo/YT1YLMnnQEI/AAAAAAAAHr0/PVBEzWO837ECiPOmfAnnhyMlYMyBdG4WgCLcBGAsYHQ/w372-h247/chile.jpg" width="372" /></a></div><div style="text-align: center;"> <span style="font-size: x-small;">Palacio La Moneda</span></div><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Exatamente
em 11 de setembro de 1973, tropas do exército chileno sob o comando do
General Pinochet, bombardeavam o Palácio La Moneda em Santiago. O
Presidente Salvador Allende, democraticamente eleito, que se encontrava reunido
com membros do governo, fora ali mesmo morto, em circunstâncias ainda não
esclarecidas (suicídio ou assassinato?). Iniciava-se uma das mais sangrentas
ditaduras militares na America do Sul, que duraria 17 longos anos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Cifras
da ditadura: 3.197 vítimas. Dessas 1.197 pessoas desaparecidas.Cálculos
mais otimistas, estimam 100 mil o número de torturados.Cerca de 500 mil presos
políticos, exilados e exonerados.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Segundo
Norbert Ahrens em artigo publicado no dia 10 do corrente na página </span><b style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Calendário
Histórico</b><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;"> da edição eletrônica do jornal alemão DEUTSCHE WELLE
(1):</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><i><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O golpe de Pinochet foi festejado
politicamente pelo governo norte-americano de Richard Nixon, do qual também
obteve apoio logístico. O golpe militar de 11 de setembro de 1973 foi o
sangrento ponto final da política exterior dos EUA contra o socialista Allende,
que fora combatido por Washington desde o início do seu governo.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Fato
confirmado com o desarquivamento de documentos da CIA, Pentágono,
Departamento de Estado e FBI, solicitado em 1999 pelo ex-presidente dos Estados
Unidos, Bill Clinton, que inclusive revelam as “operações secretas” da CIA no
Chile desde 1962.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Emir
Sader, brasileiro, Sociólogo e Doutor em Ciência Politica, na época exilado no
Chile, juntamente com outros brasileiros em decorrência do golpe de 1964, chega
a afirmar que antes mesmo da posse de Allende:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em reunião no Salão Oval da Casa
Branca, Agustin Edwards, proprietário do jornal El Mercurio, se reuniu com
Nixon e com Kissinger, começando a planejar o golpe. Kissinger afirmou que era
preciso “salvar o povo chileno das suas loucuras”. Essa articulação desembocou
no golpe, na destruição da ditadura chilena e na instauração do regime mais
feroz que o Chile conheceu. (2)</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">No
dia 10 setembro de 2011, enquanto rendia-se tributo às vítimas do World Trade
Center e a data desperta um grande movimento de comoção e solidariedade
internacionais, no Chile, nesta mesma data, em cerimônia privada que reuniu
familiares e amigos, aconteceu o traslado dos restos mortais do
ex-Presidente Salvador Allende para o Mausoleu da família Allende Bussi.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Paralelamente,
o </span><b style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Museo de La Memoria y los Derechos Humanos</b><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">, preparou para o dia
11 a exibição de 2 mil fotografias dos mortos pela ditadura de Pinochet.
Trata-se de “una homenje audiovisual para los hombres y mujeres muertos
por la violencia de Estado entre El 11 de septiembre de 1973 y el 10 de marzo
de 1990.”</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Pouquíssimos
órgãos de comunicação (impressa e/ou virtual) lembraram-se desse fato. Como esquecerão os milhares de mortos no Afeganistão e no Iraque.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">________<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
(1) <b>www.dw-world.de/dw/article/0,2144,319346,00.html </b>Acesso em
10.Set.2011 <br />
(2) <b>www.cartamaior.com.br/templates/blogMostrar.cfm?blog_id=1&alterarHomeAtual=1</b> Acesso
em 10.Set.2011<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><br /><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-80919602177893272802021-09-04T12:21:00.001-03:002021-09-04T12:25:20.036-03:00Bolsonaro e seus ministros erguem o túmulo da Educação<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> <span style="background-color: white; color: #333333;">"O resultado tem sido o desmonte do setor, tocado por quem ultrapassa as fronteiras da mediocridade", analisa Gilvandro Filho, do Jornalistas pela</span><span style="background-color: white; color: #333333;"> </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: white; color: #333333;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 32.35pt; margin-bottom: 3.75pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-iWouiaDMiQc/YTOK5f7cnhI/AAAAAAAAHrI/aMjXoRR9MYwYjmmkBmrNsvlSHrp4w6fMQCLcBGAsYHQ/s1250/Ministro%2Bda%2Beduca%25C3%25A7%25C3%25A3o.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1250" height="273" src="https://1.bp.blogspot.com/-iWouiaDMiQc/YTOK5f7cnhI/AAAAAAAAHrI/aMjXoRR9MYwYjmmkBmrNsvlSHrp4w6fMQCLcBGAsYHQ/w567-h273/Ministro%2Bda%2Beduca%25C3%25A7%25C3%25A3o.webp" width="567" /></a></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: xx-small; text-align: justify;"> (Foto:
Reprodução | REUTERS/Adriano Machado</span><span style="font-size: x-small; text-align: justify;">)</span></span></b></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="color: #333333; line-height: 115%;">Por Gilvandro Filho, para
o </span></b><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><a href="https://catarse.me/jornalistaspelademocracia" target="_blank"><b><span style="color: #0066b0;">Jornalistas pela Democracia</span></b></a><b><o:p></o:p></b></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #585858; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O governo Bolsonaro tem imposto
ao Brasil péssimos gestores públicos, nas mais diversas áreas. Mas, no que se
refere à Educação, as escolhas têm sido a dedo e os resultados, desastrosos.
Numa área básica da vida nacional, os quadros que têm aparecido são bizarros
exemplos do bolsonarismo mais atrasado e rasteiro. O resultado tem sido o
desmonte do setor, tocado por quem ultrapassa as fronteiras da mediocridade e entulhando a galeria de ex-secretários de nomes que, em um governo sério,
sequer seriam lembrados para o cargo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Ao todo, entre os que chefiaram
a pasta e os que foram sem nunca terem sido, cinco bolsonaristas de estirpe
podem juntar aos seus currículos a passagem, mesmo que de raspão, pelo
Ministério de Educação do governo que menos olhou para o setor na História.
Metade deles foi parida da verve anticomunista, antiglobalista e
terraplanista do “filósofo” e astrólogo amador Olavo de Carvalho, mentor da ala
ideológica do governo e padrinhos escancarado de pelo dois ex-ministros, o
colombiano Ricardo Velez Rodriguez e Abraham Weintraub, de sofrida memória.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: georgia; font-size: medium;">Ricardo Velez, o primeiro
ministro da Educação de Bolsonaro, cometeu um número tão grande de
parlapatices, para seus três parcos meses de gestão, que acabou caindo.
Destaque para o pedido que fez a professores para filmar os alunos cantando o
Hino Nacional e recitando o slogan de Bolsonaro, “Brasil acima de tudo, Deus
acima de todos”. O ridículo da ideia não a permitiu prosperar e ele pediu o
boné logo depois.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: georgia;"><span style="font-size: medium;">Abraham Weintraub era mais
perigoso e foi um dos mais ideológicos dos ministros de Bolsonaro. Caiu por
excesso de confiança, pois às vezes pensava ser o próprio presidente da
República. Colecionou palavras e atos polêmicos, alguns de cunho racista, todos
nitidamente antidemocráticos. Na famosa reunião ministerial de 21 de abril de
2020 (a da “boiada” do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles), foi autor
da recomendação para prender os ministros do Supremo Tribunal Federal.
"Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no
STF", declarou, no encontro. Caiu meio que pra cima. Ainda ocupa cargo no
Banco Mundial e manteve por um bom tempo o irmão Arthur como importante
assessor do Planalto.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">No time dos ex-quase-futuros
ministros da Educação, o professor Carlos Decotelli foi o número um em
bizarrice. Anunciado 13 dias após a saída de Weintraub, não chegou a tomar
posse. Foi-lhe fatal a revelação de que mentiu ao enxertar no currículo cursos
e títulos que não possuía e que Bolsonaro, pomposamente, citou na TV ao
anunciar seu novo ministro. “Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela
UERJ, mestre pela Fundação FGV, doutor pela Universidade de Rosário, Argentina,
e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”, declamou o “mito”.
Não era bem assim. As duas universidades estrangeiras desmentiram a conversa
mole e o professor foi “desescolhido”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">E há um caso de recusa, o do
empresário Carlos Feder, que chegou a ser anunciado por Bolsonaro, mas declinou
do convite. Uma sequência de escolhas equivocadas e gestões desastradas que
tornaram a Educação na era Bolsonaro um peso morto em termos de qualidade e
importância histórica. Coisas pelas quais o setor, que já teve à Paulo Freire,
Darcy Ribeiro e Fernando Haddad, sempre primou. O governo Bolsonaro constrói a
façanha de ser o túmulo da Educação.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Mas, pelo visto, o atual chefe
da pasta, o pastor protestante Milton Ribeiro, vai além. Com seu estilo tosco e
inacreditavelmente retrógrado, tem mantido a tradição da linhagem bolsonarista,
e se superado. Rancoroso e radicalmente evangélico (“terrivelmente evangélico”
é outro requisito criado por Bolsonaro, mas para ocupantes do STF por ele
indicado), tem marcado a sua gestão por atitudes de um viés de extrema-direita
que deixa o citado Olavo no chinelo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em seu ideário e discurso,
Ribeiro coleciona bizarrices. Já defendeu a universidade “para poucos”.
Universidade que ele, antes mesmo de ser ministro, já entendia como reduto de
“sexo sem limites”. Em vídeos mais antigos , já apareceu defendendo um
feminicida que, segundo ele, “confundiu paixão com amor”, ou pregando
castigo físico para educar crianças. Um “democrata”. Repleto de aspas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A última de Milton Ribeiro foi
se envolver em bate-boca com a filha do ex-jogador e hoje senador Romário. Ivy,
portadora de síndrome de down, enquadrou o ministro após este ter cometido o
despautério de questionar o “inclusivismo” ao afirmar, na TV Brasil, que
misturar crianças deficientes com alunos sem a mesma condição “atrapalha” o
aprendizado desses últimos. Romário, que tem a defesa da criança com
deficiência como bandeira desde o nascimento na filha caçula, reagiu primeiro,
chamando o ministro de “completo idiota” e “imbecil”. Ribeiro reagiu à moda
bolsonarista, dizendo que a sua frase foi “tirada de contexto”. Mas coube a Ivy
rebater, com doçura, as patadas do ministro, a quem acusou de “mal educado”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">"Sabe, eu tenho síndrome
de Down, sou uma pessoa com deficiência, e sou estudante. Eu estudo para ter um
futuro e ajudar o meu país. Eu não atrapalho ninguém", fulminou a pequena
Ivy, que se mostrou uma craque na sensibilidade, na sagacidade e no bom senso.
Como o pai sempre foi na bola. Como o ministro nunca foi, em nada disso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: georgia;"><i>Gilvandro Filho Jornalista e
compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O
Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV Globo, onde foi
comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados:
Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 3.75pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="color: #333333; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><i> </i></span></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: georgia;">FONTE: <span style="font-size: x-small;"><a href="https://www.brasil247.com/blog/bolsonaro-e-seus-ministros-erguem-o-tumulo-da-educacao">https://www.brasil247.com/blog/bolsonaro-e-seus-ministros-erguem-o-tumulo-da-educacao</a></span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><br /></p><br /><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-7568505754898913442021-08-19T13:31:00.000-03:002021-08-19T13:31:24.131-03:00Em defesa da liberdade acadêmica<p><i style="background-color: white; font-family: georgia; text-align: justify;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;"><br /></span></i></p><p><i style="background-color: white; font-family: georgia; text-align: justify;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Os
poderosos de hoje não têm força para dar cabo da existência física de
professores, mas eles têm o desplante de atentar contra a nossa reputação e
fazem de tudo para nos intimidar</span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;"><br /></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><i><a href="https://1.bp.blogspot.com/-9TRUHgWzYGU/YR6FusY3ipI/AAAAAAAAHpQ/DG6aRA0Q1Fwo7HNh5BYt35xuk8XxLd8UACLcBGAsYHQ/s1250/universidade.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1250" height="282" src="https://1.bp.blogspot.com/-9TRUHgWzYGU/YR6FusY3ipI/AAAAAAAAHpQ/DG6aRA0Q1Fwo7HNh5BYt35xuk8XxLd8UACLcBGAsYHQ/w586-h282/universidade.webp" width="586" /></a></i></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><i><span style="color: #888888; font-family: "source sans pro", Arial, Helvetica, sans-serif; font-weight: 700; text-align: start;"><span style="font-size: xx-small;">(Foto: Agência Brasil)</span></span></i></span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;">Por Eugenio Bucci </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">No dia 23 de outubro
de 1975, Ana Rosa Kucinski Silva, professora do Instituto de Química da
Universidade de São Paulo (USP), foi demitida por “abandono de função”. Um ano
e meio antes, em 22 de abril de 1974, aos 32 anos, havia caído nas mãos da
repressão da ditadura, que fez dela uma desaparecida política. Mesmo assim, a
burocracia universitária, solícita para cima e implacável para baixo, resolveu
demiti-la de forma desonrosa. Colegas de Ana Kucinski protestaram – aos
resmungos, como era possível naqueles tempos –, mas não houve jeito. A militante
da Ação Libertadora Nacional (ALN), depois de perder a vida nas masmorras,
perdeu o título de professora da USP. Sua demissão, com carimbos e rubricas
sobre papel timbrado, marcou de vergonha a história da USP.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Naqueles anos de
chumbo, até mesmo empresas privadas encontraram maneiras de proteger seus
empregados perseguidos pelos órgãos de segurança do regime. Jornalistas de
esquerda escaparam da morte porque contaram com a ajuda não só de seus
camaradas, mas também de seus patrões. Na USP, entretanto, não foi assim. Já
nas primeiras listas de cassação, os medíocres invejosos comemoravam, silentes,
nutrindo seu carreirismo estulto. É possível que, no episódio Ana Kucinski,
algum sabujo tenha confidenciado em surdina algo como: “Mas ela também era muito
radical”. Outro talvez tenha aconselhado os pares a não “afrontar” ou
“arrostar” os militares. Foi um desastre indigno e voluntário. Ao se dobrar
para os camburões e os coturnos, a USP entregou mestres e estudantes aos
cachorros, que depois os abandonaram aos abutres.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Uma universidade que
não defende a vida de seus quadros não sabe a que veio, perde a identidade. Uma
universidade que fecha os portões para os sonhos de seus estudantes, que faz
pouco da integridade de quem dá aulas e imagina ter sua substância não no
saber, mas em repartições movidas por anônimos robóticos, é uma filial de
açougue.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Agora, aqui estamos
nós, os professores universitários que não morreram. Estamos sob risco. Não
cometamos os mesmos erros do passado. O poder que aí está quer nos calar,
enquanto procura pôr na rua os calhambeques a que chama de blindados, para
golpear a democracia. A visão militarista do ensino produz estragos e mais
estragos. Esta semana, o ministro da Educação declarou que os reitores das
universidades federais “não precisam ser bolsonaristas, mas também não precisam
ser esquerdistas, não podem ser lulistas”. O ministro quer um quartel em cada
escola.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Fiquemos atentos. Se
pactuarmos com o arbítrio que se desinibe, estaremos entregues aos cachorros
simbólicos e seus abutres.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">É verdade que os
poderosos de hoje não têm força para dar cabo da existência física de
professores, mas eles têm o desplante de atentar contra a nossa reputação e
fazem de tudo para nos intimidar. Entre tantos ataques, o mais eloquente é o
que se move contra o professor Conrado Hübner Mendes, da Faculdade de Direito
da USP. Autor de vários textos na imprensa, colunista do diário </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Folha
de S. Paulo</span></i><span style="color: black;">, ele é acusado de calúnia, injúria e difamação por autoridades
identificadas com o presidente da República. O procurador-geral da República,
Augusto Aras, move um processo criminal contra ele. O ministro do Supremo
Tribunal Federal Kassio Nunes, indicado por Bolsonaro, requisitou uma
investigação.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Para complicar, a USP
viu-se diretamente enredada na perseguição. No início de maio, Aras solicitou
formalmente à Reitoria que o professor fosse punido pela Comissão de Ética da
casa. O ofício do procurador-geral, que pretende criminalizar absurdamente a
liberdade de expressão e de imprensa, chegou à Cidade Universitária há três
meses e até agora não recebeu a negativa categórica que merece. A demora
preocupa.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">A direção da USP tem
enfrentado com firmeza as sandices autocráticas do governo federal. Nesse caso,
porém, tarda. Difícil entender por quê. Será por obra de miudezas e intrigas
mesquinhas? Será que agora, como em 1975, se ouvem nos bastidores dos órgãos
colegiados comentários do tipo “não é hora de bater de frente com as
autoridades” ou “ele também é muito radical”? Será essa a explicação para a
lentidão?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Não, não pode ser. O
que está em jogo aqui não é se os artigos do professor são mais ou menos
agressivos, não é o melindre das autoridades. O que está em jogo é uma questão
de princípio. Ou a universidade assume a defesa da liberdade acadêmica, ou
ficará sitiada e será apenas obediente, como quer o ministro da Educação.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Conrado Hübner já
recebeu solidariedade expressa de seus colegas, de dezenas de instituições e de
renomados intelectuais do Brasil e do exterior. Só lhe falta o apoio das mais
altas instâncias da USP. Esse apoio não falhará, sabemos que não falhará, mas a
demora realmente preocupa.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Em 22 de abril de
2014, 40 anos depois do desaparecimento de Ana Rosa Kucinski Silva, o instituto
onde ela lecionava reconheceu o erro, revogou a demissão e pediu desculpas à
família. No caso de Conrado Hübner, todos temos certeza, a espera por justiça
não será tão longa.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">*Eugênio
Bucci</span></b><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;"> é professor titular na Escola de
Comunicações e Artes da USP. Autor, entre outros livros, de A superindústria do
imaginário (Autêntica).</span></i><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">FONTE: <span style="font-size: x-small;"><a href="https://aterraeredonda.com.br/em-defesa-da-liberdade-academica/">https://aterraeredonda.com.br/em-defesa-da-liberdade-academica/</a></span></span><o:p></o:p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-58653122698056125422021-08-11T22:50:00.001-03:002021-08-11T22:50:17.234-03:00As três frentes de ataque às universidades<p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Os neoliberais sonham
privatizá-las. Os fascistas não escondem seu rancor pela Ciência. E
os patrimonialistas rejeitam sua democratização política e racial.
Indispensável à reconstrução do país, ensino superior é acossado. Como
resistir?</span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia; text-align: justify;">Por</span><span style="font-family: georgia; text-align: justify;"> Thiago R. Rocha</span></span><span style="font-family: georgia; font-size: large; text-align: justify;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: large; text-align: justify;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-tFiiTwSOnZc/YRR9DNdP-XI/AAAAAAAAHoY/mWGa03PuzAE0dpbdiQYH6B8yfAdBbaSFACLcBGAsYHQ/s568/censura.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="298" data-original-width="568" height="324" src="https://1.bp.blogspot.com/-tFiiTwSOnZc/YRR9DNdP-XI/AAAAAAAAHoY/mWGa03PuzAE0dpbdiQYH6B8yfAdBbaSFACLcBGAsYHQ/w619-h324/censura.jpg" width="619" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Nos
últimos anos, em meio à programação diária de absurdos com a qual nos
habituamos a viver no Brasil contemporâneo, a educação, infelizmente, tem tido
um grande destaque, sempre nos fazendo confrontar com discussões sazonais sobre
dois temas centrais: do final de 2020 para o início do ano, o recorde no corte
de verbas em relação ao exercício anterior e, alguns meses depois, as denúncias
sobre o risco de as universidades pararem por – justamente – falta de verba.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Mas
existem sempre também, obviamente, os eventos “extraordinários” que refletem a mencionada
falta de financiamento e revelam o quanto o projeto de destruição, a “boiada da
barbárie”, avança a todo vapor. O último deles veio à tona com a recente “pane”
nos servidores do CNPq que tirou do ar a plataforma Lattes e cujos dados não
sabemos ainda se poderão ser recuperados. Esses eventos, por mais que
absolutamente graves, representam apenas a ponta do iceberg. O fenômeno em si
não é novo no Brasil, mas o nível de aceleração da degradação parece sê-lo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O
projeto de destruição da universidade pública no nosso país – e,
consequentemente, das condições de se fazer ciência – vem de longa data e
sempre operou, de modo geral, a partir de duas grandes frentes de ataque:
a <i>neoliberal</i>, que nos acompanha mais fortemente desde o final do
século passado, mas que tinha arrefecido ao longo dos governos do PT para
retornar fortemente com Temer; e a <i>ideológica</i> que, também com
seus “vai e vens” históricos, ganha uma força nunca vista antes com a eleição
de Jair Bolsonaro. Nos dois casos, como em quase todos os outros temas, Temer
representa apenas uma ponte para Bolsonaro, mais ou menos como uma jogada
ensaiada em uma partida de vôlei, em que um levanta na medida para o parceiro
cortar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Porém,
justamente porque essas duas frentes de ataque normalmente andam juntas e se
complementam, essa definição acaba sendo ainda um tanto imprecisa, pois, além
de não se tratar de coisas separadas, o pretexto neoliberal não é menos
ideológico do que o nível “ideológico” propriamente dito. Se quisermos ser mais
exatos, portanto, precisamos reorganizar e renomear essas categorias, incluindo
também uma outra questão, que aparentemente contradiz as duas mencionadas, mas
é quem em última instância cria uma conexão entre ambas as frentes e as
transforma em uma coisa só, ao proporcionar o salto que vai do rancor à negação
absoluta. Neste caso, recolocando o problema, teríamos:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="color: black;">1)</span></b><span style="color: black;"> A ideologia neoliberal, que sempre viu o
investimento em educação como gasto desnecessário e nunca se conformou com o
fato de o Brasil ser um dos poucos países onde o ensino superior inteiramente
gratuito ainda resiste;<b> 2)</b> a ideologia patrimonialista de
bases racistas e classistas, ancorada acima de tudo na cultura do privilégio
que não aceita abrir os espaços para outras camadas da sociedade;<b> 3)</b> o
ápice da ideologia neofascista, que utiliza-se do rancor gerado pelos
mencionados enfrentamentos ao patrimonialismo para levar às últimas
consequências a barbárie nua e crua como política de Estado, tendo a
universidade como seu principal bode expiatório.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">As
três camadas estão intimamente conectadas e são facetas indissociáveis do mesmo
problema, que é a tentativa de controle máximo da sociedade e seus recursos por
parte da elite, o que passa necessariamente pela destruição do pensamento
crítico e se materializa, num nível talvez nunca visto antes, no atual governo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">No
caso da <i>primeira frente de ataque</i>, ela sempre esteve presente
na nossa história, mas toma um grande fôlego no terceiro quartel do século XX,
com os experimentos ultraneoliberais, particularmente na América Latina.
Discorrer sobre o papel da ditadura militar neste aspecto, que muitas vezes é
vendida como tendo sido embasada em um projeto desenvolvimentista de nação, mas
que, para além das excrescências políticas e sociais que conhecemos muito bem,
foi quem começou abrir o país como laboratório dos “<i>Chicago boys</i>”,
tiraria o foco do texto.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Porém,
indo direto às contradições essenciais aqui e já fazendo uma comparação entre
as políticas educacionais na ditadura e no pós-ditadura, podemos dizer: por um
lado, <i>os militares</i> buscaram destruir tudo que se aproximasse
de um pensamento crítico mínimo ao mesmo tempo que construíam algumas
universidades; e, por outro, o período do <i>pós-ditadura</i> nos
trouxe a (ideia de) democracia de volta enquanto consagrava a ideologia neoliberal
como modelo econômico inquestionável no país – o que nos dá a impressão de que
talvez sempre tenhamos um preço a pagar pelas coisas boas que nos acontecem.
