sábado, 28 de maio de 2016

Por que a Cultura incomoda Michel Temer


Artistas preparam-se para ocupar sede da Funarte, em SP. "Interino subestimou  tamanho e
importância da Cultura para o país. Por isso, gerou o que é hoje a principal frente de luta
contra o provisório governo"

Universo da cultura é diverso, potente, colaborativo, horizontal. Mas elite não compreende — por ser arcaica, cafona, obtusa, bocó. Para ela e seus cordeiros, o criativo incomoda


Por Jéferson Assumção

“Há um Brasil de verdade, que não cabe nem jamais coube
na mentalidade bocó, tacanha e predatória de sua elite e classe média escravocratas.
Neste Brasil, há arte, pensamento, ciência, compromisso democrático,
consciência, luta social, cultivo da memória e da história.
Este Brasil de verdade faz cinema, música, literatura, ciência, filosofia. (…)
E é também um país que está golpeado, ferido, espancado, ameaçado e violado.
Mas vivo, muito vivo.”

Katarina Peixoto, em sua página no Facebook dia 18 de maio



Não por acaso, uma das primeiras ações do governo provisório de Michel Temer foi acabar com o Ministério da Cultura (MinC). Por trás desta simples “canetada” está cada vez mais clara a “ideia de país” que não apenas Temer e seus ministros têm, mas também a elite brasileira e seu poder político-econômico-midiático-judicial. O sumiço da Ciência e Tecnologia, das Comunicações, a diminuição do espaço das políticas para as mulheres, para a igualdade racial e os direitos humanos também faz parte de uma ideia de cultura que a arcaica elite brasileira quer voltar a implementar. A verdade, por trás deste suposto ato de economia promovido pelo Estado, é que a cultura, com suas redes, sua possibilidade de gerar empoderamento e autonomia, sua perspectiva ampliadora de repertórios, incomoda Temer & aliados: a elite, as igrejas, os meios de comunicação e seus rebanhos.

Durante o período de ascensão das politicas culturais no País, nas gestões Gilberto Gil e Juca Ferreira, parte do Brasil começou a perceber a importância da cultura não apenas para o mundo dos artistas. Passou a ver que todo o restante da ideia de desenvolvimento passa pela cultura, que educação sem cultura é ensino, que saúde sem cultura é remediação, segurança sem cultura é repressão, economia sem cultura é acumulação, comunicação sem cultura é manipulação etc etc. Daí que ao fechar o MinC e as pastas que mais transversalizam com ele, Temer & cia mostram o que entendem não só por cultura, mas também por educação, saúde, segurança, direitos humanos, igualdade de gênero, racial, comunicação etc. E deixam claro seu projeto: um país sem autoestima, manipulável, sem criatividade, com o mínimo de espírito crítico possível.

No entanto, um erro do interino foi subestimar o tamanho e a importância da cultura para o país, gerando a, atualmente, principal frente de luta contra o provisório governo. Nas ruas, nas redes e nas ocupações da Funarte e outros órgãos do MinC, escolas e centros culturais, não se quer apenas a devolução do status de ministério à cultura, mas a volta de uma ideia de país em que a cultura seja estratégica, vista como vetor de desenvolvimento social e econômico. É óbvio que o atual governo não tem nenhuma condição, nem legitimidade popular, de realizar esta ideia, nem de compreendê-la em sua totalidade – seja pelo perfil de seu ministério, seja pela mentalidade de seus aliados na mídia e no mercado.

A postura de, no primeiro dia, não apenas apagá-la do mapa dos ministérios mas fazer desaparecer qualquer ideia progressista, crítica, ampliadora de repertórios nas demais áreas com ela transversais – basta ver o perfil dos indicados a ministros – mostra uma mistura de obtusidade, ignorância, envelhecimento e distanciamento, dos atuais donos do poder, em relação à nova realidade política do país. Uma realidade que conta agora também com novos atores e sujeitos capazes de fazer muito mais que anteriores massas caladas, seja pelos jornais, seja pelos coturnos.

O projeto óbvio da elite não é apenas acabar com o Ministério da Cultura, mas tirar a cultura de todo lugar e fazer retroceder ao que ela sempre foi nesses 500 anos de dominação branca do país. Trata-se de um período em que, como diz Renato Ortiz em A Moderna Tradição Brasileira, nossa elite desenvolveu-se dentro de uma ideia de cultura como ornamento e ostentação, como adereço e verniz de distinção social. No fundo nossa elite conservadora – representada em gênero, números e graus no ministério atual – sempre teve vergonha da cultura brasileira, dos modos de ser e fazer de negros, indígenas, sertanejos, caipiras, amazônicos, suburbanos.

