quarta-feira, 30 de agosto de 2017

As idéias socialistas em Pernambuco no século XIX


Por Aluizio Moreira



Os estudos que tratam dos primórdios do socialismo no Brasil, sempre se referem a Pernambuco como tendo sido, digamos, o berço de suas primeiras referencias. E situam-no a partir do década de 40 do século XIX sob a influência do socialismo utópico de Saint-Simon, Fourier, Owen e do cristianismo social de Lammenais e Lecordaire, essas duas correntes como repercussões do socialismo francês, principalmente como produto do chamado espírito “quarant-huitarde” europeu.

Na verdade, em primeiro lugar, não concordamos com “espírito” de uma época, de um acontecimento como responsável ou mesmo condicionante de quaisquer transformações ao nível do econômico, do político ou do ideológico, em dada formação social.

Em segundo lugar, as Revoluções de 1848 na Europas, ocorreram em situações totalmente diversas da nossa também em 1848 (a Praieira), sendo que aqueles  representaram um movimento democrático-burguês, que não dispensaram o apoio dos movimentos populares rurais e urbanos, inclusive sob a influência de Louis Blanc e não mais Saint-Simon ou Fourier. Mas o que há de tão especifico em Louis Blanc em relação a Saint-Simon e Fourier? 

Em linhas gerais, Saint-Simon defendia que direção do Estado caberia aos produtores ou seja aos industriais, que congregavam, segundo ele,  empresários e artesãos. Os industriais deveriam promover o bem-estar de toda sociedade, que se encaminhava para a formação de um sistema de associação universal.

Charles Fourier, por sua vez, propunha a criação de unidades de produção e consumo (as falanges), baseadas numa forma de cooperativismo integral e auto-suficiente.

O que distinguia Louis Blanc (chegou a ser membro do Governo provisório oriundo da Revolução de 1848) de Saint-Simon e Fourier, é que seu  pensamento e sua prática se encaminhavam para a formação de uma associação dos trabalhadores que formariam as Oficinas Nacionais financiadas pelo Estado.

No Recife a vida urbana, em que pese as oscilações da produção açucareira e têxtil, se expande a partir do segundo decênio do século XIX, modernizando a cidade que “se adapta à sua função comercial sobremodo ampliada”, no dizer de Paul Singer. Cresce uma classe média formada por artesãos, pequenos comerciantes, pequenos industriais ligados à produção  de alimentos, e uma intelectualidade que se afirmava através dos cursos jurídicos e nos batentes dos jornais.

As ideias socialistas aqui, surgem exatamente com essa intelectualidade, de alguma forma com os olhares voltados para as transformações que ocorriam na Europa, no período de expansão das relações capitalistas de produção, com movimentos políticos e ideológicos burgueses que trazem em seu bojo as ideias republicanas, a filosofia iluminista, o igualitarismo social-cristão. 

Na segunda metade do século XIX, o socialismo europeu ultrapassava sua fase utópica. Weitling na Alemanha e August Blanqui na França, já admitem uma prática em que o movimento socialista/movimento operário se articulariam, tal como Marx e Engels, naquela época,  já se pronunciavam.

Em Pernambuco o socialismo ficou preso às elucubrações teorizantes da intelectualidade e se articulou durante muito tempo com os movimentos mais gerais, da camada média da população e não apenas com um operariado emergente que conviveu com o artesão. Por outro lado, nossos socialistas lutavam, nos meados do século XIX, não pela  transformação da sociedade, pela exploração e a pobreza em geral, contra o comerciante luso, nos moldes de Saint-Simon, não nos de Weitling, Blanqui (não confundir com Louis Blanc) ou Marx.

Um das consequências o aliancismos dos nossos socialistas que se compunham politicamente com frações das classes dominantes em conflito com o centro do poder local, participando das eleições, das campanhas políticas oligárquicas, pleiteando cargos da administração pública “para melhor servir às classes laboriosas”. Poucos defendiam a formação de um partido político de classe, subestimavam-se o papel da luta das organizações dos trabalhadores, reduzindo-as a trincheiras de reivindicações mais imediatas ou entidades assistencialistas. Confiava-se sobretudo nos bons propósitos dos governantes. Práticas essas que não foram tomadas por divulgadores do socialismo como Joaquim Pimenta, mas compartilhadas até mesmo pela liderança operária como João Ezequiel e Cirilo Ribeiro. Essa política de compromisso com frações da classe dominante, é atribuída à influência positivista e evolucionista, e ao ecletismo do pensamento filosófico e político. 

A intelectualidade pernambucana não se incorporou ao movimento operário, permanecendo dele distanciado, dedicando-se ao beletrismo e às polêmicas filosóficas e políticas. Responsáveis por uma aproximação  com o movimento operário credita-se aos trabalhadores gráficos que lograram liderar o movimento operário, atuando ainda como formadores intelectuais do movimento, mas assim mesmo expressando-se política-ideologicamente como herdeiros da elite intelectual. 