Afinal, quem não se lembra das grandes “doações” do patrimônio público (sob a
nomenclatura de “privatizações modernizantes”) da era FHC, incluindo o projeto
de entregar de bandeja também, aos farejadores de dinheiro, as universidades?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Passando
para a <i>segunda frente de ataque</i>, ancorada no patrimonialismo
de sempre e na ideologia exclusivista da elite e da classe média que aspira a
ser elite, a universidade começa a ser um “problema” de fato para essas classes
quando, especialmente no fim da década de 1990, o governo federal, ainda com
FHC, começa a discutir políticas públicas para democratizar em certa medida o
acesso às universidades que eles mesmos buscavam destruir, o que culmina, mais
adiante, felizmente, em programas bem definidos de cotas raciais e
socioeconômicas levadas a cabo de forma efetiva nos governos do PT. Aqui, o
rancor da elite com as universidades começa a entrar numa fase preocupante,
especialmente por se tratar de um governo de esquerda abrindo as universidades
para quem, supostamente, não deveria jamais ter o direito de pisar em uma.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Até
então, os argumentos de desmoralização da universidade, embora já existissem
aos montes, não eram tão difundidos, com exceção de certas caricaturas que se
faziam dos cursos de ciências humanas de forma geral e dos militantes de
esquerda em específico. Mas a situação chega mesmo ao nível do descontrole no
pós-2014 e com toda a movimentação em torno do golpe de 2016, a partir do
pretexto mais do que cínico da “escola sem partido”. Essa foi a fase final da
“transição”, por assim dizer, que abriu o caminho para o cenário que levou Jair
Bolsonaro à Presidência da República, com a tarefa, entre outras, de destruir o
“comunismo”, que, segundo ele e seus seguidores, é maquinado dentro da
universidade pública para ser difundido para o resto da população – sendo o
termo “comunismo” aqui, evidentemente, o guarda-chuva utilizado para
caracterizar qualquer coisa que se coloque contra a barbárie absoluta.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">De
certa forma, a “preocupação” que não deixa dormir uma elite de tendências
neofascistas e consumida pelo ódio faz sentido no seguinte ponto: a
universidade funciona, de fato, como uma espécie de muro de contenção das
ideias mesquinhas e autoritárias que ela defende, assim como a própria escola
deveria, desde a infância, formar indivíduos capazes de “se esquivar”, ou mesmo
de se “descontaminar”, dessas ideias que nunca deixaram de circular na
sociedade, especialmente no ambiente de socialização primária que é a família.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">E
se, neste sentido, para a elite, a universidade é um antro de “esquerdistas”, é
porque, numa explicação simples e direta, mas suficientemente precisa, quanto
mais os indivíduos estudam, quanto mais eles entendem o funcionamento da
sociedade em que vivem e quanto mais começam a produzir conhecimento sobre
essas descobertas, mais eles tendem a se afastar dessa concepção reacionária de
mundo que boa parte da elite defende: ou seja, mais esses indivíduos gostam da
democracia e de tudo que ela proporciona, como a proposta de uma maior
igualdade entre as pessoas; em suma, mais eles se identificam com as ideias de
esquerda.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Não
foi, portanto, por acaso que, entrando efetivamente na <i>terceira frente
de ataque </i>– a mais virulenta de todas, o ponto final desse processo de
embrutecimento –, o rancor da democratização do acesso se transformou num ódio
muito mais amplo e profundo, o que levou à defesa explícita da destruição da
universidade. A essa altura, esta não poderia mais ser outra coisa senão um
lugar de pura balbúrdia e tráfico de drogas, onde as salas de aulas serviam
apenas como palco de orgias, de modo que todos os frequentadores das
universidades, quase sem exceção, passaram a ser tachados de grandes
pervertidos cujo único propósito de vida é destruir a integridade moral da
família tradicional brasileira. Tudo isso, <i>apesar de</i> a
universidade continuar sendo frequentada em boa parte pela própria classe média
raivosa que seguramente nunca viu, nas universidades em que seus membros sempre
estudaram, nenhum resquício de quaisquer desses delírios. Mas a realidade,
nesse momento, já havia se tornado também um acessório desimportante e mesmo
indesejado.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O
problema, no fim das contas, é que, como é a universidade pública que produz
praticamente a totalidade do conhecimento de ponta que circula no país, a
pandemia levou a situação ao limite do absurdo, no momento em que os cavaleiros
da morte e da ignorância se sentiram obrigados a jogar de uma vez por todas na
lata do lixo não apenas as universidades, mas todo o conhecimento científico
que só pode ser produzido ali, incluindo, neste caso, as próprias áreas de
pesquisa historicamente poupadas e que o próprio capitalismo pretendia deixar
intactas (as áreas de exatas, da saúde, das tecnologias etc.), por serem as que
continuam rendendo muito dinheiro.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Por
um lado, sim, a pandemia veio a calhar para o projeto de destruição das
universidades, a partir do pretexto tradicional da falta de orçamento (a frente
de ataque número 1) que buscava encobrir um pouco o ímpeto neofascista dos que
estão atualmente no poder (comprometidos acima de tudo com a frente de ataque
número 3). Tanto que em agosto de 2019, na calada da noite – e, não por acaso,
o problema só foi percebido no início do ano seguinte, quando a medida entrou
em vigor –, o MEC lançou a Portaria 1.469, que proibia, a partir de janeiro de
2020, de forma ilegal e inconstitucional, a contratação de qualquer servidor
por parte das Instituições Federais de Ensino.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O
argumento era destruir a autonomia financeira das universidades apenas
temporariamente, enquanto a lei orçamentária não fosse sancionada, no início do
ano; mas as mentiras foram apenas se amontoando e a coisa se revelou
interminável: assinada a lei, o problema passou a ser uma questão de respeito a
certos limites orçamentários; depois inventaram que as universidades
dependeriam de uma autorização de vagas por parte do MEC; por fim, quando a tão
esperada “liberação” das vagas aconteceu, a bomba foi jogada no colo dos
reitores: a partir dali, eles poderiam até contratar, mas desde que aceitassem
correr o risco de responder por crime de responsabilidade fiscal. Até hoje, boa
parte desses aprovados seguramente ainda não foi contratada. E eu, que tomei
posse em março de 2020, só estou aqui para contar essa história por conta da
coragem do reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, de peitar esses ataques absurdos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Mas,
voltando ao argumento em relação à pandemia, a verdade é que, por outro lado,
ela também acabou escancarando de forma muito explícita a importância das
universidades e deixou nu o projeto nefasto de sociedade que pretende aniquilar
toda e qualquer produção de conhecimento fidedigno. Hoje, alguém minimamente
comprometido com os dados da realidade ainda tem dúvidas de que o único
resultado possível dessa empreitada é a desigualdade brutal, a morte e a
destruição?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O
problema por trás disso tudo é que, ao buscar destruir uma parcela da sociedade
– “a universidade esquerdista” ou qualquer outra imagem estereotípica que se
faça daqueles que lutam por um país melhor –, você abre a porteira para a
destruição de uma sociedade inteira, mais ou menos como um câncer cuja
metástase vai se espalhando de forma rápida, intensa e aleatória. Esse é o
risco de embarcar no fascismo com o objetivo aparentemente “estratégico” de
eliminar aqueles de quem eu também não gosto, achando que o fascismo pode ser
controlado ou mantido no ambiente restrito que me agrada. Isso vai totalmente
de encontro à lógica destrutiva do fascismo, que é sair eliminando tudo que
encontra pelo caminho, até chegar ao ponto de eliminar a si mesmo, quando já
não houver mais nada a ser destruído.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A
imagem poética disso, já muito bem difundida, nos é oferecida por Brecht de
forma magistral em seu poema “É preciso agir”: as pessoas começaram a ser
“levadas”, uma a uma, mas o eu lírico não se importou porque se sentia a salvo
pelo fato de não ser uma delas, até que chegou sua hora e já não havia ninguém
que pudesse se importar com ele.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Hoje,
com a negação absoluta de qualquer conhecimento científico por parte dos que
nos governam – o que tem se revelado cada vez mais apenas mais um pretexto para
ganhar muito dinheiro à custa de nossas vidas –, uma parte não negligenciável
dos médicos, para citar um exemplo escandaloso, que se achavam totalmente
imunes à destruição fascista, provavelmente estão se sentindo, no caso dos que
ainda se mantêm atrelados à essência científica da sua profissão, como o eu
lírico de Brecht.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Assim
também está se sentindo a elite golpista pontualmente arrependida – certos
setores da mídia, do mercado, dos partidos de direita tradicionais –, que
embarcou no bolsonarismo de forma “estratégica” para destruir a esquerda e se
apropriar de uma vez por todas do patrimônio público, mas acabou ela mesma
sendo atropelada no meio do caminho e jogada no mesmo pacote dos “esquerdistas”
que elas tanto odeiam. Hoje, se não defendemos a barbárie, não tem jeito, somos
todos “comunistas”, nesse Brasil em transe em que só cabem dois tipos de
pessoas: os que colaboram com o regime (mesmo que de cima do muro) e os que
resistem a ele e o combatem.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">No
meio de toda essa catástrofe social, política, econômica, civilizacional e
sanitária, é a universidade pública brasileira e os institutos de pesquisa
(também públicos) que, em boa medida, apesar de todos os ataques, têm
conseguido segurar um pouco a “barra” dessa tragédia que poderia infelizmente
ser muito maior, assim como poderia ter sido muito menor se as universidades e
as outras instituições estivessem funcionando do modo que elas deveriam
funcionar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O
retorno social, político, econômico, tecnológico e civilizacional que as
universidades dão à sociedade brasileira é incalculável, e é por isso que,
hoje, mais do que nunca, precisamos preservá-la e defendê-la até as últimas
consequências, mas sempre tomando todos os cuidados para não cairmos em mais
uma armadilha dos golpistas “<i>light</i>”, defensores da frente de ataque
número 1, que são os grandes responsáveis por nos encontrarmos nesse buraco
aparentemente sem fim.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Por
isso, para defender esse patrimônio que representa um dos maiores sustentáculos
da democracia no nosso país – o que o combate à pandemia comprova muito bem –,
não podemos jamais perder de vista que, se não é possível reconstruir a
democracia sem colocar a universidade no seu devido lugar, esse processo jamais
poderá ser conduzido pela <i>segunda</i> <i>via de direita – </i>sob
o pseudônimo de “terceira via” ou “centro” –, cuja única diferença em relação
aos fascistas é o fato de se utilizar de métodos mais “discretos” e de se
apresentar numa roupagem mais “cheirosa”.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; font-family: georgia; font-size: medium;">FONTE:<a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank"> Outras Palavras</a></span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-16236034979383911362021-08-02T16:44:00.003-03:002021-08-02T16:49:50.499-03:00Radiografia do desmonte da Ciência brasileira<p style="text-align: justify;"> </p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;">Universidades públicas lideraram 2 mil iniciativas
contra a covid-19, mas governo quer cortes de 32%. Fundo de desenvolvimento
científico perderá 4,8 bilhões; CNPq cortará mais bolsas. Não basta exaltar
ciência, é preciso lutar por investimentos</span><span style="font-family: helvetica;"><o:p></o:p></span></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-small;"><br /></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: x-small;"></span></o:p></span></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-small;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-r8qCdR5pJRU/YQhJf-LUXQI/AAAAAAAAHns/pEk0imyCg7oGlc65zdWZnciuuu52JfuFwCLcBGAsYHQ/s1024/ciencianobrasil201112-butantan-1024x569.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="569" data-original-width="1024" height="334" src="https://1.bp.blogspot.com/-r8qCdR5pJRU/YQhJf-LUXQI/AAAAAAAAHns/pEk0imyCg7oGlc65zdWZnciuuu52JfuFwCLcBGAsYHQ/w602-h334/ciencianobrasil201112-butantan-1024x569.jpg" width="602" /></a></span></span></i></div><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-small;"><br /> </span></span></i><div><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia; text-align: justify;">Por </span><b style="font-family: georgia; text-align: justify;">Ergon
Cugler</b></span><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><br /></b></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em
maio deste ano [2020] <a href="https://www.nexojornal.com.br/ensaio/debate/2020/Enquanto-o-presidente-ignora-cientistas-enfrentamos-a-pandemia" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">escrevi ao Nexo Jornal</span></a> como o
subfinanciamento e o desmonte da Ciência, Tecnologia & Inovação limitavam o
enfrentamento da pandemia da COVID-19. Ainda assim, <i>esperançamos</i> e
nos mobilizamos enquanto sociedade pela valorização da Ciência para superarmos
o cenário pandêmico — chegando a afirmar que <a href="https://jornal.usp.br/artigos/pandemia-nos-ensina-que-sem-ciencia-nao-ha-futuro/" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">a pandemia nos ensina que sem Ciência não há futuro</span></a>.
Evidente que a comunidade científica ocupou a linha de frente junto aos
profissionais da saúde em todo país, porém, ainda assim, os cortes de bolsas
seguem ocorrendo e diversas pesquisas estão sendo interrompidas. Será que
realmente estamos aprendendo algo enquanto sociedade?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="color: black;">Desvalorização
em números</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em
todo país, as Universidades Públicas brasileiras foram responsáveis por <a href="https://jornal.usp.br/ciencias/acoes-de-universidades-publicas-evidenciam-importancia-da-ciencia-no-combate-a-covid/" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">mais de 2.000 iniciativas contra os efeitos da pandemia
da COVID-19</span></a>, resultando em milhões de vidas beneficiadas direta ou
indiretamente pela vasta produção de equipamentos de proteção individual,
respiradores, além de inovações tecnológicas, estudos e pesquisas que não se
intimidaram em dar suporte à sociedade (<a href="https://cienciapopular.org/" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">mapeamento das iniciativas contra COVID-19</span></a>).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Apesar
de todo empenho, os cortes para 2021 no Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovações (MCTI) <a href="https://jornal.usp.br/radio-usp/orcamento-federal-para-2021-corta-recursos-da-ciencia/" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">chegam a 32%</span></a>, se comparado a 2020. A perda
maior é de R$ 4,8 bilhões para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FNDCT), além de cortes em bolsas do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – como <a href="http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/governo-aprofunda-cortes-na-ciencia-e-tecnologia/"><span style="color: #0066cc;">aponta a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC)</span></a>.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Destacando
as bolsas do CNPq como exemplo, a <a href="http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/governo-aprofunda-cortes-na-ciencia-e-tecnologia/" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">redução de recursos chega a 64%</span></a> no
próximo ano. Na prática, o orçamento de 2021 prevê garantir apenas 4 meses de
bolsas de pesquisa, pois 60,55% dos recursos dependeriam de eventual e incerta
aprovação de créditos suplementares pelo Congresso. Atualmente, a Capes concede
bolsas a 100 mil pesquisadores e o CNPq financia 80 mil bolsas de pesquisa (<a href="https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2020/09/corte-de-verbas-da-ciencia-prejudica-reacao-a-pandemia-e-desenvolvimento-do-pais" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">Agência Senado</span></a>).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em
alguns estados a realidade não é diferente. Segundo <a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/08/reducao-de-verba-proposta-por-doria-atinge-quem-lidera-pesquisas-em-covid-19.shtml" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">levantamento (Folha de São Paulo)</span></a>, mais de um
terço dos estudos e pesquisas publicados em todo o país sobre a COVID-19
(38,7%) tiveram a participação das universidades públicas estaduais paulistas.
Ainda assim, o Governo do Estado tentou aprovar o trecho do <a href="https://jornal.usp.br/universidade/o-pl-529-prejudica-a-ciencia-paulista/" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">PL 529/2020</span></a> que previa confiscar mais de
um bilhão de reais do caixa das universidades públicas estaduais paulistas, com
o argumento de promover “ajuste fiscal e equilíbrio das contas públicas”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Mesmo
após mobilização da sociedade contra a tentativa de confisco, uma manobra no
Orçamento de 2021 também proposta pelo Governo do Estado – via <a href="https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1000337240" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">PL 627/2020</span></a> — busca reduzir em 30% o
financiamento da Fapesp e da pesquisa científica estadual, cortando R$ 454,7
milhões de projetos científicos, inclusive em andamento. Tal valor, no entanto,
poderia pagar um ano inteiro de 54.465 pesquisas de iniciação científica (R$
695,70 por mês) ou 18.547 bolsas anuais de mestres e doutores pesquisadores (R$
2.043 por mês).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Sobre
as bolsas, aliás, há quem insista em uma falsa ideia de que são um “privilégio”
pago com dinheiro público. Pelo contrário, <i>um pesquisador
universitário, por exemplo, recebe uma bolsa de R$ 400,00 mensais; valor que há
anos não tem reajuste, que não conta com décimo terceiro, licença, seguro de
vida, férias ou quaisquer direitos trabalhistas</i> (<a href="https://www.nexojornal.com.br/ensaio/debate/2020/Enquanto-o-presidente-ignora-cientistas-enfrentamos-a-pandemia" target="_blank"><span style="color: #0066cc;">Nexo Jornal</span></a>). Além, tal pesquisador não pode
ter qualquer vínculo empregatício, sendo obrigado a se dedicar exclusivamente
para a pesquisa em que é bolsista. Isto é, cortes e contingenciamentos
significam, muitas vezes, a suspensão de toda e qualquer fonte de renda de um
pesquisador — além da interrupção da pesquisa.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Porém,
se as universidades estão sempre a postos e tais pesquisadores se dedicam
exclusivamente para a produção científica brasileira, por que tal empenho não
se reflete na construção de um orçamento que fortaleça e valorize a Pesquisa,
Ciência, Tecnologia & Inovação?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="color: black;">Quem
tem medo da Ciência?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Ciência
não se faz do dia para a noite, apenas para atender à um imediatismo de
ocasião. Não é possível, também, interromper uma pesquisa por falta de
financiamento e depois retomá-la no mesmo ponto. Com Ciência, Tecnologia &
Inovação é necessário investimento programático, estratégico, ininterrupto, de
qualidade e progressivo para que conhecimentos diversos estejam mobilizados e a
postos para com a sociedade nos mais diversos cenários.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Não
é possível também existir um suposto apoio de ocasião. Além, não basta apenas
dizer apoiar a Ciência, é preciso defender seu financiamento. Pois, ou se
valoriza na prática a Ciência como elemento central para a superação de crises
e plataforma para construção de uma sociedade mais saudável, ou será apenas
discurso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">No
entanto, não faltaram figuras públicas que aproveitaram da onda em ascensão
para fazer da Ciência um slogan ao buscar legitimar decisões em meio à crise.
Tão grave quanto polarizar com a cloroquina e desmobilizar uma eventual
vacinação contra COVID-19, por exemplo, é fazer uso oportunista da Ciência para
surfar na narrativa em alta e, ao mesmo tempo, usar o “ajuste fiscal e
equilíbrio das contas públicas” como desculpa para desmontar o financiamento
público da Ciência.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Até
porque, ainda que se ignore todo potencial e transformação que o acesso a
conhecimentos científicos traz para a sociedade, é impossível chamar Ciência
apenas de gasto e negar que investimentos em Ciência, Tecnologia & Inovação
trazem ganhos futuros, impulsionando toda uma cadeia produtiva e agregando
valor econômico ao país.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Porém,
enquanto tentam <i>uberizar</i> a Ciência brasileira, é preciso estar
atento e forte enquanto sociedade, pois ainda que a comunidade científica entre
em campo para estar na linha de frente, tal protagonismo não garante
automaticamente um orçamento justo. Além, não se trata de uma batalha única,
pois a disputa por uma sociedade que use a Ciência como plataforma de promoção
de justiça social deve ser travada diariamente por todos nós.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Assim,
a provocação está em construir uma mobilização contínua de valorização da
Ciência, da divulgação e da popularização científica em nosso cotidiano,
envolvendo organizações, associações e principalmente a sociedade como um todo
na discussão dos rumos e desafios do que é público e comum da <i>pólis</i>.
Até porque, se mesmo em meio a pandemia nos deparamos com ainda mais cortes e
com tamanha desinformação negacionista circulando para legitimar tal desmonte,
o que restará se não nos colocarmos diariamente no papel de defesa da Ciência
brasileira?<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><i>Ergon Cugler é pequisador da USP (Universidde de São Paulo), associado ao OIPP (Obsevatorio Interdiciplinar de Politicas Públicas) e ao Getip (Grupo de Estudos em Tecnologia e Inovações na Gestão Pública) da Each (Escola de Artes, Ciêncis e Humanidades), e também Representante da Sociddade Civil na Comissão da Agenda 2030 da ONU para São Paulo.</i></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #585858;"><a href="https://outraspalavras.net/author/ergoncugler/"><span style="color: #585858; text-decoration: none;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><i><o:p></o:p></i></span></span></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #585858; font-family: "Source Sans Pro", serif;"><a href="https://outraspalavras.net/author/ergoncugler/"><span style="color: #585858; font-family: "Times New Roman", serif; text-decoration-line: none;"><span style="font-size: medium;"><i><o:p></o:p></i></span></span></a></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: 20.4pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: medium;">FONTE: <a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank">Outras Palavras</a></span></p></div>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-41132788104029108962021-07-23T11:16:00.000-03:002021-07-23T11:16:01.510-03:00Pode a história nos ajudar a sair desse marasmo?<p><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 7.5pt; margin: 7.5pt 0cm; mso-outline-level: 4; text-align: center;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> <span style="font-size: medium;"> </span></span><span style="font-size: medium;">A máquina da opressão<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 7.5pt; margin: 7.5pt 0cm; mso-outline-level: 4; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="color: #888888; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por </span><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ladislau Dowbor</span><span style="color: #888888; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-EDgYZQ5iA1w/YPrMq4g-X7I/AAAAAAAAHm8/h5StX8TaAGYVDnkt-k-EIJq4dFfdo9xYgCLcBGAsYHQ/s1200/marasmo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="278" src="https://1.bp.blogspot.com/-EDgYZQ5iA1w/YPrMq4g-X7I/AAAAAAAAHm8/h5StX8TaAGYVDnkt-k-EIJq4dFfdo9xYgCLcBGAsYHQ/w495-h278/marasmo.jpg" width="495" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-align: justify;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: Roboto; font-weight: 700; text-align: left;">Créditos da foto: (Reprodução/BBC/bbc.in/36F5WqU)</span></span></div><p></p>
<div style="border-top: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-top-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 1pt 0cm 0cm;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">
Durante muito tempo, sobretudo nas escolas, a História de nossos países foi apresentada
sob a luz do passado glorioso; e a de nossos vizinhos, em tons muito mais
sombrios. Com foco em momentos-chave de dada mudança estrutural, sublinhava-se
a importância das elites como “sujeitos da história”, reafirmando a perspectiva
e os valores da “civilização ocidental”. Raramente somos preparados para pensar
a História como um drama da humanidade, portanto, de todos nós, e que se
desenrola diante dos nossos olhos, para além dos grandes feitos históricos.<br />
<br />
Na década de 1980, eu tive a oportunidade de resenhar a “<b><a href="https://ipeafro.org.br/gratuito-historia-geral-da-africa-em-8-volumes-7357-paginas-em-pdf/" target="_blank"><span style="color: #003f86;">História Geral da África</span></a></b>”
(Unesco, oito volumes), do historiador Joseph Ki-Zerbo, coordenador do então
inédito e gigante esforço de trazer o continente africano para a história
mundial. Uma história da África e não dos feitos europeus na África. Eu
trabalhei anos em diferentes países da África, mas ao ler a obra fiquei
espantado com a minha ignorância. Como posso eu saber tanto de Robespierre, mas
nada de Sundiata Keita? Nada da produção de aço no Mali? Nada sobre as
exportações têxteis da Guiné-Bissau para a Europa antes das invasões?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No Brasil, apesar de os descendentes
dos africanos serem a maioria da população, o que se ensinava até outro dia na
escola, era essencialmente o comércio de escravos. Nenhuma palavra sobre como
eles viveram, trabalharam, se organizaram. Durante décadas, a visão
eurocêntrica e racista do colonizador lançou a sombra do primitivismo sobre
todo o continente africano. Ler Ki-Zerbo e os numerosos autores que
contribuíram para esta reconstituição da história africana é mágico, no sentido
de nos reconhecermos semelhantes frente aos dramas humanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Hoje, é fundamental usarmos a
História como espelho para que possamos nos pensar enquanto humanidade, neste
planeta solitário e frágil. Ki-Zerbo escreve na introdução do primeiro volume:
"Natureza e homens, geografia e história, não foram generosos com a
África. É imprescindível repassar as condições fundamentais desse processo de
evolução, para colocar os problemas em termos objetivos, e não sob a forma de
mitos aberrantes como a inferioridade racial, o tribalismo congênito e a
pretensa passividade histórica dos africanos. Todas essas abordagens subjetivas
e irracionais podem apenas mascarar a ignorância voluntária (25)."<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Seguindo a trilha aberta pelos
historiadores africanos, chegamos a outra história preocupada com a
humanidade, <i>A People’s History of the United Sates</i>, do historiador
estadunidense Howard Zinn. "Estima-se que África perdeu aproximadamente 50
milhões de seres humanos para a morte e a escravidão, naqueles séculos que
chamamos de início da civilização ocidental moderna, nas mãos de comerciantes
de escravos e proprietários de plantações na Europa Ocidental e na América, os
países considerados os mais avançados no mundo. Esse tratamento desigual, essa
combinação crescente de desprezo e opressão, sentimento e ação, que chamamos de
´racismo´ - foi isso o resultado de uma antipatia ´natural´ do branco contra o
negro? Se o racismo não pode ser demonstrado como natural, então é o resultado
de certas condições, e somos impelidos a eliminá-las."<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Zinn aponta “um impulso humano básico
em direção à comunidade” (27). No comércio de escravos, quem eram os selvagens?