Pois foi exatamente a diversidade cultural que veio, aos trancos, à tona no Brasil dos últimos dez anos, num movimento que se deve a três grandes elementos: 1) o desenvolvimento social e econômico do Brasil no período; 2) a aplicação de políticas culturais mais democráticas e abrangentes e 3) a liberação da informalidade das periferias – e o poder da diversidade cultural brasileira – pela expansão da internet e a consequente diminuição do poder zumbizista televisivo, ainda predominante, mas decadente.

Isso incomoda muita gente, claro. Gente que preferiria que o Brasil fosse uma Miami, uma Dubai ou qualquer outro parque de diversões do consumo, cercado por muros a garantir uma cada vez mais difícil paz burguesa. Gente que fica triste com a imensa alegria que vem das periferias e de lugares antes calados e invisibilizados pela indústria cultural tradicional-homogeneizante, mas que já não é suficiente para segurar todo o poder da informalidade que o uso cultural da internet vem trazendo à tona.

Quer queiram ou não, do meio para baixo cresce o reconhecimento de que a cultura é importante fator de qualificação do ambiente social, de desenvolvimento coletivo e individual, gerador de oportunidades ao ampliar repertórios, de emprego e de renda, principalmente quando focado nos mais jovens. Jovens que estão dando todos os sinais de que entenderam a potência da cultura e da expressão simbólica e que enchem o Brasil de otimismo, mesmo nesses tempos obscuros. Eles incomodam principalmente quem está no camarote ou no andar de cima e que pretende seguir a controlar direitos, incutir valores e empacotar o gosto para o consumo da rapaziada lá embaixo.

Agora, como esta mesma elite não percebe que o mundo moderno passa pelo fenômeno da valorização de sua diversidade cultural, recombinando-a em produtos de uma economia da cultura diversa, potente, colaborativa, horizontal e que vem incluindo milhões de pessoas criativas? Porque ela é arcaica, cafona, obtusa, bocó. Para ela e seus cordeiros o criativo incomoda.

Não, Temer, não foi um bom negócio

Acabar com o MinC é tentar atacar a dimensão criativa de uma sociedade, vetar o acesso e a transformação individual e social possibilitada pelo consumo e produção de bens e serviços culturais diversos. É atacar o direito à fruição e à expressão simbólicas, fundamentais para ampliar repertórios e apontar vias de superação das mazelas vividas pelas populações que mais precisam. É impedir de se qualificar o ambiente social via ações que gerem cultura de paz e de discernimento, ambientes de vivência lúdica, afetiva e criativa capazes de dar sentido à vida social para além do prosaico conjunto de sobrevivência diária. É tirar o foco dos territórios com menor acesso a bens e serviços desta natureza, embaixo da eterna cantilena falaciosa e economicista, cuja conta é paga pelo que não tem e não pelo que tem. Claro que se já era pouco, com este rebaixamento do Minc vão faltar ainda mais recursos administrativos, institucionais e financeiros para implantar e reestruturar centros culturais, casas de cultura, pontos de cultura, bibliotecas, pontos de leitura, pontos de difusão audiovisual, estúdios comunitários, brinquedotecas. Obviamente que tudo isso de caso (mal)pensado, pois os usuários e fazedores nesses espaços incomodam muita gente.

Sem o MinC, é fácil prever alguns resultados. A transversalidade das ações da cultura será duramente afetada e com ela a consciência de que nossa cultura é híbrida, de fronteira, aberta, antropofágica, de forte presença das tradições rurais e populares, periféricas, urbanas. O patrimônio cultural vai correr ainda mais riscos. Ante uma enorme pressão do mercado, que só vai aumentar sem o poder do MinC como ministério, o patrimônio arquitetônico vai sofrer enormemente, mas também as festas populares, as culturas populares poderão se transformar cada vez mais em para-folclore mercantilizado pela força da mídia e sua indústria cultural, altamente concentrada no Brasil e sem interesse no seu desenvolvimento.

Num discurso de crise, claro que vai ser barrada qualquer discussão sobre financiamento da cultura (fortalecimento do Fundo Nacional de Cultura, reforma da Lei Rouanet, orçamento de 1,5% do total), mas também devem minguar – não tem por que não – os espaços de participação, como CNPC (Conselho Nacional de Política Cultural), colegiados setoriais, conferências regionais de cultura, os planos setoriais discutidos entre os diferentes setores e linguagens artísticas, ou seja, o espaço da cidadania, da participação na gestão. Uma volta, com enormes consequências, e que precisa ser barrada. Não se trata de negociar com o governo interino, não, mas de exatamente mostrar as diferenças de visão de país e de seu povo que dividem as velhas e encasteladas elites e o Brasil real, profundo, vivo. É por isso que o povo está na rua, nos prédios ocupados, nas redes. É um vespeiro que foi cutucado por alguém que não conhecia bem seu tamanho nem o do vespeiro.

