domingo, 22 de abril de 2018

Nova geopolítica do Vaticano: perto da China, longe dos EUA



Chineses saúdam o Papa na Praça São Pedro em Roma


Com Francisco, a geopolítica do Vaticano é marcada por aproximação com a China, a Rússia, a América Latina e as periferias. E distância dos EUA e dos governos de direita na Europa e no mundo. Vira-se a página tanto da visão geopolítica de João Paulo II de alinhamento com os EUA numa dinâmica anticomunista e antiesquerda como da visão do “eurocentrismo frouxo” de Bento XVI

Por Mauro Lopes


A normalização das relações entre a Igreja Católica e a China, esperada para as próximas semanas é resultado de um dos mais notáveis feitos de Francisco: a mudança radical operada na geopolítica do Vaticano. Este giro talvez possa explicar a oposição crescente ao Papa de forças poderosas, pois na esfera da geografia política está a balança do poder global.

É uma virada espetacular. Foram 70 anos de conflito que estão para ser deixados para trás. O sinal definitivo de que as negociações estão maduras para um desenlace veio em 30 de janeiro, quando o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, declarou numa entrevista ao Vatican Insider: “A esperança é poder chegar um dia, quando seja a vontade do Senhor, em que não se fale mais de bispos ‘ legítimos’ e ‘ilegítimos’, ‘clandestinos’ e ‘oficiais’ na Igreja chinesa, mas num encontro como irmãos”.

Durante décadas, a Igreja esteve dividida entre uma “patriótica”, admitida pelo governo chinês, e uma “clandestina” (na verdade, mais discreta que clandestina), alinhada ao Vaticano. Em dezembro, uma delegação vaticana esteve em Pequim e costurou um acordo para que todos os bispos, seja os da Igreja “patriótica” como os da “clandestina” passem a compor uma estrutura única.

João XXIII, João Paulo II e Bento XVI

Foram quase 40 anos, sob João Paulo II e Bento XVI, especialmente sob Karol Wojtyla, de uma geopolítica vaticana orientada pelo anticomunismo. O auge desta política foi sob João Paulo II, nos marcos da Guerra Fria. O papa polonês era um anticomunista ferrenho que ideologizou por completo as relações geopolíticas do Vaticano. Rompeu-se a lógica eurocêntrica de séculos e soterrou-se igualmente a tentativa de abertura ensaiada por João XXIII.

O “Papa bom” opôs-se vigorosamente à excomunhão de Fidel Castro, depois da vitória socialista em Cuba, mas acabou dobrando-se à exigência da Cúria em janeiro de 1963. Pouco depois, recebeu no Vaticano a filha e o genro de Kruschev, num encontro marcado por afeto e delicadezas mútuas, num gesto de grande impacto. Pouco antes, em 24 de outubro de 1962, João XXIII havia feito um histórico pronunciamento pela Rádio Vaticano, no auge da “crise dos mísseis” entre os Estados Unidos e Cuba, com frases que foram manchete em todos os jornais do mundo: “Nós suplicamos a todos os governantes que não fiquem surdos a este grito da humanidade. Que façam tudo aquilo que está em seu poder para salvar a paz. Evitarão assim ao mundo os horrores de uma guerra, da qual não se pode prever quais serão as terríveis consequências”.

O cume da visão geopolítica de João XXIII –e de seu sentido de humanidade e cristianismo- foi a publicação, em 11 de abril de 1963, da encíclica Pacem in Terris, que propugnava a superação completa da confrontação entre os blocos capitalista e socialista e uma paz fundamentada nos princípios da igualdade e da liberdade.


Ronald Reagan com João Paulo II: aliança contra a esquerda

Depois da morte de João XXIII, a ação geopolítica do Vaticano ficou imersa em idas e vindas, características do papado de Paulo VI, até que João Paulo II, a partir de sua eleição, em outubro de 1978, tornou o Vaticano em força auxiliar do capitalismo, especialmente do neoliberalismo, com uma aliança inédita com os Estados Unidos (Ronald Reagan e George Bush) e Inglaterra (Margaret Thatcher) e anatemizando a esquerda.