Não é de se surpreender que João Ezequiel, um dos líderes do movimento operário pernambucano, um dos redatores  do jornal “A Canalha” e de “O Socialista” editados no Recife nos finais do século XIX, reproduzissem as palavras finais do Manifesto Comunista de 1848, mas afirmando que aquele periódico defenderia o “bem da humanidade” e ativaria [...] “a queda, o desmoronamento da velha sociedade podre e corrompida “ [...] “estribado unicamente na Razão e no Direito”.

Ora, se admitimos que o operariado não alcança a consciência de classe espontaneamente, como exigir do operariado uma posição revolucionária se a própria liderança se achava, ela mesma, presa nas malhas do pensamento de juristas e filósofos que se referiam à sociedade como “uma convivência harmônica de todos os associados”?

Assim, os movimentos dos trabalhadores em Pernambuco durante o século XIX, acontecem condicionados pela própria situação de uma classe operária ainda em formação e ainda pela falta de uma sistematização de um pensamento político-ideológico comprometido com a construção de uma nova sociedade. Na verdade o que poderíamos chamar de pensamento de “esquerda” na época era, quando muito direcionado ao embate intelectual, terminando por colocar no mesmo plano as ideias  Saint-Simon, Fourier, Blanc, Marx, Weitling.

Em termos de associações de trabalhadores no século XIX, conseguimos relacionar: Associação dos Artistas de Pernambuco, Associação Beneficente dos Empregados da Cia. de Trilho, Grêmio dos Professores Primários de Pernambuco, Liga Operária, Associação dos Empregados no Comércio, Liga dos Tecelões.

Faziam parte da liderança local, gráficos, jornalistas e editores dos jornais voltados para as causas  dos trabalhadores locais, entre eles, Romualdo de Oliveira (do “Artista Pernambucano”) , Cirilo Ribeiro (d’ “O Artista”), João Ferro (de “A Imprensa”) , João Ezequiel (do “União”), Gustavo Deão (do “União”), Leônidas de Oliveira.(do “A Canalha”).

Alguns jornais eram editados por associações dos Trabalhadores: “O Phil’Artista” (da Associação dos Artistas de Pernambuco), “A Locomotiva” (da Associação Beneficente dos Empregados da Cia. de Trilhos), “Grêmio dos Professores Primários” (do Grêmio do mesmo nome), “Gazeta dos Operários” (da Liga Operária), “O Socialista” (do Centro Social de Pernambuco).

Dois movimentos grevistas no século XIX são identificados no Recife: em 1812, em plena escravidão, trabalhadores do Porto reivindicando melhores salários e melhores condições de trabalho. Pelo mesmo motivo, em 1880 Tecelões da Fábrica  da Madalena liderados pela Liga dos Tecelões  param suas atividades.

Gostaríamos de destacar o caráter especifico que assumiu os movimentos operário e socialista no Estado de Pernambuco em relação aos mesmos movimentos em outros centros do país. Essa especificidade não deve ser creditada apenas às particularidades de suas economia, mas pelos níveis político-ideológicos que se estabeleceram entre as classes e segmentos de classes. 

Não é aleatoriamente que ocorrem adoções pelas classes subalternas, do pensar e agir da classe dominante, das suas coligações políticas em torno de questões que dizem mais respeito às frações da classe dominante em conflito, apresentadas como se fossem proposições de toda a sociedade. Aliás, a política de alianças objetiva muito mais a manutenção do partido nas proximidades  poder, do que congregar forças para transformação da sociedade.  


REFERÊNCIAS

CHACON, Vamireh. História das ideias socialistas no Brasil. Rio de Janeiro: Ciilização Brasileira, 1965.
DIAS, Everardo. História das lutas sociais no Brasil. São Paulo: Alfa-Ômega, 1977
LINHARES, Hermínio. Contribuição à História das lutas operárias no Brasil. São Paulo: Alfa-Ômega, 1977.
PETITFILS, J. Os socialistas utópicos. São Paulo: Circulo do Livro, s/d
REZENDE, Anonio Paulo. A classe operária em Pernambuco: cooptação e resistência. (Dissertação de Mestrado em História). Campinas(SP), 1981. (Mimeografado).
SWEEZY, Paul. Socialismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1963.

sábado, 26 de agosto de 2017

Tempos idos e vividos X


Por Aluizio Moreira


Apesar de ter uma participação no movimento estudantil enquanto graduando, na UNICAP, minha atividade política não sofreu solução de continuidade, por alguma incompatibilidade com a atividade de docente, ao contrário de amigos ultra-esquerdistas quando estudantes de curso superior, mas uma vez portador de um diploma, a verve revolucionária simplesmente desaparecera.

Por indicação do professor José Ernani do Departamento de História da Unicap, fui contratado em 1979 pela Fundação do Ensino Superior de Olinda – Funeso. 