Por baixo, anestesiados (sem sensação autônoma, sem sensibilidade própria, mas apenas a introjetada de fora), dando suposta sustentação, veremos os últimos homens-massas zumbizados pelos meios de comunicação e entretenimento; agressivos uns, infantilizados pela lutinha, pelo jornalismo salafrário e por filósofos de araque; outros, rebanhos conduzidos por ricos pastores suspeitos. Alguns, simples ingênuos (fechados, obtusos, com a cabeça entre os joelhos), adoradores do poder dos outros. Todos só mostrarão que não entenderam nada do que aconteceu no Brasil nos últimos anos, se não porque incomodados com o que está emergindo com a cultura, porque mantidos ignorantes por aqueles que a temem.


domingo, 22 de maio de 2016

Democracia em crise. Mas em vez dela, o quê?


Dois textos sugerem: movimentos que puxaram mobilizações anticapitalistas de 2011 precisam dar um passo adiante. Tem a ver com poder


Por Antonio Martins

Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera

Primavera nos dentes, Secos & Molhados


No ano frenético de 2011, os Indignados espanhóis e o Occupy Wall Street, dos EUA, foram protagonistas centrais. Levaram imensas multidões às ruas, para protestar contra o sequestro do futuro coletivo “por banqueiros e políticos”. Retomaram a denúncia do capitalismo, esquecida durante décadas em seus países. Reincluíram na agenda de debates temas esquecidos, como o crescimento das desigualdades e o surgimento de uma oligarquia financeira. Suas ideias influenciaram, em certo momento, as maiorias. Por isso, conquistaram espaços na mídia, entre os intelectuais e artistas. No entanto, sua capacidade de manter a mobilização inicial foi limitada. Iniciados respectivamente em maio e setembro, Indignados e Occupy refluíram cerca de dois meses depois. Desalojados das praças que ocupavam por repressão policial, não recobraram, até o momento, a antiga potência — nem para reunir multidões, nem para influenciar o debate público. Por que?

Dois textos (1 2) traduzidos e publicados há pouco por Outras Palavras convidam a buscar respostas. Seus autores partem de perspectivas distintas. O catalão Manuel Castells, um dos grandes sociólogos contemporâneos, apresenta e analisa, num texto para o La Vanguardia, a criação do Partido do Futuro, impulsionado por setores dos Indignados. Ele continua a ver, no movimento, enorme capacidade de criação política. Já o escritor e jornalista norte-americano Thomas Frank, especializado em História da cultura e das ideias, é menos otimista. Escreve, no Le Monde Diplomatique, que o Occupy, provocou enorme chacoalhão na sociedade norte-americana, mas perdeu força rapidamente, por recusar-se a formular um programa de reivindicações concreto. No entanto, algo une Castells e Frank: ambos parecem enxergar que, superada a fase do entusiasmo inicial, os novos movimentos precisam dar um passo adiante — e ele está relacionado com algum tipo de diálogo com o poder e as instituições.

Castells reconhece que muitas das iniciativas do Indignados “parecem condenadas a um beco sem saída”. Embora o movimento esteja gerando uma cultura política inteiramente nova, ao convidar os cidadãos a compreenderem e interferirem diretamente na construção de seu presente e futuro — indo além do voto, partidos e instituições –, esta invenção choca-se com uma imensa barreira. O sistema político espanhol mostra-se impenetrável. A mudança de consciência “esgota-se em si mesma quando se confronta com uma repressão policial cada vez mais violenta”. Como o movimento não pretende (felizmente, para Castells) responder com força bruta, é preciso inventar algo novo.

O Partido do Futuro é uma espécie de esboço em construção, reconhece o autor. Ele terá registro legal mas não procurará disputar eleições nem, portanto, constituir bancada. Seu programa tem um único item: “democracia e ponto”. Ela materializa-se, em especial, na proposta de substituir a representação partidária por consultas diretas aos cidadãos, potencializadas pela internet: plebiscitos eletrônicos e elaboração colaborativa de leis (à moda da Wikipedia), por exemplo.

Como alcançar tal transformação? Castells adianta uma hipótese remota. Se, num dado momento, a grande maioria dos eleitores estivar disposta a “votar contra todos os políticos ao mesmo tempo”, o Partido do Futuro poderá facilitar “uma ocupação legal do Parlamento e o desmantelamento do sistema tradicional de representação, de dentro dele mesmo”.

Será razoável esperar por esta hipótese extrema? Como pressionar as instituições, até então? Esta parece ser a preocupação central de Thomas Frank, e o núcleo de sua crítica ao Occupy. Ao contrário do que recomendou Slavoy Zizek aos acampados no Zucotti Park, eles teriam “apaixonado-se por si mesmos”, diz Frank. Extasiaram-se com as inovações formais que produziram — a construção de comunidades nos espaços públicos ocupados, a horizontalidade radical que os levou a jamais escolher porta-vozes, as cozinhas coletivas, os mutirões de limpeza.

