segunda-feira, 28 de julho de 2014

Para entendermos um pouco sobre os conflitos na Palestina


Por Aluizio Moreira


Os meios de comunicação em todo mundo, nestes últimos meses, passaram a divulgar intenso material noticioso, analítico sobre a questão Palestina. Paralelamente, abriu-se espaço para denúncias e coberturas de manifestações em defesa de Gaza, numa crescente oposição à politica de Israel.

O agravamento mais recente dos conflitos armados entre Israel e Palestina, exige que compreendamos as razões históricas que remontam, sobretudo, ao cenário da Segunda Guerra Mundial.

A Palestina é uma região constituída por uma estreita faixa de terra banhada a oeste pelo mar Mediterrâneo, localizada entre o Egito, Jordania, Siria e Libano. Sua população (os palestinos) de origem árabe, de religião majoritariamente islâmica, ocupara a região desde  a antiguidade. 

Subjugados por egípcios, otomanos, e colocados sob protetorado britânico ao final da 1a. Guerra Mundial, os palestinos passaram a viver a partir de 1947, os mais difíceis momentos de sua história.

Com o fim da 2a. Grande Guerra, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947 em sessão dirigida pelo embaixador brasileiro Oswaldo Aranha, aprova, com o apoio do Brasil, a Resolução 181 pela qual se estabelece a partilha da Palestina entre a população árabe (palestinos) e a judaica (israelenses). Ano seguinte, 1948, era criado o Estado de Israel, que ocupará cerca de 56% do território palestino.

Com o passar dos anos, diante do avanço da ocupação de Israel, a Palestina ficou reduzida à Faixa de Gaza, à chamada Cisjordânia, uma parte montanhosa no centro e sul do território e uma parte de Jerusalém.

Avanço de Israel e "encolhimento" da Palestina
De habitantes autóctones, a população palestina passou à condição de  emigrantes e refugiados.  Daí a luta pela criação de um Estado Palestino, com o surgimento em 1959, da primeira organização militar palestina – AL FATAH – liderada por Yasser Arafat, que assumiu em 1969 a direção a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), fundada em 1964.

Organizando-se como verdadeiro Estado no exílio, a OLP, que abriga em seu interior diversas tendências ideológicas, passou a atuar no campo diplomático, tendo sido reconhecida pela ONU em 1975 como legítimo representante do povo palestino.

Em setembro de 1993 o célebre encontro entre Itzhak Rabin (primeiro-ministro de Israel) e Yasser Arafat (líder da OLP), nos jardins da Casa Branca, em Washington no qual foi assinada a "Declaração de Princípios para os Acordos Provisórios de Autonomia Palestina", com base nas conversações de Oslo realizadas no início do ano, parecia tornar iminente as negociações de Paz entre judeus e palestinos e a proclamação do Estado Palestino.

Yasser Arafat,  lider da OLP
No entanto algumas divergências entre a OLP e o governo de Israel, além de fortes oposições da direita israelense e de movimentos armados palestinos, forçaram a celebração de renegociações dos acordos em 1994 (Cairo), ocasião em que foi criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP) que comandada por Yasser Arafat, representaria um governo de transição até a formação definitiva do Estado Palestino. Mas novos impasses levaram a novas conversações e renegociações em 1995 (Oslo).

O assassinato de Itzhak Rabin por extremista israelense em 1995, abriu o caminho para a ascensão de Benyamin Netanyahu como primeiro-ministro, eleito pelo partido Likud, de direita. As renegociações se sucederam: 1997 (Hebron), 1998 (Wye Plantation), 1999 (Sharm el Sheik) e Camp David (julho de 2000), ao mesmo tempo que as incertezas aumentaram, sobretudo a partir dos últimos acontecimentos ocorridos em setembro deste ano.

Ismail Haniya, lider do Hamas
Em 29 de setembro de 2000 o general israelense Ariel Sharon, fez uma visita à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém Oriental (1). Esta visita provocou uma previsível reação dos palestinos - maioria jovens - que oravam no local. Munidos de pedras e paus os palestinos se jogaram contra o general e o contingente militar que o acompanhava. Os militares israelenses responderam com uma saraivada indiscriminada de balas que resultou na morte de cerca de 130 palestinos, tendo provocado ferimentos em outros milhares. Os confrontos espalharam-se por outros territórios.

Em 2006 o Hamas (2) venceu as eleições parlamentares na Palestina obtendo a maioria das cadeiras no Parlamento, iniciando um período de conflitos entre essa organização e o Fatah (3), com um saldo de mortos e feridos; conflitos internos que cessarão com a reconciliação das duas mais influentes organizações da Palestina em 2011.

Em 2007, integrantes do Fatah ocupam os espaços políticos do Hamas na Cisjordânia, que no entanto, enquanto o Hamas ganha o controle politico e armado da Faixa de Gaza, bem como influencia sobre a Cisjordania.

Ataque israelense em Gaza
A partir de dezembro de 2008, ataques aéreos israelenses contra Gaza e do Hamas contra Israel, deixaram um saldo de centenas de mortos e milhares de feridos na Palestina, com destruições de escolas, hospitais, armazéns, residenciais, e invasões terrestres israelenses na Faixa de Gaza.

Apesar da declaração de Israel cessar-fogo nos fins de 2009, o Hamas continuou a luta pela retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza e em 2012 recomeçaram as hostilidades.

As violências se intensificaram nos meados de 2014, com a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordania e a represália por parte de Israel com o assassinato de um jovem palestino queimado vivo em Jerusalém e ofensiva militar contra o Hamas, bombardeando Gaza, causando a morte de 147 crianças e 74 mulheres.

Vítimas civis dos ataques israelenses
Navi Pillay, alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em 23 de julho de 2014 denunciou os ataques israelenses contra Gaza, alegando constituir crimes de guerra, o bombardeamento contra população civil. No mesmo dia o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, aprovou Resolução condenando a ofensiva militar de Israel contra Gaza, pedindo o fim da operação israelense na região e criando uma comissão para investigação das violações do Direito Internacional.

Dos 47 países membros do Conselho, 29 votos foram favoráveis à Resolução (5), 17 abstenções (6) e os Estados Unidos, aliado de Israel, os únicos que votaram contra.

O importante é que independentemente dos 29 votos os países membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU, centenas de milhares de vozes em todo mundo, independentemente das posições oficiais de seus governos, se levantam através de manifestações sem intermediações, em defesa do povo palestino. 

Esperamos que a opinião pública internacional e a pressão diplomática de grande número de países compromissados com a paz, possam colaborar para a afirmação de um Estado Palestino soberano na região. 


Notas

(1) Com a dominação israelense sobre a Palestina, a cidade foi dividida desde 1967 em Jerusalém Ocidental, sob administração do Governo de Israel e Jerusalém Oriental, pertencente aos palestinos.
(2) Hamas – “Movimento de Resistência Islâmica” – organização de orientação sunita fundada na Palestina em 1987, que atua tanto politica como militarmente (Brigadas Izz ad-Din al-Qassam) por ações consideradas terroristas, por alguns países.
(3) Yasser Arafat, líder da organização Al Fatah, faleceu em 2004.
(4) Houve 41 abstenções, e entre os 9 que votaram contra a Resolução, figuraram Israel, Estados Unidos, Canadá e República Tcheca.
(5) Entre esses, todos os países da América Latina incluindo o Brasil
(6) Alemanha, Itália, Reino Unido e França.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Como desmontar a Ciência e Tecnologia brasileiras

CNPq, entidade essencial ao desenvolvimento nacional, é o alvo da vez. Série de cortes brutais em Educação e Ciência escancara um Brasil q...