Por Aluizio Moreira
Comumente o dia 8 de março é reconhecido internacionalmente como Dia
Internacional da Mulher, em homenagem às 129 mulheres assassinadas por seus
patrões, em 8 de março de 1857 no interior de uma fábrica têxtil em Nova
York , nos Estados Unidos. O fato foi o epílogo de um movimento grevista
deflagrado pelas mulheres operárias das fábricas de vestuário, que
reivindicavam redução da jornada de trabalho, licença maternidade e melhores
condições de trabalho.
Em agosto de 1910, mês da realização da Segunda Internacional que aconteceu em Copenhague (Dinamarca), ocorreu também a IIª Conferencia Internacional das Mulheres Socialistas, na qual Clara Zetkin, representante comunista alemã na Conferencia, apresentando proposta da delegação das Mulheres Socialistas dos Estados Unidos, sugeriu que se incluísse no calendário de comemorações do movimento operário internacional, um dia em que se homenagearia a mulher operária socialista.
Isto é como costuma ser lembrado dia o dia 8 de março. Esses são os acontecimentos que geralmente teriam dado origem ao Dia Internacional da Mulher.
O que causa estranheza, é que não há nenhum documento publicado na época, nem em épocas posteriores, que confirmem os acontecimentos de Nova York no ano de 1857. Nem mesmo o jornal de grande circulação como era o Tribuna de Nova York, para o qual Karl Marx escreveu como colaborador até 1862, fez qualquer referencia aos assassinatos de 1857.
As obras que resgatam a História do Socialismo, do Movimento Operário e Comunismo Internacional, sobretudo nos capítulos reservados á Segunda Internacional que aconteceu de 1889 a 1914, nada apresentam acerca daqueles fatos de 1857.
No entanto há noticias de duas outras greves envolvendo o movimento de mulheres operárias que teriam acontecido nos Estados Unidos, também em Nova Iorque, em outras datas: a primeira em 1909 uma greve geral das costureiras, que durou de 22 de novembro de 1909 a 15 de fevereiro de 1910. A segunda ocorrida em 29 de março de 1911, na fábrica Triangle Shirtwaist, na qual noticiou-se a morte de 146 mulheres vitimas de um incêndio em uma fábrica têxtil, na sua maioria operárias imigrantes judias e italianas.
Considerando que somente em 1910, na IIª Conferencia das Mulheres Socialistas por intervenção de Clara Zetkin tenha-se definido um dia, não especificado, por sinal, como data a ser comemorada em homenagem às mulheres operárias, tudo leva a crer que o acontecimento que marcaria aquela data, tenha sido a greve das costureiras de 1909/1910.
Em 1914, Clara Zetkin, à frente da Secretaria Internacional da Mulher Socialista, órgão da Internacional Socialista,sugeriu uma data única para celebração do Dia Internacional da Mulher: 8 de março. O que foi aprovado. (2)
Só em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou a data e em 1977 a Unesco a reconheceu.
Uma conclusão transparece disso tudo: o Dia Internacional da Mulher, teve sua origem no movimento socialista, e particularmente na luta das operárias socialistas dos fins do século XIX inicio do século XX.
Um grande equívoco (?) histórico é realimentado até hoje: o fato das operárias queimadas vivas no interior de uma fábrica de Nova Iorque em 8 de março 1857, ao que tudo indica, nunca existiu. (3)
Notas
(1)
Qual teria sido a fonte do L’Humanité?
(2)
Por que Clara Zetkin na Conferencia de 1910 tendo sugerido inicialmente o dia
1º de maio, em 1914 definiu-se por 8 de março?
(3) Existem estudiosos brasileiros e estrangeiros que dedicam-se à pesquisa sobre o movimento operário e socialista, e põem em dúvida as ocorrências de 1857. Entre esses estudiosos citamos Dolores Farias (UFCE), Naumi Vasconcelos (UFRJ), Renée Côté, Eva A. Blay, Liliane Kandel. Por sua vez, de março a dezembro de 1857, não localizamos quaisquer artigos sobre greve das operárias publicados por Marx ou Engels, no jornal New York Daily Tribune para o qual ambos colaboravam.
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Manifesto 8 de Março Nacional – 2021
Neste 8 de março de 2021, nós, mulheres de todo o Brasil, de todas as
raças, etnias, idades, identidades, orientações sexuais, territórios, de tantas
nacionalidades que aqui vivemos, quilombolas, indígenas, no campo, nas águas,
florestas e cidades, nos mobilizamos no Dia Internacional de Luta das Mulheres
para gritar com indignação e fúria feminista FORA BOLSONARO! VACINA PARA TODA A
POPULAÇÃO! AUXÍLIO EMERGENCIAL JÁ! PELO FIM DAS VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES!
Nossas vidas estão ameaçadas por um projeto de morte, comandado por
Bolsonaro e que conta com a cumplicidade e apoio de fundamentalistas e setores
conservadores dos poderes jurídico, parlamentar e da grande mídia à serviço do
capital nacional e internacional.