Os europeus não eram negros, é claro. "Nos anos 1600 e 1700, por exílio
forçado, por atrativos, promessas e mentiras, por sequestro, pela urgente
necessidade de escapar das condições de vida no país natal, os pobres que
queriam ir para a América tornaram-se commodities lucrativas para comerciantes,
traders, capitães de navios e, eventualmente, seus mestres na América. Depois
de assinarem um termo, pelo qual os imigrantes concordavam em pagar as despesas
de viagem trabalhando para um mestre durante cinco ou sete anos, muitas vezes
eles ficavam presos até a partida do navio, para garantir que não
fugissem" (35).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Essa abordagem, adotada por
historiadores de diferentes escolas e credos, de que é preciso olhar nossos
desafios comuns, restaurando a importância das estratégias de sobrevivência das
pessoas comuns, – para além de Hastings e Waterloo, por assim dizer – é rica em
lições sobre a humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Outro esforço semelhante foi
realizado pelo historiador polonês Adam Leszczynski, no recém-publicado <i>Ludowa
Historia Polski</i> (Uma História do Povo da Polônia), com referência
explícita ao trabalho de Zinn nos EUA. Reis e magnatas aparecem no livro, mas
ele se centra nas lutas diárias da imensa maioria para sobreviver às sucessivas
formas de servidão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Eu estava ciente das diferentes e
violentas formas de opressão na Polônia, particularmente através dos estudos
clássicos de Witold Kula sobre o feudalismo. Mas uma história detalhada das
formas concretas e sofisticadas de opressão, começando em 996 e trazida até os
tempos atuais, muda profundamente a perspectiva. Não é a história de quais
guerras e palácios as elites promoveram ou construíram com o excedente
extorquido da população, mas como os sistemas de extorsão mudaram em suas
formas e permaneceram em seu conteúdo.<br />
<br />
Isso não é muito diferente do que aconteceu com o Brasil, onde a divisão social
está muito presente em 2021. "No século XVIII, a República [da Polônia]
era um país periférico muito pobre governado por uma pequena elite de alguns
porcentos da população, que exportava para o Ocidente produtos agrícolas
criados sob a escravidão (niewolnicza praca), enriquecendo no processo uma
longa cadeia de intermediários estrangeiros." (530)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Opressão, exportação de produtos
agrícolas e importação de bens de luxo para as minorias privilegiadas não é
particularidade polonesa, e o autor menciona países em desenvolvimento e
colônias em sua semelhança. Curiosamente, o filho de Witold, Marcin Kula, com
quem Leszczynski estudou, comparou o Brasil e a Polônia: exportar bens primários
e enriquecer intermediários não é particularidade nossa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma dimensão importante do sistema
consistia em redirecionar as numerosas revoltas contra os estrangeiros – em
particular os judeus – estratagema amplamente utilizado na Polónia durante séculos,
mas também em tantos países em tantas eras, e tão profundamente misturado com o
racismo: <i>America First, Deutschland Über Alles</i>, o mito do “povo
eleito”, tantos hinos patrióticos, o uso de religiões. Tudo isso cria uma
legitimidade ideológica para a opressão cínica. Aqui encontramos um denominador
comum de regimes opressores: a culpa tem que ser externa. A catarse do ódio
pelos “diferentes” desempenha um papel crucial na máquina de opressão. O bode
expiatório é planetário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Thomas Piketty é economista, mas <i>O
Capital no Século 20</i> deve suas mais de 800 páginas não ao assunto —
extração de excedentes —, mas à reconstrução histórica de como o excedente foi
extraído em diferentes períodos, com ampla referência, por exemplo, a Balzac.
Não se trata de uma <i>préciosité</i>, pois ao construir sua <i>Comédie
Humaine</i>, Balzac descreve com detalhes impressionantes como o excedente era
extraído, por meio do aluguel de imóveis e, particularmente, das dívidas, das
quais ele sofreu durante toda a sua vida. Em seus romances, o escritor
certificou-se de que os diferentes personagens da sociedade, que ele descreve,
estivessem presentes e que os principais funcionamentos internos fossem
mostrados. História real na ficção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma questão chave do livro de Piketty
é que a produção de bens e serviços – o que chamamos de PIB – cresce em média
cerca de 2,5% ao ano; enquanto a renda extraída por meio de mecanismos
financeiros, como endividamento, dividendos, especulação imobiliária e outros,
é muito mais alta. O capital vai para onde paga mais, principalmente se você
não precisa enfrentar o esforço de produzir algo. No entanto, em seu
recente <i>Capital and Ideology</i>, Piketty vai além do funcionamento da
extração de excedentes, detalhando como em diferentes períodos e em diferentes
países, os poderosos criaram diferentes ideologias para justificar os seus
direitos sobre o que não produziram. O livro vai além disso, e na parte final
aponta mudanças práticas que nos permitiriam criar uma sociedade mais justa e
estável. O principal aqui é que as elites sempre conseguiram criar uma
justificativa sofisticada para o que Gar Alperovitz chamou de “apropriação
indébita”. Piketty chama isso de “ideologia”. E no Brasil, nós hoje chamamos de
“narrativas”.<br />
<br />
O que a História nos mostra é que em diferentes continentes, culturas e épocas,
as minorias exerceram seu poder criando sólidos mecanismos de extração do
excedente produzido por muitos. Compreender o mecanismo econômico é essencial,
como mostram estudos recentes sobre financeirização. Mas o excedente social é também
extorquido com ajuda de narrativas: os reis tinham sangue azul e foram ungidos
por Deus, os escravos não tinham alma, os capitalistas lucram com a mesma
naturalidade que os trabalhadores ganham salários, os rentistas são
recompensados pelo risco que assumem com o dinheiro com que especulam e assim
por diante. A docilidade com que tantas civilizações aceitam essas narrativas é
impressionante. Mas, para quem não acredita em narrativas, existirá sempre o
porrete, o terceiro componente essencial do sistema de opressão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O que esses historiadores nos
ensinam? É assim que as sociedades funcionam: O mecanismo de extração do
produto da social, narrativas poderosas, e o porrete para quem não as compra.
Nosso desafio vai muito além de mudar a economia. Quando conseguiremos nos
reconhecer como humanidade?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Leituras<u><br />
<br />
</u></span></b><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Joseph Ki-Zerbo – <i>História
Geral da África</i> - Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010 - </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://ipeafro.org.br/gratuito-historia-geral-da-africa-em-8-volumes-7357-paginas-em-pdf/" target="_blank"><span color="windowtext" style="text-decoration: none; text-underline: none;">GRATUITO: baixe “História Geral da África” em 8 volumes e 7357 páginas |
Ipeafro</span></a><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 15pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Howard Zinn – <i>A people’s
History of the United States</i> – Harper, 2015<br />
<br />
Adam Leszczynski – <i>Ludowa Historia Polski</i> – W.A.B / GW Foksal,
Varsóvia, 2020<br />
<br />
Gar Alperovitz e Lew Daly – <i>Apropriação Indébita – </i>Ed. Senac,
são Paulo, 2010 </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://dowbor.org/2010/11/apropriacao-indebita-como-os-ricos-estao-tomando-a-nossa-heranca-comum.html" target="_blank"><span color="windowtext" style="text-decoration: none; text-underline: none;">https://dowbor.org/2010/11/apropriacao-indebita-como-os-ricos-estao-tomando-a-nossa-heranca-comum.html</span></a></span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
<span style="color: #333333;"><br />
Thomas Piketty – <i>Capital e Ideologia </i>– Intrínseca,</span></span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: #333333;">2019</span></span><a href="https://dowbor.org/2020/04/thomas-piketty-capital-et-ideologie-seuil-paris-2019-1200-p.html" style="font-family: Georgia, serif;" target="_blank"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">ps://dowbor.org/2020/04/thomas-piketty-capital-et-ideologie-seuil-paris-2019-1200-p.html</span></a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: medium;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Georgia","serif";"><span style="font-size: medium;">FONTE: <a href="https://www.cartamaior.com.br/" target="_blank">Carta Maior</a></span><o:p style="font-size: 12pt;"></o:p></span></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-63579672361029662322021-07-14T10:06:00.000-03:002021-07-14T10:06:40.905-03:00Feminismo Negro no Brasil: história, pautas e conquistas.<p><b><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por
Silvana B. G. da Silva</span></b></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-no-proof: yes;"><o:p> </o:p></span></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-L_gUU136j1E/YO7b8CljruI/AAAAAAAAHlY/8VxR4cC9hHwb6p6nZ56zde8gbiaaHj-nACLcBGAsYHQ/s269/images%2B%25288%2529.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="188" data-original-width="269" height="331" src="https://1.bp.blogspot.com/-L_gUU136j1E/YO7b8CljruI/AAAAAAAAHlY/8VxR4cC9hHwb6p6nZ56zde8gbiaaHj-nACLcBGAsYHQ/w474-h331/images%2B%25288%2529.jpg" width="474" /></a></div><br /><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dentre as vertentes do Movimento Feminista, existe
aquele que foca nas especificidades próprias das mulheres negras, denominado
de <b>Feminismo Negro</b>. No Brasil, essa vertente teve início
propriamente na década de 1970 com o Movimento de Mulheres Negras (MMN), a
partir da percepção de que faltava uma abordagem conjunta das pautas de
gênero e raça pelos movimentos sociais da época.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A luta das mulheres negras</span></b></p><p></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://www.politize.com.br/movimento-feminista/"><span color="windowtext">Movimento Feminista</span></a><span style="color: #1c1e20;"> não
tinha uma abordagem interseccional e racial, não pautando, dessa forma, a dupla
discriminação que as mulheres negras passam, tanto <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">de </b></span><a href="https://www.politize.com.br/vamos-falar-sobre-genero/"><span color="windowtext">gênero</span></a> <span style="color: #1c1e20;">quanto
de raça. Além disso, dentro do Movimento Negro, liderado por homens, não
havia interesse em atuar nas lutas contra o sexismo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt;">Nesse contexto, tem início o MMN e, como
consequência, do Feminismo Negro no Brasil, que fez com que os demais
movimentos começassem a entender sobre a importância dos recortes raciais e de
gênero nas mobilizações de </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt;"><a href="https://www.politize.com.br/direitos-humanos-o-que-sao/"><span color="windowtext">direitos humanos</span></a>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; margin: 15pt 0cm 7.5pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As mulheres negras no trabalho</span></b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No ambiente profissional, as mulheres negras ainda
possuem menos garantias de direitos do que as mulheres brancas. De acordo com
o </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="http://ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&id=20978"><span color="windowtext">Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA)</span></a>,
<span style="color: #1c1e20;">as desigualdades raciais são mostradas tanto na
busca por um emprego quanto nas competições sociais por espaços de poder, as
quais podem estar presentes nas condições de proprietários (as) de uma empresa,
posições de gestão e chefia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No caso das mulheres negras, <b>elas
estão inseridas em um contexto das desigualdades básicas provocadas pelo
racismo e pelo patriarcalismo</b>. Se for presenciar uma reunião de
trabalho com gestores dentro de uma organização, na maioria das vezes não
existe a presença de uma pessoa negra e, no caso do recorte de gênero, a
situação segue mais complicada, não havendo a representação de uma mulher
negra, na maioria dos casos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Historicamente, as reivindicações
pelos direitos das mulheres negras com relação ao trabalho tiveram
suas primeiras manifestações na década de 1940. A imprensa negra tinha, até
então, suas publicações voltadas ao universo do homem negro, abdicando de
qualquer intervenção e inclusão de gênero. Foi por meio do jornal <i>Quilombo,
vida, problemas e aspirações do negro </i>que a questão das mulheres
negras foi abordada na época, em um retrato que foi o início das mobilizações
de gênero e raça no Brasil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Depois dessas primeiras manifestações na mídia
impressa, ocorreram outras por meio de congressos nacionais e das empregadas
domésticas. O trabalho doméstico era e ainda é a área que mais abrange
mulheres, principalmente as negras, por uma<b> questão histórica de falta
de oportunidades que coloca essas mulheres em serviços operacionais</b>. Foi a
partir de todo esse processo de reconhecimento de grupos que reivindicam
pautas específicas que <b>surgiram organizações de lideranças negras
femininas</b>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; margin: 15pt 0cm 7.5pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As ações sociais das mulheres negras<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; margin: 15pt 0cm 7.5pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></b></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-z4KHHjHK9i4/YO7cjN4YEMI/AAAAAAAAHlg/B4jc21tXkT0yJlYoJuSysBuz4f0y6By4gCLcBGAsYHQ/s628/feminismonegroADavis10.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="431" data-original-width="628" height="369" src="https://1.bp.blogspot.com/-z4KHHjHK9i4/YO7cjN4YEMI/AAAAAAAAHlg/B4jc21tXkT0yJlYoJuSysBuz4f0y6By4gCLcBGAsYHQ/w536-h369/feminismonegroADavis10.jpeg" width="536" /></a></div><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: center;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; text-align: justify;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As lideranças negras femininas em trabalhos sociais
vêm crescendo, com foco na pauta de direitos humanos direcionada às
especificidades das mulheres negras. Porém, muitas vezes, esses trabalhos
sociais são renegados ao segundo plano pelos homens, inclusive os negros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O movimento feminista, que deveria destacar as
diferentes formas de discriminação e preconceito vivenciadas pelas mulheres,
por vezes considera que o sexismo supera o racismo e que todas passam pela
mesma forma de opressão e subordinação perante os homens.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A filósofa, pesquisadora e ativista do feminismo
negro <b>Djamila Ribeiro</b> sempre destaca a <b>importância de
ter um movimento que trate de forma específica dos preconceitos e
discriminações que as mulheres negras passam</b>. Para ela, existe uma
sociedade na qual opera a supremacia branca e que o movimento feminista
também acaba por fazer parte desse sistema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A questão da não compreensão das especificidades
das mulheres negras pelas ativistas das demais vertentes do feminismo ocorre
desde tempos mais remotos e exemplos bem relevantes dessa situação
foram a atuação das <b>sufragistas e a luta pela emancipação financeira
feminina na primeira onda do movimento feminista</b>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Com raras exceções, <b>essas manifestações
eram lideradas por mulheres brancas da classe média alta</b>, as quais
não pautavam as especificidades das mulheres negras, como as lutas
contra o racismo e por melhores condições de trabalho, tanto no Brasil
como em outros países. Faltou então, já nessa época, que todas as mulheres
lutassem em conjunto, pois além do sufrágio e da independência feminina, as
mulheres negras e a as mais pobres reivindicavam melhores condições de
trabalho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Angela Davis</span></b><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">, professora
universitária e filosofa estadunidense, em sua obra <i>Mulheres, raça e
classe</i>, afirma que as organizações de mulheres que lideraram o
movimento sufragista nada faziam pela pauta das população negra. Dentro desse
contexto, as mulheres negras não eram incluídas nessas organizações e nem mesmo
suas denúncias contra o racismo e a discriminação de gênero eram acatadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Segundo Davis, as feministas brancas de classe
média não se importavam sequer com a classe trabalhadora branca. Dessa forma,
com as manifestações das chamadas mulheres vetadas, ocorreram as divisões de
grupos feministas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No contexto atual, essa disparidade continua. As
ativistas do feminismo brancocêntrico (centrado nas experiências e vidas das
mulheres brancas) ainda politizam as desigualdades apenas pelas questões de
gênero, sem um olhar para cada grupo de mulheres em particular.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nesse ínterim, a antropóloga e professora Lélia
Gonzalez enfatiza de forma bem relevante que<i> “a tomada de consciência
da opressão ocorre, antes de tudo, pelo racial</i>“. Assim, determina-se que a
prioridade das lutas das mulheres negras é o combate ao racismo, pelo fato de
haver um grupo dominante dentro do movimento feminista, que é o das mulheres
brancas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Contudo, mesmo com esses obstáculos, as mulheres
negras se destacam em lutas que atingem diretamente o próprio opressor, nas
diferentes formas de atuação. As ações acontecem em situações de posses de
terras que lhes são de direito (como no caso das comunidades quilombolas)
e uma funcional organização comunitária, principalmente nas questões
relacionadas às mulheres da periferia. Também destacam-se os
trabalhos na área de educação, por meio do processo de inclusão de pessoas
negras nas universidades e sua permanência nesses espaços e na área de saúde da
população negra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Diante de todo esse contexto, percebe-se a
necessidade de representatividade da mulher negra dentro da sociedade e,
fazendo o recorte de gênero, de uma nova visão e conscientização do que é ser
racista, de se colocar no lugar do outro e de não colonizar seu lugar de
fala.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; margin: 15pt 0cm 7.5pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A mulher negra na mídia</span></b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Na mídia atual, as mulheres negras vêm conquistando
seu espaço, fato esse que pode ser observado nas telenovelas, comerciais e
séries nas quais negras e negros estão começando a ser representados por
personagens que fogem do papel de subordinação. Também se destaca que a cultura
negra, sua religião e danças estão sendo focadas na mídia como forma de
valorização da identidade do povo negro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Porém, a mídia ainda peca na apresentação de
algumas personagens negras na TV. Observa-se que atrizes e atores negros, não
raramente, são ofendidos por causa de suas características físicas ou por
comparar pessoas negras aos comportamentos considerados “inadequados”, ou seja,
o assaltante, o usuário de drogas, o bêbado, a mulata
assanhada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma outra forma racista de representação das
mulheres negras na mídia é a apropriação da imagem de negras consideradas
belas pelos padrões da sociedade, altas e magras, colocando esse perfil como
“aceitável”. Ainda nesse contexto, utiliza-se muito da hiperssexualização da
mulher negra, a colocando como objeto sexual e de satisfação masculina. Nesse
caso, ressalta-se que há um perfil de mulheres negras que são mais
sexualizadas, as de tom de pele mais claro e de cabelo cacheado ao invés de
crespo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Muitas vezes a mídia enfatiza que as mulheres
negras não fazem parte dos padrões de beleza aceitáveis pelo senso comum da
sociedade, mostrando essa assimetria como algo normal, isento de uma
problemática. A mídia vincula as mulheres como algo de consumo, porém, no caso
das mulheres negras, a situação é ainda pior. Algumas propagandas de cerveja
deixam nítida a mensagem de que a mulher negra é aquela para expor de uma forma
sexual, focando a mercantilização e a estereotipação dessas mulheres.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Também há casos de racismo por parte da mídia ao
ridicularizar as pessoas negras, como no caso do desrespeito às
vestimentas das religiões de origem africana e do blackface, as associando aos
traços físicos e comportamentos exagerados, gerando piadas que ainda são
aceitáveis como entretenimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; margin: 15pt 0cm 7.5pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como o movimento se organiza na atualidade: a
militância</span></b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para entender como o Movimento de Mulheres Negras
(MMN) se organiza na atualidade, vale contextualizar a sociedade e a
forma como ela encara as questões raciais e de gênero. Dessa forma, destaca-se
que o patriarcado tem bases ideológicas semelhantes ao racismo, focando na
superioridade do homem e na inferioridade da mulher. Nesse ínterim,
prevalecem ideias hegemônicas de uma elite masculina branca, a qual detém a
maior parte dos direitos reconhecidos e goza de uma extensa esfera de
oportunidades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dentro das universidades, há pesquisadores que
tomam para si o lugar de fala do povo negro, o que é bastante problemático. Em
suas pesquisas, muitas vezes opinam sobre experiências pelas quais não passam,
deixando de lado a necessidade de vivenciar determinado tipo de discriminação
e de preconceito para que se possa tirar conclusões sobre a melhor forma
de atuação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dessa forma, ressalta-se que não há
como considerar apenas o conhecimento advindo do ambiente acadêmico, pois
muitas vezes, na prática, as mulheres negras pautam suas ações em
ambientes nos quais as pessoas apresentam diferentes formas de vulnerabilidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim, as importantes contribuições às organizações
do MMN são: as experiências diárias, as lideranças comunitárias, o trabalho das
escritoras, as manifestações das empregadas domésticas, a atuação de ativistas
pela abolição da escravidão e pelos direitos civis e as manifestações de
cantoras e compositoras de música popular.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As pautas do Movimento de Mulheres Negras se
caracterizam por cinco temas fundamentais, os quais são:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 24.75pt; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Legado de uma
história de luta;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 24.75pt; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Natureza
interligada de gênero, raça e classe;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 24.75pt; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Combate aos
estereótipos ou imagem de controle;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 24.75pt; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Atuação como
mães, professoras e líderes comunitárias;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 24.75pt; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Política
sexual.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">E é dentro desses temas que se estabelece as
premissas do Feminismo Negro Interseccional, vertente do movimento feminista
que atua na redução das desigualdades por razões raciais e de gênero, as quais
são pontos principais das condições econômicas e sociais de determinado grupo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; margin: 15pt 0cm 7.5pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;"><b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Novos contornos do Feminismo Negro no Brasil</span></b><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O Feminismo Negro tem a experiência como base
legítima para a construção do conhecimento, enfatizando o ângulo particular de
visão do eu, da comunidade e da sociedade. Em sua construção há a necessidade
de interpretações da realidade das mulheres negras por aquelas que a vivem no
dia a dia e o reconhecimento de que a supressão ou aceitação condicional do
conhecimento das mulheres negras está dentro de um contexto machista e racista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A atuação e concretização da ideologia do Feminismo
Negro parte da necessidade de contrapor a visão equivocada da sociedade de que
a mulher negra tem uma marginalidade peculiar e estigmatizada a uma
subordinação perante os demais indivíduos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Também estimula um ponto de vista especial das
mulheres negras, em uma visão distinta das ideologias do grupo dominante
branco. Ressalta-se que a luta tem origem nas reflexões e nas ações
políticas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O atual feminismo negro se configura no Brasil por
meio de estudos e ações concretas em diferentes áreas de atuação. As mulheres
negras se organizam em movimentos sociais, ONG’s e Conselhos por todo o país,
mobilizando-se contra a prática do racismo e do sexismo como foco para a
garantia de igualdade de direitos e de oportunidades. Como negras e mulheres,
elas se capacitaram para não mais aceitar de forma normal a subordinação
histórica e está tendo cada vez mais voz para mostrar e reivindicar contra o
racismo estrutural da sociedade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">REFERÊNCIAS</span></b><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="http://ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&id=20978"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">Dossiê
Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Nossos_Feminismos_Revisitados_Luiza_Bairros.pdf"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">Nossos
feminismos revisitados</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16468/15038"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">Mulher negra
brasileira: um retrato</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002012000200005"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">Tudo é interseccional?
Sobre a relação entre racismo e sexismo</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo6/o-movimento-feminista-negro-e-suas-particularidades-na-sociedade-brasileira.pdf"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">O Movimento
Feminista Negro e suas particularidades na sociedade brasileira</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="http://www.en.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1499353872_ARQUIVO_Mulheresnegrasnomercadodetrabalhobrasileiro.pdf"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">Mulheres
negras no Mercado de trabalho brasileiro: um balanço das políticas públicas</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://www.editorarealize.com.br/revistas/enlacando/trabalhos/TRABALHO_EV072_MD1_SA30_ID122_19062017214709.pdf"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">A
invisibilidade da mulher negra na mídia</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="http://www.scielo.br/pdf/ref/v26n1/1806-9584-ref-26-01-e51328.pdf"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">Experiências
das mulheres na escravidão, pós-abolição e racismo no feminismo em Angela Davis</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;">
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142003000300008&script=sci_arttext"><span color="windowtext" style="text-decoration-line: none;">Mulheres em
movimento</span></a><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 7.5pt; text-align: left;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><br /></b></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><a href="https://1.bp.blogspot.com/-mx0-UTyU2AE/YO7duP5LnqI/AAAAAAAAHl8/hPgcKVYAdgc-ZTxs81dP96EEyY1H7qzhQCLcBGAsYHQ/s96/silvanaAssinaturas-redatores-14-96x96.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="96" data-original-width="96" src="https://1.bp.blogspot.com/-mx0-UTyU2AE/YO7duP5LnqI/AAAAAAAAHl8/hPgcKVYAdgc-ZTxs81dP96EEyY1H7qzhQCLcBGAsYHQ/s0/silvanaAssinaturas-redatores-14-96x96.png" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b style="text-align: justify;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Silvana B. G. da Silva</span></b></div>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #1c1e20; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; letter-spacing: 0.4pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Graduada em Design de Produto e
acadêmica de Gestão Ambiental, atua profissionalmente na área de
sustentabilidade e como conteudista. Em suas pesquisas acadêmicas, elabora
projetos na área de tecnologia e inovação com foco social e no desenvolvimento
sustentável. Como ativista, segue a vertente do Feminismo Negro e integra a
Rede de Mulheres Negras do Paraná (RMN-PR).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">https://www.politize.com.br/feminismo-negro-no-brasil/<o:p></o:p></span></b></p><br /><p></p><br />Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-83901588804202295492021-06-29T14:50:00.004-03:002021-06-29T15:08:06.878-03:00Na ONU, Brasil será alvo de acusação de genocídio de indígenas e negros<p> <span style="background-color: white; color: #40320b;"> Por Jamil Chade, do UOL</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 2.25pt; margin: 2.25pt 0cm 0cm; vertical-align: baseline;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-PMobgkxb30Y/YNtb8iPXJMI/AAAAAAAAHkw/bBW1jsKGLMQnLp7m51LH03ifNuYGPOFngCLcBGAsYHQ/s450/logo-da-onu-em-sede-de-nova-york-1579195642711_v2_450x450-1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="450" height="503" src="https://1.bp.blogspot.com/-PMobgkxb30Y/YNtb8iPXJMI/AAAAAAAAHkw/bBW1jsKGLMQnLp7m51LH03ifNuYGPOFngCLcBGAsYHQ/w503-h503/logo-da-onu-em-sede-de-nova-york-1579195642711_v2_450x450-1.jpg" width="503" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; vertical-align: baseline;"></p><div style="text-align: center;"><span style="color: #333333; font-size: 11pt;"> Logo
da ONU em sede de Nova York (Imagem: Lucas Jackson)</span></div><span style="color: #333333; font-family: "inherit","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O governo
brasileiro será alvo de denúncias nesta segunda-feira [28.06], na ONU, por
genocídio tanto no que se refere à população negra como na questão indígena.
