O ensino Superior e o
Especialista
Para
nós, o ensino superior não deve orientar/formar o futuro profissional nas
limitações do aprender fazer, mas fundamentalmente aprender a pensar, criar
condições para que o futuro profissional não seja um mero repetidor dos
pensamentos dos outros, nem tampouco um simples executor, que mecanicamente
seja capaz de montar uma engrenagem qualquer.
Se
a ciência não avança pela espontaneidade, nem pela inspiração, o homem não
existe no vazio, desvinculado da natureza e da sociedade. A ausência de uma
reflexão crítica que implique necessariamente no não entendimento do mundo,
impede-o de ultrapassar os particularismos para atingir o universal. Torna-se
prisioneiro do reducionismo, perde a visão da totalidade e de si mesmo como
parte dessa totalidade.
O
homem como “um ser no mundo e com o mundo”, deve saber refletir criticamente
sobre a realidade histórica na qual está inserido e na qual deverá exercer sua
profissão, o que implica em praticar o conhecimento como compreensão do mundo,
pressuposto para sua transformação (Cf. LUCKESI et al. 1991, p. 47-59).
Na
verdade o que prepondera no ensino superior é uma visão compartimentada das
coisas. Tudo colabora para que se perca a visão da totalidade do mundo e da
sociedade, como se fosse possível não estar no mundo nem na sociedade, ou seja,
em nenhum lugar. É como se nem um nem outro existisse. Procura-se a todo custo
mostrar que a totalidade é uma criação da mente, que a única coisa real é a
parte. Mas as partes não existem sem o todo. Ou seja, uma das condições da
existência das partes, é ser parte de um todo. Senão não seriam partes.
Essa
questão de ver as coisas compartimentadas, atomizadas, é fruto de toda uma
concepção do mundo que herdamos culturalmente e que a escola reforçará. Não
somos conduzidos/despertados para ver as coisas de forma sistêmica, interativa,
numa multiplicidade de ações recíprocas e em constante movimento e
transformação. Não fomos orientados no sentido de entendermos os objetos e
fenômenos nas suas diversidades e contradições, que formam uma unidade apesar
das diversidades e contradições.
Edgar
Morin, no livro “A cabeça bem-feita:
repensar a reforma, reformar o pensamento”, já na sua 18ª edição
brasileira, analisando a situação da educação na França, comenta que na escola,
na universidade é comum docentes e discentes tratarem as disciplinas como
campos estanques, sem muita ou nenhuma ligação uma com as outras. Para ele, no
entanto, o caráter multidimensional, nos permite hoje admitir que, sem
desconhecermos as suas particularidades, há uma convergência de objetos do
conhecimento que os aproximam, constituindo um todo articulado: Geografia,
História, Economia, Sociologia, Direito, Ecologia, Antropologia, Cosmologia,
Psicologia. (MORIN, 2010, passim).
Considera,
não muito diferentemente do que constatamos, que os maiores problemas que se
enfrenta no ensino é a hiperespecialização
e o acúmulo meramente quantitativo de
informações.
A
“hiperespecialização” é considerada
como um verdadeiro obstáculo ao claro entendimento dos fatos e fenômenos, pois
não permite que se tenha uma visão global das coisas, na medida em que
prevalece os particularismos, a fragmentação das realidades e dos problemas.
Essa
forma compartimentada de tratar os fatos e fenômenos
atrofia as possibilidades de compreensão e de reflexão, eliminando assim
as oportunidades de um julgamento
corretivo ou de uma visão a longo prazo. Sua insuficiência para tratar nossos problemas mais graves
constitui um do mais graves problemas que enfrentamos. (MORIN, 2010,14)
Decorrente
dessa “hiperespecialização”, e como parte dela, privilegia-se a mentalidade
reducionista em que o saber se limita ao saber especializado, contraponto do
saber globalizante, tornando o individuo incapaz de relacionar a parte ao todo,
ou de apenas considerar as partes. Citando Pascal:
Sendo todas as coisas causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes,
mediatas e imediatas, e todas elas mantidas por um elo natural e insensível,
que interliga as mais distantes e as mais diferentes, considero impossível
conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo sem
conhecer, particularmente, as partes. (PASCAL apud MORIN, 2010, p. 25)
Outro
comportamento muito vulgarizado nas escolas e nos cursos superiores, e
igualmente criticado por Morin, é a prática da acumulação de informações, do
conhecer, ou seja, “a cabeça cheia”,
sem qualquer método que organize, que sistematize o pensamento, sem quaisquer reflexões
críticas.