E embora minha atividade política enquanto graduando tivesse ocorrido grande parte na Unicap, em 1980 fui admitido no Departamento de História desta Universidade por indicação da Chefe de Departamento Profa. Alda Simonetti. 

Tive livre acesso à Revista Symposium que se editava na Instituição, onde publiquei alguns artigos: “A greve geral de 1917 no Recife (v.23, nº 1, 1981), “O Nordeste na Primeira República” (v. 24, nº 1, 1982), “As ideias socialistas de classes sociais em Pernambuco na República Velha” (v. 25, nº 1, 1983), “A questão teórica da transição: problematizações” (v.25, nº 2, 1983). 

Naquele mesmo ano de 1980, a profa. Maria José (Zeza) Chefe do Departamento de História da UNICAP indicava-me para assumir a docência na Faculdade de Formação de Professores de Goiana, mantida pela Autarquia do Ensino Superior de Goiana, tendo participado da criação da Associação de Docentes da Faculdade de Goiana – ADESGO e de sua lª Diretoria.

Em 1983 conclui Mestrado em História do Brasil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com a dissertação As ideias politicas e outras ideias de dois quarante-huitards pernambucanos: Abreu e Lima e Antonio Pedro de Figueiredo, onde discuti a influência do socialismo utópico nestes dois pensadores pernambucanos. 

Neste mesmo ano fiz parte da Comissão da Diretoria Provisória da ADOF (Associação de Docentes da Funeso), como representante do Departamento de Estudos Sociais.


                                                                Publicação comemorativa dos 30 anos da ADOF - 2013


Minha participação nas Associações de Docentes nas duas Instituições motivaram minha demissão em 1984 na Funeso (ADOF), e em 1990 na Faculdade de Formação de Professores de Goiana (ADESGO).

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Na Funeso, no início de 1984 solicitaram minha disponibilidade para o 2º semestre daquele ano, e embora tivesse oferecido três dias na semana para assumir as aulas de História Moderna e Contemporânea, sob a alegação que não havia horário disponível para mim, desligaram-me da Faculdade. 

No caso da Faculdade de Goiana, as vésperas do carnaval de 1990, recebi um telegrama comunicando-me que não fazia mais parte do corpo docente. Na quinta feira após o carnaval um outro telegrama despedia minha esposa que também lecionava naquela Instituição. Ao procurar saber o motivo de minha demissão, o presidente da Autarquia Municipal da gestão Oswaldo Rabelo, argumentou que por ser militante do PCB, não poderia continuar lecionando na Faculdade. E ao indagar o motivo da demissão da minha esposa, a resposta foi “porque ela é mulher de um comunista”. Na verdade a motivação não fora só esta: é que éramos membros da Diretoria da Associação de Docentes que ajudamos a criar na Faculdade. Como houve mobilização de alguns professores e alunos contra o ato do Prefeito, fomos reintegrados, mas dois dias depois nos davam uma justa causa.

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Resoluções do VIIIº Congresso
do PCB - 1987
O PCB volta à legalidade em 1985, e no ano seguinte (maio de 1986) surgia a necessidade de se promover Conferencias preparatórias com vistas à realização do VIII Congresso com data a ser definida. As Conferencias se realizaram no segundo semestre de 1986, fazendo parte de sua pauta a discussão sobre as eleições que ocorreriam no país para governadores, senadores, deputados federais e estaduais.

Neste mesmo ano de 1985 com o PCB de volta à legalidade, a situação do socialismo no mundo se transformava. Na URSS, desde a Revolução de Outubro influenciou “corações e mentes”, com reflexos não só na Europa como na América Latina As mudanças acontecidas a partir de 1985 a 1991, com a chamada Era Gorbachiov, que fez desaparecer a URSS neste último ano, repercutiria da mesma forma no comunismo internacional, inclusive no nosso PCB. Alguns partidos comunistas europeus riscaram de suas siglas a palavra comunista, alteraram seus programas adequando-os à social-democracia. 

No Recife, em 1985, reunidos nas dependências da Assembleia Legislativa do Estado, polarizaram-se as posições entre a opção pela aliança política com a esquerda (fiz parte desse tendência), na época representada pelo PT, e as posições que defendiam alianças ampla com outros partidos (Freire, Jungman, e Sarinho), sobretudo com o PMDB. Lembro-me que as divergências do PCB que terminariam com a cisão que levaria à formação do PPS em 1992, se delineava, já a partir das Conferências pelo menos em Pernambuco.

Durante essa Conferencia de 1986, o PCB no Estado escolheria o ingresso de novos membros na organização, o que levaria a uma composição dos dois grupos.  Entre os que apoiavam a tendência de aliança ampla, figuravam Roberto Freire, Raul Jungman e Byron Sarinho. Na nova configuração, fui escolhido para o Secretariado da Educação a nível de município e o camarada professor James, para o Secretariado da Educação a nível de Estado, nas quais procuramos desenvolver cursos de iniciação ao comunismo e uma breve história do PCB para os novos militantes, que tinham ingressado no Partido.

