Por Aluízio Moreira
Antes do advento do capitalismo, alguns homens ligados à ciência, à filosofia e às artes, dedicavam-se às mais variadas atividades, simultaneamente, algumas delas sem maiores ligações entre si. Aristóteles dedicou-se à política, literatura, física, medicina, história natural, biologia e matemática; Roger Bacon, fez incursões pela física, biologia, matemática e química; Leonardo da Vinci, era pintor, escultor, arquiteto, músico, matemático, filósofo, além de se dedicar à astronomia; Copérnico exerceu a astronomia, medicina, pintura, mecânica e matemática; Galileu Galilei, dedicou-se à matemática, medicina, mecânica; Isaac Newton, estudou matemática, astronomia e foi poeta. Esta diversidade de conhecimentos e de atividades exercidas por um mesmo indivíduo se explica, antes de tudo, pelo modesto nível de desenvolvimento das sociedades da época.
Antes do advento do capitalismo, alguns homens ligados à ciência, à filosofia e às artes, dedicavam-se às mais variadas atividades, simultaneamente, algumas delas sem maiores ligações entre si. Aristóteles dedicou-se à política, literatura, física, medicina, história natural, biologia e matemática; Roger Bacon, fez incursões pela física, biologia, matemática e química; Leonardo da Vinci, era pintor, escultor, arquiteto, músico, matemático, filósofo, além de se dedicar à astronomia; Copérnico exerceu a astronomia, medicina, pintura, mecânica e matemática; Galileu Galilei, dedicou-se à matemática, medicina, mecânica; Isaac Newton, estudou matemática, astronomia e foi poeta. Esta diversidade de conhecimentos e de atividades exercidas por um mesmo indivíduo se explica, antes de tudo, pelo modesto nível de desenvolvimento das sociedades da época.
Se nós retrocedermos à Antiguidade, até Platão, verificaremos que as particularidades do conhecimento na forma que indicamos acima, não existiam nas suas singularidades: a Matemática, a Química, a Física, a Medicina, etc. Não constituíam campos específicos de conhecimento humano a História, a Geografia, o Direito, a Economia.
Segundo Fachin (2003, p. 16), deve-se a Aristóteles a primeira tentativa de classificação da ciência, e o fez dividindo-a em três grandes troncos: ciências teóricas, ciências práticas e ciências poéticas, incluindo entre as primeiras a física,matemática e metafísica, entre as segundas a ética, economia e política, reservando para as últimas “as obras produzidas pelo homem”. Como vemos, classificação abrangente demais, se compararmos com as atribuídas a Augusto Comte, na qual já aparecem como campos específicos as ciências Matemática, Astronomia, Física, Biologia, Sociologia, Química, etc. (MARCONI & LAKATOS, 2000, p. 25).
O crescimento cada vez mais acelerado das populações urbanas e o conseqüente aumento do mercado consumidor, as necessidades de elevação do nível de produtividade, de aceleramento das comunicações e dos transportes, de maior domínio sobre a natureza. . . tudo isso contribuirá de maneira irreversível, para um maior avanço das ciências. O conhecimento “enciclopédico” não será mais possível.
A ampliação dos campos dos conhecimentos científico e tecnológico, condicionada pelo desenvolvimento das forças produtivas, engendrou a necessidade objetiva de estudos cada vez mais especializados. Desse modo
O especialista concentra-se numa ciência ou mesmo, com freqüência, numa parte ínfima de uma ciência: a química dos corantes ou o estudo de determinada família de funções. Ignora o resto da ciência e o resto das ciências. A atividade analítica e a divisão parcelar do trabalho fragmentam a ciência e a própria sociedade numa poeira, numa justaposição informe de resultados. (LEFEBVRE, 1987, p. 77-78).
É verdade que essas especializações possibilitaram o progresso das ciências. Mas na mesma medida que se tornou especialista, o homem perdeu sua dimensão de homem integral, impossibilitando-o de compreender o processo geral da realidade à que pertence, uma vez que não considera a si mesmo como um “ser de relações e não só de contatos, [pois] não apenas está no mundo, mas com o mundo.” (FREIRE, 1981, p. 39). O homem na verdade, enclausurou-se no seu restrito campo de estudo e de pesquisa.
As conseqüências são observadas por Pinto (1979, p. 259):
À custa de especializar-se no estudo de certo grupo de objetos, o cientista sofre uma deformação intelectual que pode chegar a constituir-se em sério estorvo ao trabalho. Ocorre com freqüência que, por excesso de especialização, venha a sofrer de limitações do campo visual, que se estreita, só se deixando sensibilizar pelos fatos ou coisas que dizem respeito ao estudo preferido.