Evidente
que a função da educação, do ensino, não é transformar o estudante num
depositário de dados e informações dispostos para serem utilizados a qualquer
momento como arquivo à espera de ser acionado.
É
fundamental que a construção do saber se constitua na resolução de problemas,
no desenvolvimento da reflexão crítica, na reorganização do pensamento, diante
das ideias, das teorias, da critica, dos discursos já elaborados por terceiros.
Para
Antonio Joaquim Severino no que refere à educação universitária, há outro
aspecto que raramente é enfrentado
pela comunidade acadêmica. Diz o autor:
A educação universitária tem um outro objetivo, tão relevante quanto o
da formação cientifica: é o objetivo da formação política da juventude. Com
efeito cabe a ela desenvolver a formação política, mediante uma conscientização
crítica dos aspectos políticos, econômicos e sociais da realidade histórica em
que ela se encontra inserida. A educação superior brasileira enfrenta esta
questão fundamental: formar politicamente uma juventude pela criação de uma
nova consciência social capaz de mobilizá-la, não só para uma atuação concreta
e uma participação política no processo histórico real, mas também para um
compromisso mais radical de se construir um novo modelo de civilização humana
para o Brasil. (SEVERINO, 1996, p. 17)
Com
certeza algum leitor paladino da neutralidade do cientista, irá se contrapor a
essa afirmativa, alegando que não temos que “misturar” conhecimento científico
com política (1). Mas o cientista é também cidadão. E como tal, deve ter uma
consciência clara dos problemas enfrentados pela sociedade, que o atinge não só
como cidadão, mas como homem de ciência e como trabalhador.
Não
é outra a conclusão de Álvaro Vieira Pinto (1985, p. 535):
A consciência do pesquisador científico alcança o mais alto nível da sua
percepção de si ao fazer-se deliberadamente uma consciência política. Para essa
finalidade não lhe basta contribuir com as descobertas que arranca do seio da
natureza, e que irão beneficiar o homem; é preciso que contribua igualmente,
pelos meios políticos que estejam ao seu dispor ou que invente, para humanizar
a sociedade, participando da luta pela solução dos seus problemas, pela
supressão das contradições sanáveis, as que opõem os homens uns contra os
outros.
Como
cidadão, o homem de ciência “não pode nem prescindir ou desinteressar-se da
sociedade nem aceitá-la passivamente tal qual existe ao seu redor, com os
conflitos, imperfeições e injustiças que nela se encontram [pois] “dado o papel
mediador representado pela sociedade, e a função de que está incumbido pela
comunidade, tem por objetivo mediato a transformação da sociedade e a
humanização da existência” (ibid., p. 534).
Para
os autores de “Fazer universidade: uma
proposta metodológica”,
A universidade que não toma a si esta tarefa de refletir criticamente e
de maneira continuada sobre o momento histórico em que ela vive, sobre o
projeto de sua comunidade, não está realizando sua essência, sua característica
que a especifica como tal crítica. Isto nos quer dizer que a universidade é,
por excelência, razão concretizada, inteligência institucionalizada, daí ser,
por natureza, crítica, porque a razão é eminentemente crítica.” (LUCKESI et al.
1991, p.41)
Mas
o que fazemos nós, professores universitários, para colaborarmos com o
desenvolvimento da consciência crítica dos nossos educandos, futuros
profissionais?
Com
algumas exceções, na medida em que nos limitamos a apenas transmitir
conhecimentos como se isso fosse o essencial no processo ensino-aprendizagem,
falhamos enquanto educadores, sobretudo porque não contribuímos para
desenvolver nos nossos alunos, a capacidade de pensar. Na verdade transmitimos
um mundo já pensado, já interpretado, pronto para uso e consumo:
história interpretada, sociedade organizada, normas estabelecidas de moral,
leis de direitos codificados, religiões estruturadas, classificação e virtudes
dos alimentos especificados para cada idade, regulamentos para dirigir carro,
programas escolares, tudo pronto. Mas a geração de hoje não pode resignar-se a
um conhecer o mundo de segunda mão, não pode julgar-se dispensada de pensar
naquilo que já pensaram por ela e definiram sem consultá-la. (RUIZ, 2006, p.