Violência policial e racismo no país também estarão na agenda de um dia que
promete ser tenso para a diplomacia brasileira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A reunião para
debater a questão do genocídio ocorre no Conselho de Direitos Humanos da ONU,
em Genebra. Ainda que não haja uma decisão final que represente sanções contra
governos e nem ações judiciais contra líderes, o encontro é visto como uma
plataforma importante para marcar uma narrativa em relação a fenômenos de
violações de direitos humanos em diferentes partes do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Um dos grupos que
usará o encontro para denunciar o Brasil é a Justiça Global. O objetivo da ONG
é o de chamar a atenção internacional para a situação vivida pela juventude
negra no país. O termo genocídio, portanto, será usado para denunciar o Brasil
durante o evento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Indígenas
brasileiros também usarão o encontro para fazer uma denúncia contra o país, de
forma mais específica sobre situações de grupos como os Yanomanis e os ataques
sofridos nas últimas semanas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O que os grupos
querem é que a realidade brasileira entre no radar da conselheira especial do
secretário-geral da ONU para a prevenção de Genocídio, Alice Wairimu Nderitu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ainda que governos
como o do Brasil se recusem a aceitar o uso do termo genocídio para lidar com a
realidade vivida no país, cresce a pressão inclusive sobre a procuradoria do
Tribunal Penal Internacional para abrir um exame formal sobre a situação dos
indígenas no país, além da própria crise sanitária gerada pela pandemia da
covid-19.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">George
Floyd ameaça colocar Brasil no debate internacional<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: Georgia, serif; font-size: 12pt;">Outra pressão
sobre o Brasil virá com a publicação do inquérito conduzido pela ONU sobre a
morte de George Floyd, nos EUA. Nas semanas que seguiram ao caso, uma resolução
foi aprovada no Conselho das Nações Unidas, dando um mandato para que a
entidade realizasse uma investigação sobre a violência policial e racismo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ainda que o tema
se concentre principalmente nos EUA, o governo brasileiro já se prepara para
ser alvo de pressão por eventuais referências à violência policial em outras
partes do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não por acaso,
quando a resolução foi aprovada há um ano, o governo de Jair Bolsonaro foi um
dos poucos no mundo a ficar ao lado do presidente Donald Trump e tentar
esvaziar o mandato investigador.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não apenas a ação
da diplomacia brasileira ajudava o então aliado, mas Brasília também
considerava que uma eventual investigação global colocaria o foco sobre a
violência policial no Brasil e racismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O temor do governo
tem explicação. Durante a mesma sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU,
outros dois informes apontarão para a violência policial no país. Num deles,
sobre execuções sumárias, o Brasil é colocado ao lado de Venezuela, Filipinas e
Nigéria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 15pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“O maior número de
mortes por policiais ocorreu no contexto das chamadas guerras contra drogas e
contra atividades criminais, levando a relatoria a emitir dezenas de cartas de
pedidos de ação urgente sobre assassinatos ilegais de residentes de comunidades
pobres nas Filipinas, Venezuela, Brasil, Nigéria e outros”, aponta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Open Sans"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Num outro documento, também da ONU, é questionada a
estratégia brasileira de ação contra as drogas, e o número elevado de mortes
nas operações.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 19.5pt; vertical-align: baseline;"><span face=""Open Sans","sans-serif"" style="color: #002142; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">FONTE: <a href="https://www.geledes.org.br/">https://www.geledes.org.br/</a><o:p></o:p></span></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-55198366468828270162021-06-15T21:52:00.001-03:002021-06-29T07:17:32.674-03:00Educação, grande alvo da extrema-direita<p> </p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-sitliDrfM4g/YMlK2qcxcNI/AAAAAAAAHkI/P1emPv_orYksPEDAZmbOhCphkZTCIR5eACLcBGAsYHQ/s688/educacao-escola.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="446" data-original-width="688" height="351" src="https://1.bp.blogspot.com/-sitliDrfM4g/YMlK2qcxcNI/AAAAAAAAHkI/P1emPv_orYksPEDAZmbOhCphkZTCIR5eACLcBGAsYHQ/w542-h351/educacao-escola.jpg" width="542" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p>
</p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="border: 1pt none windowtext; color: #444444; padding: 0cm;"><b>Por</b> <b>Boaventura
de Sousa Santos</b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia;"> Os movimentos translocais de
ideias, de filosofias, de visões do mundo, de doutrinas sobre a vida e sobre a
política e a sociedade são tão antigos quanto a difusão do uso dos metais, das
trocas comerciais, da escrita e das primeiras civilizações urbanas a partir da
Idade de Bronze 3000 ou 4000 AEC. Certamente com origem na Mesopotâmia e no que
viemos a chamar o antigo Médio Oriente, essas trocas espalharam-se por toda
essa vasta área da Eurásia, que mais tarde passamos a dividir entre o Ocidente
(a Europa) e o Oriente (sobretudo a China e a Índia). Sabemos hoje que a
Mesopotâmia foi o berço da cultura grega e que esta esteve presente no Norte da
Índia nos primeiros séculos da Era Comum, muito antes de se transformar em
patrimônio europeu, o que, aliás, só foi possível graças ao magnífico trabalho
de tradução dos textos gregos empreendida em Bagdá pelos árabes do califado
Abássida a partir de meados do século VIII, época que ficou conhecida como a
Idade de Ouro do Islã.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Ao longo dos séculos, estes
movimentos de ideias sempre tiveram uma origem local (às vezes, em vários
locais simultaneamente) e a partir daí se difundiram e se transformaram em
movimentos globais. As trocas, as influências cruzadas e as adaptações locais
sempre foram uma constante dos movimentos de ideias. O protagonismo da Europa
nestes movimentos é muito tardio. Só começa no século XVI e, para muitos, só
nos séculos XVIII e XIX. Para me limitar aos últimos cem anos, podemos dizer
que a marca europeia nas ideias políticas está presente nos seguintes
movimentos globais contemporâneos: liberalismo, socialismo, direitos humanos,
conservadorismo. Este último é uma contra-corrente em relação aos outros, pois
enquanto estes estão informados pela tensão entre regulação social e
emancipação social, donde decorrem avanços na melhoria das condições de vida
para as maiorias e na inclusão social, o conservadorismo dá total prioridade à
regulação social e opõe-se às ideias de maiorias e de inclusão social (daí, o
seu racismo e sexismo). O conservadorismo tem três características principais:
sendo um movimento global, afirma-se como contrário à globalização; sendo tão
moderno quanto os outros três, apresenta-se como um regresso ao passado, uma
reação que tanto pode ser moderada (direita) como extremista (extrema-direita);
tem uma visão muito seletiva da soberania nacional que não o impede de ser
subserviente à globalização capitalista neoliberal. Depois da Segunda Guerra
Mundial o eixo desta difusão de ideias deslocou-se para o Atlântico norte,
devido à supremacia dos EUA. Passou então a falar-se de eurocentrismo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Estes quatro movimentos de ideias têm
três facetas importantes: ocorrem simultaneamente, mas alternam na
predominância; adaptam-se criativamente aos diferentes contextos locais;
incidem nos processos educativos porque aí se formam as próximas gerações que
os podem reproduzir. O período em que vivemos sinaliza uma transição para o
predomínio do conservadorismo. Mas é uma transição muito incerta devido
sobretudo às questões novas que a pandemia do novo coronavírus veio levantar.
Elas apontam para ideias (por exemplo, novas relações com a natureza,
alternativas ao desenvolvimento, relações entre o Ocidente e o Oriente) que não
cabem nas versões dominantes do liberalismo, do socialismo ou dos direitos humanos.
Vivemos, assim, transições de sinal contrário que por vezes dão a aparência de
impasse ou de esgotamento ideológico. Hoje, detenho-me na ascendência global do
conservadorismo, tanto em sua versão moderada como extremista, e nas suas
recentes manifestações na área da educação no Brasil, na Índia, na Colômbia e
em Portugal.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Antes da pandemia esta ascendência
era particularmente visível em países tão diferentes como Reino Unido, EUA,
Brasil, Índia, Filipinas, Hungria, Polônia, Turquia, Rússia, Bolívia, Equador,
Chile, Colômbia, Israel, Guiné-Bissau, Marrocos, Egito, Camarões. A pandemia
veio criar um problema inesperado para a direita: os países em que estava no
poder foram aqueles em que a proteção da vida foi, em geral, mais deficiente.
Os governos de direita não só se revelaram incompetentes para proteger a vida,
como em alguns casos extremos (EUA e Brasil) tomaram medidas que diretamente
puseram em risco a vida dos cidadãos. Apesar disso, não é claro que os próximos
processos eleitorais os punam nas urnas. O risco existe e, para o prevenir,
estamos a assistir ao mais preocupante desenvolvimento possível: o
conservadorismo de direita está a deslizar para a extrema direita. Nos EUA,
Donald Trump, perante a perspectiva de perder as eleições, está a promover campanhas
maciças de desinformação, a recorrer às forças militares e a mobilizar milícias
neonazis, de extrema direita, o que pode vir a pôr o país à beira de uma guerra
civil, sobretudo se Trump não conseguir manipular com êxito os processos
eleitorais e perder as eleições. O Brasil pode vir a seguir o mesmo caminho em
2022.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Como referi, um dos alvos privilegiados do novo (velho) conservadorismo
de direita e de extrema-direita é a educação. Cito quatro casos a título de
exemplo. No Brasil, podem identificar-se duas ações principais. A primeira
consiste na iniciativa Escola Sem Partido, criada em 2004 com o objetivo de
supostamente eliminar a “doutrinação ideológica” nas escolas. A partir de 2013,
com a viragem da política brasileira para a direita (intensificação da
desinformação de extrema-direita por via das <span style="border: 1pt none windowtext; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">fake news</span>, perseguição
político-judicial ao Partido dos Trabalhadores no âmbito da Operação Lava-Jato,
especialmente contra o ex-presidente Lula da Silva, impedimento da Presidente
Dilma Rousseff em 2016, eleição de Jair Bolsonaro em 2018), a Escola sem
Partido intensificou a sua ação com dezenas de projetos de lei apresentados aos
órgãos legislativos dos vários níveis de governação (municipal, estadual e
federal) com medidas que violavam os direitos humanos fundamentais, a liberdade
docente e a própria Constituição, um conjunto altamente ideológico conservador
cuja inconstitucionalidade tem sido questionada por várias instâncias nacionais
e internacionais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">A segunda ação consiste no ataque
multifacetado às universidades públicas que envolve, nomeadamente, os cortes
orçamentais e consequente subfinanciamento e o questionamento do sistema
democrático da eleição dos reitores das universidades públicas federais. O
governo de Jair Bolsonaro tem vindo a ignorar a eleição de reitores
progressistas e mesmo a nomear reitores-interventores, tal como no tempo da
ditadura que vigorou no país entre 1964 e 1985.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Na Índia, desde que Narenda Modi e o
seu partido (BJP) chegaram ao poder (2014) tem havido um ataque sem precedentes
à liberdade acadêmica. O sistema universitário indiano é muito diverso,
composto por universidades públicas e privadas, centrais (ou federais) e
estaduais, universidades para minorias, universidades religiosas, entre outras.
Os ataques às universidades públicas centrais é o que tem tido mais
publicidade. Intensificaram-se depois de 2014, embora tivessem ocorrido antes
dirigidos pela organização juvenil do partido que agora está no poder.
Professores e líderes estudantis têm sido criminalizados ao abrigo da lei
contra o terrorismo e reuniões e encontros promovidos por estudantes ou
professores têm sido proibidos a pretexto de que abordam temas politicamente
sensíveis. À semelhança do que tem acontecido noutros países, os ataques
diretos à liberdade acadêmica têm sido complementados com ataques indiretos,
nomeadamente com a precarização dos contratos dos docentes, a nomeação de
administradores impostos pelo Estado, a supervisão ideológica dos planos de
estudo e a sistemática nomeação para posições universitárias de topo de
ideólogos de direita e partidários do BJP, muitas vezes sem as necessárias
qualificações acadêmicas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Na Colômbia, o governo de direita e
as organizações sociais que o apoiam têm promovido múltiplos ataques à
universidade pública e ao pensamento crítico. Mediante acusações falsas,
estigmatizações e montagens judicias, têm incriminado professores e estudantes
sob o pretexto de pertencerem a grupos terroristas. Além disso, professores que
“incomodam” só por pertencerem ao movimento universitário em defesa da educação
pública têm sido ameaçados de morte. Perante a resistência da universidade
pública, o governo tem vindo a asfixiá-la financeiramente, transferindo fundos
para as universidades privadas. O objetivo é abrir o caminho para o capitalismo
universitário de modo a que a universidade se transforme numa empresa e a
suposta “doutrinação ideológica” seja substituída pelo monopólio da ideologia
do mercado. E, tal como no caso português (a seguir), o conservadorismo de
direita e de extrema-direita colombiano tem atacado a educação sexual nas
escolas sob o pretexto de difundir a “ideologia de gênero”, acusando
inclusivamente o Acordo de Paz de 2016 de a promover.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Em Portugal, o conservadorismo de
extrema-direita, que sempre existiu antes e depois da Revolução do 25 de Abril
de 1974, tem hoje um partido, o Chega, que congrega à sua volta todos os
movimentos neonazis e nacionalistas que nunca se conformaram com a derrota que
sofreram com a Revolução. A sua estratégia futura vai assentar na capitalização
do descontentamento que a crise econômica e social decorrente da pandemia pode
vir a provocar. O conservadorismo moderado ficou imobilizado com a pandemia
porque o consenso no combate à crise sanitária foi inicialmente avassalador e o
governo de esquerda mostrou eficácia e coerência nas medidas de curto prazo.
Desesperado em busca de agenda que possa chamar a si os seus adeptos,
encontrou-a recentemente na disputa sobre o caráter obrigatório ou optativo da
disciplina de Cidadania e Desenvolvimento no ensino secundário. A disciplina é
obrigatória. A polêmica surgiu quando os pais de dois alunos de Vila Nova de
Famalicão invocaram a objeção de consciência para não deixar que os filhos
frequentassem a disciplina, com o argumento de que os temas da disciplina eram
uma responsabilidade da família. Os alunos reprovaram por faltas, foram
admitidos pela escola a transitar de nível, o Ministério de Educação recusou o
procedimento e exigiu que os alunos frequentassem um plano de recuperação,
plano que os pais rejeitaram, avançando com uma providência cautelar que foi
aceite pelo tribunal. Está pendente a decisão.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Entretanto, personalidades de
direita, tanto secular como religiosa, publicaram um manifesto em favor do
caráter facultativo da disciplina. Não podiam escolher um alvo menos adequado e
um tempo menos oportuno. Vivemos em pleno período de crise sanitária que nos
tem vindo a ensinar a necessidade de consenso político nas questões de que
depende o nosso futuro e o das gerações que nos sucedem. Educar para a
cidadania, em todas as suas expressões, é hoje mais urgente que nunca. Neste
contexto, afirmar liberdades que possam desestabilizar a educação dos jovens e
questionar ainda mais as suas expectativas assume uma particular gravidade.
Todos se recordam das manifestações nos EUA das forças de direita e de
extrema-direita contra o uso das máscaras e o distanciamento sanitário. A
repulsa foi geral. No caso da educação sexual (porque é esse o cerne do
incômodo) não está em causa a desobediência a orientações da OMS; está em causa
a violação de tratados internacionais de direitos humanos que Portugal
ratificou. Recordemos que o princípio da igualdade de gênero e do respeito pela
diversidade sexual está hoje internacionalmente reconhecido, e é dele que
decorre a exigência da educação sexual nas escolas, o que, aliás, sucede em
toda a Europa. E para surpresa dos conservadores portugueses, os estudos
revelam que os pais norte-americanos, qualquer que seja a sua orientação
política, são, em esmagadora maioria, a favor da educação sexual na escola.
Entre outras motivações, muitos deles preferem que seja a escola a tratar de
temas que, por mais importantes, podem ser incômodos quando tratados na
intimidade familiar. Outros temem que, na ausência da escola, as redes sociais
ocupem esse espaço sem qualquer controlo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">A polêmica que se levantou na
sociedade portuguesa mostra até que ponto o Portugal profundo continua sexista
(e certamente também racista, já que os dois preconceitos vão juntos, como
vários casos recentes mostram). Há cinquenta anos as escolas ensinavam que as
mulheres deviam obediência aos maridos, que não podiam exercer certos cargos
por carecerem de capacidade física ou mental e que os homossexuais eram doentes
(quando não criminosos). As transformações políticas, por que passamos, e os
movimentos sociais que se lhes seguiram em favor dos direitos sexuais, e todo o
movimento global pelos direitos humanos, foram sedimentando numa nova cultura
de paz e de convivência, de reconhecimento da diferença e de respeito pela
diversidade. Essa cultura sobrepõe-se a séculos de preconceitos – e a séculos
de privilégios em que tais preconceitos se traduziram e continuam a traduzir. A
inércia social que isso causa aflora a cada momento, como no caso presente. Daí
a necessidade de a escola se envolver ativamente na aprendizagem de uma cultura
democrática, não excludente, promotora dos direitos humanos. E certamente que
as escolas o fazem de uma maneira muito mais confiável que as redes sociais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">À luz de qualquer dos três movimentos
globais de ideias de matriz europeia (liberalismo, socialismo, direitos
humanos), esta iniciativa do conservadorismo português significa uma violação
dos objetivos de inclusão social igualitária que dominaram nos últimos cem anos
e, em Portugal, apenas nos últimos cinquenta anos. Devido a esta
particularidade portuguesa, pôr em causa a vigência plena da educação para a
cidadania é particularmente grave. É que, por detrás da convicção de
conservadores da direita moderada, esconde-se a extrema-direita, provavelmente
com o objetivo de se sobrepor a ela na polarização que vai explorar a todo o
custo. A presença da hierarquia da Igreja Católica, em aberta desobediência ao
Papa Francisco, é um sinal adicional de preocupação. Não esquecemos ainda que a
hierarquia da Igreja Católica portuguesa defendeu o fascismo (e o colonialismo)
até aos seus últimos estertores. E, obviamente, é particularmente importante
que os tribunais não abdiquem de fazer valer os direitos da igualdade sexual e
da orientação sexual consignados nas leis e na Constituição. Lembremo-nos de
que nesta matéria houve decisões recentes altamente problemáticas e
justificadas com fundamentos ilegais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">Não é optativo retroceder. Os
retrocessos na educação são sempre um péssimo augúrio para a sociedade. Se a
igualdade sexual fosse ideologia de gênero, a igualdade entre raças seria
ideologia racial e a luta contra a pobreza seria ideologia classista. E, em
última instância, a luta contra o fascismo seria ideologia… democrática.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444;"><span style="font-family: georgia;">FONTE: <a href="https://controversia.com.br/2020/10/12/educacao-grande-alvo-da-extrema-direita/" target="_blank">Controvérsia</a><o:p></o:p></span></span></p><br /><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-86701705946525808652021-06-06T13:46:00.002-03:002021-06-06T13:46:48.365-03:00A igreja e o novo sujeito social<p><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; mso-outline-level: 1; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><b></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://1.bp.blogspot.com/-rtri4ief508/YLz6lAKD1VI/AAAAAAAAHjY/SEoetXld7TUFb1bPOCAzDiYTRu8JxTOqQCLcBGAsYHQ/s768/desigualdade-social%2B%25281%2529.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="768" height="367" src="https://1.bp.blogspot.com/-rtri4ief508/YLz6lAKD1VI/AAAAAAAAHjY/SEoetXld7TUFb1bPOCAzDiYTRu8JxTOqQCLcBGAsYHQ/w552-h367/desigualdade-social%2B%25281%2529.jpeg" width="552" /></a></b></div><b><br /><span style="font-family: georgia; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;"><br /></span></b><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: #444444; mso-bidi-font-family: Arial; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">Por Marcio
Pochmann</span></b></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="color: #444444; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="color: #444444; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O início do século 21 trouxe
consigo questões de sobrevivência humana próprias do passado recente. Para além
da problemática nuclear herdada da segunda Guerra Mundial, a insustentabilidade
ambiental ganhou evidência a partir dos anos 1970.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
realizada em Estocolmo e o estudo Limites do Crescimento, do Clube de Roma, o
tema do desenvolvimento passou a ser percebido como um sonho de difícil
realização ao conjunto das nações. Isso parece ter ficado evidente no
primordial livro de Celso Furtado, O mito do desenvolvimento econômico,
publicado em 1974.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ao mesmo tempo, os povos sofreram modificações substanciais resultantes
da passagem do antigo e longevo agrarismo à condição de sociedades urbanas. A
mesma ONU que contabiliza atualmente mais de 55% da população mundial vivendo
em áreas urbanas, projeta para 2050 quase 4/5 dos habitantes do planeta morando
nas cidades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Simultaneamente, não se pode esquecer a marcha econômica que desloca o
sistema produtivo industrial do Ocidente para o Oriente. Com a Nova Rota da
Seda protagonizada pela China, versão bem mais grandiosa que o Plano Marshall
estadunidense que reconstruiu a Europa no segundo pós-guerra, a antiga Eurásia
ressurge em novas bases modernizantes, afirmando-se como o principal centro
dinâmico do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É nesse contexto que a Igreja Católica tem procurado se reposicionar
neste começo do século 21. Enquanto instituição milenar que emergiu em pleno
domínio do antigo império romano, fundado em profundas tradições assentadas nas
sociedades agrárias, a igreja tem se disposto a atualizar sua doutrina social
de tempos em tempos, sobretudo diante da constatação do aparecimento de novos
sujeitos sociais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Foi assim no final do século 19, quando ficou evidente que o antigo
centro econômico agrário do mundo, comandado por hindus e chineses havia sido
derrotado pelo império inglês, deslocando o poder da Eurásia para a Europa. Em
1891, o papa Leão XIII lançou a encíclica Rerum Novarum (Das coisas novas), que
reposicionou a doutrina social da igreja em relação à emergência de novos que
substituíam aqueles pertencentes ao velho mundo agrário (servos, escravos,
camponeses e outros).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Numa época em que a globalização sequer era imaginada, a encíclica
inovou com importante abordagem a respeito da questão social que resultava da
expansão selvagem do liberalismo no capitalismo urbano e industrial. O
posicionamento da igreja sobre as precárias condições urbanas de vida e
trabalho dos operários reorientou o mundo, sobretudo o Ocidente, frente à
natureza desregulada do capitalismo a explorar a sobrevivência humana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os movimentos regulatórios da exploração capitalista que se expandiram
ao longo do século 20 trouxeram inegavelmente consigo a força da doutrina
social da igreja. Tanto na criação da Organização Internacional do Trabalho, em
1919, como nos diversos sistemas de regulação pública do trabalho adotados por
governos nacionais, a questão do novo sujeito social urbano e industrial
trazido pela Rerum Novarum esteve presente em maior ou menor medida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nos dias de hoje, o papa Francisco tem protagonizado nova geração de
encíclicas que dialogam com a emergência de sujeitos sociais resultantes das
principais transformações do capitalismo. A globalização neoliberal conduzida
por grandes corporações transnacionais privadas, que esvaziam o poder dos
governos nacionais, e o deslocamento da centralidade do Ocidente para o Oriente
encontram no papa Francisco a defesa de uma economia política não excludente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Após 130 anos da Rerum Novarum de Leão XIII, a encíclica Fratelli tutti
(Todos irmãos) do papa Francisco enuncia outro olhar abrangente sobre a
transição da Era Industrial para a Digital, acoplada ao sujeito da sociedade de
serviços. Não mais o predomínio do trabalho material constituído pelo camponês
do antigo agrarismo ou pelo operário da outrora sociedade urbana e industrial,
mas a intensa expansão do labor imaterial a hegemonizar a condição humana deste
início do século 21.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O papa Francisco parece inovar também na perspectiva humanista de
avançar da visão iluminista ocidental de superioridade da razão sobre a emoção
para incorporar outros saberes não acadêmicos provenientes das comunidades
ancestrais e dos povos negros. Ao procurar responder aos enormes dilemas
contemporâneos da humanidade, a encíclica Fratelli tutti de 2020 atualiza a
abordagem assentada nos desafios da vida cotidiana imposta pela realidade
imediata.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Lança, assim, outras luzes de esperança renovada para iluminar o caminho
de um mundo melhor. Para tanto, a expectativa se volta aos sujeitos do trabalho
imaterial que em plena Era Digital da sociedade de serviços parecem, cada vez
mais, não ser economicamente viáveis no capitalismo neoliberal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 22.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 22.5pt; margin: 22.5pt 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #444444; font-family: georgia; font-size: medium; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Fonte da matéria:
https://terapiapolitica.com.br/2021/03/14/a-igreja-e-o-novo-sujeito-social/</span></p><div style="text-align: justify;">FONTE: <a href="https://controversia.com.br/2021/04/05/a-igreja-e-o-novo-sujeito-social/">https://controversia.com.br/2021/04/05/a-igreja-e-o-novo-sujeito-social/</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-69595029202395970732021-05-29T09:48:00.001-03:002021-05-29T09:51:14.312-03:00O mapa-múndi das mulheres no poder<p align="center" class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; mso-outline-level: 1; text-align: center;"><br /></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center;"><i><span style="color: #585858; font-size: 15pt;"><span style="font-family: georgia;">Os países onde elas governam ou estão na
vice-presidência. Quais sofreram golpes. Presença delas cresceu nos últimos 20
anos, em todos os continentes. Destaque para as líderes de Finlândia, Nova
Zelândia e Etiópia na combate à pandemia<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center;"><i><span style="color: #585858; font-size: 15pt;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></i></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-oFxK5NuIzi0/YLI2l2HWAyI/AAAAAAAAHhA/qKaEi3JbwggiiS_XKNpqRpYbSarfcy9yQCLcBGAsYHQ/s1024/Mulheres-no-Poder-1024x724.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="724" data-original-width="1024" height="408" src="https://1.bp.blogspot.com/-oFxK5NuIzi0/YLI2l2HWAyI/AAAAAAAAHhA/qKaEi3JbwggiiS_XKNpqRpYbSarfcy9yQCLcBGAsYHQ/w578-h408/Mulheres-no-Poder-1024x724.jpg" width="578" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #585858; font-family: georgia; font-size: 16px;">Baixe o mapa em alta resolução </span><span style="box-sizing: inherit; color: #585858; font-family: georgia; font-size: 16px; font-weight: 700; line-height: inherit;"><a href="https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2021/03/Mulheres-no-Poder.pdf" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #42708f; cursor: pointer; line-height: inherit; word-break: break-word;">aqui</a></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Por Igor Venceslau, na coluna <i>Outras
Cartografias<o:p></o:p></i></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Embora
não seja nenhuma novidade, mulheres sentadas nas cadeiras de governo dos países
ainda são minoria. O que talvez seja novidade deste século é a sua ocorrência
cada vez mais frequente – e em todos os continentes. Se nos tempos de Indira
Gandhi e Isabel Perón podiam ser contatas nos dedos de uma mão, agora são
eleitas em todas as latitudes e culturas, de ocidentais a orientais, de cristãs
a muçulmanas e budistas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Talvez
a mais influente e conhecida chefe de governo atualmente seja a chanceler alemã
Angela Merkel. No cargo desde 2006, é impossível que passe desapercebida como
única mulher nas tão divulgadas fotos da cúpula do G-7. Mas destoa também por
sua qualificação como cientista de carreira, doutorada com uma tese em química
quântica. É também do caso de Tsai Ing-wen, acadêmica de direito e presidenta
do Taiwan. O fato é que definitivamente as titulares como presidenta,
primeira-ministra ou similar não estão restritas apenas aos países
escandinavos, onde somente a Suécia não é governada por uma mulher.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Também
a eleição de mulheres não significa necessariamente governos mais
progressistas, dada a variedade dos espectros políticos que elas representam. Sua
chegada às cadeiras executivas obviamente não está isenta de contradições,
conflitos e disputas as mais variadas. Por outro lado, muitas delas foram
destaque quando o assunto é gestão da pandemia. Quem não ouviu falar na
finlandesa Sanna Marin ou na neozelandesa Jacinda Ardern nos últimos meses? Do
mesmo modo, a presidenta etíope Sahle-Work Zewde, que acumulou anos de
experiência como diretora da ONU para a União Africana, deu uma aula de
direitos humanos ao realizar a soltura de presos por conta da pandemia, uma
medida que não a isentou de controvérsias.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Igualmente
digno de atenção vem sendo o crescimento constante no número de mulheres
compondo chapas presidenciais como vice, em muitos casos eleitas. Embora a
grande imprensa tenha chamado bastante atenção para a eleição de Kamala Harris
nos EUA, num contexto marcado pelo machismo escancarado de Trump e os protestos
do <i>Black Lives Matter</i>, essa já era uma tendência. Aquele país
ensaiou uma presidenta em 2016 quando Hillary Clinton disputou a eleição contra
Trump.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
vice-presidenta é um título que sacudiu as últimas eleições na América Latina,
vem sendo recorrente na África e em crescimento na Ásia. Talvez o nome que mais
soa aqui no nosso continente seja mesmo o de Cristina Kirchner, por ter sido
presidenta e também por sua liderança política. Mas são diversas as coalizões
políticas e conjunturas em vários países, todas tendo em comum a presença de
mulheres: desde a primeira vice-presidenta na Colômbia, Marta Lúcia Ramírez,
que foi ministra no governo Uribe; passando pela equatoriana María Alejandra
Muñoz, política de esquerda eleita pelo congresso como quarta pessoa a ocupar a
cadeira da vice-presidência do governo Lenín Moreno; até Epsy Barr, primeira
mulher e pessoa negra a ocupar a cadeira na Costa Rica; ou mesmo Rosario
Murillo, que é ao mesmo tempo primeira-dama e vice-presidenta da Nicarágua. Em
que medida esses são resultados da conquista efetiva de direitos ou representam
a cooptação de uma pauta pelo discurso político-eleitoral? A eleição de mulheres
deveria ser apoiada, mesmo quando seu programa de governo é conversador e
neoliberal?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
respeito desse tema, a situação na América Latina já foi bem mais animadora. A
última década foi marcada com três das maiores economias do continente
governadas por mulheres – na Argentina de Cristina Kirchner, no Chile de
Michelle Bachelet e no Brasil de Dilma Rousseff, o que parecia concretizar uma
mudança que foi largamente combatida em todos os capítulos que já sabemos.
