sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

"Não vai ter golpe!"


Por Aluizio Franco Moreira Filho


Não vai ter golpe porque impeachment não é golpe. É constitucional, é mecanismo próprio da democracia.

O que simpáticos à crença (sic) de golpismo não admitem, é terem sido criadas, em grande parte pelo próprio Governo, as condições para o impedimento da sucessora do Lula. Impeachment é Política com P maiúsculo, jogo político vivo, uma resposta ao papel decrépito que a presidente Dilma queria para o Congresso Nacional: um monstro morto com a única incumbência de chancelar as vontades do Executivo. O momento que o país vive é especial e nada amedrontador, aviso aos medrosos. Temos que saber valorizá-lo para além da retórica petista polarizante e escatológica.

Ao invés de insistir em escolher inimigos externos como argumento, as pessoas de reflexão deste país deveriam exercer mais a autocrítica (será que temos tempo e espaço para isso?). É fácil culpar Cunha, a base infiel ou os “coxinhas” de todos os sabores e tamanhos – e a História está ai para provar que escolher um inimigo comum é uma tática nefasta. Ainda que Cunha esteja interessado apenas em salvar sua pele, não é difícil perceber porque chegamos onde chegamos. Nossa presidente não tem traquejo político e aprofundou uma forma de fazer política que iria implodir de qualquer maneira, sobretudo nas mãos de uma pessoa com o perfil dela. Era questão de tempo e já dava sinais do seu lado perverso desde o "Mensalão".

Esse processo de impeachment é, antes de tudo, político. Mais precisamente o efeito colateral da política de troca de cargos, ministérios, votos e sabe-se lá mais o quê. Dilma nunca duvidou que os cordeiros que ela estava domesticando lá em Brasília, tinham pele de lobo, só não sabia (e nunca vai saber) lidar com eles. O modelo apodreceu e ela apodreceu junto. O Governo já havia se exaurido quando um agonizante suspiro de três milhões de votos o fez permanecer na UTI. Está lá, a receber visitas, apenas.

Na democracia irreal, os oposicionistas deveriam ajudar o Governo a governar e debater os interesses do país, mas eles não têm obrigação disso. É ingenuidade pensar que a oposição não agiria como oposição. Foi isso que o PT fez muito bem quando estava do outro lado: pediu impeachment de Collor, de Itamar Franco e de FHC aos urros. Descontentamentos em relação a um governo sempre vão haver e muito embora a impopularidade não seja motivo para a destituição de um presidente, o cerco de ingovernabilidade ao redor de Dilma é assustoso.

O impeachment é a oportunidade que a oposição queria para tirar o Governo que está aí há mais de 12 anos no Poder, com a máquina nas mãos e se utilizando dela por inteiro para permanecer nele. A oportunidade, no entanto, é chancelada pela alta reprovação popular e por todo o ludibrioso processo eleitoral evidenciado no ano passado. Se o impeachment vai se confirmar ou não, isso é o que menos importa. O que chama a atenção é o contexto propício para sua existência em Brasília. A teoria do Golpismo termina quando ela mesma faz parte da Política com P maiúsculo. Afinal, a moral de quem quer chegar ao poder não seria equivalente àquela de quem faz de tudo para permanecer nele?

"Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição" (Dilma Rousseff)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Como desmontar a Ciência e Tecnologia brasileiras

CNPq, entidade essencial ao desenvolvimento nacional, é o alvo da vez. Série de cortes brutais em Educação e Ciência escancara um Brasil q...