90-91)
Ou
seja, não abrimos espaços para que nossos estudantes rediscutam a história,
repensem a sociedade, reinterpretem a moral, reavaliem as leis. . . apenas lhes reincorporamos nossos
saberes como verdades eternas e
indiscutíveis.
Conclusão
A
invenção da universidade foi o resultado da divisão do trabalho social, em que
o docente, consciente ou inconscientemente, assume um papel importante no
processo de reprodução e dominação ideológica, como forma de manutenção da
estrutura sócio-econômica da sociedade, o que não impede que exista uma
intelectualidade ligada à educação, que desempenhe uma ação transformadora.
Não
é demais recordar que desde sua criação na Idade Média, o ensino superior se
instituiu com o desempenho de funções específicas e diversificadas, ora como
centro de difusão do pensamento filosófico-religioso, ora como centro
aglutinador das discussões científicas, ora como instituição voltada para o
ensino profissionalizante. Para além dessas múltiplas funções, registramos como
a universidade no século XVIII passou a ser disputada pela Igreja e pelo Estado,
como forma de preservação do poder espiritual de um lado e da afirmação do
poder secular do outro, na medida em que surgem contestações dos iluministas ao
caráter divino do poder político herdado da Idade Média.
Soares
Junior (2006, p.14) diagnostica:
A estrutura do ensino universitário, via de regra, e inquisitiva e
imobilizadora, fruto da própria visão do mundo, já que coloca o
professor-educador como o detentor das verdades necessárias ao ensino
“adequado”, cuja única possibilidade de espelho são seus pares, ou seja, os
iguais a ele, os que, na mesma posição, detêm o poder do saber. E, no outro
polo, encontra-se o aluno, que lá está tal qual uma tabula rasa, uma vasilha,
um recipiente, pronto para engolir, para se deixar encher de conhecimentos
(verdades perfeitas e acabadas), para permitir a ocupação de sua mente pelos
axiomas (valores) do sábio, sem nada poder problematizar.
Visão
docente esta de fundo elitista, autoritária e conservadora, na qual muitos
professores acreditam, que por serem professores, detêm o monopólio do saber
diante dos alunos que nada sabem.
O
que ouvimos mais frequentemente no meio universitário, é o discurso da
especialização/profissionalização. É o novo fetiche! Apresentado como exigência
para se enfrentar um mundo do trabalho cada vez mais competitivo, a
profissionalização virou artigo de consumo. E também de venda. A especialização
e a profissionalização estariam na razão direta dos domínios dos conteúdos
repassados em sala de aula, das habilidades específicas, o que garantiria ao
futuro profissional, não só uma vaga no mercado de trabalho, mas sua ascensão
no exercício da sua atividade. Daí a ênfase, os esforços despendidos pelos
cursos superiores na formação do profissional “executor”. Para o profissional
criador/inovador não teria espaço na sociedade.
Esta
discussão da institucionalização do ensino nas escolas e universidades, entre a
formação humanística e a formação profissional, embora seja uma questão antiga,
não perdeu sua atualidade. Inclusive, em nossos dias, tendências do pensamento
pedagógico, defendem com “unhas e dentes” a criação de instituições de ensino
que enfatizem os dois tipos de educação: uma voltada para a formação
humanística, outra dedicada à formação profissional. Mas até que ponto essas
forma de educação especializada não
seria uma forma um tanto sutil de eternizar e aprofundar as diferenças sociais?
Onde a igualdade de oportunidade, se já decidimos previamente que alguns devem
obter conhecimento humanista e científico-tecnológico, e que outros devem se contentar
com um conhecimento profissionalizante? Reservaremos para os primeiros a
perspectiva da formação do homem integral, para os segundos, não? O que dizer
da tendência hoje verificada na criação de cursos superiores voltados para a
formação, prioritariamente, do tipo do profissional exigido pelo mercado?
Passada a euforia inicial, a demanda diminui e a oferta também: os cursos
passam a funcionar precariamente ou fecham.