Frank não despreza estas conquistas. Reconhece que “construir uma cultura de luta democrática é muito útil para os ambientes militantes”. Mas objeta: trata-se “apenas de um ponto de partida”. O Occupy recusou-se a ir além. Significaria formular reivindicações concretas, que pusessem em xeque o “1%”. Dialogar com o conjunto da sociedade em termos que permitissem a construção de propostas comuns. Colocar na agenda temas como os empréstimos bancários usurários que arruinaram milhões de famílias; a salvação dos bancos com recursos públicos; a transferência de riquezas para os mais ricos, por meio de isenções de impostos e bônus astronômicos.

Por trás deste “grave erro tático” estariam a soberba e uma crítica ao Estado tão extrema e sem mediações que teria feito o movimento assemelhar-se, em alguns aspectos, ao discurso da direita ultra-liberal. A partir de certo ponto, diz Frank, qualquer intenção de apresentar um programa passou a ser vista pelo Occupy como “um fetiche concebido para manter o povo na alienação e no servilismo”. Em consequência, “um movimento de protesto que não formula nenhuma exigência seria”, na opinião de seus animadores, “a obra-prima última da virtude democrática”…

Este narcisismo teria levado os acampados a se fecharem num discurso cada vez mais acadêmico (Frank cita inúmeros exemplos, a partir da literatura produzida pelo movimento), hermético e… terrível, mesmo do ponto de vista estético. A advertência formulada por Zizek teria sido vã. “Os carnavais são fáceis. O que conta é o dia seguinte, quando precisamos retomar nossa vida normal. É quando nos perguntamos: ‘alguma coisa mudou’?” 

É provável que a crítica de Frank seja precipitada. Um movimento que questiona tão profundamente as estruturas de poder (e o faz com apoio inicial maciço), como o Occupy, não pode avaliado em prazo tão curto. De qualquer forma, o que tanto seu texto quanto o de Castells põem em relevo é a necessidade de debater mais profundamente, no interior da nova cultura política, o papel do Estado; as estratégias e táticas necessárias para superar, além das estruturas de poder ultra-hierarquizadas, a dominação de classe.

Esta questão precisa libertar-se, nas condições inteiramente novas das sociedades pós-industriais, dos dois paradigmas que a conformaram, nos séculos 19 e 20: a visão marxista e a anarquista. O poder de Estado não é a chave para as transformações sociais, ao contrário do que pensavam os que julgaram construir o “socialismo real”. Ele está tão marcado por relações de autoridade e hierarquia que acreditar em sua “conquista” equivale a assumir estas relações desiguais. A construção de novas lógicas e relações sociais exige, ao contrário, des-hierarquizar e horizontalizar desde já, incorporando uma pitada de ghandianismo às tradições revolucionárias anteriores: “seja a mudança que você quer”.

Mas o Estado, talvez a instituição mais contraditória de nossa época, não é apenas uma máquina de opressão. É, também, o espaço em que se efetivam os direitos. Redução da jornada de trabalho; proibição do desmatamento; punição dos que praticam homofobia; garantia de uma renda cidadã; proteção dos direitos dos imigrantes, promoção da economia solidária — onde estas e tantas outras aspirações poderão se realizar, num tempo em que as sociedades ainda são marcadas por conflitos?

Menos vistosos, por enquanto, em sua capacidade de mobilização de multidões, talvez alguns movimentos que atuam no Sul do planeta tenham encontrado soluções avançadas para tais problemas. Eles falam, por exemplo, em hackear o Estado. É um termo provisório, mas certeiro. Significa ir além da ideia ingênua da “conquista”; compreender que a máquina estatal é, por sua natureza, oposta à ideia de uma sociedade solidária e radicalmente democrática.

Mas implica, ao mesmo tempo, ter consciência de que será necessário construir uma transição. Novas lógicas e mecanismos de articulação da vida social precisam ser imaginados e postos em prática desde já. A revolução não é a conquista do poder, mas um conjunto vasto de transformações político-culturais, que ocorrem em tempos distintos e seguem a dinâmica profunda das mudanças de mentalidade.

Mas tais transformações conviverão, por algum tempo, com a velha ordem. E serão mais rápidas e efetivas se for possível “inventar, no centro da própria engrenagem, as contra-molas que resistem”. Por isso, é importante combater a rotina do poder de Estado e, ao mesmo tempo, neutralizá-la; impedir que destrua boas sementes de futuro; se possível, fazer com que rode ao contrário…

É um debate de grande relevância e profundidade. Queremos fazê-lo juntos. As leituras de Castells e Frank são um ótimo incentivo.


domingo, 15 de maio de 2016

Desafios da esquerda frente ao novo bloco de poder





Por  Hamilton Octavio de Souza 


Embora boa parte das forças políticas que se articula para dar sustentação ao governo de transição de Michel Temer, do PMDB, tenha participado intensamente do governo Dilma Rousseff, do PT, a nova composição formada no processo de impeachment, reforçada com PSDB, DEM, PPS e outras siglas, cria uma situação nova para a oposição de esquerda, já que o novo bloco de poder, com forte conteúdo conservador e neoliberal, tende a agredir direitos e conquistas dos trabalhadores, reduzir ainda mais o papel moderador do Estado e impor medidas imediatas para agradar os interesses gerais do mercado e do capital.

