Por Aluizio Moreira
Proibida de funcionar pela
ditadura militar, a União Nacional dos Estudantes (UNE) teve sua sede incendiada no Rio de
Janeiro, logo após o golpe de 1964.
Estudantes sob cerco policial-militar em Ibiuna |
Descoberto antes de sua
realização, 250 militares do Exército cercaram o local e fizeram cerca de 1.000
estudantes prisioneiros e levados
para o presidio Tiradentes para
interrogatórios. Uma publicação do DOPS sobre a “Operação Ibiúna”, registra a
prisão de 695 estudantes.
Desses 1.000 prisioneiros cerca
de 70 permaneceram presos considerados líderes do movimento. Entre os presos, segundo os jornais da
época, 22 estudantes pernambucanos. No entanto nos Registros do DOPS sobre a
repressão ao Congresso da UNE, encontramos um total de 34 estudantes do Recife,
sendo 23 da UFPE, 2 da UPE, 7 da UNICAP e 2 da Universidade Rural.
Da relação dos universitários
oriundos de Pernambuco, constam:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
PERNAMBUCO – UFPE (23) : Ademir Alves de
Melo, Aírton José de Lima, Antônio Batista da Silva, Antônio Fábio Bonavides Maia, Cândido Pinto
de Melo, Carmen Castro Chaves, Francisco Flávio Modesto de Andrade, Geruza
Jenner Rosas, Guilhermina de Souza
Beserra, Irineu de Holanda, José Luiz Brasileiro de Oliveira, José Tomaz da
Silva Neto, Luciano Correia de Araújo,
Manoel Fernando, Marcos Antônio Tavares Marinho, Marcos José Burle, Maria
Henrique da Silva, Maria Luzinete de Lima, Maria Teresa Costa Sales de Melo,
Miguel Ramos Rodrigues, Netovitch Maia
Duarte, Ranusia Alves Rodrigues, Vera Maria Martins de Albuquerque
FACULDADE DE CIENCIAS MÉDICAS – UPE
(2): Francisco de Sales Gadelha de Oliveira, Paulo Santos Carneiro.
UNIVERSIDADE CATOLICA DE
PERNAMBUCO – UNICAP (7): Alberto Romeu
Gouveia Leite, Hugo Farias Ramos, José Delgado Noblat, Luiz Augusto Pontual,
Marcus Vinícius Oliveira de Athayde, Paulo Henrique Maciel, Romildo Rangel do
Rego Barros
UNIVERSIDADE RURAL DE PERNAMBUCO
(2): Juares José Gomes, Valmir Costa.
A “Operação Ibiúna”, publicação do DOPS, no
inicio do documento sob o titulo “Plano de Ação”, registra-se que
O “S.S.” do
Departamento de Ordem Politica e Social de São Paulo, conseguiu desde a morte
do estudante Edson Luiz na Guanabara, preciosos informes demonstrando que o
Movimento Estudantil era utilizado por grupos da esquerda revolucionária, para
atingir proporções QWQ representassem uma contribuição real ao Movimento
Revolucionário, desde que conduzido dialeticamente até sua própria ampliação e
consequente absorção ao movimento geral.
Com a aproximação do XXX Congresso da extinta UNE, esperavam os grupos de
esquerda o desenvolvimento consequente
do Movimento Estudantil e sua condução à absorção num movimento mais amplo e
radical, o chamado "Movimento Proletário de Libertação.
Publicação do DOPS "Operação Ibiúna" |
Além de jornalistas que se encontravam no local para cobertura do Congresso, foram presos para averiguações um motorista profissional e Domingos Simões, proprietário do sitio, onde se realizaria o Congresso.
Entre as lideranças do Movimento
Estudantil, foram presos Franklin Martins, Vladimir Palmeira, José Dirceu, Luis
Travassos.
ooo
Em Pernambuco, no dia 14.10,
estudantes das Universidades públicas e particulares nos reunimos no hall do
Bloco A, da Unicap para protestarmos contra a prisão dos estudantes em
Ibiúna. Tínhamos instalado um microfone para chamamento dos alunos, ao som de “Pra não dizer que não falei de flores”
do Vandré. Um pelotão da cavalaria, chegou e prostou-se junto ao portão de
entrada da Universidade na Rua do Príncipe, que mantínhamos fechado. O Magnifico Reitor Padre
Freitas, foi até ao portão, confabulou com o que parecia comandar a cavalaria
que em seguida deixou o local. Não por mera coincidência, dias depois do fato,
o Padre Freitas não era mais Reitor da UNICAP.
Após alguns discursos de
estudantes que se revezavam, saímos em passeata pelas ruas do centro do Recife,
protestando contra a prisão dos colegas em Ibiúna, onde se realizaria o XXXº
Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Houve repressão de policiais
na rua da Concórdia, perseguições, mas todos voltamos ilesos para a Unicap,
onde nos dispersamos.
000
Cinco meses depois, em fins de
fevereiro de 1969, Costa e Silva, à frente do Governo militar, assinou o
Decreto Nº 477 pelo qual se punia professores, estudantes e funcionários das
Universidades suspeitos de atividades “subversivas”. Pelo Decreto, os
estudantes eram expulsos e ficavam proibidos de cursarem qualquer universidade
por 3 anos. Só que o afastamento por 3 anos, implicava em jubilamento
(desligamento) da Instituição de Ensino.
A fim de evitar ser alcançado
pelo 477, não matriculei-me no Curso de Jornalismo da UNICAP em 1969. Como o
fato de um aluno não matricular-se no período era tratado como abandono de
Curso, criando-se a possibilidade de matricula após abandono, pensei em
afastar-me por dois semestres e retornar no seguinte, sem correr o risco de ser
jubilado. Fui bastante otimista quanto ao meu retorno.
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