Agora há uma tentativa de recuperar algumas posições, dentro dos limites de uma
nova conjuntura.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">O
que diferencia os três nomes anteriores é justamente aquilo está assinalado no
mapa como países que tiveram uma titular (presidenta ou primeira-ministra)
impedida de concluir o mandato de governo. Esse impedimento é traumático para
os países que sofreram, mas também para o avanço recente das mulheres nos
governos. O golpe de 2016 contra Dilma Rousseff demonstrou que esse é um
movimento muito longe de ser linear. Agora o golpe militar de fevereiro deste
ano no Mianmar, depondo a prêmio nobel e líder política Aung San Suu Kyi do
cargo de conselheira de Estado, convida novamente à inadiável imbricação das
lutas do feminismo, do anti-autoritarismo e do anti-neoliberalismo.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><div style="text-align: justify;">FONTE: <a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank"> Outras Palavras</a></div><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-21774171166134251472021-05-11T09:59:00.000-03:002021-05-11T09:59:08.246-03:00O avanço do bolsonarismo nas universidades<p><span style="font-family: georgia; text-align: justify; text-transform: uppercase;">UMA ENTREVISTA
COM </span><span style="font-family: georgia; text-align: justify; text-transform: uppercase;">AIRTON SEELAENDER</span></p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black; text-transform: uppercase;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Desde que assumiu, Bolsonaro nomeou 16 reitores que não foram eleitos e
intimidou acadêmicos críticos ao desastre pandêmico. Para resistir a esses
ataques e a perseguição de fanáticos da extrema direita na academia,
conversamos com <b>Airton Seelaender</b>, professor da UNB especialista em
colaboracionismo jurídico em regimes autoritários.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #626262;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-outline-level: 3; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #626262;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"></span></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="color: #626262;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-eDjhLlZqq7c/YJp-dNY3kVI/AAAAAAAAHd4/E7rsOKnBI-oTI14LUveaqOJmllawazo8wCLcBGAsYHQ/s1086/Entrada_da_Reitoria_da_Universidade_Federal_do_Ceara%2B%25281%2529.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="652" data-original-width="1086" height="311" src="https://1.bp.blogspot.com/-eDjhLlZqq7c/YJp-dNY3kVI/AAAAAAAAHd4/E7rsOKnBI-oTI14LUveaqOJmllawazo8wCLcBGAsYHQ/w519-h311/Entrada_da_Reitoria_da_Universidade_Federal_do_Ceara%2B%25281%2529.jpeg" width="519" /></a></span></span></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-outline-level: 3; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: #626262;"><span style="font-family: georgia;">Hitler e Mussolini não perderam tempo
alterando a Constituição de Weimar e o Estatuto Albertino para suprimir a
liberdade de cátedra. Foto de Lucas Tavares / Zimel Press.<span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-outline-level: 3; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background-color: transparent; font-family: georgia;"><span><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; mso-outline-level: 3; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background-color: transparent; font-family: georgia;"><span>Entrevista por</span><span> </span></span><span style="background-color: transparent; font-family: georgia;"><b>Andre
Pagliarini</b></span></p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Nos últimos anos a democracia
universitária acabou. Desde que assumiu, ao longo de seu mandato, Bolsonaro
nomeou 16 reitores que não foram eleitos pela comunidade acadêmica. Pela
Constituição, desde 1996, as instituições de ensino federal encaminham uma
lista tríplice de três candidatos à reitoria mais votados internamente ao
presidente da República. Em live no final do ano passado, Bolsonaro <a href="https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/12/07/reitores-eleitos-nas-universidades-federais-e-nao-empossados-por-bolsonaro-criticam-intervencoes-do-governo.ghtml"><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">afirmou</span></a> que não quer “interferir politicamente em
lugar nenhum”, mas que verifica os nomes das listas encaminhadas pelas
universidades e detecta candidatos “militantes”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Mas não é só a democracia universitária
que o bolsonarismo está destruindo. O ex-reitor da Universidade Federal de
Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, foi alvo de <a href="https://www.cartacapital.com.br/opiniao/mercadante-autoritarismo-de-bolsonaro-ataca-a-educacao/"><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">intimidação</span></a> por meio de um Termo de Ajuste de
Conduta em razão a suposta “manifestação desrespeitosa direcionada ao
presidente” num debate online. Hallal entrou na mira de Bolsonaro porque vem
conduzindo uma pesquisa sobre a inexpressiva atuação do governo diante da
pandemia do coronavírus que já ceifou a vida de mais de 409 mil
brasileiros. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">Para entender mais as origens
autoritárias dessas ações, André Pagliarini, colaborador da </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Jacobin</span></i><span style="color: black;">, conversou com
Airton Seelaender, professor de Direito Público e História do Direito na
Universidade de Brasília, que quando fazia sua pós-graduação em Frankfurt, na
Alemanha, teve contato com os trabalhos dos juristas do nazismo. Seelaender
lembra que Hitler e Mussolini não perderam tempo alterando o Estatuto Albertino
para suprimir a liberdade de cátedra. E, antes do nazismo lançar sua </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">blitzkrieg </span></i><span style="color: black;">contra as cátedras,
já usava jovens nazistas para intimidar professores judeus, liberais e
socialistas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Para Seelaender, essas atitudes do governo Bolsonaro somadas com o
denuncismo ideológico da extrema direita e a infiltração de fanáticos em órgãos
estatais estão jogando as universidades brasileiras num obscurantismo
autoritário nunca visto antes.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 20.4pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Fale um pouco sobre a sua trajetória
acadêmica e profissional. Como que você veio a estudar o direito contemporâneo?
O que te interessou nessa área?</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Nos Anos 80, a manipulação do povo brasileiro pelo oligopólio privado da
mídia era brutal. Alguns meios de comunicação seguiam colaborando com o então
decadente regime ditatorial – inclusive mentindo abertamente, como no caso da
tentativa de fraude eleitoral nas eleições de 1982 no Rio de Janeiro. Uma
gigantesca manifestação contra a ditadura, em que eu estivera pessoalmente, foi
apresentada na TV como um “show” de comemoração do aniversário de São Paulo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Quando entrei na Universidade de São Paulo, em 1986, comecei a lidar
mais diretamente com o direito dos governados à informação – alguns dos
primeiros artigos publicados sobre isso no Brasil são os que fiz quando era
estudante. Passei, depois, a escrever sobre o regime jurídico da televisão,
tentando encontrar formas de fazê-la servir melhor à democracia. Outros temas também
relacionados à liberdade de informação – como o controle dos trabalhadores
sobre seus próprios dados pessoais – também vieram a me interessar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Naquela época distante, era às vezes difícil ingressar na pós-graduação
de algumas faculdades brasileiras de direito sem ter protetores e conexões.
Tentei, então, ir para a Alemanha, onde tive a sorte de ser aceito como
orientando por um notável historiador do direito, Michael Stolleis. A ele, a
Heinz Mohnhaupt e ao historiador português António Hespanha devo o melhor de
minha formação.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Ao retornar, trabalhei por vários anos na Procuradoria do Estado. Era
uma instituição séria, onde pude ver como as garantias dadas aos servidores
públicos eram essenciais para impedir que a coletividade fosse saqueada.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Em 2006, troquei a Procuradoria pela carreira de professor, que pagava
bem menos e era aqui bem menos respeitada. Acharam que eu tinha enlouquecido.
Mas não me arrependo, pois o que gosto mesmo é de ensinar e pesquisar. Passei a
lecionar História do Direito e Direito Público. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Graças a Deus, já deixei de ensinar Direito Constitucional. Livrei-me,
assim, do constrangedor dever de comparar a nossa Constituição democrática com
a atuação do Ministério Público e de outras instituições sob o bolsonarismo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 20.4pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><b style="font-family: georgia;"><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Você já tratou em termos acadêmicos da
questão dos juristas em regimes autoritários. Em um texto de 2017, você diz que
o STF é “hoje absurdamente heroicizado como centro de resistência
cívico-democrática” na ditadura. Como você vê esse assunto, tanto em termos
históricos como atuais?</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Enquanto estudava em Frankfurt a teoria legislativa do Iluminismo, tomei
contato com os trabalhos de Stolleis, Müller e Rüthers sobre os juristas do
nazismo. Comecei a ler sobre juízes e professores de Direito em Vichy, na
Itália fascista e em Portugal à época de Salazar. Também queria entender, é
claro, o que houve aqui no Estado Novo e sob a ditadura militar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Quando comecei a tratar disso publicamente, o tema era tabu no Brasil.
Muitos dos juristas da ditadura estavam vivos e o debate era visto como um
risco aos “atestados de pedigree acadêmico” de alguns discípulos. Temendo que
um juiz apreendesse um livro que co-editávamos, um colega me implorou para
tirar do meu texto “Juristas e Ditaduras” longas passagens sobre juristas
brasileiros que haviam apoiado o regime militar. Um destes chegou a fazer uma
palestra, em uma faculdade, uma semana depois de outra que eu lá fizera sobre
ele.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Na Europa e na América Latina, compreender ditaduras pressupõe
compreender, também, os juristas que ajudaram a legitimá-las e a fazê-las
funcionar. É necessário estudar, a fundo, o fenômeno do colaboracionismo
jurídico.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Você me pergunta, também, sobre o STF. E já lhe adianto que a história
dele é bem mais complexa do que o tribunal costuma dar a entender.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">O STF adora elogiar-se a si mesmo. E,
como o tribunal afeta a distribuição social do prestígio, da riqueza e do
poder, nunca faltará gente para glorificá-lo como a vanguarda da democracia.
Mas tais elogios não nos explicam por que um tribunal que tinha o dever de
defender a Constituição democrática de 1946 veio a receber oficialmente,
como </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">c</span></i><span style="color: black;">hefe de Estado legítimo, um militar que
a havia violado. Os bardos da toga tampouco nos explicam por que ali se
exaltou, no passado, o Estado Novo e até Benito Mussolini. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">Se a ala mais delirante de nossa
extrema direita conseguisse, no futuro, transformar o Brasil em uma repugnante
ditadura cheia de assassinos e torturadores, decerto não faltaria quem, décadas
depois, escrevesse obras exaltando os ministros dos tribunais superiores que se
houvessem revelado mais dignos e mais corajosos na defesa da democracia nada
daquilo teria acontecido. Mas o que se poderia escrever, então, sobre os
outros? Ou sobre os juízes e procuradores que houvessem chegado até a baixeza
de </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">normalizar</span></i><span style="color: black;"> a passagem para
o novo regime? </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 20.4pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Como você descreveria o clima político
e social no Brasil hoje?</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Professores de Direito não são as pessoas mais habilitadas para analisar
a situação social do país. Quem melhor a conhece é quem hoje afunda na miséria:
o cidadão médio que teve seus direitos trabalhistas destroçados, em nome de um
progresso econômico que depois não veio. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Quanto ao debate político atual, só quero registrar que é marcado pela
brutalidade da linguagem, pelo culto à personalidade e pelo descaso geral e
absoluto com o sofrimento humano, com o enorme sofrimento das pessoas. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 20.4pt; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Existe censura hoje
nas universidades brasileiras?</span></b><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 20.4pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;">No Brasil de hoje, a onda de denuncismo ideológico e a infiltração de
fanáticos em órgãos estatais têm gerado não só a consternação das pessoas
decentes, mas também medo nos setores mais expostos a perseguições injustas –
como é o caso dos professores universitários. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">A Constituição brasileira proíbe restringir a liberdade de cátedra.
Decisões do STF proíbem restringir a liberdade de cátedra. Apesar disso, tal
liberdade pode desmoronar em poucos dias, se o medo de exercê-la vier a se
espalhar. Pouco ou nada restará dela, na prática, se os professores de
Economia, de Física, de Medicina ou de Sociologia passarem a temer inquéritos
policiais, processos criminais e apurações administrativas sobre o teor de suas
pesquisas, aulas e conferências. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">No mundo todo, os ditadores sabem
disso. A ferramenta das ditaduras é o medo. Hitler e Mussolini não perderam
tempo alterando a Constituição de Weimar e o Estatuto Albertino para suprimir a
liberdade de cátedra: </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">squadristi </span></i><span style="color: black;">e funcionários
fanatizados cumpriam tal tarefa mais diretamente. Basta infernizar e intimidar
um pequeno percentual de professores, para que logo o medo impere e a
autocensura se imponha. Disso para o denuncismo sistemático e o “Heil Hitler!”
em sala de aula, é só um passo. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Felizmente não há “Reich de Mil Anos” que dure quinze e o Brasil não é o
“Terceiro Reich”. Mas a estreita correlação entre medo e censura não derrete no
calor dos trópicos. E é gritantemente óbvia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Por isso mesmo, se no futuro algum Reitor, Procurador da República,
Ministro da Educação, autoridade policial ou servidor público vier a produzir
ou distribuir documentos oficiais ofensivos à liberdade constitucional de
ensino, ele não poderá alegar que não imaginava qual seria o resultado. Ele
estaria então assumindo, conscientemente, o risco de gerar o medo como fenômeno
social. E estaria, conscientemente, assumindo o risco de servir à destruição da
ordem constitucional democrática</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 20.4pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Como resistir ao silenciamento e à
intimidação?</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Enquanto a Constituição democrática estiver em vigor e houver meios
legais para conter quem tente silenciar as universidades, estas devem
abertamente recusar obediência a “recomendações” e comandos ofensivos à
liberdade de cátedra. Deve-se, pois, simplesmente desobedecer quem, de modo
óbvio e acintoso, violar a Constituição – da mesma forma que se desobedeceria,
por exemplo, um prefeito neonazista que proibisse crianças negras e judias de
brincarem em praças públicas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">Os professores que se sentirem
intimidados ou censurados não devem se acovardar. Não devem se limitar a ficar
resmungando com familiares e colegas. Devem, isso sim, comunicar o ocorrido aos
sindicatos, partidos, jornais. Devem entregar a </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Declaração </span></i><span style="color: black;">da Faculdade de
Direito da UNB a um advogado, pedindo que este tome as medidas legais para a
sua defesa (mandado de segurança, por vezes habeas corpus) ou para
responsabilizar pessoalmente os inimigos da liberdade de cátedra.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">As autoridades universitárias sempre devem, também, oficiar o Ministério
Público, quando houver indícios claros de que o ato inconstitucional de censura
teve motivação política situacionista. Nesses casos, pode mesmo haver, em tese,
crime de prevaricação ou de abuso de poder.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">Também é de fundamental importância
impedir que professores sejam agredidos, ofendidos ou ameaçados por grupos de
alunos de extrema direita. Antes do nazismo lançar sua </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">Blitzkrieg </span></i><span style="color: black;">contra as cátedras,
já usava jovens nazistas para promover a violência e a intimidação de professores
judeus, liberais e socialistas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">A base da democracia, porém, é o povo –
e a ele e a seus representantes devem também os professores pedir socorro. Sem
cidadão ativo, nada funciona. O mantra conformista “</span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">as
instituições estão funcionando”</span></i><span style="color: black;"> é uma dupla tolice: elas não
funcionam bem longe do olhar do povo e, onde funcionam mesmo bem, a ninguém
ocorre pronunciar tal frase. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 20.4pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">As faculdades de direito têm um papel
diferenciado no debate sobre a liberdade de ensino?</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">As faculdades de direito não são Olimpos,
não têm precedência face a outras faculdades. Elas apenas estão mais
tecnicamente preparadas do que as demais para desmascarar a </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">opressão
disfarçada de legalidade</span></i><span style="color: black;">.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: black;">Pensemos, de forma meramente abstrata,
em um imaginário </span><i><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;">politiqueiro de extrema direita </span></i><span style="color: black;">que usasse e abusasse
de uma alta posição jurídica no aparato estatal para dar vazão a seu fanatismo
descontrolado. Suponhamos, também só teoricamente, que ele tivesse por ídolo um
astrólogo e desejasse, por isso mesmo, forçar todos os professores de Astronomia
a ensinarem o Zodíaco em universidades públicas. Ora, não haveria astrônomo que
não tremesse, recebendo esse comando despótico e absurdo em um papel timbrado,
cheio de solenes referências a artigos de leis.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Se a mesma autoridade imaginária exigisse de uma faculdade de direito
que ensinasse “Astrologia Judiciária” (baboseira que já teve fãs no passado), o
resultado seria, no entanto, muito diferente. Após gargalhar em uníssono, a
faculdade tomaria providências para que tal autoridade enfim perdesse seu cargo
e fosse processada criminalmente.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Astrônomos, antropólogos, economistas, biólogos: todos se sentirão mais
seguros, se as faculdades de direito sempre impedirem, no futuro, que o
autoritarismo, ogro horroroso, ouse passar por fadinha da legalidade. </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 20.4pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;"><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;"><b>Qual recado você daria aos estudiosos,
acadêmicos, professores e educadores ao redor do mundo? Por que os
acontecimentos do Brasil importam para além da América Latina?</b></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: georgia;">Apelo aos professores, estudiosos e educadores do mundo todo para que
olhem o Brasil. Para que não abandonem seus colegas brasileiros. Nós, que já
lutamos para sobreviver a um stalingrado sanitário, não merecemos ser impedidos
de pensar, pesquisar, debater e ensinar em liberdade.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 11.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">Toda vez, no passado, em que a liberdade foi atacada no Brasil, logo o
problema veio a contaminar o restante da América Latina. Hoje, porém, a
situação se tornou ainda mais grave: em uma era de globalização do discurso de
ódio, tecnologias locais de opressão expandem-se pelo mundo inteiro com
surpreendente rapidez. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;">A solidariedade internacional não deve esperar, portanto, em sono
cúmplice, as primeiras prisões arbitrárias.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><b><span style="color: #161922; letter-spacing: 0.6pt; text-transform: uppercase;"><span style="font-family: georgia;">SOBRE
OS AUTORES</span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="color: black;"><span style="font-family: georgia;"><i><a href="https://jacobin.com.br/author/airtonseelaender/"><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; padding: 0cm;"><b>Airton Seelaender</b></span></a> é professor de Direito Público e
História do Direito na Universidade de Brasília com doutorado na J.W.