Nas gestões de Lula e Dilma os partidos de centro e de direita integraram a ampla coalizão concebida pelo PT, que incluiu no campo partidário desde o PCdoB até o PP de Paulo Maluf e o PRB do bispo Edir Macedo. Essa esdrúxula coalizão conseguiu colocar no mesmo balaio – durante anos – o MST e a representante do latifúndio e do agronegócio Kátia Abreu; a CUT e a FIESP de Paulo Skaf; o MTST e o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, do PSD; os movimentos católicos remanescentes da Teologia da Libertação e os representantes do fundamentalismo evangélico abrigados no PR e no PSC; enfim, o país engoliu uma enorme babel de gregos e troianos preocupada exclusivamente com a própria sustentabilidade do governo federal.

Agora o quadro é outro: a não ser que ocorram dissensões de última hora, o bloco de poder unifica praticamente todos os partidos de centro e de direita, reúne os vários setores do empresariado e a grande maioria das classes médias, além de segmentos populares representados pelos partidos e organizações dominados por grupos cristãos e igrejas evangélicas. O PT e o PCdoB, depois de 13 anos e cinco meses de acomodação na máquina federal e de convivência com a direita, foram atirados à planície da oposição, junto com desgarrados do PDT e do PSB, e onde estão o decano PSOL, o novato REDE e os partidos da esquerda socialista sem representação no Congresso Nacional, entre os quais PSTU, PCB e PCO.

Além de ter unificado o bloco partidário conservador de centro-direita, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff unificou majoritariamente também as forças do capital, em especial o empresariado industrial, agronegócio, mineração, transportes, construção civil e o setor financeiro.

A dúvida fica por conta dos bancos, grandes empreiteiras e concessionárias de serviços públicos, que até o começo do presente ano ainda estavam apostando mais no resgate do governo Dilma Rousseff do que na aventura de um novo governo com o vice Michel Temer. Não porque tenham diferenças nas medidas defendidas pelo capital, mas na forma de aplicação do ajuste econômico com mais, ou menos, legitimidade e garantia de controle das ruas.

O que acontece

No entanto, a situação do governo Dilma desandou de tal maneira que o processo de impeachment se tornou uma saída emergencial para recuperar o mínimo de governabilidade e de estabilidade política e econômica. O processo foi vitaminado pela rebeldia da base aliada no Congresso Nacional, pelas investigações da Operação Lava Jato e pela grande mídia comprometida com interesses dos empresários e das classes médias. Todos esses atores operaram na única direção e jogaram pesado no “fora Dilma”, de quebra no “fora Lula” e “fora PT”, mesmo sem ter base sólida e convincente para o afastamento constitucional da presidente. Essa questão ficou em segundo plano depois do amplo consenso por um novo governo.

O PT, que durante muitos anos abandonou os movimentos sociais à própria sorte, teve de se socorrer do MST e do MTST para criar, nas ruas, a possibilidade de reação perdida no Congresso Nacional e nas alianças com o empresariado.

Vale lembrar que nos governos Lula e Dilma a CUT e outras centrais e sindicatos foram deliberadamente domesticados para evitar confrontos com os patrões e aplaudir, sem qualquer senso crítico, as ações e obras do governo, inclusive os bilhões gastos na Copa do Mundo de Futebol – um evento privado e faturado pela FIFA. Os únicos movimentos sociais de abrangência nacional que conseguiram manter alguma autonomia e combatividade, MST e MTST, foram convocados pelo lulismo para dar ao governo Dilma o gesto derradeiro de resistência ao golpe.

Agora, a se confirmar o exílio de 180 dias da presidente Dilma, com o novo bloco de poder capitaneado por Michel Temer no Palácio do Planalto, MST e MTST terão de definir se jogam suas energias no retorno de Dilma, no desgaste do governo de transição de Michel Temer e se miram ou não o novo horizonte que se abre com a articulação de uma grande frente das esquerdas e a construção de uma proposta inovadora para as eleições gerais de 2018.

A não ser que a correlação de forças resulte na explosão da luta de massas, nas ruas, semelhante ao que aconteceu em 2000, na Argentina, capaz de derrubar Temer, Cunha, Renan e exigir eleições diretas já, o que se apresenta no calendário da legalidade democrática institucional é a disputa eleitoral de 2018.

O que fazer

Dificilmente Dilma Rousseff reassumirá a presidência da República. Tudo indica que será cassada ao final do processo, a não ser que antes venha a renunciar. O PT e o lulismo tendem a perder boa parte de suas forças, estarão sob impacto do desgaste do impeachment e das denúncias da Operação Lava Jato. Lula corre sério risco de ser condenado e ficar impedido de se candidatar devido ao envolvimento com as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS, que assaltaram a Petrobras.

