sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Há métodos & métodos em pesquisa cientifica


Por Aluizio Moreira

João Álvaro Ruiz, em sua obra: “Metodologia cientifica: guia para eficiência nos estudos” (2006, p.95), ao abordar a questão do conhecimento vulgar e conhecimento cientifico, afirma que “o que distingue e caracteriza as diversas espécies de conhecimento são o modo de conhecer e os instrumentos do conhecer”. Ou seja, cada tipo de conhecimento (cientifico, teológico, vulgar, filosófico) se diferencia entre si pelos modos e instrumentos utilizados por cada um deles. É evidente que os instrumentos e modos do conhecer utilizados pela ciência não são os mesmos modos e  instrumentos utilizados pela filosofia ou pela teologia. 

Por outro lado, continua o Autor,  “O mesmo ‘objeto’  de conhecimento pode ser atingido por diversas vias e diferentes modos”. Quer dizer: os estudos sobre um mesmo objeto do conhecimento, podem utilizar modos e instrumentos diferentes do conhecer. Portanto, podemos estudar a espécie humana, utilizando os instrumentos e modos da ciência, ou da teologia, ou da filosofia, cujos resultados jamais serão os mesmos, considerando que a problematização que cada um deles formulará, também não será a mesma.

Estas considerações que fazemos aqui, não surgiram sem mais nem menos. Decorreram de uma discussão com professores de outras áreas do conhecimento, quando uma professora, diga-se de passagem, graduada e especialista em História,  candidatou-se a um curso de mestrado na área de tecnologia, e foi “aconselhada” mudar seu tema de pesquisa, para que seu projeto fosse “executável”.

Consideramos nós, que um mesmo objeto de estudo, por exemplo, o meio ambiente, pode ser trabalhado utilizando-se modos e instrumentos diferentes, se estudado  por um agrônomo ou por um historiador, uma vez que os problemas criados pelo agrônomo e pelo historiador frente àquele objeto, obviamente serão diferentes. Na mesma medida, se utilizarão de métodos e instrumentos próprios de suas especialidades, pois necessariamente abordarão de formas diferentes aquele objeto de estudo, sem que possamos considerar um  mais “executável” do que o outro. 

Ao se debruçar sobre a cultura da cana no nordeste brasileiro ao agrônomo poderia interessar pesquisar o tipo de solo existente naquela área litorânea, que possibilitasse a expansão daquela cultura, ou do porquê a cana tipo crioula deveria substituir  a de tipo caiana. Óbvio que os instrumentos e modos a serem utilizados pelo agrônomo em um ou outro caso, se definiria pela utilização de equipamentos mecânicos, pelo teste de medição do potencial hídrico (pH) do solo, ou ainda pela coleta de amostras para análise química, física ou mineralógica, considerando-se as variáveis.

O historiador, primeiramente, por certo, levaria a sua problematização  para outro tipo de indagação: diante de um quadro de tanta diversidade da flora nativa da região, por que o explorador lusitano teria que criar/implantar uma cultura própria de outras regiões neste espaço geográfico? Assim, seus modos e instrumentos de pesquisa com certeza não seriam os mesmos do nosso agrônomo pesquisador.

A não ser que se exija do agrônomo não ser agrônomo, e ao historiador deixar de sê-lo, ambos podem conduzir com sucesso suas pesquisas cientificas.

Conclusão: os nossos cursos de pós-graduação, embora abram espaço para o acesso de graduados de várias áreas do conhecimento, no momento de analisarem as propostas de Projetos de Pesquisa, exigem dos seus pós-graduandos “projetos executáveis”, sob a ótica das Coordenações dos Cursos de pós-graduação.

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