Foi a partir daí que sentimos uma grande dificuldade na nossa organização local: grande parte das reuniões foram boicotadas pelos adeptos de Freire, simplesmente faltando em bloco às reuniões, o que inviabilizava nossa atuação. Fui criticado por que passei a defender a expulsão dos militantes das células que boicotassem as reuniões.

Sem solução para o impasse, deixei o Secretariado de Educação no município o mesmo acontecendo com o camarada James. Ausentei-me do Partido, embora mantivesse minha filiação partidária, voltando-me quase que exclusivamente para a área de minha formação profissional.

Finalmente em junho de 1987 o PCB realizaria o VIII Congresso (Extraordinário) a fim de discutir as orientações nos anos seguintes e eleger uma nova direção nacional, sendo eleitos Salomão Malina (presidente) e Roberto Freire (Vice-presidente). Quanto a orientação do Partido, optou-se pela luta em defesa da democracia, como parte da luta pelo socialismo.

Cinco anos depois no X Congresso realizado em 1992, cria-se o PPS (Partido Popular Socialista) declarando-se extinto o PCB, no entanto em 1996, o Partido conseguia seu registro definitivo junto ao TSE O PCB continuaria existindo.


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Publicação do Centro de Estudos
Políticos Olga Benário Prestes

Em 1991, classificado em Concurso Público, transferi-me para a Universidade Federal da Paraíba-Campus II, atual Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

Naquela cidade aproximei-me do Centro de Estudos Políticos Olga Benário Prestes, organizado e dirigido pelo Prof. Waldomiro Cavalcanti de quem fui aluno de graduação no Departamento de História da UNICAP. Surpreendi-me ao encontrar o prof. Waldomiro pertencendo aos quadros de docentes da ex-UFPB-Campus II.

Aposentei-me da Universidade, no ano de 1996, tendo regressado para o Recife naquele mesmo ano, onde continuaria minhas atividades de docente em Cursos de Graduação e Pós-Graduação em algumas Faculdades locais, sem que as salas de aula tivessem modificado minha concepção de mundo.

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Toda esta minha vivência política deixou-me a convicção de que não há qualquer possibilidade de transformação, no sentido radical do termo, nos quadros do sistema capitalista. O que me parece claro, é que a chamada democracia representativa, tem seus limites impostos pelo capital, e não será por este caminho que a sociedade conquistará a “verdadeira democracia”, cuja base será a constituição do poder popular, representado por Conselhos organizados nos vários setores da sociedade. A era da democracia burguesa caminha para seu fim.

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Leia também Tempos idos e vividos IX

sábado, 19 de agosto de 2017

O desmonte da universidade pública e branqueamento cultural: outra estratégia do genocídio


O branqueamento cultural como complemento do genocídio é um ponto de partida interessante para compreender os ataques ao direito à educação materializados pela operação de desmonte das universidades públicas estaduais e federais em curso e cujas consequências já são sentidas com maior intensidade pelos setores mais excluídos


Por Andréia Moassab, Marcos de Jesus e Vico Melo




Sem dúvida, as contribuições de Abdias Nascimento, intelectual e político negro brasileiro, são de fundamental importância à formulação de um quadro mais geral de interpretação a respeito dos retrocessos sociais acelerados pelo golpe civil-parlamentar travestido de impeachment em 2016. Abdias não se limitou a constatar o mais óbvio da violência que recai sobre grupos historicamente marginalizados como o das pessoas negras, a seletividade do direito penal ou sua exclusão do mercado de trabalho, por exemplo, mas almejou descrever e teorizar as artimanhas e as nuances de um poder cujas engrenagens se plasmam em diferentes estratégias de exclusão simbólica e cultural dos sujeitos por ele subalternizados. Algo assim tornou possível discutir, já nos finais da década de 1970 e em plena ditadura militar, o extermínio físico da população negra, afrodescendente e indígena atrelado ao embranquecimento cultural como a face oculta ou pouco debatida desse extermínio, sua condição de possibilidade. Nisso parece estar sua contribuição maior: o reconhecimento da estreita e íntima relação entre a modernidade capitalista e a racionalidade do extermínio (colonialismo), sendo aquela alimentada por esta.

O branqueamento cultural como complemento do genocídio é um ponto de partida interessante para compreender os ataques ao direito à educação materializados pela operação de desmonte das universidades públicas estaduais e federais em curso e cujas consequências já são sentidas com maior intensidade pelos setores mais excluídos. Como se sabe, as universidades públicas no Brasil surgem no segundo quartel do século XX como espaços para a formação das elites governamentais, da “nobreza de Estado”, como diria Pierre Bourdieu, em consonância com a necessidade de inserir o país no marco da modernidade capitalista ocidental. Por conta da própria formação histórica brasileira, as elites que frequentavam a universidade sempre tiveram um padrão bastante específico: amiúde homens brancos cristãos, proprietários, heterossexuais, de cultura urbana e liberal, cujo capital social, político e econômico se transmite ao longo das décadas a seus herdeiros, reproduzindo a ordem social violenta marcada pelo genocídio físico e cultural das populações negras, afrodescendentes e indígenas tomadas como o “outro” da nação.