E complementa logo a seguir o mesmo autor:
Não se trata da natural e inevitável diversificação e divisão do trabalho científico, e sim da distorção dessa tendência salutar, com estreitamento da acuidade intelectual do homem de ciência; não só para os resultados da pesquisa em outros setores da realidade, mas sobretudo para a compreensão de ordem geral, interpretativa, filosófica que seus próprios resultados sugerem. Faz-se imprescindível o conhecimento da conexão dialética entre o objeto de estudo e o pensamento que o apreende, não apenas na formação das idéias, mas ainda na dos hábitos mentais que o primeiro determina o segundo. (Ibidem, p. 259).
Sem querermos alongar demais as citações sobre o assunto, não podemos deixar de fazer referência ao pensador católico Maritain (2) que na década de 60 do século passado já se preocupava com as conseqüências da especialização. Afirma aquele pensador:
Se concordamos em que o animal é um especialista [. . .], e especialista perfeito, já que toda sua capacidade de conhecer está limitada a executar uma função determinadíssima, haveremos de concluir que um programa de educação que aspirasse só a formar especialistas cada vez mais perfeitos em domínios cada vez mais especializados, e incapaz de dar um juízo sobre um assunto qualquer que estivesse fora da matéria de sua especialização, conduziria, sem dúvida, a uma animalização progressiva do espírito e da vida humana. (MARITAIN apud FREIRE, 1981, p. 97-98)
É evidente que o ensino superior deve se voltar para a formação daquele que irá, ao concluir a graduação, se dedicar a uma atividade profissional. No entanto há alguns problemas que surgem desta prática do professor em sala de aula, que se preocupa unicamente com a formação do profissional, do especialista.
O trabalho científico que o profissional irá exercer, está na razão direta não só das necessidades condicionadas pelo grau de desenvolvimento da sociedade, como na expectativa da criação de novas condições econômicas e sociais que destruam os obstáculos impostos à satisfação das necessidades coletivas. Só que geralmente nos cursos de graduação, o aluno não é levado a refletir sobre sua área de conhecimento, nem sobre os condicionantes sociais e políticos de sua atuação como profissional. Não existe a preocupação, por parte dos professores, com raras exceções, de provocar uma reflexão teórica, crítica, sobre a atividade que o futuro educando irá exercer na sociedade. O que existe é uma grande dissociação entre o que se ensina e a realidade objetiva. Esta é ignorada, ou quando muito, apresentada sem problemas a discutir, nem interrogações à espera de respostas.
Embora exista entre os docentes até quem defenda que é de fundamental importância formarmos não apenas especialistas mas ao mesmo tempo profissionais portadores de uma cultura geral, e que as diretrizes curriculares elaboradas pelo MEC apontem na mesma direção, na prática isso não acontece ou é desvirtuado.
Não se trata de dar uma “pincelada de cultura geral”, incluindo na grade curricular algumas poucas disciplinas como antropologia, filosofia, sociologia, num universo em que grande maioria das disciplinas continua sendo disciplinas específicas, profissionalizantes. Ou seja, no fundo, continuamos tentando formar apenas especialistas, que perdem a noção, a dimensão do todo.
Não raramente, pesquisadores, homens de ciência, aplicam com maestria e competência os últimos resultados alcançados pela Matemática, pela Biologia, pela Sociologia, pela Física, pelo Direito, pela Administração, etc., e pelas suas mais minuciosas e atomizadas especialidades, mas ignoram as circunstâncias em que conhecimento científico os produziu, a teoria do pensamento que os fundamentou, e muito menos a serviço de quem esses avanços se constituíram, e quais as classes sociais que serão por eles beneficiados.
REFERÊNCIAS
FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 4.ed., São Paulo: Saraiva, 2003.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 12. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica. 2. ed., Rio de Janeiro: Imago, 1981.
LEFEVRE, Henri. Lógica formal, lógica dialética. Trad. Carlos Nelson Coutinho, 4.ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.
MARCONI, Marina de; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 3. ed., São Paulo: Atlas, 2000.
PINTO, Álvaro Vieira. Ciência e existência: problemas filosóficos da pesquisa científica. 3. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
(*|) Este texto, com algumas alterações, faz parte de um artigo publicado na Revista ÍNDICE, ano 1, nº 1, 2005, p. 20-23, da Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada - FAFOPST.
Os Artigos são de grande Proveito, pois trazem conteúdos de relevância para nós estudantes.
ResponderExcluirMuito Obrigado pela iniciativa Professor Aluizio.
Seu Blog já está nos meus favoritos.
De: Leonardo - ADM 3° Período