Para que se tenha uma ideia da relevância da ação geopolítica de Wojtyla, o general Vernon Walters, ex-vice-diretor da CIA e nomeado em 1981 como embaixador itinerante do governo Ronald Reagan, manteve encontros secretos semestrais com o Papa entre 1981 e 1988, nos quais repassava informações secretas da inteligência dos EUA sobre os países do Leste europeu e a América Latina –inclusive sobre os leigos e padres da Teologia da Libertação. Foram cerca de 20 encontros. O próprio diretor da CIA, William Casey, participou de algumas das reuniões. O Vaticano passa a receber informes específicos da CIA sobre padres e bispos vinculados à Teologia da Libertação especialmente na Nicarágua e em El Salvador, e a guiar sua ação na região por estes informes[1].

Os anos de Bento XVI, que do cardeal ativíssimo à frente da Inquisição nos anos de João Paulo II, como um Torquemada do século XX, tornou-se um Papa alquebrado e impotente, foram de ensimesmamento nas relações globais do Vaticano e uma tentativa tímida e sem sucesso de recuperar a visão eurocêntrica anterior a João XXIII.

Francisco muda tudo

Desde sua posse, em 2013, Francisco iniciou uma aproximação sigilosa com a China, a partir de iniciativas tímidas ocorridas em 2007 durante o papado de Ratzinger. O Papa encontrou um governo chinês desejoso de uma nova relação com a Igreja e o Ocidente, por conta de seu projeto de hegemonia global que pretende contrapor-se ao big stick americano com uma proposta baseada em comércio e diálogo.

As relações entre cristãos e comunistas foram muito frutíferas na Europa nos anos 1950/60, a partir de experiências como a Ação Católica ou os padres operários franceses, e na América Latina, a partir do desabrochar da Teologia da Libertação nos anos 1970 –até a interdição estabelecida por João Paulo II.

Há muita possibilidade de convergência, segundo o bispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo, atual chanceler da Pontifícia Academia das Ciências do Vaticano. Ele voltou a Roma, depois de uma viagem a Pequim, há dez dias, entusiasmado com o que viu e anotou: “há muitos pontos de encontro entre a China e o Vaticano”. Ele fez afirmações surpreendentes: “Neste momento, os que atendem melhor a doutrina social da Igreja são os chineses.” Ainda mais, num momento em que o Comum é tema cada vez mais relevante nas formulações de caráter pós-capitalista, o bispo indicou que a China dever ser olhada com atenção: “Eles se preocupam com o bem comum, subordinam as coisas ao bem comum”. Uma declaração ainda mais ousada causou a fúria dos conservadores católicos saudoso de Wojtyla: “Pequim está defendendo a dignidade da pessoa, seguindo mais do que os outros países, a encíclica Laudato Si” [encíclica do Papa sobre o planeta Terra e o meio ambiente].

Do lado chinês, elogios e gestos na direção do Vaticano. No início de fevereiro, o Global Times, vinculado ao Partido Comunista, escreveu que “o povo chinês respeita o Papa”, que “tem um imagem positiva entre os chineses”, que o restabelecimento das relações diplomáticas é questão de tempo, e que os problemas estão sendo superados com base na “sabedoria” de Francisco.

Um dos obstáculos ao acordo, o cardeal emérito de Hong Kong Zen Ze-kiun, anticomunista ferrenho e que tinha voz decisiva no Vaticano com Wojtyla e Bento XVI, foi colocado de lado por Parolin e Francisco. Em 30 de janeiro, o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, criticou abertamente o cardeal – o que é raríssimo, em se tratando de Igreja Católica - acusando-o de “alimentar a confusão”.

EUA

O governo americano, especialmente sob Trump, está de cabelo em pé com o movimento Vaticano-Pequim, que pôs a pique a estratégia de Guerra Fria renovada da Casa Branca. Houve pressão da diplomacia americana –imediatamente rechaçada pelo Vaticano.

As relações entre o Vaticano e os EUA são como água e óleo, e isso vem desde a campanha eleitoral, quando o Papa acusou o então candidato Trump de “não ser cristão” por suas posições contra os imigrantes e refugiados. Foram seguidos confrontos públicos e nos bastidores. Trump chegou a afirmar que iria à Itália e não visitaria o Papa, mas recuou e foi ao Vaticano em maio de 2017; a foto do encontro é antológica e tornou-se simbólica do status da relação entre a Igreja e a Casa Branca.

