sábado, 20 de julho de 2019

Como não nos indignarmos?




Por Aluizio Moreira




Se observarmos o cotidiano da mídia brasileira, constatamos uma realidade que a maioria da população desconhece.

Verificamos que há um Brasil dos que se omitem, dos que se calam, em nome da manutenção dos seus privilégios, em nome de uma pseudo neutralidade política, ou de defesa intransigente de um ou outro partido político no poder. E há um outro Brasil : uma parcela bem significativa da população de pobres, de explorados, de desempregados, de excluídos, de sem tetos, de sem terras, de sem emprego, que parecem não existir nesse país, que não têm como se manifestar.

A crise do sistema capitalista que atingiu a curva ascendente em 2007/2008 e continua ainda sabe-se lá por quanto tempo, fez surgir uma nova forma de expressão da população que tem protagonizado movimentos de rebeldia e de indignação em grande número de países da Europa e Américas. Tal movimento, embora se manifeste esporadicamente aqui e ali em nosso país, não atingiu ainda as dimensões que deveria ter atingido, dadas as situações de calamidades, de impunidade, de total omissão dos poderes públicos, jurídicos, que conscientemente adotam ações (ou omissões) a serviço de uma elite, dos grandes grupos, sejam eles nacionais ou estrangeiros.  

Diante da grande mídia monopolizadora do noticiário nacional, surgem alternativas na imprensa virtual, nos blogs, nas redes sociais, que sem copyright, sem reservas de direitos, apesar de tudo divulgam e condenam as injustiças cometidas pelos reprodutores do sistema. Para Manuel Castells, Thomas Coutrot e Stephane Hessel, essas mobilizações reforçam e apontam para a um “retorno às fontes da democracia [que] significa a intervenção do povo” (Thomas Coutrot). Como necessidade do resgate da democracia no seu significado mais autêntico, sem o falseamento ou inversão ideológica do termo pela classe política dominante hoje.

Como cruzarmos os braços diante duplo crime (contra a natureza e contra a população local) da Hidrelétrica Belo Monte? Como ficarmos indiferentes diante do massacre ocorrido contra os indígenas, da criminalização contra os trabalhadores rurais, contra a população negra, contra o LGTB, contra os sem teto? 

Como não protestarmos contra o Novo Código Florestal que segundo geógrafos e ecologistas só beneficiam o latifúndio e o agronegócio? Como não nos mobilizarmos contra a ausência de políticas públicas, sobretudo para os jovens afrodescentes no país? Como não nos indignarmos contra a violência policial que vitimam os estudantes que defendem uma educação para todos? Como não nos levantarmos contra as impunidades que acobertam assassinatos de trabalhadores, lideres camponeses, parlamentares que se posicionam contra a injustiça? 

Como não nos indignarmos contra a impunidade dos parlamentares corruptos, das negociatas quando praticam o mau uso do dinheiro público, comprando votos para apoio de partidos para aprovação de suas propostas antipopulares do governo, enquanto falta verbas para a educação, a saúde, a segurança, o sistema de transporte coletivo? 

Não adianta autoridades governamentais ou não-governamentais  declararem na midia, que reconhecem a justeza das reivindicações do nosso povo, pois as práticas políticas (e pasmem!) e até juridicas, demonstram total descaso e descompromisso com nossa população.  

Afinal, a fase de governo representativo, chegou ao seu esgotamento. A democracia burguesa que alimentamos pelo voto,  não é a democracia que queremos.

Chega a ser irônico quando a politica do Brasil "ame-o ou deixe-o" de ontem, lembra a politica do "pátria amada Brasil". de hoje.



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