Na pandemia as desigualdades de classe, raça e de gênero se aprofundaram
ainda mais. A tragédia humanitária foi muito além do vírus e das mortes: com o
aumento da pobreza e o crescimento da população em situação de rua. Também
sentimos na pele o aumento das jornadas de trabalho e da dependência econômica
das mulheres.
A violência doméstica, política, institucional e obstétrica seguem nos
matando. Assistimos diariamente a morte de mulheres, dentro de suas casas e
carregamos o vergonhoso lugar de 5º país no mundo em feminicídio, mas a Lei
Maria da Penha vem sendo anulada, por exemplo, por acusações de Alienação
Parental contra as vítimas de violência doméstica.
Somos o primeiro no mundo em assassinatos de mulheres trans e travestis,
com aumento dos crimes de ódios contra a população LGBTQIA+, assim como o
aumento da violência policial e encarceramento da população negra. Na política
genocida desse governo, os povos indígenas e quilombolas seguem sofrendo extermínio,
com a expulsão de seus territórios, o homicídio de suas lideranças e o aumento
da fome e da miséria.
A crise da saúde colocou no centro do debate a importância da ação do
Estado e dos serviços públicos, que foram precarizados pela Emenda Constitucional
(EC) 95 ao congelar por 20 anos o investimento em políticas sociais, de saúde e
educação. O desmonte da saúde é parte da ofensiva ultraneoliberal do governo
Bolsonaro que tem como objetivo a privatização e a venda das empresas públicas
em nome do capital financeiro internacional. A reforma administrativa é parte
dessa estratégia.
Durante a pandemia, ficou ainda mais explícita a importância do Sistema
Único de Saúde (SUS) para a garantia da vida do povo brasileiro. Somos nós,
mulheres, que estamos na linha de frente do combate à Covid. Ao mesmo tempo,
seguimos carregando nas costas a responsabilidade pelo trabalho de cuidados e
pela saúde de todas as pessoas, também dentro de casa.
Exigimos a vacina urgente e imediata para toda a população de forma gratuita
e universal, com a quebra das patentes e a garantia dos investimentos no SUS e
na política de ciência, pesquisa e tecnologia. Não aceitamos que a vacina seja
usada para fins eleitoreiros nem sirva para beneficiar as indústrias
farmacêuticas.
A política econômica ultra neoliberal de Bolsonaro e Paulo Guedes,
coloca o lucro acima da vida: bancos e empresários lucram enquanto as mulheres,
o povo pobre, negro e periférico são quem mais morre! As ações do governo
contribuíram para a disseminação do vírus, ao não priorizar recursos ao
enfrentamento à Covid, desconsiderar a importância e a necessidade urgente da
vacina.
O auxílio emergencial foi uma conquista, resultado de muita pressão
popular, porém deixou de fora trabalhadoras da agricultura familiar e camponesa,
pescadoras, artistas, entre outras. Ainda assim, o auxílio foi fundamental para
a sobrevivência de cerca de 55 milhões de pessoas no país. Em um país de 14
milhões de desempregadas e desempregados, sendo 65% mulheres, com a inflação
dos alimentos e frente ao aprofundamento da miséria com o Brasil de volta ao
Mapa da Fome (ONU), exigimos a manutenção do valor de R$600,00 e ampliação da
cobertura do auxílio emergencial até o final da pandemia.
Assim como seus aliados da extrema direita internacional e de
organizações fundamentalistas religiosas, Bolsonaro aproveitou a pandemia para
desmontar políticas públicas para as mulheres, impondo uma visão reacionária e
conservadora de família e atacando os direitos sexuais e reprodutivos das
mulheres ao editar uma portaria que dificulta o acesso ao abortamento mesmo nos
casos já garantidos por lei. Repudiamos a ação da Ministra Damares ao tentar
impedir de forma criminosa o direito ao abortamento legal, mesmo em situação de
violência sexual contra crianças e adolescentes. A maternidade deve ser uma
decisão ou não será! Educação sexual para prevenir, anticoncepcionais para não
engravidar e aborto legal para não morrer! Legalização já!
O grito de milhões de mulheres em todo o Brasil segue com força:
precisamos tirar Bolsonaro e seu governo genocida do poder, para construir
alternativas de vida, recuperar a democracia, colocar o cuidado e a vida digna
no centro da política! Não existe democracia com racismo, e a democracia não é
real para todas enquanto não pudermos decidir com autonomia sobre nossos
corpos, territórios e vidas!
Basta de machismo, racismo, LGBTfobia e todas as formas de violência!
Justiça à Marielle!
Pela derrubada dos vetos ao PL 735 – Por apoio à produção de alimentos
saudáveis, fomento e crédito emergencial para a Agricultura Familiar
Em defesa do SUS! Pela quebra imediata da patente! Vacinação para toda a
população pelo SUS!
Pela legalização do aborto!
Pela revogação da Lei da Alienação Parental já!
Pela revogação da EC 95!
Auxílio emergencial até o fim da pandemia!
Fora Bolsonaro e todo o seu governo! Impeachment JÁ!
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