A famosa foto do encontro de maio de 2017 com a familia Trump:
desconforto
Francisco ataca sistematicamente todos os valores defendidos pela visão capitalista de Trump. Chegou a afirmar que o capitalismo é “insuportável”, uma “ditadura sutil” e que o dinheiro, idolatrado pelo empresário-presidente americano, é o “esterco do diabo”.

Por isso, se você quiser saber onde está o Papa em qualquer questão mundial relevante, saiba onde está Trump –Francisco estará no polo oposto (e vice-versa). Outra situação notável: enquanto Trump que destruir Coreia do Norte e ameaça o país com bombas nucleares, Francisco é um dos maiores incentivadores públicos da aproximação entre as duas Coreias, qualificando os movimentos recentes entre Pyongyang e Seul de um exemplo “de um mundo no qual os conflitos se resolvem pacificamente com o diálogo e em respeito recíproco”.

Rússia

Não é só a China que está na agenda de Francisco. Ele pretende ser o primeiro Papa a visitar a Rússia. O cardeal Parolin esteve no país entre 20 a 24 de agosto, numa viagem –desde 1888 um secretário de Estado do Vaticano não pisava em solo russo; esteve com Putin e com Kirill, patriarca de Moscou e de toda a Rússia e primaz da Igreja Ortodoxa Russa.

Parolin foi chave na costura do histórico encontro entre Francisco e Kirill em Havana, em fevereiro de 2016, depois de quase mil anos sem que os chefes da Igreja Católica e Ortodoxa Russa tivessem contato, num clima de intensa afetividade.  Também com a Rússia as coisa andam rapidamente –ainda mais pensando na complexidade de relações tão marcadas por separações e traumas.

Putin com o Secretário de Estado Parolin: cardeal é figura-chave
na virada do Varicano

“O resultado é substantivamente positivo” –assim resumiu Parolin o resultado de sua viagem. De fato. O governo russo comprometeu-se a usar sua força (inclusive militar) no Oriente Médio para defender as minorias religiosas. Além disso, reafirmou-se a identidade entre Moscou e o Vaticano na visão sobre a Síria, de apoio ao governo de Bashar al-Assad e longe dos jihadistas –financiados pelos EUA.

América Latina, Europa, as periferias e o fim dos blocos

O Papa do “fim do mundo”, como ele se definiu na noite em que foi apresentado ao povo na Praça São Pedro e em quase todo o planeta tem uma visão geopolítica que não se limita à relação com as potências como China, Rússia e Estados Unidos.

Francisco mantém distância de governos de direita na América Latina –é notório que ele evita visitar seu país, a Argentina, sob a presidência do neoliberal Mauricio Macri, condenou o golpe de 2016 no Brasil e recusou-se a pisar novamente no país em 2017, mesmo com as celebrações dos 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida, de quem devoto. Ao mesmo tempo, cultiva relações fraternas com o presidente boliviano Evo Morales, assim como com líderes dos movimentos sociais da região, como João Pedro Stedile –foi expressiva a presença de latino-americanos nas três edições do Encontro Mundial dos Movimentos Populares.



Evo Morales visita Francisco no Vaticano: relação calorosa

Com o Papa do “fim do mundo”, que enterrou o eurocentrismo da Igreja Católica (ao menos simbolicamente) ficou também decretada a superação da contraposição ideológica entre católicos e socialista; a contraposição agora é entre os que estão ao lado dos pobres e aqueles que defendem os ricos e os sistemas de exploração e opressão das pessoas. Para Francisco “não existem mais os blocos contrapostos” do passado –afirmou em seu discurso ao Parlamento europeu de Estrasburgo de 25 de novembro de 2014.

Há protagonismo de Francisco no Velho Continente, em especial no tema dos migrantes e refugiados. E um de seus interlocutores mais assíduos é exatamente o primeiro-ministro socialista da Grécia, Aléxis Tsípras, com quem “costurou” uma sequência de reuniões entre o Vaticano e grupos marxistas europeus.

Uma imagem possível para mudança da geopolítica da Igreja Católica: o Vaticano deixou o G-8 e agora está nos BRICS.
___________

1] BERNSTEIN, Carl; POLITI, Marco. Sua Santidade: João Paulo II e a História Oculta de Nosso Tempo. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996, p. 274 a 276


domingo, 15 de abril de 2018

Quem mais lucra com o bombardeio dos EUA na Síria?