Restará aos petistas e aos militantes do MST, do MTST e demais movimentos sociais da área de influência do lulismo estabelecer nova estratégia de enfrentamento das classes dominantes, seja o repeteco de alianças com a direita ou fazer novo alinhamento no campo da esquerda – com partidos e organizações sociais declaradamente socialistas.

A principal questão é saber se interessa ao PT refazer o rumo com outra proposta de disputa do poder e se consegue retomar a prática de fazer oposição pela esquerda com programa autenticamente transformador. Já que não fez, até hoje, qualquer autocrítica do rumo tomado desde a Carta do Povo Brasileiro, em 2002, e muito menos a avaliação crítica do processo que levou o governo Dilma a sofrer impeachment, tudo indica que o PT tende mesmo a manter prioridade nas alianças com os partidos e forças de centro e de direita, inclusive nas eleições municipais de 2016 – sem levar em conta as forças da esquerda socialista.

A essas forças aparece a oportunidade de constituir, desde já e nos próximos anos, uma grande e sólida frente popular, democrática e anticapitalista não só para combater o governo de transição de Michel Temer, atrair as classes trabalhadoras e a juventude para a militância, mas também para disputar as eleições gerais de 2018 contra o novo bloco de poder marcadamente neoliberal e conservador.

A crise do impeachment abriu espaço para novo rearranjo político e nova correlação de forças no cenário nacional. O processo dialético movimenta a história. As contradições do novo bloco de poder vão aparecer rapidamente. Os trabalhadores e a população que mais demanda a ação do Estado e os serviços públicos vão perceber que o discurso da “salvação nacional” é pura engabelação. Os movimentos sociais populares e partidos de esquerda serão importantes ferramentas para a defesa da grande maioria do povo. A articulação dessa frente de oposição de esquerda depende agora da visão e decisão da militância. O Brasil inaugura nova etapa da luta de  classes.


sexta-feira, 13 de maio de 2016

Poema para Duan Minh Luan




Por Aluizio Moreira


Cena de crianças vietnamitas vitimas dos bombardeios
norte-americanos. Há 50 anos atras 


A Duan Minh Luan, criança vietnamita de 8 anos de idade que foi internada nos fins de abril 1966 num Centro das Vitimas de Queimaduras na Inglaterra. Foi mais uma criança, entre as inúmeras vitimas das explosões praticadas pelas forças de ocupação norte-americanas no Vietnam.



Hoje estou escrevendo
para o mundo
não importa se repartido 
ou unificado.

Hoje estou escrevendo
para o mundo
colônia ou não colônia
e de qualquer bandeira
porque hoje sou um pouco
de cada povo
de cada bandeira um traço
uma estrofe de cada Marselhesa.

Hoje estou escrevendo
para o mundo
enquanto metralho os invasores
e o homem simples pede silêncio
para que haja paz.

Há muito sangue
se misturando com arroz e lama.
Há pedaços de corpos
e de armas perdidas que não trazem
identidades nem etiquetas.
Os gritos de dores
se misturam aos gritos de revolta
e em todos os cantos
as sirenes dos socorros
fazem parte de uns concertos
que não trazem partituras.

Hoje os pães
não foram repartidos 
porque faltaram bocas.
Hoje os filhos
ficaram sem abênçãos.
Hoje ninguém tem tempo
para amar
nem para olhar estrelas.

Hoje estou escrevendo
para o mundo
mas não imploro paz
por estes versos,
porque o céu ainda é azul
e o mato é verde
e as aves ainda
não deixaram de cantar.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Harvey: A univesidade como espaço de luta





Philip Stalhandske – Entrevista especial com David Harvey


Philip Stalhandske, do jornal sueco Lundagård, entrevistou David Harvey durante sua recente visita à Universidade de Lund. Um Harvey decepcionado pela falta de um movimento estudantil radical: “Acho que os estudantes têm que se auto-organizar”.

David Harvey descreve o segundo volume d’O capital de Karl Marx como “o livro mais chato que já escrito”. Sua obra teórica, uma introdução um pouco mais interessante, começou com uma reflexão sobre os aspectos contraditórios do capitalismo, cujo resultado é o livro Dezessete contradições e o fim do capitalismo (Boitempo, no prelo).

Depois de um dia no qual apresentou seu livro em um auditório lotado e fez parte da banca de uma tese, Lundagård se reúne com um David Harvey ligeiramente cansado no Grand Hotel de Lund.

O senhor afirmou em sua apresentação que “os estudantes endividados não protestam”. Por que pensa dessa forma e quem o senhor acredita que se beneficia disso?

