(CAD/FACE/UFMG)
MÉTODOS DE PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO. Sylvia Constant Vergara. São Paulo: Editora Atlas, 2005. 287p. ISBN 85-2243963-X.
Muito oportuna e bem-vinda a publicação deste livro de Sylvia Constant Vergara, pois apresenta e explora métodos e técnicas de pesquisa qualitativa em um momento em que as avaliações de mérito no campo da administração estão se tornando cada vez mais rigorosas. Os pareceristas de órgãos de fomento científico, congressos e revistas acadêmicas estão sendo taxativos principalmente quanto à questão da metodologia utilizada nas pesquisas. Neste contexto, a maior disponibilidade de material bibliográfico sobre métodos quantitativos e sua clareza de procedimentos em comparação aos métodos qualitativos acaba por beneficiar as investigações do tipo survey. Dessa forma, é possível mesmo afirmar que as pesquisas baseadas em métodos quantitativos têm maior chance de aprovação pelos avaliadores, o que significa uma perda para academia, pois a administração enquanto ciência social aplicada também requer o uso de métodos e técnicas de pesquisa qualitativos, uma vez que estes possibilitam apreciar a complexidade dos fenômenos examinados.
Diante disso, pode-se afirmar que realmente há uma demanda por um material de caráter prático que se dedicasse aos métodos e técnicas qualitativos. O livro de Vergara vem preencher esta lacuna: organizado em 22 capítulos, cada um deles apresentando um método ou técnica de pesquisa diferente, o livro apresenta um panorama rico e diversificado das opções disponíveis para a pesquisa qualitativa. Cada capítulo é estruturado de forma a apresentar a definição do método ou técnica, as palavras-chaves a ele associadas, suas características principais, um roteiro de procedimentos para sua utilização, exemplos de utilização por pesquisadores da área de administração e uma lista com sugestões bibliográficas para aprofundar o estudo do método ou técnica em questão. Esta estrutura permite não apenas apresentar o método ou técnica de pesquisa ao interessado, mas também apontar caminhos para sua aplicação imediata e para a realização de estudos complementares que se fizerem necessários para viabilizar seu uso.
Outra virtude do livro é que ele não se restringe a apresentar os métodos e técnicas qualitativos que são mais conhecidos pelos pesquisadores como a análise de conteúdo, a análise de discurso, as analogias e metáforas, a etnografia, a fenomenologia, os grupos de foco, a história oral, a historiografia, as técnicas de complemento, as técnicas de construção, o teste de evocação de palavras, a pesquisa-ação e a triangulação. Na realidade, Vergara vai além e traz opções desafiadoras como a construção de desenhos, a desconstrução, a grounded theory, os mapas cognitivos e a metodologia reflexiva. A autora também nos contempla com métodos menos explorados pelos pesquisadores como a fotoetnografia, os mapas de associação de idéias, o método Delphi e a netnografia.
Vale destacar a clareza e o detalhamento com que são apresentadas as técnicas de complemento, as técnicas de construção e o teste de evocação de palavras, que são técnicas valiosas para apreender questões subjetivas como o poder, a resistência e o comprometimento, mas que costumam ser discutidas de uma forma um tanto superficial na maior parte dos livros de metodologia de pesquisa. O detalhamento dos mapas de associação de idéias também é bem-vindo, pois esta pode ser uma técnica valiosa para o processo de análise e interpretação de dados qualitativos. O método Delphi também chama atenção e pode ser útil para os pesquisadores, pois é um método que tenta obter o consenso de opiniões de especialistas sobre o que está se investigando através da combinação de pesquisa quantitativa e qualitativa com o apoio de tecnologias de informação como a Internet.
A discussão da prática de métodos como a desconstrução, a grounded theory, os mapas cognitivos e a metodologia reflexiva é outro ponto de destaque, pois sinaliza a tentativa da autora de romper com os métodos tradicionais de se fazer ciência e abrir espaço para outras epistemologias. A discussão dos mapas cognitivos aparece em uma boa hora, pois os pesquisadores da área de administração vêm mostrando um interesse crescente por esta opção metodológica. Os exemplos de uso da desconstrução e da grounded theory também são louváveis, pois sinalizam a viabilidade da metodologia reflexiva, em geral considerada um método de difícil apreensão pelos pesquisadores.
Outro aspecto do livro que vale mencionar é que a separação dos métodos e técnicas de pesquisa em capítulos foi uma providência didática da autora, pois estes podem ser utilizados de forma associada. Ao longo do texto, a autora se encarrega de fazer as referências cruzadas necessárias para que o leitor perceba os tipos de associação possíveis para potencializar os métodos e técnicas de pesquisa escolhidos.
Considerando as características discutidas, conclui-se que este livro deve integrar a biblioteca de um pesquisador da área de administração, pois não somente serve de guia para proceder investigações científicas, como também orienta no que se refere à descrição e detalhamento dos métodos e técnicas de pesquisa eleitos para apoiar o trabalho, o que é um diferencial considerando as exigências crescentes dos avaliadores no que se refere à discussão da metodologia de pesquisa utilizada. Dessa forma, cabe recomendá-lo para todos que enfrentam os desafios colocados pela pesquisa qualitativa no campo das ciências sociais aplicadas.
FONTE: Revista de Administração Contemporânea
Nota: Esta obra está na 4.ed., sendo a mais recente datada de 2010.
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