Por Mário Augusto Jakobskind *


Trump deixou de lado o seu slogan "América primeiro", para ordenar
o bombardeio/ Fotos Públicas


Mídia comercial mudou da água para o vinho em relação ao presidente Trump.

De repente, não mais do que de repente, a mídia comercial conservadora mudou da água para o vinho em relação ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Motivo foi o bombardeio dos mísseis Tomahawk, disparados do mar Mediterrâneo contra uma base militar síria. E tudo teve por base uma suposta utilização de armas químicas pelos militares sírios, tornando-se o fato uma verdade inquestionável, ou seja, de que os sírios utilizaram armas químicas – gás sarin – provocando dezenas de mortes, entre elas crianças.

O episódio de alguma forma lembra a primeira invasão norte-americana no Iraque quando o então Secretário de Defesa, Collin Powell foi ao Congresso revelar uma mentira, comprovada posteriormente, de que o Iraque de Saddam Hussein não tinha as tais armas de destruição em massa. A diferença é que hoje o mundo pôde assistir, com justa indignação, as imagens das vítimas. E que o Congresso estadunidense na época foi consultado para promover a invasão, o que não aconteceu agora.

De antemão, sem nenhum tipo de questionamento por parte dos Estados Unidos e de outros governos, Bashar Al Assada foi considerado o único culpado pela tragédia. A negativa da responsabilidade por parte do governo sírio não foi praticamente considerada, prevalecendo a única acusação, que se tornou a única verdade. Nem foi cobrada uma investigação sobre quem está correto.

Trump deixou de lado o seu slogan “América primeiro”, para ordenar o bombardeio, cujo custo não foi revelado pela mídia comercial conservadora, que visivelmente aproveitou o embalo para dar a guinada em apoio ao presidente. Há quem garanta que ele apenas cedeu aos interesses do complexo industrial militar, que exigiu a ação contra o governo sírio.

Obrigado ou não, o bombardeio foi realizado com muito poucos questionamentos, um deles por parte da Rússia, que já se prontificou a oferecer mais garantias militares aos sírios. A ação norte-americana, segundo opinam observadores independentes foi inócua em termos de resolução do conflito iniciado em 2011, não passando de mais uma jogada de puro marketing, que governos impopulares realizam para tentar reverter desgastes. Foi o que fez Trump, obrigado ou não a dar a guinada de 180 graus.

Quem pode afirmar com absoluta razão que os sírios utilizaram as armas químicas, se as mesmas já tinham sido banidas há algum tempo, inclusive com supervisão internacional? A primeira pergunta que deve ser feita: a quem interessava o uso das armas químicas e a efetivação da tragédia? O menos interessado no caso é o próprio governo de Bashar Al Assad que com a ajuda da Rússia tinha o controle da maior parte do território com o enfraquecimento dos terroristas, que, por sinal, a mídia comercial conservadora nos últimos dias não mais o designavam como terroristas, mas como rebeles. Ou seja, a al Qaeda e outras organizações do gênero passaram a ser consideradas “rebeldes”.

E assim caminha o noticiário internacional, cuja repercussão na carta dos leitores dos jornalões só acusa o governo sírio pela barbaridade acontecida. Inventadas ou não, as cartas são um dos sintomas do bombardeio midiático no sentido de queimar de vez o “ditador” Bashar Al Assad, mas colocando agora Donald Trump nas alturas.

É explicável, na medida em que ele se enquadrou ou foi enquadrado para seguir o que interessa a um segmento da indústria estadunidense, o complexo industrial militar, a imagem midiática de Trump passa a entrar em novo patamar de aprovação. No plano internacional, países europeus, entre os quais a Inglaterra, Alemanha e França já o aplaudiram tendo por base a única versão aceita, qual seja a de que a Síria usou armas químicas contra a população civil. Como comprovação de que a hipocrisia é um dos componentes da atualidade em termos de pronunciamento, vale assinalar o apoio efusivo do primeiro ministro de Israel, o belicista Benjamin Netanyahu, que provavelmente vai aproveitar o embalo no sentido de Trump apoiar uma eventual aventura bélica contra o Irã, algo que o governante extremista nunca deixou de lado.

Por estas e outras, depois do bombardeio com os mísseis lançados do Mar Mediterrâneo, a situação na região tornou-se ainda mais grave, com possibilidade até mesmo de aumento da tensão nos mais diversos quadrantes do planeta. Uma pergunta que não quer calar: quem lucra com isso? A resposta é óbvia: o complexo industrial militar que se sente contemplado com a guinada de Trump.