Bem, trata-se de uma afirmação geral, não tenho provas empíricas. Mas é certo que os donos de moradias que estão endividados se mostram politicamente ativos, seguindo um rumo mais reacionário. Acredito que é bastante notável que parte do aumento das matrículas, que provocou no início a indignação estudantil e sua reação (na Grã-Bretanha), não tenha gerado um movimento estudantil durável. Minha conclusão, que tem muito de conjectura e muito de bem informada, é que o endividamento que está dominando o corpo estudantil tem sido, para começar, aceito, e que ao mesmo tempo é algo que vai manter as pessoas em uma situação de servas de suas dívidas durante uma considerável parte de sua vida.

O senhor pensa então que esse endividamento criou ou criará um corpo estudantil mais reacionário?

Não sei se criará um corpo estudantil mais reacionário. Desde já, não desencadeou o grau de ativismo que eu esperava que fosse produzido. Do mesmo modo, na Grã-Bretanha, a imposição das taxas de matrícula não geraram uma campanha a longo prazo de ampla agitação em prol da suspensão dessas taxas. Penso que, se neste caso tivesse havido uma agitação massiva, teria sido muito difícil para o Partido Trabalhista não ter dado seu respaldo à abolição das taxas. Acredito, de novo, que faz parte dessa aquiescência a aceitação da mercantilização da educação superior, à qual eu acredito que deveria se ter resistido com mais contundência.

O senhor mencionou a importância de fazer a informação chegar e de que “poderia ser que tivéssemos um movimento em nossas mãos” se essa informação tivesse uma ampla difusão. Qual deveria ser o método para isso e a quem ela deveria se dirigir?

Acho que os próprios estudantes têm que se auto-organizar e há sinais disso – pequenos grupos de estudantes que tentam reiteradamente gerar um movimento. Mas minha impressão é de que enfrentam uma enorme indiferença por parte da grande massa do corpo estudantil.

Mas a informação bastará ou existe uma “necessidade”, se é que esta é a palavra correta, de se empurrar ainda mais a população antes de se formar um movimento?

Há certas condições necessárias para que um movimento surja. Uma condição necessária, que eu acredito que a liderança de esquerda não cumpre, consiste em uma certa visão das alternativas. Muita gente perguntará: “Onde está a alternativa?” e “Que tipo de visão o senhor tem?”. Agora, oferecer alguma visão de algum tipo é um requisito prévio muito importante para qualquer movimento, mas isso não garante um movimento.

Minha visão dos processos de mudança social é de que precisa de mudanças simultâneas em muitas dimensões – entre elas, de nossas concepções mentais do mundo. E nossas concepções mentais do mundo se viram encurraladas pela forma como a atividade de oposição se estruturou. Se você quer denunciar a discriminação, tem que mostrar o prejuízo e a intencionalidade. A política de vitimização não é uma boa política de solidariedade. As vítimas podem se apresentar e pode ser que algumas contem um dramalhão qualquer que baste para conseguir compensações ou remédios. Mas não se faz nada para a grande massa da população, de modo que a história do dramalhão se converte na principal forma de política ou o remédio de alguns males.

O que me parece que a esquerda não entende é que ela está sendo encurralada nessa classe de oposição – o que, de fato, a torna bastante impotente quando se fala de movimentos solidários de massas. Há uma luta por encontrar formas de expressar uma oposição massiva a um sistema que formulou uma política na qual as únicas possibilidades consistem nesse tipo de política do vitimismo, o que não levará a nenhuma mudança radical. Uma vez que entendamos a sofisticação do encurralamento neoliberal dessa maneira, temos que aprender formas de transpô-lo, mas não acredito que tenhamos aprendido isso até este momento.

O contra-argumento mais comum por parte da esquerda em relação ao tipo de política que o senhor defende é que essa solidariedade humanitária é comumente destinada aos homens brancos.

Acredito que haja sólidas razões para sermos antirracistas e levarmos muito a sério as políticas de gênero. A dificuldade está no fato de que se você não presta atenção ao modo como o “motor econômico” do capitalismo atinge as pessoas, está perdendo boa parte do que é mais importante. Por exemplo, pode ser que haja quatro ou seis milhões de pessoas nos Estados Unidos que perderam suas casas, e um montante desproporcional das mesmas é imigrante, ou de comunidades afro-americanas, ou mulheres. Mas o impulso real que levou ao crack não pode ser explicado analisando raça e gênero. Suas repercussões se infiltraram na raça e no gênero, mas suas origens não.

Quais são as possibilidades das universidades enquanto espaços de luta?

Há pessoas que às vezes me dizem: “Você está aí metido no mundo acadêmico” ou “você precisa ir a uma siderúrgica”, ou algo parecido. Bem, da mesma maneira que em uma siderúrgica você precisa de trabalhadores do ferro que possam operar equipamentos, também precisa de gente que mantenha espaços abertos dentro da universidade para esse tipo de produção contra-hegemônica. E isso requer muito esforço, muito trabalho e muito compromisso.


