Por Aluizio Moreira
A agressividade que se tem
verificado nos meios de comunicação, entre os adeptos dos três primeiros
colocados na corrida para a presidência da república, chega a beirar o absurdo.
Por vezes chega a evidenciar um fanatismo de tal monta, como se a escolha de um
dos candidatos e não do outro, fosse uma questão de vida ou morte. E isto entre
eleitores que fazem parte de uma elite “pensante”, sobretudo no meio acadêmico,
que se autoconsidera de esquerda.
Fala-se em retrocesso, se se defende
tal candidato ou candidata de determinado partido, em avançar mais se se apoia
tal candidato ou candidata de outro partido. Resta definir qual retrocesso e qual
avanço. Retrocesso ou avanço não deixa de ser mudança, para frente ou para trás.
Mas na verdade o que deveria
motivar o eleitor (me dirijo ao intelectual formador de opinião que se
considera de esquerda) numa eleição seja minoritária ou majoritária, seria a
questão da contribuição que essa eleição traria para a organização popular, objetivando
a implantação da real transformação da sociedade. Isto porque não entendo ser de esquerda,
aquele que simplesmente, e comodamente, defende o status quo, apostando na humanização de um sistema, que jamais
poderá ser humanizado.
É claro que a eleição, por si só,
não transforma alguma coisa, como pensava (e ainda pensa) a tendência
bernsteniana que apostava (e ainda aposta) na transformação da sociedade pela
via parlamentar. Ou o povo toma em suas mãos a tarefa de transformar, ou tudo
permanecerá como tem sido até hoje: mudamos as pessoas no poder, mas em sua
essência, a sociedade continua a mesma.
Ou seja, ajudamos a perpetuar a
sociedade capitalista, cuja lógica de sua reprodução repousa na apropriação e
concentração da riqueza por uma ínfima parcela da população, na manutenção do
sistema cuja base é a propriedade privada dos meios de produção, na conservação
do lucro como forma de realização do capital.
Os “avanços” que muitos apregoam
como prova insofismável das mudanças, apenas “mudaram” situações; podem até ter
melhorado os ganhos salariais, ou o aumento do número de pessoas que ingressam
nas universidades, uma maior “fartura” na mesa do trabalhador. Ganhos salariais
que no primeiro dia de sua vigência, já estão corroídos pelos aumentos dos
preços das mercadorias; ingressam nos cursos superiores, assinando um contrato
de financiamento com instituições bancárias; matam a fome com alimentos cultivados
com agrotóxicos e geneticamente modificados. (Em relação aos alimentos,
enquanto a China, EUA, França, Alemanha, Sri Lanka, entre outros, adotam
medidas contra o uso de agrotóxicos e transgênicos, o governo brasileiro
financia empresas que investem neste tipo de negócios).
Evidente que a politica, está presente em” todos os aspectos da vida
humana” como salientou Reinaldo Dias na sua obra Ciência politica (2013, p.6-7), e diz respeito a questões tão
diversas como a inclusão social dos indivíduos, a melhoria da qualidade de vida
da população, a participação do povo nas decisões que afetam a coletividade, a biodiversidade,
embora em nossa sociedade, a população seja induzida ideologicamente pela
classe hegemônica (no poder ou fora dele), a relacionar a politica apenas com o
ato de votar periodicamente. Mas não devemos esquecer também, que a politica
implica em relação de poder, poder este que é constituído por uma diversidade
de instituições burocráticas, administrativas e repressivas, que se concentra
no Estado, como detentor desse poder numa sociedade de classes.
Na verdade, o poder politico representa determinados interesses de determinada
classe social, que para manter sua hegemonia como classe, necessita da
legitimação de todo povo, através das eleições parlamentares.
As divergências que se apresentam
numa disputa eleitoral na sociedade capitalista como a nossa, são divergências
de grupos que se assenhoreiam ou
procuram assenhorear-se do poder, a fim de assegurar/ampliar a defesa de seus
interesses/compromissos de classe. Os parlamentares não deixam de ser seus
representantes, por mais que afirmem que defendem os interesses do povo.
Com
maiores ou menores conflitos, as falsas contradições entre as diversas
tendências neoliberais, são apresentadas sob o manto da politica do “avançar
mais”, da “nova politica”, do “fazer diferente”.
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