Desestabilização na Venezuela

Luis Almagro, o secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) que está a serviço de Washington e faz o possível e o impossível para derrubar o Presidente constitucional da Venezuela se reuniu em Brasília com o Ministro do governo golpista brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira. E mais uma vez procuraram desestabilizar o governo venezuelano. Na nota que divulgaram foi dito que a “crise” por lá se resolveria com a convocação imediata de eleições.

Que moral tem Almagro, já desmoralizado por ter feito com que a OEA voltasse a ser uma entidade gênero Ministério das colônias, por atender as pressões do Departamento de Estado norte-americano? E que moral tem Nunes Ferreira prestando serviço a um governo ilegítimo-golpista e que ao assumir depois de um golpe parlamentar não aceita convocar os eleitores imediatamente para uma eleição presidencial objetivando decidir o futuro ocupante do Palácio do Planalto? E quando se efetivou o golpe no Brasil, a mesma OEA simplesmente se calou diante do que aconteceu, na prática chancelando o acontecido.

Agora, as duas figuras mencionadas se somam ao coro das forças retrógradas em ação na América Latina para derrubar o governo bolivariano, com o respaldo integral da mídia comercial, que não se cansa em diariamente apresentar matérias encomendadas contra o Presidente Nicolas Maduro. A meta é enganar a opinião pública com o objetivo de fazer com que incautos caiam nas mentiras e meias verdades esparramadas diariamente nos jornalões e telejornalões.

Vale recordar que nestes dias completam 15 anos de uma tentativa de golpe contra o Presidente Hugo Chávez que vale lembrar voltou nos braços do povo. Um empresário golpista, Pedro Carmona, que pode ser encontrado hoje no lixo da história assumiu o governo por poucas horas, tendo sido reconhecido por Washington, então sob a Presidência de uma figura de triste memória chamada George W. Bush.

Desde então o governo venezuelano, seja nos tempos de Hugo Chávez e do atual Presidente Nicolas Maduro, tem sofrido violentas pressões, tanto seguidamente por parte dos Estados Unidos, como na atualidade por governos como o do golpista Michel Temer ou do argentino Maurício Macri, passando por Horacio Cartes, do Paraguai.

Nos últimos dias as pressões se intensificaram, inclusive com matérias com o claro objetivo de queimar a Revolução Bolivariana.

Atualmente o governo dos EUA é ocupado por Donald Trump, que com o bombardeio realizado contra a Síria está assumindo as diretrizes de Hillary Clinton, que também nunca deu sossego ao governo venezuelano em seus pronunciamentos como senadora ou quando ocupava a Secretaria de Estado.

Trocando em miúdos, Wall Street que apoiou Hillary Clinton, está agora fazendo as pazes com Trump, se é que os anteriores pronunciamentos do magnata que hoje ocupa a Casa Branca foram em algum momento para valer.

No caso da América Latina é relevante neutralizar de todas as formas possíveis as pressões externas e internas que tentam - como tentaram em 2002 - dar um golpe e colocar no governo forças defensoras dos interesses estadunidenses, inclusive sequiosas pelo petróleo que a Venezuela é grande produtora.

Em outras partes do planeta, como na Síria, o governo Trump na prática tenta fazer o mesmo que foi feito contra a Líbia pela gestão anterior de Barak Obama, que tinha durante algum tempo como Secretária de Estado nada mais nada menos que Hillary Clinton. Ela nunca escondeu sua vibração quando ocorreu o assassinato do líder Muammar Khadafi, transformando-se o pais também rico em petróleo numa região sob o controle de terroristas que ganharam espaços com os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que alguns jornalões e telejornalões seguem denominando como aliança ocidental.

É claro que tais fatos apresentados resumidamente nesta reflexão não são divulgados pelos jornalões e telejornaloes, que se intitulam defensores da liberdade de imprensa, escondendo também a verdadeira defesa, ou seja, da liberdade de empresa.


* Mário Augusto Jakobskind é jornalista, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato no Rio de Janeiro, escritor e autor, entre outros livros, de Parla - As entrevistas que ainda não foram feitas; Cuba, apesar do Bloqueio; Líbia - Barrados na Fronteira e Iugoslávia - Laboratório de uma nova ordem mundial.


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