Nos últimos anos, houve, a partir do incremento de uma série de políticas públicas, uma progressiva entrada de setores excluídos, marginalizados e pauperizados da sociedade brasileira nos espaços universitários, fissurando os privilégios históricos desse sujeito branco. As políticas de ações afirmativas, a lei de cotas, o aumento expressivo do número de universidades públicas e a interiorização dos campi, em que pese o reconhecimento de seus limites, são representativas de uma real possibilidade de inserção de sujeitos alijados desses espaços cujo ingresso forçado é resultado de suas lutas históricas. A entrada trouxe consigo outras cartografias corporais e, portanto, também epistêmicas, que passam a disputar com o conhecimento hegemonicamente produzido do ponto de vista branco europeu ou do das elites brasileiras subservientes a este padrão de poder, em benefício próprio. Algo assim exigiu a construção de outras agendas de pesquisa, de outras relações entre universidade e sociedade bem como a emergência de debates políticos mais incisivos acerca das desigualdades raciais que separam brancos e não brancos na sociedade brasileira.

O cenário de desmonte da educação pública e gratuita hoje representa, em alguma medida, uma espécie de “reação da elite branca proprietária do poder” cujo objetivo parece orientado por um desejo em restaurar sua hegemonia dentro desses espaços, já que o lugar próprio dos negros é a senzala – como demonstrou Lélia Gonzalez – e o dos indígenas, a floresta. Não que a entrada ainda tímida de setores periféricos na universidade pública nos últimos anos tenha conseguido romper com a hegemonia da branquitude, mas certamente gerou inúmeros pontos de tensão, conflito e disputa em um espaço historicamente a ela reservado, obrigando-a a rever alguns dos seus privilégios, ou melhor, a se perceber como sujeito de inúmeros privilégios apesar de sua reivindicação de estar ali por meritocracia. Evidenciar algo assim implica dizer que a defesa da universidade pública precisa incorporar em sua gramática um vocabulário que diga as desigualdades raciais e o genocídio operado pelas estratégias de embranquecimento cultural, além de, obviamente, denunciar suas cumplicidades com a acumulação do capital e com a dominação patriarcal. Nesse espectro de desmonte das universidades públicas, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) se tornaram os alvos preferidos de discursos de ódio, de racismo e de xenofobia por parte dos “donos do poder” e de seus cães de guarda.

Esse ódio crescente endereçado à educação em geral e às duas instituições em particular se alimenta do capitalismo/colonialismo que, como sistema histórico, sempre necessitou promover classificações e hierarquizações entre entidades humanas como meios de facilitar o processo de acumulação incessante de capital, a exemplo da escravidão ameríndia e africana e da “domesticação das mulheres” para a vida e o trabalho no marco de uma conjugalidade monogâmica heterossexual e cristã dominadora. A tais grupos foi imposta uma lógica de que serviam exclusivamente ao trabalho (forçado/escravo) e à reprodução, esvaziando-os de qualquer sentido de humanidade e sendo, portanto, tratados como exteriores às instituições de ensino. O Brasil se encaixa inteiramente no processo neocolonial (de imposições de fora para dentro) e de colonialismo interno (imposições promovidas internamente) de “codificação paranoica da vida social”, levado a cabo por uma elite que se via fora do poder por vias democráticas há mais de uma década. É importante ressaltar que, mesmo fora do poder, as elites nacionais tiveram um acúmulo de riqueza sem comparação na história democrática brasileira, graças à alta das commodities no mercado internacional, impulsionada principalmente pelo mercado chinês em plena expansão, somado a volumosos empréstimos a fundo perdido concedidos pelos governos de Lula e Dilma ao agronegócio.

Entretanto, em momentos de crise o grande capital não aceita pagar a conta de sua própria crise, jogando o ônus nas costas de toda a sociedade brasileira, com maior peso para as populações marginalizadas historicamente no país. O governo Temer representa toda essa estrutura de expropriação e exploração contra uma grande parcela da população, vista exclusivamente como corpo-máquina. É nesse sentido que se baseiam as tão aclamadas reformas trabalhistas, previdenciárias, educacionais e sociais pelas elites brasileiras – dos meios de comunicação, empresariais e financistas – com intuito de impor esse “espaço-tempo vazio homogêneo” do capital colonial à sociedade como um todo. A ausência de uma leitura de raça e de gênero por parte da esquerda “acomodada” no poder a fez acreditar que, com a crise de 2007-2008, o capitalismo entrava num processo histórico de decadência e de contestação no sistema internacional. A escalada de violência brutal do capitalismo/colonialismo global contra qualquer direito social constituído não é fortuita ou aleatória, mas resultado da necessidade do aumento incessante da acumulação de riqueza do capital cuja história é inseparável de práticas racistas, sexistas e classistas colonizadoras.