(https://blogdaboitempo.com.br/2014/06/09/harvey-a-univesidade-como-espaco-de-luta/)


FONTE: Controvérsia

domingo, 1 de maio de 2016

Retrato do golpe


Por Osvaldo Russo 


O mundo está perplexo diante do golpe de Estado em curso no Brasil, onde forças políticas de direita, PSDB à frente, derrotadas nas urnas em 2014, juntaram-se a conspiradores do PMDB, fascistas, obscurantistas, oportunistas e suspeitos de corrupção para afastar, de forma ilegal e imoral, uma presidente da República honesta, eleita democraticamente por 54 milhões de votos, que não cometeu qualquer crime.

A comunidade internacional e o mundo jurídico não conseguem compreender e consideram inaceitável um réu mundialmente desmoralizado, acusado de corrupção e outros crimes, ser permitido presidir um processo de impeachment sem crime de responsabilidade, sob o olhar contemplativo do Supremo Tribunal Federal, que não julga o seu afastamento pedido há mais de 100 dias pelo Procurador Geral da República.

Nesta semana, mais de 500 juízes, desembargadores procuradores, promotores, defensores públicos e advogados assinaram Manifesto pela Democracia entregue ao Senado Federal, recomendando o voto dos senadores contra o impeachment da presidente da República por considerar não atendidas as condições legais de crime de responsabilidade previstas na Constituição Federal.

Segundo o manifesto, “a edição de decretos de crédito suplementar para remanejar limites de gastos em determinadas políticas públicas autorizados em lei, e os atrasos nos repasses de subsídios da União a bancos públicos para cobrir gastos dessas instituições com empréstimos realizados a terceiros por meio de programas do governo são, ambos, procedimentos embasados em lei formal (vez que a Lei 13.115/2015 os ratificou, posteriormente, com a ampliação da meta fiscal), pareceres jurídicos e entendimentos do TCU, que sempre considerou tais medidas legais, até o final do ano de 2015, quando houve mudança de entendimento do referido tribunal”. E registra ainda que os fatos imputados à presidente da República foram também praticados anteriormente por outros Chefes do Poder Executivo, federal e estadual.

É isso que também proclama outro manifesto assinado por 8 mil juristas, advogados e professores de Direito e a Associação Latino-Americana de Juízes do Trabalho que denuncia o golpe parlamentar no Brasil afirmando que “a presidente da República não incorreu em nenhuma conduta correspondente a crime de responsabilidade".

O mundo do trabalho e da cultura, os partidos políticos de esquerda (PT, PCdoB, PDT, PSOL e PCO), centrais sindicais (CUT, CTB e Intersindical), movimentos sociais (MST, Contag, Fetraf, MTST, negros, mulheres e LGBT), artistas, intelectuais, advogados, professores, estudantes e parcela cada vez maiores da população se manifestam contra a quebra da ordem constitucional. Uns pedem novas eleições, outros a permanência legal da presidente Dilma Rousseff e quase ninguém apoia o vice Michel Temer, que notoriamente lidera a conspiração pela deposição da presidente.

Além do retrocesso político vislumbra-se, se o golpe sair vitorioso, um cavalo de pau nas políticas econômica, externa e social, com a adoção de uma agenda neoliberal agressiva conectada com os países desenvolvidos, à frente os EUA, em detrimento dos segmentos sociais mais pobres e excluídos da população brasileira e das relações diplomáticas e comerciais com os países da América Latina, da África e dos BRICS.

Essa agenda, nociva à soberania e ao desenvolvimento nacional, colocará em pauta o retorno das privatizações, inclusive da Petrobras, com a entrega da exploração do pré-sal a empresas estrangeiras. A Lava Jato, sob o pretexto de investigar a corrupção, violou o Estado de Direito Democrático, com grampos, prisões e conduções coercitivas ilegais, contribuindo para enfraquecer a Petrobras e empresas brasileiras de engenharia.

A crise política decorre da não aceitação pelo PSDB e seus aliados do resultado soberano das urnas que derrotou o seu candidato a presidente. Isso é um precedente grave para a democracia brasileira, a paz social e o desenvolvimento nacional. Ao jogarem no lixo o voto popular, amanhã podem rasgar o nosso título eleitoral e, em seguida, revogarem os direitos sociais e depredarem o patrimônio nacional. Por fim, chamam a polícia para garantir a ordem. Só muito tempo depois, a gente recupera a democracia, mas, nessa altura, muitos já terão ido.

O espetáculo de horror ocorrido na Câmara dos Deputados, que afrontou a sociedade brasileira e escandalizou a imprensa internacional, na essência, não será muito diferente no Senado Federal. É um jogo de cartas marcadas contra o mandato constitucional e democrático da presidente da República. Com o povo nas ruas, no entanto, é uma oportunidade para o campo popular, democrático e de esquerda construir uma nova frente política e social com uma nova plataforma programática para enfrentar e superar a crise e impedir o golpe e o retrocesso político e social.



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