Goethe-Universität (Frankfurt). Também é ex-Procurador do Estado e membro do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto de Investigaciones
de História del Derecho (Buenos Aires).</i><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><i><span style="font-family: georgia;"><b>Andre Pagliarini</b></span><span style="font-family: georgia;"> foi
professor assistente visitante de história moderna da América Latina na Brown
University em 2018–19 e começará uma palestra no Dartmouth College neste
outono. Atualmente, ele está preparando um livro sobre o nacionalismo
brasileiro do século XX.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><i> </i></span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;">FONTE:<a href=" Andre Pagliarini" target="_blank"> Jacobin Brasil</a></span></o:p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-21001705457752540752021-04-28T09:55:00.001-03:002021-04-28T09:55:37.611-03:00Sem Censo, Brasil fecha os olhos para si<p><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><i><span style="color: #585858; font-size: 15pt;"><span style="font-family: georgia;">Há 150 anos país examina a si mesmo por meio de
recenseamentos. Nem a ditadura pós-64 os ameaçou. Qual sua história. Por que,
sem eles, é impossível fazer políticas públicas. Como seu cancelamento é ataque
de Bolsonaro ao futuro</span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-VKAfecyuwy0/YIlaGyVOY7I/AAAAAAAAHdM/kledVGI9YP4h_1DS1UGWU0YuX1lKW9rCgCLcBGAsYHQ/s660/ibge.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="660" height="314" src="https://1.bp.blogspot.com/-VKAfecyuwy0/YIlaGyVOY7I/AAAAAAAAHdM/kledVGI9YP4h_1DS1UGWU0YuX1lKW9rCgCLcBGAsYHQ/w559-h314/ibge.jpg" width="559" /></a></div><br /><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Por Gilberto
Maringoni<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">É
iniciativa das mais graves o cancelamento do recenseamento demográfico neste
ano. Equivale a jogar fora os instrumentos de um avião em pleno voo, no meio de
um nevoeiro.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">O
governo Bolsonaro entrará para a História como o governo do genocídio e da
miséria. Ficará a nu a brutalidade das classes dominantes brasileiras – hoje
genericamente conhecidas como Faria Lima – em aliança com Forças Armadas que,
ao longo de dois séculos, foram agentes de um sem número de massacres e quebras
de legalidade. O trato que dão à pandemia representa sua síntese, seu símbolo e
a absoluta impossibilidade de que possam esconder seus propósitos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: #585858; font-size: 12pt;">Apagamento
da História</span></b><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Mas
o governo Bolsonaro também ficará para a posteridade como aquele que mais longe
foi na busca de apagar a História, através da tentativa de bloquear nossa
possibilidade de autoconhecimento. É o governo da desconstrução da Nação, esse
conceito subjetivo e de difícil classificação, que, no entanto, torna possível
a montagem do Estado, de sua superestrutura e do próprio espaço público em que
se dá a disputa política.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Trata-se
de algo que nem a ditadura militar ousou. E nada expressa melhor essa tentativa
de destruição que o cancelamento do censo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Bolsonaro
não está adiando simplesmente o maior levantamento sobre o que somos, como
somos, o que temos, qual nossa renda, nossos grau de instrução formal, nossas
cores, etnias, gêneros etc. etc. Ele quer impedir que nos olhemos no espelho e
daí tiremos decorrências.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: #585858; font-size: 12pt;">Censo
não se improvisa</span></b><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Rescenseamento
não é algo se se prepare de uma hora para outra. Trata-se da maior e mais
ousada operação logística do país, que demanda de dois a três anos de
preparação e mais um de tabulação e interpretação de dados recolhidos, além do
período de coleta de informações em todos os lares e locais de concentrações
humanas de norte a sul. Mobiliza centenas de milhares de trabalhadores
especializados em demografia, geografia, políticas públicas, sociologia,
história, psicologia, urbanismo, estatística, saúde, segurança, direito e uma
gama enorme de pesquisadores que irão bater de porta em porta, munidos de um
complexo questionário. Sobre este, o inacreditável Paulo Guedes propôs limitar
o número de perguntas. Como argumento, o sujeito disse o seguinte: “Se
perguntar demais você vai acabar descobrindo coisas que nem queria saber”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Sem
censo – e sem trocadilho aqui! – não se fazem políticas públicas, como vários
especialistas têm assegurado na imprensa. Também não se faz investimento
privado algum nas áreas produtivas, de serviços, de estratégias agrícolas e
tudo o mais. Como se saberá o perfil de renda dos brasileiros para a instalação
de uma escola, uma unidade produtiva, de uma loja, ou de uma empresa de
qualquer ramo de atividades?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Entre
1872 a 2010, o Brasil realizou 12 recenseamentos. Foram eles os de 1872, 1890,
1900, 1910, 1920, 1930, 1940 (o primeiro realizado pelo IBGE), 1950, 1960,
1970, 1980, 1991 (atrasado em um ano por problemas burocráticos), 2000 e 2010.
Como se vê, a regularidade de um por década nunca falhou na República.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: #585858; font-size: 12pt;">Censo
e Nação</span></b><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
ideia de Nação no Brasil e a consolidação do Estado nacional nascem justamente
no período da realização de nosso primeiro levantamento populacional.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">As
décadas de 1860-70 foram marcadas internacionalmente por uma nova fase no
capitalismo global, pautados pelo fenômeno socioeconômico denominado de II
Revolução Industrial. Esse processo, na verdade, expressa a constituição de uma
nova fase de concentração de capital nos países ricos. Ela abre caminho para
pesquisas científicas de longo curso, para a constituição de gigantescos
monopólios industriais e financeiros e pelo advento de robustos mercados
internos de massa. Um novo período histórico se abria, o do imperialismo. São
os tempos da centralização do Estado nos EUA, da unificação da Alemanha, da
Itália, da Argentina, da construção do Estado mexicano, de sua modernização no
Japão, entre outros, e pela exacerbação dos nacionalismos na Europa (vale apena
ler <i>Nações e nacionalismos desde 187</i>0, coletânea de artigos de Eric
Hobsbawm).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
versão brasileira do fenômeno se dá com o fim da Guerra do Paraguai e tem na
realização do censo de 1872 sua bússola. Entram no jogo a supremacia do café
como principal produto exportável, o fim das rebeliões regionais do período
regencial, o início do debate na cúpula do poder sobre o fim da escravidão, e o
início do lançamento de um movimento republicano conservador. A unidade
territorial se consolidava e a monarquia iniciava sua derrocada.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">O
escritor e historiador José Veríssimo (1857-1916) escreveu o seguinte, em
sua <i>História da literatura brasileira</i> (1912), ao aludir o
impacto da Guerra da Tríplice Aliança entre a população:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">“Pela
primeira vez depois da Independência (…) sentiu o povo brasileiro praticamente
a responsabilidade que aos seus membros impõem estas coletividades chamadas
nações. Ele, que até então vivia segregado nas suas províncias, ignorando-se
mutuamente, encontra-se agora fora das estreitas preocupações bairristas do
campanário, num campo propício para estreitar a confraternidade de um povo, o
campo de batalha. (…) Houve enfim uma vasta comunicação interprovincial do
Norte para o Sul, um intercâmbio nacional de emoções, cujos efeitos se fariam
forçosamente sentir na mentalidade nacional”.<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Veríssimo
– com algum exagero retórico – aludia às primeiras manifestações populares
sobre o que era ser brasileiro. O diferencial essencial era não ser paraguaio
(não vamos aqui entrar no debate da guerra). Vale é ressaltar que a noção de
como – ou o quê – era o país, vaga até então e existente em sua maior parte na
dinâmica da burocracia imperial, começa a tomar corpo na base da sociedade.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Essa
percepção tinha, no entanto, muito de subjetivismo. Poucos eram os estudos e
levantamentos científicos sobre a população, sua distribuição geográfica,
hábitos e modos de vida.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: #585858; font-size: 12pt;">O
primeiro levantamento</span></b><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
grande empreitada visando a jogar luz nessas questões foi a realização do
primeiro censo oficial do Brasil, cujos dados começaram a ser coletados em
1872. Somente quatro anos depois, os números foram tabulados e divulgados. Os
indicadores estarreceram alguns setores. O jornal A Província de São Paulo
(atual O Estado de S. Paulo), por exemplo, estampou em primeira página uma
contundente matéria, sob o título “Algarismos eloquentes”:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">“Estão
findos os trabalhos de estatística da população do império. (…) Vejamos o que
dizem [os dados] a propósito do nível intelectual de nossa população.<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Não
é assunto propriamente novo, mas com certeza muita gente ainda não prestou-lhe
a devida atenção, embora seja eloquentemente triste e tristemente poderoso.<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Está
orçada a população do império, conta redonda, em dez milhões de almas.<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Numa
massa total, conta-se como sabendo ler:<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"></p><div style="text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Homens:
1.012.097</span></span></i></div><i><div style="text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Mulheres: 550.981</span></span></i></div><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Ao todo: 1.563.078</span></span></i></div></span></i><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Conta
redonda de analfabetos: oito milhões e quinhentos mil! (…) Esse desolador e
gravíssimo fato é a explicação primeira e mais radical de nossas misérias
nacionais.<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><i><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Somos
um povo de analfabetos!”<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">O
censo revelou a extensão de nossas chagas sociais, os números da escravidão e
assustou as oligarquias.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Uma
das decorrências foi o projeto dessas camadas de tentar trocar de povo. Isso se
deu com a diretriz de embranquecer o Brasil importando imigrantes europeus
pelas décadas seguintes. Mas também possibilitou, ao longo do século XX que se
tomassem iniciativas desenvolvimentistas e inclusivas. Foi com a leitura dos
dados dos sucessivos recenseamentos que o Brasil deixou de ser uma imensa
fazenda de café em 1930 e emergiu como país industrializado e moderno a partir
de 1980. Repetindo: censo é ferramenta essencial na construção do Estado.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Sem
um levantamento meticuloso e totalizante, o conhecimento objetivo sobre o
Brasil restringir-se-á a projeções estatísticas a partir do censo de 2010, feito
em uma realidade totalmente diversa, de um país em crescimento e sem pandemia.
Como saberemos quais os setores mais atingidos pela doença, pela fome e pela
violência? Como saberemos onde estão e quais são as novas carências?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Teremos
uma percepção impressionista e fragmentada de nós mesmos, imprecisa e grosseira
— aberta a todo tipo de preconceito –, incapaz de nos servir de guia para o que
quer que seja.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Nenhum
governo brasileiro da República teve a desfaçatez de não priorizar a realização
do censo e de impedir que nos mirássemos no espelho dessa forma.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Bolsonaro
busca com isso também bloquear a constatação da profundidade da hecatombe que
provoca há mais de dois anos e impedir nossa recuperação posterior. O
cancelamento do censo visa interditar a possibilidade do Brasil olhar para si
mesmo e vencer o obscurantismo, a miséria e o atraso.</span><span style="font-family: Georgia, serif;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">FONTE: <a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank">Outras Palavras</a></span></span></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-48713969028560201212021-04-18T10:05:00.000-03:002021-04-18T10:05:28.928-03:00 Genocídio de classe <p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; text-align: left;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Por José Matrins</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-ANliUFPr3BU/YHwuAF-YJ8I/AAAAAAAAHcY/k59Ofj3xHGoIHtnmyNNcOy353AFJkj_2ACLcBGAsYHQ/s1170/racismo-0012.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="1170" height="336" src="https://1.bp.blogspot.com/-ANliUFPr3BU/YHwuAF-YJ8I/AAAAAAAAHcY/k59Ofj3xHGoIHtnmyNNcOy353AFJkj_2ACLcBGAsYHQ/w562-h336/racismo-0012.jpg" width="562" /></a></div><br /><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Na
contramão do mundo capitalista e dos empresários endinheirados, os
brasileiros que são obrigados a vender sua força de trabalho a estes patrões
para viver terminaram a década 2011 a 2020 mais pobres. Muito mais pobres.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">É
o que se pode concluir de início com quase ilegíveis números e percentagens
apresentadas em estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getúlio Vargas (Ibre/FGV) com base em números do Fundo Monetário Internacional
(FMI).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Nesta
última década, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil recuou
0,2% ao ano, em média. Isso é muita coisa em um período tão longo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Nesse
mesmo período, o mesmo PIB mundial per capita teve crescimento anual de
0,4%, enquanto o das economias dominadas da periferia do sistema
avançou 2,5%. O PIB per capita brasileiro já está abaixo do chinês.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">O
PIB per capital é a soma de tudo o que país produz dividido pela população
e funciona como um importante termômetro para avaliar a vitalidade
econômica de uma nação. O nível da produtividade ou da pobreza de uma
nação.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;">O
fracasso em números</span></b><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">O
PIB per capita sobe quando produtividade do trabalho e atividade econômica
avançam em ritmo mais rápido do que o crescimento populacional. No
Brasil aconteceu exatamente o contrário. E isso não acontece impunemente
para os trabalhadores.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Em
2010, os brasileiros em geral tinham uma renda anual média de US$ 14.931,10.
Em 2020, ela caiu para US$ 13.777,44. Variação de 8% para baixo. Já está mais
baixo que o chinês. Logo estará mais baixo até que o indiano.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Esse
valor é uma média nacional. Em seu cálculo é considerada toda a população
brasileira. Portanto, estão contabilizados, além da população trabalhadora,
aproximadamente 15% da população composta de empresários endinheirados
e demais classes improdutivas do país. Essa parte altamente minoritária
da população brasileira é a corporificação do capital no Brasil.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">A
burguesia brasileira (proprietária dos meios de produção da economia)
soma aproximadamente 30 milhões de cidadãos – parte mínima de uma população
de 210 milhões.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Assim,
no cálculo do PIB per capita faz-se uma mistura estatística de capitalistas
e trabalhadores assalariados. De improdutivos e produtivos.<br />
Afinal, na democracia os cidadãos não têm o mesmo peso? Cada cidadão um
voto?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">O
fato importante a ser destacado nesta mistificação do processo é que
para os 85% de estropiados trabalhadores produtivos do exército industrial
de reserva no Brasil, a queda de seu miserável rendimento anual médio foi
muito mais catastrófica que aquela média nacional de 8%.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">O
desastre produtivo da queda do PIB per capita no Brasil nos últimos dez
anos pode ser mais bem visualizado com dados que pesquisamos no IBGE
sobre a evolução dos investimentos e da produção per capita nos setores
produtivos da economia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Observa-se,
inicialmente, uma queda anual média de 0,3% da Formação Bruta de Capital
Fixo – quer dizer, do investimento agregado da economia em máquinas, equipamentos
e estruturas. As forças produtivas do trabalho concreto se enfraqueceram.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Essa
queda mostra como os empresários e demais classes parasitas – que monopolizam
a propriedade da totalidade dos meios de produção social da nação – reduzem
significativamente, nos últimos dez anos, os meios de trabalho necessários
à expansão da produção de utilidades e da produtividade da classe trabalhadora.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Na
Indústria de Transformação, núcleo regulador da produção nacional, a
queda de 0,9 % ao ano foi ainda muito mais profunda que a da Formação Bruta
de Capital Fixo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">E,
nos ramos industriais da Construção Civil a queda de 2,7% ao ano foi ainda
maior que na indústria como um todo. Isso é muito mais catastrófico, pois
os diversos ramos da Construção Civil concentram e ao mesmo tempo espalham
para todas as cidades e regiões do país as grandes massas de trabalhadores
produtivos da economia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;">Debates
fraudulentos</span></b><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Portanto,
o que querem dizer todos esses números? Todas estas abstrações matemáticas
aparentemente neutras de um processo social? Para os economistas e
mídia do capital esta derrocada produtiva não passa de um acidente provocado
por sucessivos governos incapazes de sanear as contas públicas e promover
a estabilidade macroeconômica.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">“Os
culpados são os políticos”. Para eles, a incapacidade dos governos em
promover as “reformas necessárias” e eliminar a permanente “instabilidade
das contas públicas” é o fato que impediu a retomada dos investimentos
na economia, do crescimento e, consequentemente, é a culpada pela derrocada
econômica dos últimos dez anos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Se
o problema se resume à má gestão dos governos, isso é muito conveniente
para eles esconder sem remorso a responsabilidade dos empresários privados
e demais classes proprietárias de capital. Estas não aparecem em nenhum
momento das suas avaliações sobre a “década perdida”. A não ser como vítimas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Para
os economistas que avaliam os dados da FGV, os virtuosos e desprotegidos
capitalistas são vítimas dos maus governos. Isso acontece porque eles
estão sempre aguardando a prometida estabilidade das contas públicas
para voltarem a investir na produção e, em um ato de extrema magnanimidade
e bondade, gerar renda e emprego para a sociedade necessitada dos seus
serviços.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Mesmo
que estes sucessivos governos não sejam nada mais, no mundo real, do que serviçais
burocratas das classes dominantes, governos que são instalados por estas
últimas para administrar seus interesses econômicos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Ao
contrário da narrativa dos economistas do capital, todos os governos
(sem exceção até para confirmar a regra) são simplesmente comitês políticos
armados do Estado de defesa da propriedade capitalista e de administração
da luta de classes decorrente deste processo histórico.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;">Uma
burguesia inútil</span></b><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Entretanto,
a despeito da leviandade dos economistas do sistema e outros ideólogos
das classes dominantes, a derrocada econômica brasileira dos últimos
dez anos não foi apenas mais uma “década perdida”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Ela
teve enormes consequências sociais e políticas. Em primeiro lugar, na
origem desta década a classe empresarial e demais classes proprietárias
são responsáveis pelo desligamento da economia nacional do resto do
mundo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Não
como empresários nacionalistas ou protecionistas, mas como incompetentes
liberais. Fanáticos e incompetentes liberais. Não foram capazes de realizar
seu projeto de liberalização e integração da produção às cadeias globais
produtivas de valor.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">A
indústria brasileira meia-boca é totalmente incapaz de produzir e exportar
competitivamente sua produção. Nem como <i>maquiladoras</i>.
Mesmo em grandes zonas especiais de indústrias montadoras (<i>maquiladoras</i>),
como a Zona Franca de Manaus, todas as mercadorias ali montadas são destinadas
ao mercado interno.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Na
China e no México, por exemplo – do mesmo modo que nas demais economias dominadas
da periferia plenamente integradas às cadeias produtivas globais de
valor – todas as mercadorias montadas nas zonas especiais são imediatamente
exportadas para as economias centrais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Os
capitalistas chineses e mexicanos são mais espertos que os brasileiros.
Os dois únicos setores produtores de capital da economia brasileira que
ainda se relacionam ativamente com o mercado mundial são dois enclaves
primário- exportadores: a agropecuária e a indústria mineradora.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">O
setor agropecuário (ou agronegócio), que produz a merreca de 6% do PIB apresentou
crescimento médio anual de 2,7% ao ano. As mineradoras (Vale do Rio Doce
etc.) alcançaram 1,2% ao ano.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">São
os dois únicos setores industriais que cresceram nos últimos dez anos. Só
aqui os empresários brasileiros foram “eficientes e inovadores”. Mas
sem nenhuma consequência positiva para a expansão da totalidade da economia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">O
problema é que, além do agronegócio e as mineradoras produzirem uma parcela
muito pequena do PIB, também não proporcionam, enquanto enclaves primário-exportadores,
nenhum “efeito multiplicador da renda” na produção interna. Ou seja, são
estéreis para gerar desenvolvimento econômico.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">É
por isso que, enquanto a economia nacional afunda estes dois enclaves
crescem. E os ideólogos do parasitismo capitalista nacional festejam
esse fenômeno patológico do crescimento econômico na periferia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">O
fato é que o desligamento dos setores industriais mais dinâmicos da economia
nacional da globalização do capital – integrados às cadeias produtivas
globais de valor apenas para a livre importação de máquinas, insumos e componentes
do processo de produção – foi um fracasso histórico em que os empresários
privados nacionais foram os principais responsáveis.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Nem
para reproduzir o subdesenvolvimento econômico os empresários brasileiros
servem mais. Tornaram-se apenas agentes irresponsáveis (e conscientes,
como veremos a seguir) de uma criminosa arquitetura da destruição. O governo
atual Boçalnaro/Guedes é a expressão política mais bem acabada deste genocídio
de classe.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><b><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;">Não
há futuro possível</span></b><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">O
fracasso dos empresários e demais classes improdutivas que dirigiram
a economia para o travamento e à queda observada nos últimos dez anos provocou
um brutal desemprego, queda dos rendimentos e, finalmente, uma explosão
de pauperização e miséria jamais observada na história econômica brasileira.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Ao
contrário do que os economistas do capital procuram esconder, aqueles números
acima observados não são neutros e muito menos desprovidos de efeitos devastadores
sobre a reprodução física da população brasileira.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">E
não se trata de um mero desiquilíbrio de rendimentos entre ricos e pobres,
uma mera desigualdade. Uma injustiça na “distribuição da renda” que pode
ser resolvida com políticas públicas, governos populistas e outros
amigos do povo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Quando
o sistema econômico não se move, afunda continuamente – como temos observado
nestes últimos dez anos – desaparece também a função básica de qualquer
modo de produção: garantir a reprodução física da população.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">A
incapacidade econômica dos empresários de garantir a reprodução física
dos trabalhadores desprovidos de qualquer reserva ou propriedade –
junto com a sua insistência em manter indefinidamente essa engenharia
da destruição como política de governo – transforma-se em um inaceitável
genocídio econômico.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;">Em
nosso próximo boletim continuaremos com a análise deste processo. Como
este genocídio econômico perpetrado pelos empresários brasileiros se
reproduz agora como genocídio pandêmico e fatal ingovernabilidade política.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><i>José
Martins é economista e editor do <a href="https://criticadaeconomia.com/2021/03/genocidio-de-classe/" target="_blank"><span style="color: #bd2400; text-decoration: none;">Crítica da Economia</span></a>, de onde este artigo foi retirado.</i></span><span style="color: #5c5b60; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"><br /></span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;">FONTE: <a href="https://www.correiocidadania.com.br/" target="_blank">Correio da Cidadania</a></span></o:p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-41353645418402163052021-04-09T16:18:00.003-03:002021-04-09T16:21:03.011-03:00Fundeb: uma pequena vitória da Educação Pública<p> </p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: center;"><i><span style="color: #585858; font-size: 15pt;"><span style="font-family: georgia;">Após tentativa de boicote pela base do governo
Bolsonaro, e manobras de deputados do Novo para ampliar repasse a entidades
privadas e religiosas, Câmara aprova texto original do Fundo, preservando R$ 16
bilhões que seriam desviados<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-T1w8ia0lrVg/YHCoBEXtu2I/AAAAAAAAHaQ/jX7oA4NFPDM7lhQam-ywqaQqUBkywuHiwCLcBGAsYHQ/s630/fundeb.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="420" data-original-width="630" height="359" src="https://1.bp.blogspot.com/-T1w8ia0lrVg/YHCoBEXtu2I/AAAAAAAAHaQ/jX7oA4NFPDM7lhQam-ywqaQqUBkywuHiwCLcBGAsYHQ/w538-h359/fundeb.jpg" width="538" /></a></div><br /><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: right;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Por <b>André
Antunes</b>, na <i><a href="http://www.epsjv.fiocruz.br/" target="_blank"><span style="color: #42708f;">EPSJV/Fiocruz</span></a></i><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (17/12) o projeto de lei que
regulamenta o novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação e de
Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), principal mecanismo de
financiamento da educação básica no país, que foi tornado permanente com a
aprovação da Emenda Constitucional 108 em agosto deste ano. Por 470 votos a 15,
os deputados aprovaram um texto que havia sido referendado pelo Senado no
início da semana. Os senadores votaram pela retomada do texto original do
relator do projeto na Câmara, Felipe Rigoni (PSB-ES), que durante a tramitação
na Câmara dos Deputados na semana passada recebeu modificações que foram alvo
de críticas por parte de movimentos em defesa da educação pública, assim como
de entidades representativas dos secretários municipais e estaduais de
educação. Isso porque elas ampliariam os recursos do fundo que poderiam ser
destinados a instituições privadas, como as do chamado Sistema S e as
instituições filantrópicas, comunitárias e confessionais. O texto que agora vai
a sanção presidencial vetou essas modificações.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">O
ponto mais polêmico da segunda rodada de votações na Câmara foi a votação de um
destaque apresentado pelo Partido Novo, que pretendia reincluir no texto a
possibilidade de destinação do Fundeb para matrículas realizadas em
instituições filantrópicas sem fins lucrativos nos ensinos fundamental e médio,
o que é proibido pela lei atual do Fundeb. Por 286 votos a 163, o destaque foi
rejeitado. O projeto original que foi à votação, assim como a lei do atual
Fundeb, previa essa possibilidade apenas para creche, educação do campo com
formação por alternância, pré-escola e educação especial. O PL aprovado na
Câmara na semana passada acrescentou a educação fundamental e ensino médio,
desde que limitadas a 10% das matrículas públicas em cada ente federado, o
ensino técnico integrado ao ensino médio, as matrículas em cursos de educação
profissional em instituições do chamado SIstema S, o itinerário de formação
técnica e profissional do ensino médio e, por fim, as matrículas no
contraturno, como complementação da jornada escolar de estudantes da rede
pública, para oferta de educação básica em tempo integral.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Durante
a votação, deputados da oposição denunciaram que a base do governo na Câmara
estaria tentando obstruir a votação, para possibilitar que fosse apresentada
uma medida provisória para regulamentar o Fundeb, cuja lei atual perde vigência
a partir de 1º de janeiro.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;"><b>Fundeb entre idas e vindas no Congresso</b><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa
Pellanda, comemorou a aprovação do texto. “Pudemos devolver para a educação
pública cerca de R$ 16 bilhões que seriam desviados para o setor privado. Esse
foi o rombo aprovado de forma inconsequente e inconstitucional pela Câmara dos
Deputados [na semana passada] e que precisou ser barrado pelo Senado Federal”,
aponta Andressa, fazendo referência aos valores que, de acordo com uma nota
técnica elaborada pela Campanha e pela Fineduca, seriam repassados do Fundeb
para instituições privadas caso fosse aprovado o texto que saiu da Câmara na
semana passada. Segundo a nota, seriam R$ 15,9 bilhões, o que equivale a 80,4%
do valor da complementação da União ao fundo a partir do sexto ano de vigência
do novo Fundeb, que será de 23%.A maior parte – R$ 10,2 bilhões – seria
destinada para os convênios para oferta de ensino fundamental e médio; outros
R$ 4,4 bilhões iriam para as matrículas no contraturno; as matrículas na
pré-escola abocanhariam outros R$ 746 milhões em recursos do novo Fundeb, enquanto
ao Sistema S seriam destinados R$ 546 milhões. “Barrar esse desvio era
prioridade absoluta, porque impactava em cheio no financiamento da escola
pública e na qualidade dela também, já que temos pouquíssima regulação da
atuação do setor privado na educação”, afirma Andressa.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Em
agosto, o Congresso aprovou a Emenda Constitucional 108, considerada uma
vitória por movimentos da educação por ter, entre outros avanços, tornado o
fundo permanente e previsto um aumento gradual da complementação da União aos
recursos do Fundo dos atuais 10% para 23%.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">“No
Fundeb em vigência hoje as instituições privadas sem fins lucrativos
conveniadas com prefeituras ou com governos estaduais e do Distrito Federal
foram admitidas em áreas em que o poder público, os entes subnacionais ainda
não tinham condições de dar conta da oferta. Principalmente a creche é uma área
em que ainda há muito déficit de vagas”, explica Nalu Farenzena, presidente da
Fineduca. E completa: “Mas o projeto de lei aprovado na Câmara acrescentou
outras possibilidades, em áreas como, por exemplo, o ensino fundamental e o
ensino médio, em que não existe essa necessidade. Os governos municipais e
estaduais dão conta do ensino fundamental e do ensino médio, então não existe
motivo pra ampliar o conveniamento”, critica Nalu, para quem as medidas
fragilizariam a educação pública. “O setor público de educação básica não
poderia prescindir desses R$ 15,9 bilhões. A educação pública brasileira
precisa de mais recursos pra poder dar conta dos deveres do Estado com a educação,
das metas do Plano Nacional de Educação, e é um contrassenso total que se
amplie a possibilidade de destinar recursos para a iniciativa privada”,
ressalta.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;"><b>Prática recorrente</b><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)
Marise Ramos lembra que a transferência de recursos públicos para instituições
privadas é uma prática recorrente na história da educação brasileira, que
inclusive acabou se institucionalizando na educação básica a partir do Plano
Nacional de Educação (PNE) 2014-2024, cuja lei, ainda que tenha estabelecido a
destinação de 10% do PIB para a educação até 2024, prevê como investimento
público em educação os recursos destinados, por exemplo, para o financiamento
de bolsas em universidades privadas, através de programas como o Programa
Universidade para Todos (ProUni) e o Programa de Financiamento Estudantil
(Fies), inclusive na forma de incentivos e isenções fiscais. Ainda assim, ela
considera que estender os recursos do Fundeb às instituições privadas sem fins
lucrativos, religiosas e, no caso da educação profissional, ao Sistema S – como
previa o texto originalmente aprovado pela Câmara – seria “escancarar o caráter
privatista do Estado brasileiro”. “Ainda que a Constituição preveja que o ensino
seja livre à iniciativa privada e sob a regulação do Estado, isto jamais
poderia autorizar o seu financiamento pelo fundo público”, ressalta Marise. E
completa: “O Sistema S não se contenta com o fato de já se sustentarem com
recursos públicos oriundos da folha de pagamento dos trabalhadores e, ainda,
cobrarem por seus cursos? questiona. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">A
nota técnica produzida pela Campanha e pela Fineduca também trouxe dados para
argumentar contra o aumento do repasse de recursos públicos ao Sistema S, que
de acordo com a nota, “recebe mais de 21 bilhões por ano de recursos públicos,
0,3% do PIB, e nem por isso garante um sistema massivo de educação
profissional”. As instituições do Sistema S são sustentadas por uma
contribuição compulsória cobrada sobre a folha de pagamento das empresas
brasileiras recolhidos junto ao INSS. A nota destacou, contudo, que apesar
desses recursos, o sistema possui, segundo o Censo Escolar 2019, pouca
capilaridade no território nacional, estando presente em apenas 10% dos
municípios, a grande maioria de médio e grande porte. “Em 2019 o Sistema S
atendia apenas 1,7 mil alunos no ensino médio profissional integrado (o que
garante formação mais sólida) e 196 mil no ensino médio profissional
concomitante ou subsequente. Enquanto isso, a rede estadual atendia 359 mil, na
primeira modalidade, e 344 mil na segunda. Ou seja, a rede estadual pública é
mais factível e mais eficiente em termos de ampliação. Uma ampliação de 20% no
ensino médio integrado, significaria aumentar em 42,5 vezes a matrícula no Sistema
S para essa modalidade”, ressaltou a nota produzida pela Campanha e pela
Fineduca.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #585858; font-size: 12pt;"><span style="font-family: georgia;">Para
Gabriel Grabowski, professor da Universidade Feevale e especialista em
financiamento da educação profissional, a possibilidade de destinar recursos do
Fundeb para o Sistema S está associada a um “interesse específico e imediato”
na implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e do itinerário de
educação profissional previsto pela Reforma do Ensino Médio de 2017. “Esse
itinerário está sendo de alguma forma prioritariamente imposto nas redes
públicas estaduais do Brasil. E o modelo que está se adotando para esse
itinerário dentro da Reforma do Ensino Médio na perspectiva da BNCC é
justamente o modelo de Sistema S, que reduz o currículo do ensino médio para
1,8 mil horas no máximo, colocando mais 1,2 mil horas de um curso técnico ou um
curso de qualificação profissional. E o modelo que está se copiando é o do
Sesi, Senai, Senac”, aponta Grabowski. E completa: “Especialmente o Senai e o
Sesi, estão sendo demandados a apresentar o itinerário de formação profissional
para que os estados o adotem e façam parcerias diretamente com o Sistema S. Com
isso se reduzem os custos dos estados, reduzem os investimentos que eles têm
que fazer em educação, e se financia a lógica e a perspectiva da educação
privada do Sistema S dentro das escolas públicas, especialmente as redes
estaduais, que são responsáveis por 87% do ensino médio no Brasil”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;">FONTE: <a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank">Outras Palavras</a></span></o:p></p><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-22708049429727267932021-04-04T12:31:00.000-03:002021-04-04T12:31:02.272-03:00A dramática atualidade de Josué de Castro<p> </p><p>
</p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">No momento em que a fome volta a se alastrar, vale
conhecer obra do pensador que a estudou com mais originalidade e erudição.
