Há concordância entre os autores, que todo processo de conhecimento envolve o sujeito e o objeto, como elementos fundamentais do ato de conhecer.
Da parte do sujeito, o objeto pode ser abordado de duas maneiras: ou é tratado de forma isolada, reducionista, privilegiando a sua aparência, ou é concebido em sua relação com o todo, e sua compreensão e/ou esclarecimento, é resultante dessa busca do que está oculto, por trás da aparência.
No primeiro caso, estamos diante do tipo de conhecimento superficial, ingênuo, pré-crítico, ametódico, características do conhecimento de tipo popular, vulgar. No segundo caso, estamos praticando o conhecimento “verdadeiro” (1), crítico, não superficial.
Esses tipos de conclusões estão bem definidos, na medida em que o conhecimento, como compreensão da realidade, como leitura dos “dados do mundo”, são considerados resultantes das relações recíprocas entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível, enquanto elementos distintos, separados um do outro, com suas singularidades, mas que transferem-se, correlacionam-se no processo do conhecimento, no processo do conhecer, originando-se, como conseqüência, a imagem. Imagem que seria “relação de assimilação do objeto pelo sujeito, relação de produção do objeto pelo sujeito, relação de coincidência ou de identificação entre sujeito e objeto”. (2).
Mas como se daria o conhecimento em que o objeto não pré-existisse ao momento do conhecer? Se o objeto fosse ele próprio criação do sujeito como no caso de uma obra de arte, uma técnica? Qual seria o elemento do conhecimento que corresponderia ao objeto? As matérias-primas que irão se incorporar à obra de arte e à técnica? Qual seria o fato a ser compreendido, elucidado, senão a obra de arte já pronta, a técnica já produzida, que serviriam de base para o conhecimento do individuo ou da sociedade? No entanto para o conhecimento das disponibilidades/potencialidades materiais para produção de um objeto de arte ou para a construção de um mecanismo tecnológico, os objetos já não seriam os mesmos.
Nesta mesma direção, como trataríamos a educação? O que seria, neste caso, o objeto como elemento do conhecimento na educação? Evidente que na relação professor-aluno, o aluno não será o objeto no processo ensino-aprendizagem, pois ele mesmo será também sujeito. Mas seria objeto enquanto matéria de estudo, no IML ou nas Faculdades de Medicina, por exemplo.
A partir destes raciocínios, a própria Ciência, enquanto conjunto sistematizado de leis e princípios de uma determinada área do conhecimento, se constituiria em objeto do referido conhecimento ou seria seu resultado? Dialeticamente seria uma e outra coisa, dependendo do que seja alvo de minha compreensão em determinado momento.
No Direito, a lei, a doutrina, a jurisprudência, seriam elas mesmas objetos de compreensão se o que estivesse em questão para o entendimento fosse a lei, a doutrina, a jurisprudência. Por outro lado, compreender o porquê da lei, da doutrina, da jurisprudência, como passo necessário para entender a sociedade da época, o objeto seria a própria sociedade.
O que queremos discutir/evidenciar, é que no processo de conhecimento, embora seja fundamental a existência do sujeito e do objeto, dependendo do tipo e do processo do conhecer, o objeto pode pré-existir ou não ao ato do conhecer. Não há uma forma única de se entender o objeto, como se todo objeto, qualquer que seja o fato ou fenômeno a ser compreendido, existisse independentemente do sujeito. Há casos em que o objeto é criação do próprio sujeito, e casos em que ele mesmo seria objeto. Ou seja, para nós, o conhecimento tanto pode ser o processo que nos conduz ao conhecer, como pode ser seu resultado.
A discussão está aberta!
Notas
(1) Verdadeiro não no sentido da alternativa verdadeiro/falso, verdade/erro, mas no sentido da alternativa verdadeiro/superficial.
(2) Ruiz, João Álvaro. Metodologia cientifica: guia para eficiência nos estudos. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 90.
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