sábado, 3 de setembro de 2011

Bem-aventuranças de um educador

Por  Pe.José Ivan Pimenta Teófilo (*)

Felizes os educadores que tomam consciência do
conflito social em que estão metidos e nele tomam partido 
pelo projeto social dos empobrecidos, 
porque assim contribuirão para a transformação da sociedade;

Infelizes os educadores que imaginam que a ação educativa
é politicamente neutra porque acabam transformando a educação
num instrumento de ocultação das contradições da realidade social
e de reprodução da ideologia e das relações sociais vigentes; 

Felizes os educadores que sabem articular o saber sistemático
com o saber popular,  porque ajudarão as classes populares 
a afirmar sua identidade cultural;

Infelizes os educadores que transmitem mecanicamente 
um saber elitista, porque contribuem para reforçar 
a marginalização e a dominação cultural do povo;

Felizes os educadores que aprendem a dialogar com os educandos,
porque resgatam a comunicação pedagógica criadora no processo educativo;

Infelizes os educadores que impedem os educandos e dizer sua palavra, 
porque estão reproduzindo a educação do colonizador;

Felizes os educadores que se tornam competentes
em suas “disciplinas” ensinando a “desopacizar” ideologicamente
seus conteúdos,  porque ajudarão os educandos a se apropriarem do saber
como ferramenta de luta na defesa e afirmação de sua dignidade;

Infelizes os educadores que não se esforçam para ser 
criticamente competentes, porque enfraquecerão mais ainda 
o poder cultural das massas oprimidas 
reforçando o autoritarismo cultural das classes dominantes;

Felizes os educadores que procuram se organizar 
para conquistar melhores salários e melhores condições de ensino 
porque estão ajudando a conquistar a educação a que o povo tem direito;

Infelizes os educadores que atuam isoladamente, 
buscando apenas seus próprios interesses, porque deixarão de contribuir 
para a conquista de uma escola digna; 

Felizes os educadores que iluminam sua prática
com o sonho de um futuro novo  em que as pessoas aprendam,
através de novas relações sociais, 
as lições da justiça e da solidariedade;

Infelizes os educadores que não sonham, 
porque não terão a coragem de se comprometer 
na luta criadora de uma nova sociedade 
a partir de sua prática educativa;

Felizes os educadores que aprendem a fazer da ação de cada dia 
a semente de uma nova sociedade;

Infelizes os educadores que pensam que as coisas 
só aparecerão no futuro, porque não perceberão nem farão perceber 
que o “novo” já está no meio de nós, brotando de nossas práticas 
transformadoras, solidárias com as lutas dos espoliados da terra.
___________


(*) O Pe. Ivan nasceu no Ceará, mas foi em Pernambuco que criou raízes, junto aos jovens que orientou, durante muitos anos, no colégio Salesiano. Era uma espécie de líder e "guru", para os jovens que, na década de 70, queriam mudar o mundo. Fundou, com jovens de vários colégios, o grupo S.O.S., cuja sigla significava: Sempre Ousavamos Salvação. Foi ainda dirigente espiritual do Encontro de Jovens do Colégio Salesiano e pároco de Caetés II. Sua visão do mundo, baseada nos Evangelhos o levaram a um exílio forçado, em 1973 e a uma morte prematura, quando em 1990, seu coração não aguentou e parou de bater.

Fonte: http://fernandogoncalves.pro.br/bem-aventurancas-educacionais-10590.php

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