Relacionou-a com desigualdade e colonialismo. Perseguido após 1964, morreu
exilado nove anos depois<o:p></o:p></span></span></i></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: center;"><i><span style="color: #585858;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"></span></o:p></span></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-VGDWAtY7QCc/YGna9NpWAgI/AAAAAAAAHZc/u8M25oVp-FM5m2GrxzdXj3vE4tKIN9K3ACLcBGAsYHQ/s800/210401-Josu%25C3%25A9B-1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="513" data-original-width="800" height="303" src="https://1.bp.blogspot.com/-VGDWAtY7QCc/YGna9NpWAgI/AAAAAAAAHZc/u8M25oVp-FM5m2GrxzdXj3vE4tKIN9K3ACLcBGAsYHQ/w473-h303/210401-Josu%25C3%25A9B-1.jpg" width="473" /></a></span></i></div><i><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /> </span></i><p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Por <b>Eduardo Harder</b>, no <i><a href="http://www.brasildefato.com.br/" target="_blank"><span style="color: #42708f;">Brasil de Fato</span></a></i><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Entre um conjunto de interpretes do Brasil ao longo
do século XX, Josué Apolônio de Castro ocupa um lugar paradoxal, em diversos
sentidos. Suas obras foram traduzidas para muitas línguas, em todo o mundo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Um dos primeiros autores brasileiros reconhecidos
internacionalmente e com largas tiragens de livros. Por outro lado, seus
trabalhos se encontram nos dias de hoje praticamente esgotados. A exceção fica
por conta de “A festa das letras”, livro infantil em parceria com a escritora
Cecília Meireles atualmente editado pela Global, e a seleção de ensaios
denominada “Josué de Castro, vida e obra”, organizada pelos geógrafos Bernardo
Mançano Fernandes (Unesp) e Carlos Walter Porto Gonçalves (UFF) para a editora
Expressão Popular.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A obra póstuma “Fome: um tema proibido”, que reúne
os últimos escritos e foi organizada por sua filha, a cientista social Anna
Maria de Castro (UFRJ), teve uma edição em 2003 pela Civilização Brasileira,
que também publicou a reedição em 2005 de “Geografia da Fome”, seu livro mais
conhecido, igualmente esgotados. E nem se fale de “Sete palmos de terra e um
caixão”, “Ensaios de Geografia Humana”, “Documentário do Nordeste”, “Homens e
Caranguejos” (Romance), “Geopolítica da Fome”, “Ensaios de Biologia Social”
entre outros, todos invariavelmente de difícil acesso aos leitores.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Se o mercado editorial se caracteriza, até o
momento, pelo descaso com a produção bibliográfica de Josué de Castro, também a
memória social foi impactada com a cassação de seus direitos políticos em 1964,
logo após o golpe civil militar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em muitas bibliotecas de universidades e escolas
seus livros foram retirados dos acervos e seu enterro em 1973 no cemitério São
João Batista, no Rio de Janeiro, foi cerceado e censurado pela ditadura.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O ostracismo cuidadosamente imposto por seus
algozes contrasta com a viva presença do intelectual engajado no exercício de
uma cidadania ativa no Brasil, na Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), com os expressivos votos para deputado
federal em 1958, além de três indicações ao Prêmio Nobel.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Verso e reverso de uma intensa biografia, eis que
Josué de Castro resiste na memória afetiva dos movimentos sociais, nas
universidades e nas artes. A tradução por José Paulo Netto em 2013 do livro
“Destruição em massa, geopolítica da fome”, do sociólogo Jean Ziegler, para a
editora Cortez é um bom exemplo de sua atualidade e do potencial de suas obras.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A análise crítica e material da fome elaborada por
Josué de Castro trouxe à baila os impactos negativos do colonialismo, da
concentração de terras, da exploração do trabalho, dos processos migratórios
humanos e novos critérios para avaliar o malthusianismo, que até hoje atribui
aos mais pobres as mazelas ambientais globais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Além disso, a natureza ético-política de seu pensamento
foi conjugada de maneira precursora com os estudos de diversas paisagens
culturais, deslocando a interpretação das relações entre natureza e cultura a
partir do mangue, dos sertões e das periferias das cidades.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O respeito aos conhecimentos e saberes tradicionais
é posto em diálogo com a ciência desde os precursores ensaios “Os ‘alimentos
bárbaros’ do Sertão do Nordeste” e “Novas pesquisas sobre a Mucunã”, ambos
publicados originalmente em 1935 no livro “Documentário do Nordeste”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Se Josué de Castro estivesse vivo, seguramente
estaria presente nos debates atuais sobre agroecologia, sistemas
agroflorestais, agrobiodiversidade, justiça ambiental e ecologia política. É
interessante observar que ele atribui a si uma filiação intelectual e afetiva
que remonta a escritores como Euclides da Cunha, Rodolfo Teófilo e ao filósofo
Baruch Espinosa, em um ponto de convergência permeado pelas reflexões sobre a
condição humana.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Josué de Castro pertence à longa tradição humanista
e, por humanismo não se compreende apenas uma visão ética e moral na busca do
ideal abstrato de justiça. Ele conjugou seu humanismo com um sentido constante
de intervenção social.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Uma práxis que se reconhece no fenômeno da fome e,
nas palavras de Edward Said, assume “cada vez mais os atributos adversos do
intelectual, em atividades como falar a verdade para o poder, ser testemunha da
perseguição e sofrimento e fornecer uma voz dissidente nos conflitos com a
autoridade” (SAID: 2007, p. 156).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em tempos de questionamento à legitimidade dos
monopólios corporativos transnacionais sobre bens comuns como terras, águas,
florestas, sementes, educação e conhecimentos, o humanismo de Josué de Castro
(re)encontra lugar no imaginário epistêmico das novas gerações.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O economista Ignacy Sachs observa em entrevista
concedida ao documentário sobre Josué de Castro (1994), do diretor Silvio
Tendler, que seu precursor caminho metodológico é atual e inspirador ao
articular uma sensível hermenêutica do fenômeno da fome com a interpretação das
estruturas sociais que lhe são inerentes, além de uma releitura da importância
da produção cartográfica, na qual os mapas constituem a expressão gráfica de
uma matriz de conhecimentos interdisciplinares e relacionados aos sistemas
alimentares, aos territórios existenciais e às expressões da fome, bem como um
olhar ecossistêmico inovador.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Aliás, seus derradeiros escritos e comunicações
públicas na década de 1970 versam justamente sobre as relações entre equilíbrio
socioambiental e desenvolvimento econômico.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em junho de 1972, apenas um ano antes de seu
trágico falecimento no exílio, Josué de Castro apresentou na paradigmática
Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, realizada na cidade de Estocolmo, a
exposição “Subdesenvolvimento: causa primeira da poluição”, na qual assinala
corajosamente que: “(…) falso é o conceito de desenvolvimento avaliado
unicamente à base da expansão da riqueza material, do crescimento econômico. O
desenvolvimento implica mudanças sociais sucessivas e profundas, que acompanham
inevitavelmente as transformações tecnológicas do contorno natural. O conceito
de desenvolvimento não é meramente quantitativo, mas compreende os aspectos
qualitativos dos grupos humanos a que concerne. Crescer é uma coisa;
desenvolver, outra. Crescer é, em linhas gerais, fácil. Desenvolver
equilibradamente, difícil. Tão difícil que nenhum país do mundo conseguiu
ainda. Desta perspectiva, o mundo todo continua mais ou menos subdesenvolvido”.
(CASTRO: 2003 p. 136)<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Em outras palavras, pensar e agir sobre a realidade
exige o firme compromisso de superar estruturas da sociedade imbricadas à
ausência de equidade social, direitos, dignidade humana e cidadania plena.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">E nos reencontrarmos com a virtude da
“clarividência” em Josué de Castro, sublinhada pelo geógrafo Milton Santos no
documentário de Silvio Tendler, a qual se pode adquirir pela intuição e,
sobretudo, pelo ato de estudar, pesquisar e vivenciar a condição humana.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Por que ler Josué de Castro hoje? O universo da
arte e sensibilidade da juventude revelam uma paradoxal imagem, síntese de um
intelectual que transcende sua biografia e que se reinscreve no espaço e tempo
das ações para superar as contradições socioambientais do presente.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Afinal, ao nos lembrar que “encontrei o cidadão do
mundo, no manguezal da beira do rio”, a música e o manifesto do movimento
Manguebeat e de Chico Science e da Nação Zumbi registram uma práxis criativa
que alimenta a imaginação sociológica, fundamental ao pensamento social.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="color: #585858;">Referências</span></b><span style="color: #585858;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="color: #585858;">Audiovisuais</span></b><span style="color: #585858;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Science, Chico; Nação Zumbi. Da Lama ao Caos.
Chaos: Rio de Janeiro, 1994. Josué de Castro. Direção de Silvio Tendler. Rio de
Janeiro: Caliban Filmes, 1994. 1DVD (50min.).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><span style="color: #585858;">Bibliográficas</span></b><span style="color: #585858;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">CASTRO, Anna Maria de (Org.). Fome: um tema
proibido – últimos escritos de Josué de Castro. 4.ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">CASTRO, Josué de. Documentário do Nordeste. 2.ed.
São Paulo: Brasiliense: 1959.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">______. Ensaios de Biologia Social. 2.ed. São
Paulo: Brasiliense: 1959.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">______. Ensaios de Geografia Humana. 3.ed. São
Paulo: Brasiliense, 1964.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">______. Geografia da fome. [O dilema brasileiro:
pão ou aço]. 7.ed. São Paulo: Brasiliense: 1961, 2 vols.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">______. Geopolítica da fome: ensaio sobre os
problemas de alimentação e população do mundo. 5.ed. São Paulo: Brasiliense,
1959, 2 vols.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">______. Homens e caranguejos. (Romance). São Paulo:
Brasiliense: 1967.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">______. Sete palmos de terra e um caixão: ensaio
sobre o Nordeste, área explosiva. São Paulo: Brasiliense, 1965.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">FERNANDES, Bernardo M.; GONÇALVES, Carlos W.
(Orgs.). Josué de Castro: vida e obra. 2.ed. São Paulo: Expressão Popular,
2007.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">MEIRELLES, Cecília; CASTRO, Josué de. A festa das
letras. 4.ed. São Paulo: Global, 2015.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica.
Rio de Janeiro: Zahar, 1965. SAID, Edward. Humanismo e crítica democrática. São
Paulo: Companhia das Letras, 2007.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">ZIEGLER, Jean. Destruição em massa: geopolítica da
fome. São Paulo: Cortez, 2013.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">*<i><b>Eduardo Harder</b> é professor da UFPR e
advogado na área dos direitos humanos<o:p></o:p></i></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: rgb(254, 254, 254); line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #585858;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">FONTE: <a href="https://outraspalavras.net/" target="_blank">Outras Palavras</a></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p><br /><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-82700922627963961312021-03-24T16:12:00.003-03:002021-03-24T16:12:57.355-03:00LEMBREMOS A COMUNA (18 DE MARÇO DE 1871)<p> </p><p></p><h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 24px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-weight: normal; line-height: normal; margin: 0px; position: relative;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: medium; text-align: justify;">Por Aluizio Moreira</span></h3><h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 24px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-weight: normal; line-height: normal; margin: 0px; position: relative;"><br /></h3><h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 24px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-weight: normal; line-height: normal; margin: 0px; position: relative;"><br style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium;" /><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: center;"></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-3jhHwwIUPws/UU8Pikoh5DI/AAAAAAAAAc4/ARVausAKfz4/s1600/comuna.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-3jhHwwIUPws/UU8Pikoh5DI/AAAAAAAAAc4/ARVausAKfz4/s1600/comuna.jpg" /></a><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Considerada a primeira experiência histórica de socialismo, pois pela primeira vez na história socialistas e trabalhadores assumem o poder político, possibilitando uma reorganização da sociedade sob o controle e orientação dos setores populares, a <b>Comuna de Paris</b> foi um desdobramento da guerra franco-prussiana, que ocorreu em 1870.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><br /></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Após a formação da Confederação Alemã do Norte em 1867, que se seguiu à vitória da Prússia sobre a Áustria, Bismarck parte para estender seu domínio sobre o sul do país, ameaçando ocupar territórios reivindicados por Napoleão III, imperador da França, originando um clima de conflito entre França e Prússia.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><br /></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Napoleão III subestimando o poderio militar alemão,declarou guerra à Prússia em julho de 1870, mas a vitória militar de Bismarck sobre as tropas francesas foi rápida.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><br /></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em setembro do mesmo ano, o exército francês em Sedan foi derrotado pelos prussianos, ocasionando a prisão do próprio Napoleão III. Cai o Império francês e instaura-se um Governo Provisório, denominado “Governo de Defesa Nacional”, o que não impediu que as tropas de Bismarck, depois de cercar Metz, chegassem até Paris.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><br /></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-lAiqCDCBNZ8/UU8PftfRBgI/AAAAAAAAAc0/L9PdIP-Ro90/s1600/commune18March1871.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://4.bp.blogspot.com/-lAiqCDCBNZ8/UU8PftfRBgI/AAAAAAAAAc0/L9PdIP-Ro90/s320/commune18March1871.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em Paris o povo armado continuava resistindo aos ataques prussianos. Em 28 de janeiro de </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">1871, o governo francês assinou o armistício com a Prússia e convocou eleições para a Assembléia Nacional, que logo na sessão inaugural negou-se a reconhecer a França como República. O monarquista Thiers foi eleito chefe do governo, passando a exigir que o povo de Paris depusesse as armas, iniciando, após recusa da população, uma ofensiva contra os parisienses. </span></div><div class="separator" style="clear: both; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: center;"></div><br style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium;" /><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Aguçam-se os conflitos entre o povo e os grupos políticos monarquistas. Sob influência socialista,os trabalhadores parisienses tomam de assalto o poder em 18 de março de 1871, instituindo um Comitê Central Revolucionário. Através desse Comitê foi estabelecida a autogestão democrática e popular, na qual todos os cargos tornaram-se eletivos (deputados, professores, juizes, etc); proclamada a igualdade civil de homens e mulheres; promovida a separação da Igreja do Estado; instituído um exército formado por destacamentos armados do povo; decretado o congelamento dos preços dos gêneros de primeira necessidade. </span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> </span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A exemplo de Paris, as cidades de Lyon, Marselha, Toulon e Narbonne, entre outras, passam para o controle dos <i>communards</i>.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No dia 26 de março de 1871, o Comitê Central se desfaz, entregando do Poder a um Governo Provisório, eleito por sufrágio universal, composto por membros da Primeira Internacional, alem de blanquistas, proudhonianos, republicanos burgueses e patriotas exaltados. Foi a formação desse Governo que praticamente decretou, por antecipação, o fim da Comuna de Paris. </span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em carta ao seu amigo Kugelmann, datada de 12 de abril de 1871, como que prevendo o desfecho da Comuna, Karl Marx assim se expressa: “<i>O momento preciso foi perdido por causa de escrúpulos de consciência. Eles [os communards] não queriam começar a guerra civil, como se esse nocivo aborto, Thiers já não a houvesse iniciado com sua tentativa de desarmar Paris. Segundo erro: o Comitê Central entregou seu poder muito cedo, para dar caminho à Comuna. Outra vez por escrúpulos “muito honrados!</i>” </span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-BeKTO6OqyRk/UU8Pk1N8rrI/AAAAAAAAAdE/YjH8JZ32Mr4/s1600/comuna2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-BeKTO6OqyRk/UU8Pk1N8rrI/AAAAAAAAAdE/YjH8JZ32Mr4/s1600/comuna2.jpg" /></a></div><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Contando com a ajuda das mesmas tropas prussianas que submeteram a França em 1870, soldados de Versalhes cercaram Paris, bombardeando-a intensamente. Invadem a cidade defendida por populares que desesperadamente resistiram às investidas militares. São massacrados violentamente. Resultado: 20.000 populares foram fuzilados, 38.000 detidos e 13.000 deportados. A experiência da Comuna, chega o fim em maio de 1871.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os que conseguiram escapar à prisão e fuzilamento, fugiram para vários países, inclusive para as Américas. (*) </span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><br /></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em sua "<i>Historia del Pensamiento Socialist</i>a", G.D.H. Cole apresenta uma relação por ele mesmo considerada incompleta, na qual figuram entre os "<i>communards</i>" mortos, presos e os que conseguiram fugir depois da queda da Comuna de Paris, os seguintes socialistas (independentes, blanquistas, proudhonistas): </span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Mortos</b></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Louis Charles Delescluze (1809-1871) - morto nas barricadas; Eugène Varlin (1839-1871) - fuzilado após aprisionamento; Émile Victor Duval (1841-1871) - fuzilado após aprisionamento; Gustave Tridon (1841-1871) - morto nas barricadas; Théophile Ferré (1845-1871) - fuzilado após aprisionamento; Raoul Rigault (1846-1871) - fuzilado após aprisionamento; Auguste Vermorel (1841-1871) - morto nas barricadas.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Presos</b></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Louise Michel (1830-1905) - deportada para Nova Caledônia; Adolphe-Alphonse Assi (1841-1886) - deportado para Nova Caledônia; Jean Allemane (1843-1935) - deportado para Nova Caledônia.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Fugiram</b></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Charles Beslay (1795-1878) - fugiu para Suíça; Gustave Lefrançais (1826-1901) - fugiu para Suíça; Jules Valles (1832-1885) - fugiu para Inglaterra; Jean Baptiste Clément (1837-1903) - fugiu para Inglaterra; Gabriel Ranvier (1828-1879) - fugiu para Inglaterra; Albert Theisz (1839-1881) - foi condenado à morte, mas conseguiu fugir; Louis-Jean Pindy (1840-1917) - fugiu para Suíça; Benoît Malon (1841-1893) - fugiu para Suíça; Leo Frankel (1844-1896) - fugiu para Inglaterra; Eugéne Protot (1839-1921) - dado como morto, mas conseguiu fugir; Édouard Vaillant (1840-1915) - fugiu para Suíça; Émile Eudes (1844-1888) - fugiu para Suíça.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> </span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Hyppolyte Prosper-Olivier Lissagaray, um dos participantes do movimento, em sua obra "<i>História da Comuna de 1871</i>" apresenta o seguinte quadro de condenações:</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pena de morte 270 (sendo 8 mulheres); trabalhos forçados 410 (sendo 29 mulheres); deportação para local fortificado 3.989 (sendo 20 mulheres); deportação simples 3.507 (sendo 16 mulheres e 1 criança); detenção 1.269 (sendo 8 mulheres); reclusão 64 (sendo 10 mulheres); obras públicas 29; prisão de até três meses 432; prisão de três meses a um ano 1.622 (sendo 50 mulheres e 1 criança); prisão de mais de um ano (1.344, sendo 15 mulheres e 4 crianças); banimento 322; sob guarda policial 117 (sendo 1 mulher); multa 9; crianças menores de 16 anos enviados a uma casa de correção 56.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Isso sem falar nos que foram fuzilados durante a repressão policial e sem incluir dados de outras jurisdições. </span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">__________</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(*) As notícias que circularam em nosso país, de que alguns participantes da Comuna viriam para o Brasil, provocaram na imprensa e no meio político calorosas discussões a favor ou contra aquela possibilidade. </span><br /><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> ***</span></div></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Homenagem aos <i>Communards</i> de Paris: </b></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Adolphe-Alphonse Assi * Albert Theisz * Alfred-Edouard Billioray * Alexis Trinquet * Alphonse Mathieu Humbert * Antoine Magliore * Arthur Arnould * Arthur Ranc * Auguste Vermorel * Benoit Malon * Charles Amouroux * Charles Ferdinand Gambon * Charles Longuet * Charles Beslay * Edmond Lepelletier * Edouard Moreau * Edouard Vaillant * Elisabeth Dmitrieff * Émile Eudes * Émile Victor Duval * Eugéne Protot * Eugéne Varlin * Eulalie Papavoine * Felix Pyat * François Jourde * François Parisel * Gabriel Ranvier * Gustave Cluseret * Gustave Coubert * Gustave Flourens * Gustave Lefrançais * Gustave Tridon * Henri Brisacc * Henry Champy * Hippolyte Prosper-Olivier Lissagaray * Jaroslaw Dombrowski * Jean Allemane * Jean Baptiste Clément * Jules Allix * Jules Audoynad * Jules Bergeret * Jules Johannard * Jules Valles * Leo Frankel * Louis Charles Delescluze * Louis-Jean Pindy * Louise Michel * Lucien-Félix Henry * Nathalie Lemel * Nathaniel Rosset * Paschal Grousset * Raoul Rigault * Remy Zephirin Camelinat * Therèse Collin * Théophile Ferré * Victorine Rouchy * Walery Wroblewski.</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> ***</span></div></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Os Decretos da Comuna de Paris</b></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ao assumirem o poder em Paris, os <i>communards</i> editaram Os Decretos a seguir:</span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-kmwiNtgT8b4/UU8PmyXwUzI/AAAAAAAAAdM/vjJxHFW1P4w/s1600/CommunedePraisFolheto.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-kmwiNtgT8b4/UU8PmyXwUzI/AAAAAAAAAdM/vjJxHFW1P4w/s1600/CommunedePraisFolheto.jpg" /></a><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo I. As velhas autoridades de tutela, criadas para oprimir o povo de Paris, são abolidas, tais como: comando da polícia, governo civil, câmaras e conselho municipal. E as suas múltiplas ramificações: comissariados, esquadras, juízes de paz, tribunais etc. são igualmente dissolvidas.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo II. A comuna proclama que dois princípios governarão os assuntos municipais: a gestão popular de todos os meios de vida coletiva; a gratuidade de tudo o que é necessário e de todos os serviços públicos.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo III. O poder será exercido pelos conselhos de bairro eleitos. São eleitores e elegíveis para estes conselhos de bairro todas as pessoas que nele habitem e que tenham mais de 16 anos de idade. </i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo IV. Sobre o problema da habitação, tomam-se as seguintes medidas: expropriação geral dos solos e sua colocação à disposição comum; requisição das residências secundárias e dos apartamentos ocupados parcialmente; são proibidas as profissões de promotores, agentes de imóveis e outros exploradores da miséria geral; os serviços populares de habitação trabalharão com a finalidade de restituir verdadeiramente à população parisiense o caráter trabalhador e popular.