Com a mudança das correlações de força no cenário nacional e a ascensão do capital colonial que trata latinos/as e africanos/as como Outro, a Unilab e a Unila se tornaram alvos prediletos desses ataques, por se apresentarem como projetos institucionais de luta pela redução das desigualdades regionais, raciais, sociais e de gênero. O Art. 2º, da Lei n.º 12.289/2010 que criou a Unilab, traz explicitamente que sua missão é a formação de “recursos humanos para contribuir com a integração entre o Brasil e os demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, especialmente os países africanos” além da promoção do “desenvolvimento regional e o intercâmbio cultural, científico e educacional”. Some-se a isso o fato de a Unilab estar localizada no Nordeste, no interior do Ceará e da Bahia, proporcionando a democratização da educação para a população dessas regiões que, até então, sempre foram invisibilizadas e/ou consideradas subalternas perante os centros decisórios e de poder no país – no Sudeste –, além de contar com uma forte presença de estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop) e do Timor Leste, que representam 30% do número total de estudantes. Mesmo esse número estando aquém do projeto inicial da Unilab, de 50% de alunos/as estrangeiros/as e 50% de brasileiros/as, a universidade representa um incômodo às elites pelo fato de propor uma estrutura curricular crítica e contestatória ao status quo, buscando abarcar as diferenças e a pluralidade de saberes existentes nas sociedades africanas e brasileiras.

De igual modo, a Unila pauta-se por um ensino multiétnico, diverso e plural, que se propõe a um giro epistemológico ao estabelecer outras redes de conhecimento, menos dependentes do eurocentrismo tão caro à formação elegante das elites nacionais. Num cenário de profunda racialização geopolítica, o/a latino-americano/a é subalternizado. A América Latina dos/as brancos/as (sic) – correspondente às elites crioulas governantes – é o lugar do civilizado, do urbano, do progresso, do elegante, do intelectual, do “querer-ser europeu”. A outra América Latina é atrasada, rural, pobre, subalterna, onde está a mão-de-obra para trabalhos mal pagos e não intelectual. Esta América Latina, a elite dominante brasileira ou ignora ou explora.

Os discursos do historiador Marco Antonio Villa, comentarista da rádio Jovem Pan, e do deputado federal Sérgio Souza (PMDB/PR), sobre as estruturas curriculares e a “necessidade” de extinção da Unila, além da tentativa de cancelamento dos auxílios financeiros aos novos/as estudantes estrangeiros/as na Unilab, demonstra claramente o racismo e a xenofobia que tais grupos sempre tiveram em relação à presença de corpos que sucessivamente foram excluídos dessas estruturas de poder/conhecimento. Em tempos de ataques sucessivos contra esses grupos historicamente invisibilizados e/ou excluídos, se faz necessário assumirmos uma posição de defesa a projetos como da Unila e Unilab que visam a democratização do conhecimento e possibilidades de alternativas que rompam com a lógica monocultural própria do capitalismo/colonialismo. Contudo, para isso, devemos sair de nossas zonas de conforto e promover uma profunda autocrítica, recolocando na agenda a possibilidade de nos reabilitarmos em nossa humanidade. Como afirmou Frantz Fanon (2008), “é pela tensão permanente de sua liberdade que os homens [e mulheres] podem criar as condições de existência ideais em um mundo humano […] sensibilizando o outro, sentindo o outro e revelando-me outro”.

A autonomia universitária na produção de conhecimento sempre incomoda aqueles interessados na manutenção das estruturas de poder. O pensamento crítico nunca é bem-vindo quando privilégios de uma elite são questionados. Apesar de refletir apenas uma parcela da população e dos interesses regionais, num contexto de golpe no país, que vive o congresso mais conservador dos últimos anos, junto a um cenário internacional de retrocesso, trata-se de uma ameaça concreta e preocupante. A extinção de universidades como a Unila e a Unilab representa uma afronta aos avanços nos debates internacionais sobre direitos, autonomia e autodeterminação dos povos, respeito à diversidade, justiça social e radicalização da democracia. É um silenciamento brutal da luta por um mundo melhor.



*Andréia Moassab e Marcos de Jesus são docentes na Unila. Vico Melo é docente na Unilab


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A pior classe média


Por Marino Boeira 



A classe média brasileira, que a Marilena Chauí  diz odiar, não é um grupo homogêneo de pessoas que pensa politicamente da mesma maneira. Ela tem varias subdivisões, mas o que me interessa, até para provocar uma discussão, é a sua macro divisão em dois grandes grupos.