(2)
Ao
nosso ver, a especialização nas entidades de ensino é uma propensão que acontece
vetorialmente na horizontal como na vertical, ou seja, no interior das
instituições como fora delas.
Mas
existe uma outra questão em relação ao ensino-aprendizagem que é importante
discutirmos, sendo necessário desconstruir todo um conjunto de ideias que
durante séculos tem preponderado nas escolas e cursos superiores: a aceitação de que a tarefa da escola
ou da universidade, e particularmente dos professores, é o de simplesmente
transmitir conhecimento (3) como esse conhecimento não necessitasse ser
repensado, como se não fosse possível levantar dúvidas sobre o saber
institucionalizado e tido como incontestável.
Consideremos:
uma observação que deverá ser feita, é a postura que costumamos assumir diante
das contradições, das especificidades das coisas. Não fomos orientados no
sentido de entendermos os objetos e fenômenos nas suas diversidades e
contradições; diversidades e contradições que formam uma unidade apesar das
diversidades e contradições. Desconhecemos um dos princípios básicos da dialética: o principio das contradições
existentes em todas as coisas e de seus inter-relacionamentos.
Todas
essas reflexões acerca da educação, do ensino, do conhecimento, das ciências
naturais e humanas são fundamentalmente estudos da condição humana (do aprender
viver, da formação do cidadão). Condição humana cuja reforma do pensamento “é
uma necessidade democrática fundamental: formar cidadãos capazes de enfrentar
os problemas de sua época” [. . .]
como “condição sine qua non para
sairmos de nossa barbárie.” (MORIN, 2010, p.103-104)
A
condição humana é natural e metanatural. O homo
economicus é também o homo faber e
o homo philosophicus. Não se conhece
o homem, estudando-o separado do cosmos, do biológico, do social, do cultural,
do espiritual.
A
grande contradição existente é que enquanto se procura tratar os saberes cada
vez mais fragmentados, mais compartimentados, a própria realidade da qual
fazemos parte, é, ela própria, multidimensional.
As
consequências dessas formas de ver e de tratar o ensino superior, são graves: porque se passa a admitir que não
seja necessário criar um espaço para a interdisciplinaridade, que permita o
aluno ver o mundo, a sociedade sob a ótica de outras áreas do conhecimento e
seus inter-relacionamentos; cria-se a ilusão
de uma atividade descompromissada e neutra em relação às forças sociais
contraditórias e conflituosas que integram a sociedade; elimina-se o caráter social do conhecimento, como se este só
existisse em função do individuo e não da sociedade; ignora-se o caráter dinâmico e histórico da ciência, acreditando-a
imutável e infalível; defende-se que
basta o aluno conhecer, mas não pensar, pois este pensar seria prerrogativa das
mentes “iluminadas” e “brilhantes”, exclusividade dos que exercem a docência.
Por
fim, é necessário que as escolas, as universidades, passem a reservar espaços
para formação continuada do seu quadro de docentes, dentro daquilo que exige
sua atividade na área da educação, harmonizando a competência intelectual e a competência
pedagógica, o que alias, nem sempre acontece.
Notas
1)
Para reforçar a importância da política, mesmo para o homem comum, é
aconselhável, para quem ainda não conhece, ler “O analfabeto político” do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht,
forçado a exilar-se em diversos países para livrar-se da perseguição nazista.
2)
Aconteceu aqui no Recife com os Cursos de Turismo: algumas Faculdades
ofereciam-no em três turnos diferentes, hoje não mais que um turno apenas.
Faculdades de Formação de Professores que deixaram de oferecer cursos de
Licenciatura em Geografia, História, Ciências Biológicas. Algumas Instituições
de Ensino Superior investem hoje em cursos tecnológicos de graduação de menor
duração.
3)
É exatamente neste ponto, que para muitos se encontra a diferença entre
professores e educadores. Os professores seriam profissionais da educação que
limitariam suas atividades como transmissor de conhecimentos, transferindo
conteúdos. O aluno, neste caso, na concepção de Edgar Morin, teria “uma cabeça bem cheia”. Os educadores, também profissionais da
educação, se preocupariam não só em difundir conhecimentos, mas ao mesmo tempo
procurariam contribuir para a formação integral da pessoa, como ser humano,
como cidadão, em interação com a sociedade, com o mundo.
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