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo V. Sobre os transportes, tomam-se as seguintes medidas: os ônibus, os trens suburbanos e outros meios de transporte público são gratuitos e de livre utilização; o uso de veículos particulares é proibido em toda a zona parisiense, com exceção dos veículos de bombeiros, ambulâncias e de serviço à domicílio; a Comuna põe à disposição dos habitantes de Paris um milhão de bicicletas cuja utilização é livre, mas não poderão sair da zona parisiense e de seus arredores. </i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo VI. Sobre os serviços sociais, tomam-se as seguintes medidas: todos os serviços ficam sob controle das juntas populares de bairro e serão geridos em condições paritárias pelos habitantes de bairro e os trabalhadores destes serviços; as visitas médicas, consultas e assistência médica e medicamentos serão gratuitos.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo VII. A Comuna proclama a anistia geral e a abolição da pena de morte e declara que a sua ação se baseia nos seguintes princípios: dissolução da polícia municipal, dita polícia parisiense; dissolução dos tribunais e tribunais superiores; transformação do Palácio da Justiça, situado no centro da cidade, num vasto recinto de atração e de divertimento para crianças de todas as idades; em cada bairro de Paris é criada uma milícia popular composta por todos os cidadãos, homens e mulheres, de idade superior a 15 anos e inferior a 60 anos, que habitem o bairro; são abolidos todos os casos de delitos de opinião, de imprensa e as diversas formas de censura: política, moral, religiosa etc; Paris e proclamada terra de asilo e aberta a todos os revolucionários estrangeiros, expulsos [de suas terras] pelas suas idéias e ações.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo VIII. Sobre o urbanismo de Paris e arredores, consideravelmente simplificado pelas medidas precedentes, tomam-se as seguintes decisões: proibição de todas as operações de destruição de Paris: vias rápidas, parques subterrâneos etc; criação de serviços populares encarregados de embelezar a cidade, fazendo e mantendo canteiros de flores em todos os locais onde a estupidez levou à solidão, à desolação e ao inabitável; o uso doméstico (não industrial nem comercial) da água, da eletricidade e do telefone é assegurado gratuitamente em cada domicílio; os contadores são suprimidos e os empregados são colocados em atividades mais úteis.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo IX. Sobre a produção, a Comuna proclama que: todas as empresas privadas (fábricas, grandes armazéns) são expropriadas e os seus bens entregues à coletividade; os trabalhadores que exercem tarefas predominantemente intelectuais (direção, gestão, planificação, investigação etc.) periodicamente serão obrigados a desempenhar tarefas manuais; todas as unidades de produção são administradas pelos trabalhadores em geral e diretamente pelos trabalhadores da empresa, em relação à organização do trabalho e distribuição de tarefas; fica abolida a organização hierárquica da produção; as diferentes categorias de trabalhadores devem desaparecer e desenvolver-se a rotatividade dos cargos de trabalho; a nova organização da produção tenderá a assegurar a gratuidade máxima de tudo o que é necessário e diminuir o tempo de trabalho. Devem-se combater os gastadores e parasitas. Desde já são suprimidas as funções de contramestre, cronometrista e supervisor.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo X. Os trabalhadores com mais de 55 anos que desejem reduzir ou suspender sua atividade profissional têm direito a receber integralmente os seus meios de existência. Este limite de idade será menor em relação a trabalhos particularmente custosos.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo XI. É abolida a escola “velha”. As crianças devem sentir-se como em sua casa, aberta para a cidade e para a vida. A sua única função é a de torná-las felizes e criadoras. As crianças decidem a sua arquitetura, o seu horário de trabalho e o que desejam aprender. O professor antigo deixa de existir: ninguém fica com o monopólio da educação, pois ela já não é concebida como transmissão do saber livresco, mas como transmissão das capacidades profissionais de cada um.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo XII. A submissão das crianças e da mulher à autoridade do pai, que prepara a submissão de cada um à autoridade do chefe, é declarada morta. O casal constitui-se livremente com o único fim de buscar o prazer comum. A Comuna proclama a liberdade de nascimento: o direito de informação sexual desde a infância, o direito do aborto, o direito à anticoncepção. As crianças deixam de ser propriedades de seus pais. Passam a viver em conjunto na sua casa (a Escola) e dirigem sua própria vida.</i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div><div style="font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Artigo XIII. A Comuna decreta: todos os bens de consumo, cuja produção em massa possa ser realizada imediatamente, são distribuídos gratuitamente; são postos à disposição de todos nos mercados da Comuna. </i></span></div><div><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div></h3><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5544105395141798439.post-12482373983171231262021-03-14T14:24:00.001-03:002021-03-14T14:24:37.412-03:00É melhor “morrer na luta do que morrer de fome”<p> </p><p><span style="background-color: white; font-family: georgia; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;">Por Raquel G. Rizzi</span></span></p><p><span style="background-color: white; color: #2a2426; font-family: georgia; text-align: justify;"><i><br /></i></span></p><p><span style="background-color: white; color: #2a2426; font-family: georgia; text-align: justify;"><i>Margarida Alves, mulher, nordestina, trabalhadora
rural, em plena ditadura militar denunciou todas as violações que encontrou
pela frente, mas sua história é pouco conhecida</i></span></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-2e-Kp1QSu9Q/YE5DNqyMN6I/AAAAAAAAHYQ/2TXVDVZe4mA9_-7l882lig7ZjHpQqIFKQCLcBGAsYHQ/s1200/margaridas.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="754" data-original-width="1200" height="311" src="https://1.bp.blogspot.com/-2e-Kp1QSu9Q/YE5DNqyMN6I/AAAAAAAAHYQ/2TXVDVZe4mA9_-7l882lig7ZjHpQqIFKQCLcBGAsYHQ/w495-h311/margaridas.jpg" width="495" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A Marcha das Margaridas concretiza o legado de Margarida Alves<br />como mulher, camponesa, sindicalista, entre outras dimensões de<br />sua vida. Foto: Roberto Parizotti<br /><br /></td></tr></tbody></table><span style="color: #494a46; font-family: georgia;"> </span><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2a2426;">Margarida
Maria Alves, autora da frase do título</span><a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_1"><span style="color: #903743;">1</span></a><span style="color: #2a2426;">, tinha acabado de completar 50 anos, estava
em casa naquele final de tarde. Era 12 de agosto de 1983: a presidenta do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande foi assassinada por um
pistoleiro encapuzado.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Até
recentemente eu não sabia quem era Margarida Alves. Fui apresentada à sua
história em 2013, quando passei a trabalhar na Diretoria de Políticas para
Mulheres Rurais e Quilombolas do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(DPMR/MDA).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Até
entrar no MDA eu acreditava que o Brasil era um país urbanizado. Não. Somos um
país essencialmente rural. E, ao acreditar neste país urbano, os conflitos
agrários, as lutas camponesas e a própria produção de alimentos aparecem como
algo alienado, cindido. Não sabemos quem produz nossos alimentos, não sabemos o
conteúdo de nossos alimentos e não sabemos as mortes que estão envolvidas ao
consumir esses alimentos. Eu não sabia, ou sabia muito pouco.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Então,
me pergunto, o que Margarida Alves falaria se estivesse aqui, do meu lado?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Primeiro,
acho que falaria para lembrarmos que ela foi assassinada, e olharia com
tristeza os nossos números crescentes de conflitos agrários<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_2"><span style="color: #903743;">2</span></a>. Provavelmente ela esperaria que
estivéssemos numa situação melhor depois de 37 anos de sua morte. Mas olha,
Margarida, avançamos, a luta se estruturou, tivemos um presidente e uma
presidenta que conseguiram, se não mudar a realidade, pelo menos dar voz para
as causas que mobilizaram sua vida. Porém, os donos do poder estão aí e, no
momento que escrevo este texto acabamos de completar mais de 100 mil mortes por
um vírus sobre o qual pouco sabemos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">O
que sabemos é que este é um país extremamente desigual, o Censo Agropecuário de
2017<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_3"><span style="color: #903743;">3</span></a> mostrou que a concentração de terras
segue crescendo e são nossas populações mais vulneráveis que estão morrendo,
são os povos indígenas, são mulheres, são negros, são lutadoras e lutadores do
campo e da cidade.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">E,
como se não bastasse, a polícia mata cada dia mais, a agricultura familiar está
abandonada enquanto a fome cresce nas cidades, desapropriações são realizadas
em plena pandemia e temos um governo genocida.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Margarida,
queria te contar de outro Brasil.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Mas
conversando com a Margarida que conheci pelas diversas sementes de sua
história, e de outras que me formaram a partir do meu trabalho no MDA, sinto que
as Margaridas não querem falar de morte.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Margaridas
não têm medo da morte, e isso não quer dizer que não devamos nos cuidar e
denunciar. Mas devemos, sobretudo, honrar essas vidas à altura de como elas
foram vividas. Margarida Alves disse: “Não fujo da luta!”<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_4"><span style="color: #903743;">4</span></a><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Naquele
período, a sindicalista havia conquistado na Justiça a readmissão de
trabalhadores em usinas. O enfrentamento dos senhores de engenho que exploravam
a mão de obra dos trabalhadores do campo tornou-se uma das marcas de sua
atuação como sindicalista. A exigência de carteira assinada, 13° salário,
redução de jornada de trabalho e férias, entre outros direitos, levou-a a dar
entrada em 73 ações trabalhistas contra os latifundiários da região.<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_5"><span style="color: #903743;">5</span></a><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Margarida
Alves foi presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande na
Paraíba por 12 anos, uma das primeiras mulheres a ocupar este lugar e
provavelmente, naquela época, uma das poucas a ocupá-lo por tanto tempo. Quando
foi assassinada, havia 73 ações trabalhistas abertas, mas durante seus mandatos
foram mais de seiscentas ações.<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_6"><span style="color: #903743;">6</span></a><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Mulher,
nordestina, trabalhadora rural, em plena ditadura militar denunciou de forma
constante todas as violações que encontrou a sua frente e, ainda assim, sua
história é largamente desconhecida. Aprendemos e reproduzimos a história
daqueles que se autointitulam vencedores. Precisamos escolher quais são as
histórias e vitórias que cantaremos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">O
latifúndio interrompeu o seu corpo, mas não seu legado e sua luta. Neste ano,
completam-se 20 anos da primeira Marcha das Margaridas. Margarida Alves foi
semente: seguimos vendo as Margaridas que brotam da sua luta.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">A
Diretoria de Políticas para Mulheres Rurais (DPMR), onde trabalhei, foi fruto
da Marcha das Margaridas. Eu ter conhecido sua história e ter o privilégio de
contá-la aqui é fruto das Margaridas espalhadas por este Brasil. Lá foram
desenvolvidas ao longo dos anos diversas políticas, sempre em contato direto
com os movimentos, com as Margaridas. Se na disputa pelo recurso público, a
agricultura familiar, a reforma agrária, os quilombos e povos indígenas eram
escanteados, as mulheres não eram nem vistas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Na
mesma perspectiva da invisibilidade do trabalho de doméstico e de cuidados, a
participação das mulheres rurais na atividade de produção de alimentos, foi
tratada, e em parte ainda é, como ajuda. O homem era caracterizado como o
trabalhador rural, foco das políticas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Porém,
a Marcha das Margaridas acontece em 2000, 2003, 2007, 2011, 2015 e 2019 para
mostrar que o campo não é composto apenas pelo trabalhador rural, mas que as
trabalhadoras rurais existem, são muitas, são diversas e comprometidas com um
desenvolvimento rural sustentável e solidário.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Na
DPMR, considerávamos que havia um ciclo de inclusão produtiva das mulheres
rurais. Nesse ciclo, o primeiro passo era dado pelo Programa Nacional de
Documentação da Trabalhadora Rural, no qual por meio de mutirões se promovia o
acesso para as mulheres rurais a diversas documentações. Parte do seu não
acesso às políticas públicas se dava por não ter documentos, ou seja, nem
reconhecida como cidadã elas eram. Foram quase 3 milhões de documentos emitidos
no período de 2006 a 2016.<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_7"><span style="color: #903743;">7</span></a><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Outras
etapas dessa inclusão produtiva passavam pelo Acesso à Terra, pela Assistência
Técnica e Extensão Rural direcionada para mulheres, pelo crédito, por
estratégias de organização produtiva, pelo acesso à infraestrutura produtiva,
pela comercialização de seus produtos (Programa Nacional de Alimentação Escolar
e Programa de Aquisição de Alimentos) e por sua participação em espaços de
decisão (Comitê Permanente de Políticas para Mulheres Rurais do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável - Condraf, Comitês de Mulheres
nos Territórios da Cidadania, Colegiados Territoriais, Grupo de Trabalho de
Gênero da Reunião Especializada de Agricultura Familiar – REAF/Mercosul,
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher – CNDM, entre tantos outros).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Margarida,
suas sementes geraram frutos e não foram poucos. Parte dessas frentes acabou em
2016, junto com a extinção da DPMR e do MDA, parte resiste a duras penas, mas
esse lugar construído das mulheres rurais pode se perder no Estado mas
permanece em quem o viveu.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Em
2019 ocorreu 6° Marcha das Margaridas, coordenada pelo Movimento Sindical de
Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais (Contag, Federações e Sindicatos) e mais
dezesseis outras organizações e movimentos, em sua Plataforma Política as
Margaridas se apresentam:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Nós,
Margaridas, somos muitas em uma: mulheres da classe trabalhadora, mulheres
rurais, urbanas, agricultoras familiares, camponesas, indígenas, quilombolas,
assentadas, acampadas, sem-terra, assalariadas rurais, extrativistas,
quebradeiras de coco, catadoras de mangaba, ribeirinhas, pescadores,
marisqueiras, caiçaras, faxinalenses, sertanejas, vazanteiras, caatingueiras,
criadoras em fundos de pasto, raizeiras, benzedeiras, geraizeiras, e tantas
outras, negras em sua grande maioria. Exploradas e marginalizadas ao longo da
história, habitamos os mais diversos territórios, que por sua vez abrigam
diferentes biomas, mosaicos de vida e diversidade. Nós fazemos a agricultura
familiar! Produzimos alimentos saudáveis para nossas cidades e para a nossa
população, garantindo a soberania alimentar e preservação das nossas sementes
crioulas, de nossos ecossistemas e da nossa sociobiodiversidade. Somos guardiãs
dos saberes populares que herdamos de nossa ancestralidade!”<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_8"><span style="color: #903743;">8</span></a><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Essas
Margaridas marcharam em 2019 tendo como lema “Por um Brasil com soberania
popular, justiça e livre de violência”, descrevem a sociedade almejada:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Queremos
uma sociedade que garanta a soberania dos povos sobre suas terras e
territórios, que promova a produção e o consumo de alimentos saudáveis, a
partir do uso e manejo sustentável dos agroecossistemas, que reconheça o trabalho
e a contribuição econômica das mulheres para a sustentabilidade da vida. Que
promova autonomia, igualdade e liberdade. Queremos construir uma sociedade sem
violência, governada por valores de justiça social, solidariedade e da paz.
Queremos uma sociedade onde possamos ser ouvidas, onde nossas realidades,
anseios, desejos e decisões sejam considerados. Queremos uma sociedade em que
nossos direitos sejam reconhecidos, respeitados e garantidos.<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_9"><span style="color: #903743;">9</span></a><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">A
Marcha das Margaridas concretiza o legado de Margarida Alves como mulher rural,
camponesa, sindicalista, entre tantas outras dimensões de sua vida. Em 2019, a
Marcha das Margaridas reuniu mais de 100 mil mulheres rurais em Brasília e
denunciou o governo genocida, ao mesmo tempo em que apontou o mundo que se
deseja construir.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">As
lutas das mulheres rurais se organizaram e ocorreram de diferentes formas, em
diferentes lugares e tempos. Não cabe aqui mapear essas organizações, mas
ressaltar que sim, Margarida Alves tem papel chave nesta história.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Tornamo-nos
uma força coletiva e solidária, capaz de barrar o abuso de poder daqueles que
desejam manter as desigualdades sociais. Acreditamos na nossa força.<a href="https://teoriaedebate.org.br/2020/08/12/e-melhor-morrer-na-luta-do-que-morrer-de-fome/#NOTA_10"><span style="color: #903743;">10</span></a><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Margarida,
te imagino idosa aqui do meu lado. Idosa, mas não cansada. Tudo o que já ouvi e
li sobre você passa uma imagem bem longe do cansaço. Talvez o que nos canse
seja o medo, não a luta. A luta nos traz vida e talvez você seja uma das
melhores expressões disso.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Neste
artigo poderia falar dos conflitos agrários e dos assassinatos no campo que se
perpetuam, a questão da terra, dos territórios e das desigualdades que estão
longe de terminar. Poderia escrever sobre o patriarcado, sobre como as mulheres
lutadoras do campo e da cidade são exemplarmente punidas. Poderia falar da luta
camponesa e da volta do Brasil ao Mapa da Fome. Poderia escrever sobre como
vivemos um governo que promove a necropolítica, sobre como a Previdência, os
direitos trabalhistas nos foram saqueados nos últimos anos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Nada
disso pode ser naturalizado. Tudo isso tem que ser dito e tem sido dito. Nem
bala, nem fome, nem Covid-19. Nos queremos vivas e vivos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Aqui
não se dará espaço aos seus algozes e às mazelas que a desigualdade e a
injustiça provocam. O assassinato de Margarida Alves é o próprio luto que se
transforma em luta. Sabemos quem são eles, estão aí, desenvolvendo sua política
de morte. Mas aqui celebramos Margarida e sua vida vivida, interrompida, como
tantas continuam sendo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">No
fim desta conversa com essa Margarida que mora em mim, que recebi como semente
de outras Margaridas, me vem a Marcha das Margaridas do ano passado, me vem a
convicção de que sociedade desejamos. O canto das Margaridas diz tudo que é
preciso ser dito, recorto aqui um trecho:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">“Nós
que vem sempre suando<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Este
país alimentando<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Tamo
aqui para relembrar<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Este
país tem que mudar!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">(...)<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Canja
na mesa no jantar<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Um
mínimo para se ter,<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Um
mínimo para se ter<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Direito
à paz e ao prazer<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">É
o querer, é o querer das Margaridas”<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #2a2426;"><span style="font-family: georgia;">Que
o querer das Margaridas se multiplique, chegue aonde ainda não chegou. Que sua
história, luta, voz e coragem possam ecoar neste momento tão difícil. Que a sua
morte nos lembre que a vida só vale se a vivermos por inteiro: “não fujo da
luta!”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;">NOTAS</p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">1.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Carneiro,
A., Cioccari, M. Retrato da Repressão Política no Campo - Brasil 1962 - 1986 -
Camponeses Torturados, Mortos e Desaparecidos. 2° Edição. Brasília: Ministério
do Desenvolvimento Agrário. 2011. (p. 101)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">2.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Comissão
Pastoral da Terra. Conflitos no Campo: Brasil 2019. Goiânia: CPT Nacional,
2020. Disponível em:
https://www.cptnacional.org.br/component/jdownloads/send/41-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/14195-conflitos-no-campo-brasil-2019-web?Itemid=0</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">3.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">IBGE.
Censo Agropecuário 2017. Disponível em: https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">4.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Carneiro,
A., Cioccari, M. Retrato da Repressão Política no Campo - Brasil 1962 - 1986 -
Camponeses Torturados, Mortos e Desaparecidos. 2° Edição. Brasília: Ministério
do Desenvolvimento Agrário. 2011. (p. 101)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">5.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Carneiro,
A., Cioccari, M. Retrato da Repressão Política no Campo - Brasil 1962 - 1986 -
Camponeses Torturados, Mortos e Desaparecidos. 2° Edição. Brasília: Ministério
do Desenvolvimento Agrário. 2011. (p. 100-101)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">6.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Carneiro,
A., Cioccari, M. Retrato da Repressão Política no Campo - Brasil 1962 - 1986 –
Camponeses Torturados, Mortos e Desaparecidos. 2° Edição. Brasília: Ministério
do Desenvolvimento Agrário. 2011. (p. 101)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">7.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Secretaria
Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário. Painel de
Políticas da SEAD. Dado extraído em 11/08/2020. Disponível em:
http://nead.mda.gov.br/politicas</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">8.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Marcha
das Margaridas. Plataforma Política Marcha das Margaridas 2019. Disponível em:
http://www.contag.org.br/imagens/ctg_file_1236339083_14082019151003.pdf (p.4)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">9.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Marcha
das Margaridas. Plataforma Política Marcha das Margaridas 2019. Disponível em:
http://www.contag.org.br/imagens/ctg_file_1236339083_14082019151003.pdf (p.
12-13)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: justify;"><span style="color: #903743;"><span style="font-family: georgia;">10.</span></span><span style="color: #2a2426; font-family: georgia;">Marcha
das Margaridas. Plataforma Política Marcha das Margaridas 2019. Disponível em:
http://www.contag.org.br/imagens/ctg_file_1236339083_14082019151003.pdf (p. 13)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><i><b style="background-color: white; font-family: georgia;"><span style="color: #2a2426;">Raquel G. Rizzi</span></b><span style="background-color: white; color: #2a2426; font-family: georgia;"> é analista técnica de Políticas Sociais. Bacharel em Gestão de Políticas Públicas e mestre em Mudança Social e Participação Política</span></i></o:p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">FONTE: <a href="https://teoriaedebate.org.br/" target="_blank">Teoria e Debate</a></div><p></p>Professor Aluizio Moreirahttp://www.blogger.com/profile/11753153450137629889noreply@blogger.com0