Existe a classe média tradicional, politicamente alienada, religiosa, ignorante, anticomunista; que se informa apenas vendo a Rede Globo e lendo a Revista Veja e jornais como O Globo, Estadão , Folha e Zero Hora; que é admiradora do Moro e batedora de panelas; que faz discursos moralista contra corrupção; que diz odiar todos os políticos;  que votou na Marina Silva no primeiro turno das eleições presidenciais e depois no Aécio; que diz não gostar do Bolsonaro, mas admite votar nele se seu único adversário for o Lula.

Mas existe outra classe média que talvez seja pior que a primeira. É uma classe média que passou pelos bancos universitários; que é contra qualquer tipo de preconceito, de classe, de raça ou de gênero; que gosta de citar Marx e Trotski, embora tenha lido pouco de cada um deles, que não sabe ainda o que pensar de Lenin, mas abomina Stalin; que vota sempre nos candidatos do PT; que está engajado em campanhas tipo "Fora Temer" ou "Volta Dilma", mas que tem um defeito crucial porque sonha chegar ao paraíso consumista do mundo moderno como uma concessão da burguesia e não como um direito arrancado a força.

A maneira mais fácil de distinguir essa nova classe média daquela tradicional e ignorante é ouvi-la se apresentar como "socialista democrata" ou suas variantes, como "esquerda democrática", "esquerda não comunista"ou "socialista anti- stalinista". O uso do adjetivo que restringe o caráter de luta de classe, que devia ser inerente a opção pelo socialismo, é o cartão de visita que identifica esse segmento de público.

Para completar a apresentação desse componente das nossas esquerdas, que segundo Zizek e Bandiou, representam o maior entrave para uma revolução socialista, alguns dos seus integrantes podem se apresentar apenas como marxistas, o que além do glamour pelo título, justifica condenar qualquer tentativa de romper o quadro de dominação do capitalismo através de movimentos não ortodoxos, como por exemplo a chamada "revolução boliviariana".

Não foi sem uma boa dose de ironia, que Aldo Fornangieri, na apresentação do seu livro "A Crise das Esquerdas", recomendou que elas fossem menos marxistas e mais maquiavélicos.

Enquanto as esquerdas criam cursos universitários de pós graduação para entender seu futuro (As Esquerdas no século XXI, curso oferecido em Chapecó pela Universidade da Fronteira Sul) e se preparam para disputar uma eleição, onde mais uma vez serão derrotadas, a direita não perde tempo em reforçar seu poder.

Essa semana, um dos mais inteligentes pensadores do neoliberalismo brasileiro  (até porque no passado  foi também um homem de esquerda)  o banqueiro Armínio Fraga ( Presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique) disse que  "se a mudança na direção da política econômica for mantida, consolida uma coisa muito boa. Pode acontecer o contrário, uma guinada populista e ir tudo para o brejo"

Enquanto as esquerdas pensam num possível retorno ao poder por via eleitoral,  Armínio Fraga deixa bem claro o que os novos donos do poder pensam sobre 2018.

"Se Lula for candidato, vai voltar ao mesmo padrão de mentiras e promessas de antes. Ele declarou outro dia que nunca o Brasil  precisou tanto do PT quanto hoje. Para quê? Para quebrar de novo? Para enriquecer todos esses que estão aí mamando há tanto tempo? "

As esquerdas são sonhadoras (o que em si não é um mal, desde que seus sonhos sejam factíveis) a direita é pragmática e dispõe de um arsenal de medidas jurídicas e parlamentares para impedir que a experiência reformista de Lula possa se repetir por via eleitoral.

Uma delas, a malfadada experiência parlamentarista, tentada em 1961, já está sendo novamente aventada para impedir qualquer volta do PT ao poder.

Caso nada dê certo para a direita, ela vai chamar a Cavalaria novamente.


Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS


FONTE: Pravda.ru

sábado, 5 de agosto de 2017

8 mulheres negras cientistas brasileiras que você precisa conhecer


Acadêmicas das áreas de humanas, exatas e biológicas que superaram machismo acadêmico e o racismo


Por Norma Odara



Sonia Guimarães no lançamento do filme "Estrelas além do tempo"
Reprodução/Norma Odara

No Brasil, 54% da população se autodeclara preta ou parda, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada em 2015. No entanto, no mesmo ano, somente 12,8% dos jovens negros de 18 a 24 anos (considerando homens e mulheres) chegaram ao nível superior, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Os números mostram que o espaço acadêmico ainda é pouco ocupado por mulheres negras e, as poucas que alcançam destaque, o conseguem com muito esforço e resistência.

Diante deste cenário adverso, o Brasil de Fato elaborou uma lista reconhecendo o talento e o sucesso de cientistas negras brasileiras do ramo das exatas, humanas e biológicas, que superaram o machismo acadêmico e o racismo. Confira:

1. Enedina Alves 

Enedina Alves Marques foi a primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil. Nascida em 1913, de família pobre, ela cursou engenharia e se formou aos 30 anos no Instituto de Engenharia do Paraná (IEP). Em agosto de 1981, foi vítima de um infarte.

O cineasta Paulo Munhoz e o historiador Sandro Luis Fernando pesquisaram a vida de Enedina e pretendem lançar um documentário sobre sua vida pessoal e acadêmica.


Enedina Alves/Arquivo


2.  Viviane dos Santos Barbosa

A baiana Viviane dos Santos Barbosa cursou bacharelado em engenharia química e bioquímica pela Delft University of Technology, na Holanda, e se formou em mestre em nanotecnologia na mesma instituição.

Ela cursou química industrial por dois anos na Universidade Federal da Bahia, mas, nos anos 90, decidiu ir para Holanda. Lá desenvolveu uma pesquisa com catalisadores (que aceleram reações) através da mistura de Paladium e Platina.

O projeto foi premiado em 2010, durante a conferência científica internacional, na cidade de Helsinki, na Finlândia, onde competiu com outros 800 trabalhos.

Viviane dos Santos Babosa/Arquivo Fapesp


3. Maria Beatriz do Nascimento

Nasceu em Aracaju (SE) em 1942, e migrou com seus dez irmãos e seus pais para o Rio de Janeiro, na década de 50. Cursou história na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aos 28 anos de idade. Fez pós-graduação na Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1981.

Beatriz dedicou sua vida para que a temática étnico-racial ganhasse visibilidade no Brasil. Foi responsável por formar um grupo de ativistas negras e negros chamado Grupo de Trabalho André Rebouças (GTAR), na Universidade Federal Fluminense, em meados dos anos 1983, almejando o envolvimento do corpo docente nos estudos sobre África.

Seus artigos foram publicados na Revista de Cultura Vozes, Estudos Afro-Asiáticos e Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, além de diversas entrevistas e depoimentos à grande mídia.


Maria Beatriz do Nascimento/Arquivo


4. Sonia Guimarães

Sonia sonhava em ser engenheira, mas foi em sua última opção do vestibular, em 1970. Na época, ela prestou física no Mapofei, um vestibular criado em 1969 para a área de exatas nas universidades Instituto Mauá de Tecnologia, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), e se apaixonou.

Hoje, Sonia é a primeira negra brasileira doutora em física pela University of Manchester Institute of Science and Technology e compõe, há 24 anos, o corpo docente do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Ela atua na área de física aplicada, com ênfase em Propriedade Eletróticas de Ligas Semicondutoras Crescidas Epitaxialmente, e já conduziu pesquisas sobre sensores de radiação infravermelha.



Sonia Guimarães

5. Simone Maia Evaristo

A bióloga e citotecnologista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Simone Maia é presidente da Associação Nacional de Citotecnologia (Anacito). É a única brasileira no quadro de membros ativo, como membro diretor da Academia Internacional de Citologia (IAC).

Atualmente é supervisora na área de ensino técnico do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e sua missão tem sido divulgar o papel do controle do câncer.

Simone Maria Evaristo, à esquerda, de camisa branca
Reprodução/Facdebook

6. Luiza Bairros

Luiza Bairros foi uma das vozes mais respeitadas no combate à discriminação racial no Brasil e compôs o Movimento Negro Unificado (MNU). A ativista negra foi ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) durante o segundo governo Dilma Rousseff (PT), e faleceu em julho do ano passado, enquanto ainda tramitava o processo de impeachment da presidenta.

Luiza era mestre em ciências sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutora em sociologia pela Michigan State University (EUA). Sua graduação foi em Administração Pública e de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGS) e especializou-se em Planejamento Regional pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Luiza Bairros
Valter Campanato/Agencia Brasil


7. Anita Canavarro

É professora de química na Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Ciências pela Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ). Fundou, em 2009, o grupo de Estudos sobre a Descolonização do Currículo de Ciências (CIATA) do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (CIATA-LPEQI/UFG) com a proposta de “ descolonizar” o estudo de ciências.

Além disso é presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), que busca promover a superação do racismo por meio da educação, defendendo e zelando pela manutenção de pesquisas com financiamento público.


Anitta Cavarro/Foto: Portal Catarinas


8. Katemari Rosa

Desde criança, a gaúcha Katemari Rosa foi apaixonada por física, observava as estrelas e sonhava em alçá-las. Hoje, é formada em física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em filosofia e em história das ciências pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutora em Ciências pela Universidade de Columbia, em Nova York.

Ao longo de sua trajetória, Katemari começou a reparar no racismo dentro de seu campo de atuação e, em 2015, iniciou a pesquisa “Contando nossa história: negras e negros nas ciências, tecnologias e engenharias no Brasil”, com o intuito de criar um banco de histórias de negros e negras cientistas brasileiros.

Atualmente é professora na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e se preocupa com a formação de professores que inspirem jovens negros para área das ciências.


                             Katemari Rosa/Foto: Divulgação/Página pessoal




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